quinta-feira, 22 de maio de 2014

Sob a Pele (Under the Skin)

Dir: Jonathan Glazer
Roteiro: Walter Campbell e Jonathan Glazer (baseado no livro 'Under the Skin' escrito por Michel Faber)
Elenco: Scarlett Johansson, Jeremy McWilliams, Lynsey Taylor Mackay
Duração: 108 minutos
Classificação Indicativa: 16 anos
Distribuidora: Paris Filmes
Ano: 2013

NOTA: 3.5/5

Veredicto: "Um filme difícil e surreal, mas que merece ser visto."

Em seu último filme, há nove anos atrás, o diretor Jonathan Glazer já demonstrava a sua afinidade pelo cinema de nicho. "Reencarnação" é teoricamente um suspense, mas ao mesmo tempo, sustos e arrepios não são encontrados no longa. Pelo contrário, influenciado fortemente pela estética do diretor Stanley Kubrick, Glazer construiu um filme lento, recheado de belas imagens e de uma sofisticação ímpar. Nem sempre é bem sucedido em seus objetivos, porém é inegável que seja um filme bastante curioso e interessante.

Digo isso para chegar à seguinte constatação: se em "Reencarnação", Glazer flertava com a mistura de cinema de gênero e cinema de arte, em seu mais novo longa, "Sob a Pele", ele mergulha fundo nessa proposta e entrega uma ficção-científica longe daqueles exemplos hollywoodianos aos quais estamos acostumados.

Protagonizado por ninguém menos que Scarlett Johansson, o filme acompanha uma alienígena que chega à Terra com a missão de caçar homens na rua e levá-los para uma casa deteriorada no meio do nada. Esperando por sexo com uma bela mulher, os sujeitos são surpreendidos por uma espécie de gosma negra que os engole e os transforma em alimento para os extraterrestres. Paralelo a isso, um motociclista segue todos os passos da alienígena sedutora, como se fosse uma espécie de supervisor.

Pronto, é essa a sinopse do filme. Ao lê-la, parece ser uma história bem simples - e realmente é - porém se fosse depender do filme, você dificilmente a entenderia. Em nenhum momento, o longa faz questão de deixar claro que a personagem de Scarlett é uma alienígena. A não ser uma curiosa cena final e alguns momentos no início do filme, a alien poderia ser uma mulher como outra qualquer. A função do motociclista também nunca fica muito clara. A partir de suas atitudes, supõe-se que ele seja um vigia, mas como ele nunca fala durante a projeção e a extraterrestre nunca se comunica com ele, tudo fica no subjetivo mesmo.

Entretanto, tirando esses detalhes, a narrativa até que não é tão hermética quanto se espera. O enredo tem começo, meio e fim, e pela maior parte do tempo é compreensível. Portanto, quando comparado a filmes como "O Cão Andaluz" ou "Holy Motors", surreais ao extremo, "Sob a Pele" pode ser considerado uma narrativa clássica.

Porém, no final das contas, o filme de Glazer funciona muito mais como uma experiência sensorial. Auxiliado pela criativa fotografia digital de Daniel Landin, o diretor consegue imprimir um visual diferenciado ao seu filme. Opondo-se aos enquadramentos e palheta de cores tradicionais usados por Harris Savides em "Reencarnação", Landin abusa da modernidade em "Sob a Pele". Por um lado, as cenas de Scarlett Johansson nas ruas, em lugares públicos ou dentro do furgão que sua personagem dirige enquanto procura homens para se alimentar são filmadas por câmeras escondidas em lugares estratégicos. Se você se lembrou dos programas de pegadinhas que fazem sucesso na televisão, você não ficou muito longe da proposta sugerida por Glazer. Todos os homens fisgados por Scarlett são transeuntes anônimos que não fazem a menor ideia de que estão fazendo parte de uma filmagem, o que dá origem a alguns dos melhores (e mais inusitados) momentos do filme. Por outro lado, as sequências em que as vítimas da extraterrestre são assassinadas primam pela complexidade. Ilusões de ótica, truques com espelhos, efeitos especiais e contraste entre o preto e cores primárias dão origem a imagens poderosas. A cena em que duas vítimas engolidas pela gosma negra interagem é um ponto alto do filme.

Outro que ajuda - e muito - Glazer a construir a sua visão é o compositor Mica Levi. O ponto narrativo principal de "Sob a Pele" é o descobrimento dos sentimentos humanos por parte da alienígena; e para a isso, a trilha sonora é de suma importância. Enquanto a extraterrestre mostra-se indiferente aos homens e simplesmente faz o seu serviço, a música é recheada de efeitos sonoros esquisitos e um ritmo quebrado e extravagante. Todavia, quando Scarlett começa a sentir compaixão por uma de suas vítimas, as composições mudam e adotam traços de sinfonias mais tradicionais, mas sem abandonar por completo a excentricidade da música alienígena. Afinal, mesmo que comece a cultivar características humanas, a protagonista ainda é, e sempre será, um alien.

Para quem espera um tour-de-force de Scarlett Johansson ou cenas e cenas de sangue e violência, sairá decepcionado. Devido às limitações emotivas da personagem, Johansson cumpre bem o seu papel, mas não tem uma interpretação muito complexa, cheia de nuances. Já os assassinatos são mais estranhos do que violentos. Na realidade, a cena mais violenta do longa é uma em que um bebê fica abandonado em uma praia depois que seus pais morrem afogados, mas mesmo assim, é uma violência psicológica, e não corporal.

Em resumo, se você pretende ver o filme só para desfrutar da nudez de Scarlett Johansson, é melhor ficar em casa e apreciar as fotos que circulam pela internet. Porém, para quem procura assistir a algo inusitado e diferente de tudo que está em exibição nos cinemas, "Sob a Pele" é uma boa pedida.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

Godzilla (Godzilla)

Dir: Gareth Edwards
Roteiro: Max Borenstein 
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Ken Watanabe, Sally Hawkins, Bryan Cranston, Juliette Binoche
Duração: 123 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
Distribuidora: Warner
Ano: 2014

NOTA: 2.5/5

Veredicto: "O trailer é bem melhor que o filme."

Os filmes de monstro já formam uma verdadeira entidade dentro da história do cinema, indo de "Nosferatu" de F. W. Murnau a "Círculo de Fogo" de Guillermo Del Toro, passando pela série de longas dos Monstros da Universal. Esse tipo de filme obviamente possui apelo com o público, que deseja se aterrorizar com algumas das criaturas mais esdrúxulas já criadas. Em alguns casos clássicos, esses monstros serviam não só para assustar os espectadores, mas também para conscientiza-los e passar-lhes importantes mensagens. Godzilla é um desses casos.

Criado em 1954 pela empresa japonesa Toho, o Rei dos Monstros surgiu como uma metáfora para os perigos do uso de bombas atômicas, uma vez que o próprio Godzilla seria fruto da radiação emanada por esses artefatos. Entretanto, o sucesso estrondoso do personagem acabou ofuscando a mensagem que ele representava, tanto que em suas dezenas de continuações, ele foi apresentado como uma aberração pura e simplesmente. O mesmo aconteceu na primeira adaptação hollywoodiana do personagem, dirigida pelo alemão Rolland Emmerich.

Por isso mesmo é que se esperava ansiosamente pela nova versão norte-americana do monstro, que prometia trazer a conscientização de volta à figura do lagarto gigante. Porém, mesmo que uma mensagem esteja realmente atrelada ao personagem (a de que o homem não controla a natureza), "Godzilla" é um filme aquém de suas possibilidades.

Dirigido pelo britânico Garreth Edwards, revelado pela ficção-científica de minúsculo orçamento "Monstros", o longa começa em 1999, apresentando uma família americana que vive no Japão. Tanto Joe quanto Sandra, marido e mulher, trabalham na usina nuclear nos arredores da cidade e já há algum tempo presenciam estranhos acontecimentos que ocorrem lá dentro. Um dia, essas anomalias tomam uma proporção tal que provocam um vazamento dentro da usina, acarretando na morte de um grupo de cientistas, no qual Sandra se incluía.

Inconformado com a morte de sua esposa, Joe fica obcecado em comprovar que aquilo que aconteceu dentro da usina não foi fruto de um mero terremoto, como as autoridades fazem questão de dizer. Para ele, o vazamento foi resultado de algo muito mais atípico. A sua obsessão pelo assunto levou a um desgaste do relacionamento entre ele e seu filho, Ford, que, com a maioridade, se mudou para San Francisco, formou uma família e começou a servir à Marinha dos EUA.

Já nos dias atuais, Ford, logo depois de voltar à casa após 14 meses de serviço no exterior, recebe a notícia de que seu pai foi preso no Japão por ultrapassar a zona de quarentena demarcada após o vazamento da usina em 99. O jovem, então, viaja até o outro lado do mundo para tirar Joe da cadeia e persuadi-lo a voltar para os EUA a fim de passar mais tempo com a sua família. Ele, porém, recusa a oferta e diz que deve permanecer no Japão, uma vez que as suas investigações acerca da morte de sua mulher ainda não estão concluídas.

No final das contas, Ford é convencido pelo pai a voltar à casa onde eles viviam quando ele era criança (atualmente, dentro da zona de quarentena) e buscar mais provas para as teorias de Joe. Chegando lá, entretanto, eles são presos, mas não sem antes descobrirem que a região está livre de radiação quando, na verdade, era para estar lotada dela. Eles são levados, em seguida, a uma base de pesquisas localizada dentro da usina danificada, onde Joe ganha a confiança de Ishiro e Vivienne, cientistas cientes do real motivo do vazamento. Para eles, o vazamento foi formado pela locomoção de um ser chamado MUTO, que se deslocou das Filipinas até o Japão para deixar um casulo em um local rico em radiação, mais precisamente, a usina onde Joe e Sandra trabalhavam.

Enquanto Joe era interrogado pela polícia dentro da usina, porém, o tal casulo se abre e lá de dentro sai um novo MUTO que causa um estrago no local e leva à morte muitas pessoas, inclusive Joe. Ishiro e Vivienne, então, passam a contar com a ajuda de Ford para adivinhar os passos seguintes do casal de MUTOS e localizar o único monstro que pode detê-los: Godzilla.

Curiosamente, esse primeiro ato do filme é também a sua melhor parte. Nesse segmento, o ritmo é intenso e o enredo bastante intrigante, uma vez que o espectador ainda não sabe muito bem o que está acontecendo. Porém, após a morte de Joe, o filme perde força e se torna apenas mais uma história de monstros destruindo o maior número possível de cidades; e essa monotonia se deve a uma série de fatores.

O primeiro deles é o roteiro fraco de Max Borenstein. Ancorado por um número considerável de personagens, praticamente todos desinteressantes, o enredo peca, principalmente, ao depender de uma série de coincidências para se desenvolver. Coincidentemente, quando Ford e Joe estão na usina, o casulo do MUTO se abre e comprova a teoria "maluca" do ex-cientista. Coincidentemente, o clímax do filme acontece em San Francisco, cidade onde vive a família de Ford. Coincidentemente, Ford está no aeroporto de Honolulu quando o MUTO ataca a cidade. E por aí vai...

Além disso, nenhum dos personagens é bem desenvolvido, sendo reduzidos a meras peças de figuração em meio ao espetáculo. Ishiro e Vivienne existem basicamente para explicar o roteiro (quem é o Godzilla; o que são os MUTOS; do que esses monstros se alimentam); Elle, esposa de Ford, só aparece para correr dos monstros; e até o suposto protagonista, Ford, tem um drama familiar muito mal explorado e acaba ficando restrito ao papel de jovem forte e corajoso que faz de tudo pra salvar o dia. Enfim, a Warner fez de tudo para vender o filme como uma fita de monstro com um grande enfoque nos dramas humanos, mas, no final das contas, as pessoas são o ponto menos envolvente do longa.

Prejudicado também pelos personagens unidimensionais, é o elenco que não tem muito com que trabalhar. Ótimas atrizes, como Sally Hawkins (Vivienne), Elizabeth Olsen (Elle) e Juliette Binoche (Sandra) são desperdiçadas sem dó nem piedade em papéis ingratos. Hawkins serve de escada para o personagem de Ken Watanabe (Ishiro), Olsen é requisitada apenas para fazer cara de assustada e Binoche... Coitada da Juliette Binoche! É contratada para ser morta nos primeiros quinze minutos de filme. 

Entre os homens, a situação é um pouco melhor, se bem que fica claro que Aaron Taylor-Johnson não tem força para carregar um filme dessa magnitude sozinho. Como Ford, Johnson atua no piloto automático do início ao fim da projeção, não mostrando um pingo de carisma em 123 minutos de filme. Decepcionante para quem fez bons trabalhos em projetos, como "Kick-Ass - Quebrando Tudo", "Selvagens" e "Albert Nobbs".

Na realidade, o único intérprete que parece realmente envolvido com o filme é Bryan Cranston como Joe. Nas cenas em que aparece, Cranston consegue transmitir com bastante competência a dor de seu personagem. A última cena entre ele e Juliette Binoche serve de amostra do filme que Godzilla poderia ter sido. Infelizmente, o roteiro de Max Borenstein elimina Joe em menos de uma hora de exibição, desperdiçando um grande ator e um personagem bastante promissor.

Outra falha foi manter o monstro que dá nome ao longa tanto tempo fora da tela. A ideia de mostrar Godzilla aos poucos é bastante interessante, porém quando Garreth Edwards decide mostrar o "lagartão" em toda sua magnitude, já é tarde demais. A letargia formada por dois atos protagonizados por personagens apáticos não consegue ser compensada nem pelos urros do Godzilla nem por sua grande batalha com os MUTOS.

Entretanto, o filme tem suas qualidades. Edwards pode até ser um diretor de atores irregular, mas se teve algo que ele acertou em cheio foi a escala do longa. Tudo é grandioso, o número de efeitos especiais (muito bons, por sinal) é enorme, a destruição é maciça. Enfim, não dá para negar que, nesse sentido, o realizador foi extremamente ambicioso.

Outro ponto positivo é a bela fotografia de Seamus McGarvey, que apesar de não ter sido pensada para o 3D, é valorizada por essa tecnologia. Falando nele, o 3D de "Godzilla" também é bastante competente. Apesar de ser fruto de uma conversão, ele é muito bem utilizado, especialmente por não escurecer o filme em demasia, como acontece em muitos outros projetos que recebem o 3D em sua pós-produção.

A direção de arte também é muito boa e a trilha sonora de Alexandre Desplat, criticada por muitos, na minha opinião, não prejudica o filme. Pelo contrário, se encaixa muito bem em sua proposta.

Porém, no geral, "Godzilla" tinha tudo para ser um grande filme, mas não passa de uma tentativa frustrada. Por via das dúvidas, fique com os trailers, que vendiam uma experiência muito mais satisfatória.



quarta-feira, 26 de março de 2014

Namoro ou Liberdade? (That Awkward Moment)

Dir: Tom Gormican
Roteiro: Tom Gormican
Elenco: Zac Efron, Miles Teller, Michael B. Jordan, Imogen Poots, Mackenzie Davis, Jessica Lucas
Duração: 94 minutos
Classificação Indicativa: 14 anos
Distribuidora: Imagem Filmes
Ano: 2014

NOTA: 2.5/5

Veredicto: "Três bons atores são prejudicados por um roteiro ruim."


O título original de "Namoro ou Liberdade?", "That Awkward Moment" (Aquele Momento Esquisito, em tradução livre), se refere ao ponto em que uma relação deve ser claramente definida. Afinal, o sexo vai evoluir em direção a um namoro ou, no final das contas, nada passou de mero entretenimento? É daí que o diretor/roteirista Tom Gormican retirou o argumento de seu filme.

O longa acompanha três amigos de vinte-e-poucos anos que vivem em Nova York e que se encontram em diferentes tipos de relacionamentos amorosos. Jason, o "líder" do grupo, é um solteiro inveterado, avesso a qualquer tipo de relação mais séria com qualquer mulher. Para ele, o que interessa é a transa, e nada mais. Daniel, colega de trabalho de Jason e "palhaço" do grupo, acompanha o seu melhor amigo e também evita namorar a qualquer custo. Por outro lado, Mikey é casado e se mostra o mais maduro dos três. Por vezes, ele até repreende o comportamento de seus amigos.

Entretanto, numa virada do destino, Mikey fica desolado quando a sua esposa lhe conta que está tendo um caso com o advogado e lhe pede o divórcio. Para tentar deixar o colega mais alegre, Jason e Daniel propõem a Mikey a seguinte aposta: dali em diante, nenhum dos três vai se envolver seriamente com nenhuma mulher.

Porém, como já era de se esperar, esse acordo não vai durar muito tempo. Jason acaba se interessando, não só fisicamente, por Ellie; Daniel se apaixona por sua velha amiga Chelsea; e Mikey volta a ter relações sexuais com sua mulher, Vera.

Já vou deixar claro que não tenho nenhum tipo de preconceito com comédia romântica. Pelo contrário, quando bem-feito, é um dos meus gêneros favoritos. Por isso mesmo, não pude deixar de ficar desapontado com "Namorou ou Liberdade?".

Tudo bem que a premissa do filme, em si, já é bastante idiota, mas em comédia romântica isso não é nenhum problema. Afinal, não faltam ótimos exemplos de filmes do gênero que fazem o melhor uso possível de um ponto-de-partida inverossímil. Porém, o grande problema do longa de Tom Gormican é que o roteiro não consegue desenvolver bem a  sua própria premissa.

Parte disso recai sobre os três personagens principais. Dentre eles, o único que é realmente identificável é Mikey, o jovem médico que não consegue aceitar que seu casamento chegou ao fim. São os trechos pertencentes ao seu enredo os mais interessantes e de maior insight. Por outro lado, Jason é, em poucas palavras, um verdadeiro idiota. Ele é um machista de marca maior, que vê as mulheres como nada mais do que um pedaço de carne. Ele é daquele tipo de sujeito que acha que o sexo feminino se resume à fascinação por sapatos e por homens bonitões, como ele. Enfim, é um personagem de espírito tão pobre que a sua redenção ao final do filme não convence. Já Daniel é mais decente do que Jason, porém é construído como um alívio cômico que, por acaso, ganhou uma história romântica para protagonizar. Em nenhum momento, ele parece estar falando sério. Está sempre rindo, fazendo piadinha... Em suma, também não cria maior empatia com o espectador.

Outros problemas do roteiro de Gormican são a falta de graça e o uso da fórmula sem a menor criatividade. Apostando alto em escatologia e palavrões, algo que já funcionou para diretores como Judd Apatow, por exemplo, os diálogos de Gormican quase nunca fazem rir e, infelizmente, soam forçados, como se ele se sentisse obrigado a enfiar o maior número  possível de citações a sexo, pênis ou vagina em cada cena, mesmo que isso não contribua em nada para a narrativa ou para a construção dos personagens.

Sobre a fórmula, ela é parte integrante das comédias românticas. Todo mundo já sabe o que vai acontecer: os amantes vão se conhecer, se apaixonar, se desentender, fazer as pazes e terminar juntos. Porém, a exemplo de filmes recentes como "O Lado Bom da Vida" e "À Procura do Amor", é possível criar algo diferente a partir do banal; e é isso que falta a "Namoro ou Liberade?". A fórmula é utilizada de maneira automática e desinteressante. Nem a grande declaração de amor de Jason a Ellie empolga!

Felizmente, o filme não é um desastre por causa do elenco mais do que competente. As mulheres do longa - Imogen Poots, Mackenzie Davis e Jessica Lucas - fazem um bom trabalho com o material que lhes é dado. Porém, quem carrega mesmo o filme são os três protagonistas: Zac Efron, Miles Teller e Michael B. Jordan, especialmente os dois últimos.

A possibilidade de assistir a esses três jovens atores contracenando foi o que me atraiu ao projeto. Efron ainda não recebeu um grande papel, mas é daqueles intérpretes que você aposta que quando tiver um excelente roteiro em mãos, vai fazer um belo trabalho. Já Teller e Jordan mostraram recentemente terem talento de sobra nos filmes "The Spectacular Now" e "Fruitvale Station - A Última Parada", respectivamente.

Em resumo, é uma pena ver três ótimos atores desperdiçados em um filme esquecível e que serve, no máximo, de diversão num ocioso sábado à tarde.


segunda-feira, 24 de março de 2014

Ninfomaníaca: Volume I (Nymphomaniac: Volume I)

Dir: Lars Von Trier
Roteiro: Lars Von Trier
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Stacy Martin, Shia LaBeouf, Uma Thurman, Christian Slater
Duração: 118 minutos
Classificação Indicativa: 18 anos
Distribuidora: California Filmes
Ano: 2013

NOTA: 3/5

Veredicto: "Lars Von Trier continua irônico, porém a primeira parte de 'Ninfomaníaca' deixa a desejar."


Lars Von Trier é uma pessoa que adora criar polêmica, seja com seus filmes, seja com suas atitudes. Em 2000, ao lançamento de "Dançando no Escuro", Björk, protagonista do longa, por mais de uma vez, falou mal de Von Trier e de como era difícil trabalhar com ele. Nove anos depois, seu filme "Anticristo" ganhou notoriedade graças às suas cenas de sexo explícitas e violência pesada, muitas delas direcionadas à personagem da atriz Charlotte Gainsbourg. Não foi por nada que o filme recebeu um "anti-prêmio" no Festival de Cannes por seu conteúdo considerado, por muitos, misógino. Em 2011, também no festival francês, Von Trier disse compreender Adolf Hitler, o que enfureceu muita gente e o fez ser considerado "persona non grata" do festival.

Pouco tempo depois dessa última controvérsia, o diretor anunciou que filmaria a história de vida de uma mulher viciada em sexo sem o menor pudor. Daí nasceu "Ninfomaníaca" (ou "Ninf()maníaca", se você quiser ser mais provocador), um longa dividido em duas partes e com um teor altíssimo de conteúdo sexual.

Para vender o filme, criou-se uma campanha de marketing nunca antes vista para um longa de arte. Trailers, prévias, diversos cartazes, fotos... Enfim, não era difícil saber que o filme estava para estrear. E para colocar a cereja em cima do bolo, ele ainda estreou na Dinamarca (país natal do diretor) bem no Dia de Natal. Infelizmente, a equipe de divulgação do projeto fez um trabalho melhor do que Lars Von Trier.

O filme começa com a figura de Joe - a ninfomaníaca do título - estatelada em um beco escuro e sinistro. É aí que aparece Seligman, um pescador que, ao ir fazer compras, se depara com ela e lhe oferece abrigo. Já na casa de Seligman, bem acomodada e tomando uma xícara de chá, Joe começa a contar como ela foi parar toda machucada naquele beco.

Para isso, ela volta até à sua infância, quando, segundo ela, descobriu a sua vagina enquanto brincava no banheiro com uma amiga. Daí, Joe passa a narrar os momentos mais importantes de sua vida sexual, indo desde quando ela perdeu a virgindade com seu vizinho, Jerôme, até o momento em que começa a ter vários parceiros sexuais ao mesmo tempo.

Se há uma coisa em que Lars Von Trier é bom, é em ser irônico; e "Ninfomaníaca: Volume I" é uma obra verdadeiramente sarcástica, a ponto de não sabermos se o longa é um drama ou uma comédia. Há sequências bastante melancólicas, e que fazem questão de serem nada sutis. Um exemplo claro disso é o quarto capítulo da história de Joe, "Delírio", em que a protagonista narra os últimos dias de vida de seu pai. Esse trecho é tão sério e dramático, que Von trier optou por apresenta-lo em preto-e-branco. Por outro lado, há outros momentos verdadeiramente engraçados (de um modo tragicômico, naturalmente), como quando a esposa de um dos parceiros de Joe vai até o seu apartamento, junto dos filhos, para "lavar a roupa suja".

Além disso, o diretor apresenta intervenções visuais em meio ao filme que lhe trazem um necessário dinamismo. Números na tela contam quantas vezes Jerôme penetra Joe em sua primeira transa, cálculos ensinam ao público a Sequência de Fibonacci, imagens de vídeos de pescaria fazem a comparação entre o método com que Joe encontra seus parceiros sexuais a rituais de pescador, e por aí vai... Visualmente, portanto, "Ninfomaníaca: Volume I" é bastante interessante.

O roteiro de Von Trier também é um dos pontos altos do longa. Apesar de, algumas vezes, as comparações feitas entre sexo e música, matemática, pescaria etc. serem um pouco forçadas, elas trazem uma perspectiva interessante a um tema que já foi tratado inúmeras vezes no cinema. Além disso, algumas sequências, como aquela em que Joe e sua amiga tentam transar com o maior número de homens possível em uma viagem de trem ou o terceiro capítulo da história, "Sra. H", são inspiradíssimas.

Porém, não há como negar que o filme se estica além do que devia. Apesar de usar diversos artifícios, visuais e narrativos, para manter o longa dinâmico, Lars Von Trier não consegue sumir com a impressão de que o filme poderia ser mais curto. Ao assistir ao filme, não pude deixar de pensar em como ele seria se não fosse apenas meio-filme, mas sim o filme completo de quatro (QUATRO!) horas de duração. Pode parecer desculpa dos distribuidores para arrecadar mais dinheiro nas bilheterias, mas é inegável que a ideia de dividir "Ninfomaníaca" em duas partes foi uma boa saída para evitar uma possível letargia. Se a primeira parte, com pouco menos de duas horas de exibição, já é cansativa, imagina um filme com quatro horas de uma tacada só.

Felizmente, o elenco, em alguns momentos, consegue agitar o longa. A dupla formada por Charlotte Gainsbourg (Joe) e Stellan Skarsgard (Seligman) é de uma ótima química, essencial para o bom funcionamento da história. Stacy Martin, como a jovem Joe, impressiona com um verdadeiro tour-de-force dramático, equilibrando drama, comédia e romance, e ainda, entremeando-os com diversas cenas de sexo. Shia LaBeouf surpreende como Jerôme, mostrando bastante competência tanto como ator dramático como ator cômico, e formando um belo entrosamento com Martin. A cena em que ele apresenta a Joe o seu escritório e seu colegas de trabalho é uma das melhores do longa. Mas quem se apresenta espetacularmente bem é Uma Thurman, como Sra. H, a esposa/mãe traída. Ela aparece em uma cena... mas que cena! É, de longe, o melhor momento do longa!

Distante de ser uma versão da Playboy TV adaptada ao público do cinema de arte, "Ninfomaníaca: Volume I" apresenta ótimas ideias e, em muitos momentos, é bem interessante. Porém, não há como esconder o fato de que se fosse mais curto, poderia ter sido bem melhor.



terça-feira, 18 de março de 2014

Caçadores de Obras-Primas (The Monuments Men)

Dir: George Clooney
Roteiro: George Clooney e Grant Heslov (baseado no livro 'The Monuments Men' escrito por Robert M. Edsel e Bret Witter)
Com: George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Jean Dujardin, Bob Balaban, Hugh Bonneville, Cate Blanchett
Duração: 118 minutos
Distribuidora: Fox Film
Classificação Indicativa: 12 anos
Ano: 2014

NOTA: 2.5/5

Veredicto: "O grande problema do filme é confundir nostálgico com datado."


George Clooney é um dos atores que conseguiu fazer melhor a transição da frente das câmeras para detrás delas, seja como produtor, diretor ou roteirista. Como intérprete, Clooney conseguiu ser indicado quatro vezes ao Oscar, ganhando um prêmio, por "Syriana - A Indústria do Petróleo", em 2006. No papel de diretor/produtor/autor, ele também soma quatro indicações, seja por filmes próprios ("Boa Noite, e Boa Sorte", "Tudo pelo Poder") ou de terceiros ("Argo", pelo qual ganhou o Oscar em 2013 como produtor). Digo tudo isso para deixar claro o quanto a figura de George Clooney é importante dentro da indústria hollywoodiana.

Por isso mesmo, quando o ator anunciou que iria dirigir um novo filme, ambientado na 2ª Guerra Mundial, encabeçado por um elenco de dar inveja a qualquer diretor e contando com o maior orçamento de sua carreira como realizador, não houve um jornalista de cinema que não tenha pensado: "A Academia vai adorar esse filme!"

Quando o primeiro trailer saiu, as expectativas esfriaram um pouco, pois muitos perceberam que o longa talvez fosse mais comercial do que um forte concorrente a prêmios. Alguns meses depois, o filme foi retirado de sua data de estreia original, dezembro de 2013 - bem no meio da temporada de ouro -, e transferido para um mês mais tranquilo (e conhecido por abrigar filmes mais fracos): fevereiro.

Quando as primeiras críticas começaram a sair, as suposições se confirmaram: "Caçadores de Obras-Primas" simplesmente não era grande coisa. E eu concordo plenamente com isso.

Ambientado na primeira metade dos anos 1940, na reta final da 2ª Guerra Mundial, "Caçadores de Obras-Primas" acompanha o grupo de mesmo nome, idealizado pelos americanos, para encontrar obras de arte que haviam sido roubadas pelos nazistas, que pretendiam colocá-las em exposição no que se chamaria "Museu do Führer". O edifício, fruto de uma antiga apreciação de Adolf Hitler pelas belas-artes, constituiria o maior acervo museológico do mundo e seria construído na cidade austríaca de Linz.

O longa começa com o criador do projeto, Frank Stokes, tentando convencer o então presidente norte-americano, Franklin Roosevelt, a investir na ambiciosa empreitada. Segundo Stokes, o grupo, aparentemente desnecessário em meio a um conflito no qual milhões de pessoas morreram, iria, em suas palavras, "impedir que a Mona Lisa deixasse de sorrir", ou seja, não só frustaria os desejos de Hitler como também manteria viva a cultura das nações cujas obras foram roubadas. No final das contas, Roosevelt aprova o projeto e Stokes põe as mãos na massa.

Ele convoca, então, velhos conhecidos seus, restauradores, arquitetos e especialistas no estudo da arte. O grupo passa por um treinamento militar básico, embarca para a Europa e dali inicia a sua missão.

É exatamente nesse ponto em que o filme começa a desandar. Ao invés de criar um objetivo único para as suas personagens, mantendo o grupo unido durante toda a projeção, Clooney, junto de seu co-roteirista e parceiro de longa data, Grant Heslov decidem em criar pequenas sub-tramas dentro do filme, dispersando o foco e separando os personagens pela maior parte de seus 118 minutos de duração.

Ao meu ver, a melhor opção seria iniciar o filme com os Caçadores já trabalhando na Europa e indo atrás de uma última obra de arte que falta ou de um esconderijo nazista essencial para conclusão de sua missão. Dessa forma, o espectador ficaria mais ligado à trama, como também teriam muito mais cenas com todos os integrantes do grupo juntos. Afinal, venhamos e convenhamos, o grande chamariz de "Caçadores de Obras-Primas" é a possibilidade de ter George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, John Goodman etc. contracenando uns com os outros. Infelizmente, o que falta ao filme é exatamente mais cenas do clã todo reunido e um objetivo mais poderoso.

Do jeito que o filme está, o foco do espectador fica disperso em várias narrativas confusas e, na maior parte do tempo, desinteressantes. Além disso, alguns personagens ficam deslocados dentro do longa. Um ótimo exemplo disso são as personagens de Matt Damon e Cate Blanchett, que num enredo paralelo entre James Granger (Damon) e a historiadora Claire Simon (Blanchett), ambientado numa Paris ocupada pelos alemães, nunca parece estar em perfeita sintonia com o restante do filme.

Outro problema sério que tive com "Caçadores de Obras-Primas" foi o tão retrógrado que ele é. Apesar de ter sido filmado em 2013, parece ter sido escrito há mais de cinquenta anos atrás, uma vez que se assemelha, e muito, com aqueles antigos filme-propaganda produzidos pelos EUA durante e um pouco depois da 2ª Guerra. Os alemães são um bando de vilões de gibi, estereotipados ao extremo. Não há um convincente! Além disso, ninguém merece a cena em que a personagem de Clooney dá lição de moral num militar nazista. Desculpa, mas até parece que os americanos já não cometeram muitos erros e desvios de conduta em outros conflitos armados. 

Isso sem contar com a presença enigmática dos soviéticos no longa. Além de serem, mais uma vez, meras caricaturas ambulantes, os russos aparecem na história não sei para o quê. A função deles na trama poderia ter sido mantida apenas em narrações ou em comentários dos protagonistas; não era em nada necessário a estúpida competição entre EUA e URSS no clímax do longa, com os americanos vencendo a disputa e ainda deixando uma bandeira sua - gigantesca, diga-se de passagem - só para denegrir a imagem dos soviéticos. Não sou de esquerda nem nada, mas até eu achei infantil essa "brincadeirinha", remanescente dos tempos da Guerra Fria.

Felizmente, o filme se redime em alguns aspectos. O elenco está competente, mesmo que alguns de seus membros sejam muito sub-utilizados, como a excelente atriz e recém-oscarizada Cate Blanchett. Ela merecia um papel muito melhor do que o que lhe foi dado! Além disso, a parte técnica do longa é primorosa, contando com trabalhos de direção de arte e figurino exemplares. Isso sem contar com a bonita fotografia de Phedon Papamichael e a trilha sonora vibrante de Alexandre Desplat, ambas contribuindo com um ar nostálgico ao filme.

As aventuras dos Caçadores de Obras-Primas são mais do que merecedoras de um filme, especialmente por servirem como um ponto de vista diferente de um dos períodos mais trágicos da História recente. Porém, o longa que foi produzido a partir de seu legado, peca ao priorizar posicionamentos políticos ultrapassados, ao invés de apenas fazer a esses homens a sua devida homenagem.


Refém da Paixão (Labor Day)

Dir: Jason Reitman
Roteiro: Jason Reitman (baseado no livro 'Labor Day' escrito por Joyce Maynard)
Elenco: Kate Winslet, Josh Brolin, Gattlin Griffith, Clark Gregg, J. K. Simmons, James Van Der Beek, Tobey Maguire
Duração: 111 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
Distribuidora: Paramount Pictures
Ano: 2013

NOTA: 2.5/5

Veredicto: "Jason Reitman parece ter feito o filme com bastante esmero, porém isso não compensa a falta de verossimilhança da história."


Todo mundo já ouviu aquela clássica lenda do Príncipe Encantado, cuja única missão é salvar a donzela em perigo no final da história. O da Cinderela recuperou o seu sapatinho de cristal, o da Branca de Neve a trouxe de volta dos mortos, o da Bela Adormecida a tirou de um sono profundo, e por aí vai. Entretanto, você deve estar se perguntando por que eu estou falando de contos de fadas; e a razão é muito simples. É que "Refém da Paixão", no fundo, não passa de mais uma história sobre uma moça em apuros que precisa de um príncipe para resgatá-la.

Passado em 1987, o longa acompanha uma mulher divorciada, Adele, e seu filho adolescente Henry. Desde que se separou do pai de seu rebento, Adele mudou completamente de comportamento e aparência. Antes, era uma mulher jovem, linda e divertida, que adorava dançar. Porém, o divórcio lhe foi cruel e a transformou em uma moça que parece estar sempre cansada, exausta, cujas mãos tremem e que raramente sai de casa. É óbvio que isso afeta Henry profundamente, que, a fim de confortar a mãe, também abriu mão de uma vida social em troca de dias e mais dias enfiado dentro de casa, lendo revistas em quadrinhos, jogando video-game ou assistindo a filmes de ficção-científica.

Porém, no feriado do Dia do Trabalho (daí o título original do filme), quando Adele e Henry vão ao supermercado fazer compras para a casa, o menino se depara com um homem ferido, que precisa de cuidados médicos imediatamente. Henry oferece, então, ao sujeito, Frank, uma carona, mesmo sabendo que sua mãe não vai concordar com a ideia. Porém, no final das contas, Adele e Henry não têm outra escolha a não ser ajudar o homem desconhecido, uma vez que ele é um fugitivo da polícia, acusado de assassinato.

De início, a relação entre mãe e filho e o bandido misterioso não é das melhores, mas, com o passar do final de semana, Frank se mostra nada ameaçador. Pelo contrário, ele é uma pessoa de ouro, com diversas habilidades e um bom coração, e cujo crime não passa de um mal-entendido que já dura muitos anos.

Com isso, Adele começa a ver em Frank uma nova possibilidade de reacender a chama da paixão em seu coração, há bastante tempo apagada. Mesmo que para isso tenha que mudar sua vida completamente mais uma vez e, em consequência, a de seu filho também.

O grande problema de "Refém da Paixão" não é a surpreendente decisão de Jason Reitman em mudar, mesmo que por pouco tempo, o seu estilo como realizador. Conhecido por suas comédias satíricas e irônicas, como "Obrigado por Fumar" e "Jovens Adultos" (seu ótimo filme anterior), aqui ele decidiu investir em um romance com toques de suspense; e até que em certos aspectos ele se dá muito bem. Nos momentos de maior tensão, como o primeiro ato da história e o seu clímax, Reitman consegue deixar o espectador na ponta da cadeira. Enquanto isso, nas cenas de romance, ele cria uma atmosfera bastante sensível, quase onírica até.

A questão é que, apesar de ele conseguir construir momentos de suspense e de paixão com bastante competência, o roteiro, adaptado por ele mesmo do livro de Joyce Maynard, não consegue ser tão bem-sucedido. O grande erro é que, em momento algum, dá para acreditar no romance entre as personagens de Kate Winslet e Josh Brolin. Frank é perfeito demais para ser verdade! Ele sabe consertar de tudo um pouco - carros, aquecedores, dobradiças, é só dizer -, é um exímio cozinheiro, sabe jogar beisebol e, até o final do filme, ele consegue aprender a dançar rumba. Enfim, apesar de toda a questão do assassinato envolvendo o seu nome, no resto, a personagem só falta ter poderes mágicos.

Outro ponto que incomoda é o fato de Adele, uma mulher basicamente avessa à vida em sociedade, em questão de dias se apaixonar loucamente por um sujeito que ela nem conhece direito e que, ainda, é um foragido da polícia. Tudo bem, que o homicídio em si não passe de um mal-entendido, mas quem garante? Quem assina embaixo da versão dada pelo suposto criminoso? Em poucas palavras, achei a personagem de Winslet incoerente. Se ela se tornasse amiga de Frank, ainda vai lá, mas amante, a ponto de querer fugir com ele, levando filho e tudo para fora do país? Achei forçado!

Para completar, surpreende ainda ninguém da vizinhança ter notado a presença de Frank dentro da casa de Adele. O bandido vivia mais do lado de fora do que de dentro, seja consertando o carro ou ensinando Henry a jogar beisebol. Enfim, para quem buscava se esconder das autoridades, até que Frank andava bem saidinho.

O elenco, porém, ao contrário do enredo, está bem. Brolin e Winslet não tem papeis nem performances memoráveis, mas nem por isso deixam de estar competentes e seguros em suas personagens. Além disso, em papeis secundários, há típicos "atores de personagem", como J. K. Simmons e James Van Der Beek (ambos em basicamente uma cena) e Clark Gregg, muito bem como de costume, encarnando o ex-marido de Adele e pai de Henry.  Tobey Maguire, por sua vez, apenas narra o filme, como Henry já adulto (aparece em carne e osso em um par de cenas no final do longa, mas nas quais entra mudo e sai calado). 

Todavia, no frigir dos ovos, que merece mais elogios é o jovem Gattlin Griffth. Apesar do centro de toda a história ser o romance entre Adele e Frank, quem é o verdadeiro protagonista do filme é Henry. São as suas palavras que narram os acontecimentos, as suas atitudes que mudam os rumos do enredo e os seus dramas que realmente envolvem  o espectador e levam o filme adiante. Felizmente, Griffith se mostra bastante capaz de carregar o filme em suas costas e elevar o material consideravelmente. Porém, não deixa de ser uma pena ver essa ótima performance dentro de um filme com uma história tão absurda.

Pela perspectiva técnica, o filme é muito bem-feito. A reconstituição de época por parte da direção de arte (Steve Saklad e Mark Robert Taylor) e do figurino (Danny Glicker) é precisa e ajuda bastante em localizar a história no tempo. A fotografia de Eric Steelberg é um verdadeiro primor, tanto nas cenas do "presente" quanto nos flashbacks, e a trilha sonora de Rolfe Kent - velho colaborador de Reitman - constrói com bastante eficiência o clima do longa.

Em resumo, "Refém da Paixão" é um filme sobre amor feito com muito amor por Jason Reitman e cia. Entretanto, mesmo com bastante boa vontade, é difícil de engolir o romance que serve de espinha dorsal para a narrativa.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Final de 2013


2013 acabou e 2014 já chegou, e aqui no Cinematógrapho isso significa fazer uma retrospectiva dos melhores filmes do ano, dos piores, dos mais surpreendentes e dos mais decepcionantes; isso sem contar a escolha do filme de 2013 que você não pode deixar de assistir. Lembrando que o critério de escolha dos filmes é bem simples: ele só tem que ter estreado nos cinemas, no mercado de home video ou na TV brasileira durante o ano que passou.

Mas antes dos escolhidos, devo avisar que alguns desses títulos não tem crítica publicada aqui no Cinematógrapho por motivos diversos. Digamos que 2013 foi um ano bastante movimentado pra mim e que nem sempre eu encontrei tempo (ou mesmo paciência) para escrever. Além disso, reforço que não sou nenhum crítico profissional, ou seja, não ganho nem sou obrigado a escrever nenhum texto, portanto é possível que o blog às vezes fique meio parado.

Mas chega de delongas! O que importa é que nem por isso eu deixei de ir ao cinema, e por isso mesmo não poderia deixar de publicar esse post, que sem dúvida é o mais esperado do ano (pelo mesmo por mim). Vamos, então, às listas:

OS 10 MELHORES FILMES DE 2013:

10 - A Viagem, dir. Andy Wachowski, Lana Wachowski e Tom Tykwer

Um dos filmes mais controversos de 2013, "A Viagem" estreou logo no iniciozinho do ano, bem nas férias de verão, e causou discussões acaloradas entre críticos e espectadores. Como já deu pra perceber, eu estou entre aqueles que adoraram o filme. Sim, eu admito que ele tem as suas falhas (a maquiagem funciona em alguns casos e em outros é um desastre, as questões filosóficas nem sempre vão além do superficial etc.), porém isso não consegue apagar o fato de ser um filme extremamente ambicioso, contando seis histórias simultaneamente, utilizando os mesmos atores para diversos papéis e sendo dirigido por três diretores em dois sets independentes. Além disso, o filme é bastante envolvente e dinâmico, fazendo com que as suas quase três horas de duração passem correndo. Pode anotar: em dez anos, "A Viagem" vai ser redescoberto e se tornar cult, seja para o bem ou para o mal.

9 - Dezesseis Luas, dir. Richard LaGravenese

Já posso ver os pseudo-intelectuais pegando o computador e jogando-o pela janela, mas eu admito: eu adorei "Dezesseis Luas"! Vendido como uma espécie de substituto da Saga Crepúsculo, o filme foi um fracasso comercial (eu mesmo só fui vê-lo via Netflix) e não agradou muita gente, porém não tive maior surpresa ano passado do que com este filme. Baseado numa série de livros para jovens-adultos, o longa acompanha Ethan, um jovem do sul dos EUA que vê a sua vida virar de cabeça para baixo quando conhece Lena, uma bruxa prestes a completar 16 anos e que deve decidir entre o Bem e o Mal, dando origem a uma disputa familiar que põe em risco toda a cidade onde a história se passa. O longa possui um elenco de apoio incrível formado por Jeremy Irons, Emma Thompson e Viola Davis e com interpretações de alto nível, especialmente de Alden Ehrenreich e Emmy Rossum. Além disso, o roteiro do autor/diretor Richard LaGravenese merece elogios por não aderir à onda de tratar filmes como mero início de franquia, portanto, apesar de indicar uma futura saga (que não vai acontecer devido ao fracasso do filme), o roteiro é redondinho, sem deixar final em aberto. Em suma, "Dezesseis Luas" é muito mais do que um aspirante a "Crepúsculo".

8 - O Lugar Onde Tudo Termina, dir. Derek Cianfrance

Se você fizer uma rápida pesquisa no blog, você verá que há outros filmes com notas melhores do que a de "O Lugar Onde Tudo Termina". Daí você se pergunta: "ué, por que, então ele está entre os 10 melhores filmes?" E eu respondo: simplesmente o longa de Derek Cianfrance se alojou dentro de mim durante o ano inteiro. Uma história contada em três partes, falando sobre pais e filhos e sobre o que somos capazes de fazer para dar o melhor à nossa família, "O Lugar Onde Tudo Termina" passou 2013 indo e voltando da minha mente. Do nada eu me pegava lembrando de alguma passagem, de alguma cena do longa, especialmente de seu ótimo primeiro ato. Mais importante do que uma direção segura, do que um roteiro bem escrito e bem amarrado ou do que um conjunto de interpretações exemplares, um filme precisa se conectar com o espectador a um nível emocional; e "O Lugar Onde Tudo Termina" conseguiu fazer isso comigo.

7 - Os Suspeitos, dir. Denis Villeneuve

Falando em família, um outro filme que conseguiu falar sobre o assunto de uma forma identificável, mas ao mesmo tempo assustadora foi Denis Villeneuve com "Os Suspeitos". Um suspense extremamente bem dirigido, escrito com maestria por Aaron Guzikowski e com uma fotografia impecável do mestre Roger Deakins, o longa consegue, a partir do sequestro de duas meninas, iniciar uma discussão sobre justiça, religiosidade e, principalmente, paternidade nos dias atuais, indo muito além do simples "quem foi que fez o crime?" "Os Suspeitos" é um daqueles filmes em que você não sabe se torce para o bonzinho ou para o vilão, até mesmo porque essa definição é bem relativa, e que faz você se questionar sobre a sua  própria moral.

6 - Jackass Apresenta: Vovô sem Vergonha, dir. Jeff Tremaine


Em sua primeira incursão pela ficção, o grupo Jackass decidiu criar um filme em torno de Irving Zisman, um senhor de mais de 80 anos que nem por isso deixa de ser desbocado, brigão, machista, entre outros adjetivos não muito agradáveis. Sem sair completamente de sua zona de conforto, o longa é protagonizado pelo protagonista do grupo, Johnny Knoxville (vestido de velho, óbvio) e consiste basicamente de um amontoado de pegadinhas que são ligadas umas às outras por uma linha narrativa simples: Irving tem que atravessar os EUA para deixar o seu neto com o pai. Entretanto, o filme, apesar de apelar para as escatologias tradicionais do grupo, é genuinamente hilário (a cena do bar de strip-tease está entre as melhores do ano) e conta, surpreendentemente, com momentos afetivos e sentimentais (algo inédito para o grupo). Quem diria que os caras do Jackass poderiam emocionar em meio a um bando de piadas de sexo e cocô?

5 - Gravidade, dir. Alfonso Cuarón


Um dos maiores ícones da cultura pop em 2013, "Gravidade" é um sci-fi dos melhores! A história é simples (o roteiro é o seu fraco, mesmo que não seja ruim), mas dá a oportunidade a Sandra Bullock de incrementar o seu currículo com uma das melhores interpretações de sua carreira ao viver a cientista Ryan Stone, que vê a sua missão de sobrevivência no espaço se tornar um renascimento de sua própria vida. Além disso, George Clooney esbanja simpatia em um papel pequeno, mas essencial para a narrativa, e Emmanuel Lubezki tem aqui o seu melhor momento como diretor de fotografia (quem não se impressionou com aquela sequência de abertura?). Isso sem contar com os efeitos especiais inovadores e que fizeram pessoas pensarem que o filme tinha sido realmente filmado no espaço.

4 - Blue Jasmine, dir. Woody Allen


Em seu retorno aos EUA após o divertido "Tudo Pode Dar Certo" de 2009, Woody Allen realizou o ótimo "Blue Jasmine". Protagonizado pela excelente Cate Blanchett e com atuações impecáveis de Sally Hawkins, Alec Baldwin, Andrew Dice Clay, Louis C. K., Peter Sarsgaard e Bobby Cannavale em papéis coadjuvantes, o longa acompanha a ascensão e a queda de uma socialite nova-iorquina falsa e esnobe, que tentou esconder durante anos a sua origem humilde de jovem adotada, incluindo a existência de sua irmã brega, para quem pede abrigo quando a casa cai. Com um roteiro afiado que não deixa pedra sobre pedra, Allen cria personagens interessantíssimos (ao mesmo tempo sentimos ódio e pena de Jasmine, torcemos para Ginger encontrar um homem que preste etc.) e cria uma incisiva reflexão sobre as escolhas que fazemos e como elas muitas vezes não passam de cruéis ilusões.

3 - Behind the Candelabra, dir. Steven Soderbergh


2013 foi um ano de altos e baixos para Steven Soderbergh. Se, por um lado, "Terapia de Risco" não passou de uma experiência frustrada, "Behind the Candelabra" apresenta o diretor em sua melhor forma. Engraçado, emocionante e inusitado, o longa, protagonizado por Michael Douglas e Matt Damon em performances memoráveis, narra o caso amoroso entre o renomado pianista Liberace e o ex-treinador de animais Scott Thorson com imensa energia e diálogos afiados muito bem escritos por Richard LaGravenese. Infelizmente relegado à televisão, quando na verdade merecia uma passagem, mesmo que breve, pelas salas de cinema, "Behind the Candelabra" mostra que, apesar de ter apostado nos últimos anos em filmes pouco notáveis, Steven Soderbergh ainda tem garra para fazer ótimos trabalhos.

2 - O Lado Bom da Vida, dir. David O. Russell


Há muita gente que tem preconceito contra as comédias românticas. Eu, não! Sim, eu sei que há muitos títulos do gênero que são bem meia-boca, porém há outros que são um primor; e esse é o caso de "O Lado Bom da Vida". Podem dizer de tudo: que é previsível, que não tem nada de mais etc. Mas a questão é que o longa de David O. Russell fez eu me divertir bastante no cinema, como também fez com que eu me emocionasse. Enfim, eu realmente me importei com esses dois personagens, interpretados com muito afinco por Bradley Cooper e Jennifer Lawrence. Além disso, quem não tem uma família no mínimo parecida com aquela do protagonista: escandalosa, supersticiosa e peculiar? Mesmo que não seja tão bom quanto o filme anterior do diretor, o belo "O Vencedor", "O Lado Bom da Vida" se mostra uma história muito mais interessante do que a sua premissa sugere.

1 - Dentro da Casa, dir. François Ozon


Uma mistura de comédia, drama e suspense, "Dentro da Casa" poderia ter resultado em uma bagunça sem tamanho. Entretanto, o diretor François Ozon se mostrou um grande realizador, conseguindo equilibrar com muita competência três gêneros diferentes em um filme de menos de duas horas. Além disso, o diretor nunca perde a mão e consegue manter o seu filme elegante até mesmo quando a história começa a entrar em enredos cada vez mais polêmicos e, até mesmo, de gosto duvidoso. O elenco também colabora bastante para o ótimo produto final, especialmente a dupla de protagonistas, Fabrice Luchini e Ernst Umhauer, ambos em excelentes performances e mostrando um entrosamento exemplar. Porém, a grande estrela do longa é o seu roteiro (também de Ozon), que leva ao extremo os limites entre ficção e realidade, brincando com todas as possibilidade do gênero narrativo, levando o espectador a um estado de dúvida constante. Criativo e extremamente bem realizado, "Dentro da Casa" é mesmo o melhor filme de 2013!

MENÇÕES HONROSAS:

O Mordomo da Casa Branca e Obsessão, dir. Lee Daniels


Há quem não goste de "O Mordomo da Casa Branca", por ser uma produção simplista e melodramática (o que não deixa de ser, em parte, uma verdade), mas o que me interessou neste longa de Lee Daniels foi a sua visão ímpar da luta pelos direitos civis nos EUA. Pela primeira vez, eu vi um filme que vê os dois lados dentro da própria comunidade negra perante essas transformações sociais: ambos queriam os seus direitos, porém enquanto um pensava apenas nos resultados, o outro pensava nas consequências imediatas dessa luta, como a violência, em seu cotidiano. Isso sem contar com as ótimas performances de todo o seu (enorme) elenco.


Porém, para quem prefere o Lee Daniels que gosta de dar a cara a tapa, o bom é "Obsessão". Uma história policial passada na Flórida, o longa aproveita para fazer uma visão menos didática do que aquela em "O Mordomo..." sobre o racismo nos EUA dos anos 1960. Além disso, há também um delicioso romance envolvendo os personagens de Zac Efron, Nicole Kidman e John Cusack. Nem sempre o filme vai além do superficial, porém ele já vale pelas ótimas atuações de seu elenco, especialmente Cusack e Kidman, e pela sua sua falta de pudor em se declarar abertamente "trash", o que leva a cenas memoráveis de tão bizarras.

O Mestre, dir. Paul Thomas Anderson


Primeiro filme de Anderson depois do excelente "Sangue Negro", "O Mestre" mostra mais uma vez o seu talento como realizador, criando imagens belíssimas e impactantes. Além disso, o seu roteiro possui personagens interessantíssimos, como Freddie Quell, um veterano da II Guerra que procura na fé o conforto que tanto sentiu falta no campo de batalha, e Lancaster Dodd, um homem aparentemente sereno, mas que se mostra impulsivo e irritadiço, líder de uma seita de caráter duvidoso. Com performances excepcionais de Joaquin Phoenix, Amy Adams e do infelizmente finado Phillip Seymour Hoffman, e com uma trilha sonora criativa de Jonny Greenwood, "O Mestre" é um filme curioso e poderoso.

O Abismo Prateado, dir. Karim Aïnouz


Capitaneado por um verdadeiro "tour-de-force" de Alessandra Negrini, "O Abismo Prateado" de Karim Aïnouz consegue transformar uma história que poderia ter sido bem banal - uma mulher passa uma noite vagando pelas ruas do Rio de Janeiro após ser abandonada pelo marido - em um delicado e revigorante estudo de personagem. Vale ressaltar também as performances precisas e simpáticas de Thiago Martins e da jovem Gabi Pereira, essenciais para a grande reviravolta do longa, e em consequência, da vida da própria protagonista.

Truque de Mestre, dir. Louis Leterrier


O roteiro de "Truque de Mestre" é uma bela bagunça, sendo por vezes até incoerente, entretanto, surpreendentemente, ele foi um dos melhores filmes-pipoca de 2013. Esse mérito deve-se a dois fatores: à direção e ao elenco. O francês Louis Leterrier consegue distrair o espectador, assim como os ilusionistas do filme, da maior parte das falhas do roteiro através de um ritmo frenético e de cenas de ação bem construídas. Já o elenco recheado de estrelas tem carisma de sobra, colaborando ainda mais para a boa diversão.

Sem Dor, Sem Ganho, dir. Michael Bay



Michael Bay adora mulheres gostosas de biquini. Michael Bay adora ação desenfreada. Michael Bay adora o Sonho Americano. Agora, imagine um filme em que Michael Bay homenageia e, ao mesmo tempo, satiriza todos esses elementos do jeito mais Michael Bay possível, contando com um roteiro afiado e interpretações excelentes de Mark Wahlberg e Dwayne Johnson. Imaginou? Isso é "Sem Dor, Sem Ganho", ou melhor, o filme mais filosófico de Michael Bay à moda de Michael Bay.

Universidade Monstros, dir. Dan Scanlon


"Monstros S.A." é um dos meus filmes favoritos da Pixar e possui dois dos melhores personagens já criados pelo estúdio: Sully e Mike, ambos memoráveis. Mais de dez anos depois do filme original, temos uma continuação: "Universidade Monstros". Contando as aventuras dos dois amigos (inicialmente rivais) nos tempos de faculdade, o longa não chega ao mesmo nível do filme de 2001, porém não deixa de ser um filme bastante divertido e recheado de personagens simpáticos. Isso sem contar com a excelente trilha sonora de Randy Newman, que me fez gostar ainda mais do longa.

Killer Joe - Matador de Aluguel, dir. William Friedkin


Tracy Letts (autor do recente "Álbum de Família") é um escritor sem papas na língua, e ele faz questão de deixar isso bem claro. "Killer Joe - Matador de Aluguel" que o diga! Dirigido por William Friedkin, o filme conta com atuações estupendas de Matthew McConaughey, Emile Hirsch, Thomas Haden Church, Gina Gershon e Juno Temple, além de ser um dos filmes mais perturbadores dos últimos tempos. Acompanhando o caminho de uma família em direção ao fundo do poço, o texto notadamente misantropo de Letts e a direção aterrorizante de Friedkin juntos dão origem a um filme sombrio ao extremo e que vai fazer até uma próxima ida ao KFC parecer, no mínimo, curiosa (no mal sentido, é claro).

Rush - No Limite da Emoção, dir. Ron Howard


Eu simplesmente odeio Fórmula 1! Acho muito sem graça aquele bando de carros dando voltas e mais voltas por horas a fio. Por isso mesmo, Ron Howard merece muitos elogios, pois seu último filme, "Rush - No Limite da Emoção", consegue tornar o esporte muito mais interessante do que ele é na realidade. Focando na rivalidade entre os pilotos dos anos 1970 Niki Lauda e James Hunt, o longa conta com duas ótimas interpretações de Chris Hemsworth (mostrando que pode ser mais do que o Thor) e Daniel Brühl, irreconhecível sob as camadas de maquiagem. Além disso, grande parte do sucesso do filme se deve ao roteiro de Peter Morgan, ao belo trabalho de fotografia de Anthony Dod Mantle e à edição de Daniel P. Hanley e Mike Hill. Esse é um dos casos em que o fracasso de bilheteria não é nada merecido.

PIORES DE 2013:

5 - Terapia de Risco, dir. Steven Soderbergh


"Terapia de Risco" prometia ser um filme, pelo menos, envolvente. Afinal, a parceria anterior do diretor Steven Soderbergh e do roteirista Scott Z. Burns tinha sido o interessante "Contágio". Infelizmente, a empolgação dura pouco. A estética adotada por Soderbergh ao longa chama a atenção e o elenco faz o melhor que pode com o que lhe é oferecido, porém, no meio do caminho, a história toma um rumo inesperado. Pra pior. O que apontava para um filme de tribunal sobre as consequências do uso inadequado de medicamentos por médicos e pacientes se torna um filme de mistério com um dos finais mais ridículos de todo o ano. Juro, eu tive que me conter para não começar a rir em plena sala de cinema.

4 - Spring Breakers - Garotas Perigosas, dir. Harmony Korine


Contratar ex-atrizes da Disney para participar de um filme sobre quatro garotas que num feriado de Spring Break sentem na pele as consequências de almejar viver em um mundo que exalta a ostentação, o consumo de drogas e o hedonismo desenfreado. Que ideia genial! Pena que tenha resultado em um filme chatíssimo! "Spring Breakers - Garotas Perigosas" até tem as suas qualidades: a fotografia vibrante, o elenco afinado, a trilha sonora e o bordão "look at my shit", imortalizado por um James Franco que usa grill e cabelo trançado. De resto? Bom, valeu a intenção, mas depois da milésima vez em que os personagens falam "spring break, bitches!" e em que vemos cenas de festas em câmera lenta, dá pra perceber que Korine não tem muitos argumentos.

3 - Faroeste Caboclo, dir. René Sampaio


A ideia de transformar uma das canções mais conhecidas do grupo Legião Urbana em filme é bem interessante, afinal estamos falando de "Faroeste Caboclo", uma música com começo, meio e fim. Mais cinematográfica impossível! Porém, "Faroeste Caboclo", o filme, deixa muito a desejar. Em nenhum momento a história empolga, os personagens são desinteressantes e o clímax é praticamente um anti-clímax. Os atores dão o seu melhor, mas o filme nunca sai da primeira marcha.

2 - Minha Vida Dava um Filme, dir. Shari Springer-Berman e Robert Pulcini


Kristen Wiig é realmente uma boa atriz. O problema é que até agora ela não encontrou o filme certo. Primeiro filme da atriz como protagonista depois do sucesso "Missão Madrinha de Casamento", "Minha Vida Dava um Filme" chega a ser triste de tão medíocre. O elenco, que conta também com a soberba Annette Bening, Matt Dillon e Darren Criss, é desperdiçado sem dó nem piedade numa história ridícula recheada de personagens caricaturais. A dupla Springer-Berman/Pulcini e todos os atores envolvidos são capazes de coisas muito melhores!

1 - O Homem de Aço, dir. Zack Snyder


Zack Snyder está mesmo numa má fase! Depois daquela chatice que foi "Sucker Punch - Mundo Surreal", o diretor conseguiu estragar "O Homem de Aço". Havia espaço para um filme melhor? Claro! Henry Cavill faz um bom Super-Homem, Amy Adams está simpática como sempre ao viver a Lois Lane, e Kevin Costner, Diane Lane e até Michael Shannon num papel super exagerado como o General Zod estão bem. Os efeitos especiais e a fotografia também são de encher os olhos. Porém, o roteiro de David S. Goyer é super bagunçado, misturando cenas no presente e no passado de forma confusa. Entretanto, o pior de tudo é mesmo o descontrole de Snyder nas cenas de ação. O terceiro ato de "O Homem de Aço" representa tudo que há de pior nos recentes filmes do gênero: uma pancadaria sem sentido acompanhada por uma cacofonia ensurdecedora. Quem reclama do clímax de "Os Vingadores", que destruiu parte de Nova York, é porque não viu o estrago causado pelo Super-Homem em Metrópolis E em Smallville. "Minha Vida Dava um Filme" pode até ser uma produção mais pobrezinha, mas "O Homem de Aço" tinha um mar de expectativas por um bom filme, e ao destruí-las de forma tão violenta, ele se declarou o pior filme de 2013.

SURPRESAS DE 2013:

3 - Wolverine: Imortal, dir. James Mangold


O Wolverine já começou a cansar? Sim. O corpo de Hugh Jackman como o mutante está cada vez mais assustador? Com certeza! Mas de alguma forma o último filme do herói conseguiu ser uma  boa diversão? Devo dizer que sim. Contrariando todas as expectativas, James Mangold conseguiu fazer de "Wolverine: Imortal" um filme-pipoca muito bom com cenas de ação espetaculares. Além disso, apesar dos pesares, Hugh Jackman ainda tem carisma o suficiente para envolver como o mais famoso dos X-Men. Só o terceiro ato é quase estraga tudo.

2 - Guerra Mundial Z, dir. Marc Forster


"Guerra Mundial Z" tinha tudo para dar errado: o clímax teve que ser totalmente reescrito, o que resultou em uma bateria de refilmagens (geralmente um mau sinal); o diretor era conhecido por fazer o único filme chato de Daniel Craig como James Bond, "007 - Quantum of Solace"; e o trailer prometia apenas mais do mesmo. Porém, driblando todas as adversidades, Brad Pitt e cia. conseguiu entregar um filme de ação surpreendentemente bom! Tudo bem, alguns pontos do roteiro são bastante exagerados (o que é a cena do avião?), mas, no geral, o filme consegue prender o espectador. Além disso, que elogios sejam feitos ao terceiro ato (aquele que foi reescrito)  que poderia ter se tornado um verdadeiro apocalipse, mas que acabou sendo muito mais um exercício em suspense e tensão do que em explosões e arroubos de violência.

1 - Chamada de Emergência, dir. Brad Anderson


Assim como em "Wolverine: Imortal", o clímax quase derruba todo o filme. Felizmente, "Chamada de Emergência" em seus dois primeiros atos é muito bom. A história em si não é nada de mais, porém a direção segura de Brad Anderson e as ótimas interpretações de Halle Berry e Abigail Breslin conseguem prender o espectador em uma sequência de momentos tensos, daqueles de roer todas as unhas das mãos. Surpresa é pouco para definir a minha satisfação com esse longa.

DECEPÇÕES DE 2013:

3 - Os Amantes Passageiros, dir. Pedro Almodóvar


Sem dúvida alguma, Pedro Almodóvar é o mais conhecido diretor espanhol da atualidade. Logo, cada novo filme seu cria bastante expectativa ao seu redor; e "Os Amantes Passageiros" não foi uma exceção à regra, especialmente por marcar um retorno do diretor às comédias escrachadas que lhe deram notoriedade no início de sua carreira. Porém, a comédia, envolvendo um grupo de pessoas presas em um avião impedido de pousar, devido à uma falha no trem de pouso, nunca consegue empolgar. Em suma, "Os Amantes Passageiros" não é ruim, mas ao mesmo tempo, representa uma queda de qualidade do diretor em relação aos seus trabalhos mais recentes.

2 - A Espuma dos Dias, dir. Michel Gondry


Não há como negar a criatividade abundante na mente do diretor Michel Gondry, e se pensarmos em "A Espuma dos Dias" unicamente pela sua estética, é um belo filme. Possui uma intrigante direção de arte, figurino bonito e diversos usos de truques de câmera e animação stop-motion. Além disso, o elenco, com nomes como Romain Duris, Audrey Tautou e Omar Sy, faz um ótimo trabalho. Porém, depois de mais de duas horas de filme, nem os atores nem a inventividade visual de Gondry conseguem salvar "A Espuma dos Dias" do marasmo e de sua história, que aos poucos, passa de peculiar a irritantemente pretensiosa e boba. É uma pena que esse seja o sucessor do ótimo e divertido "Nós e Eu" na filmografia do realizador francês.

1 - Elysium, dir. Neill Blomkamp


"Distrito 9" é um dos melhores filmes de ficção-científica que eu vi nos últimos anos, portanto a minha expectativa por "Elysium" era bastante alta. Entretanto, o diretor sul-africano Neill Blomkamp entregou um segundo longa muito, mas muito abaixo de sua estreia no cinema. Apesar de possuir bons efeitos-especiais e uma exuberante direção de arte, o filme em si é cheio de falhas. O roteiro, que pretende narrar um blockbuster com cérebro, é marcado por uma visão de mundo maniqueísta e simplista, que resume tudo aos estereótipos do rico malvado e do pobre bom coração. Além disso, o texto dá a impressão de se achar muito mais inteligente e complexo do que é na realidade. Mas essas falhas poderiam ter sido amenizadas se o desempenho do elenco fosse muito bom, mas não é isso que acontece. Enquanto Matt Damon, Alice Braga e Diego Luna estão bem, Wagner Moura, Jodie Foster e, principalmente, Sharlto Copley escambam sem medo para a caricatura. Enfim, a "maldição do segundo filme" atacou em cheio Neill Blomkamp. Agora é torcer para a urucubaca não voltar em seu terceiro longa.

O FILME DE 2013 QUE VOCÊ PRECISA VER:

O Grande Gatsby, dir. Baz Luhrmann


Se eu tivesse que escolher qualquer filme que eu vi em 2013 para pôr em uma cápsula do tempo que só seria aberta daqui a cinquenta anos, eu escolheria sem medo "O Grande Gatsby". Primeiro de tudo, se trata de uma adaptação de um dos livros mais famosos de todos os tempos. Em segundo, é uma adaptação sem igual de uma obra sem igual. E em terceiro, essa adaptação é uma representação em filme de todo o ano de 2013. Em sua trilha sonora, estão presentes as grandes tendências da indústria fonográfica atual. Se nos anos 1920 de Fitzgerald, o jazz era a grande vedete, na década de 1970 era a disco music e nos anos 1980 eram as bandas de visual excêntrico e som brega, em 2013 (incluindo-se aí esse início do século XXI) a música eletrônica foi onipresente ("A Little Party Never Killed Nobody"), o hip-hop chegou ao topo das paradas inúmeras vezes ("$100 Bill", "No Church in the Wild") e o indie se tornou mainstream ("Over the Love", "Young and Beautiful"). Hollywood ficou obcecada de vez por blockbusters de orçamento astronômico que precisam faturar o equivalente ao PIB de um pequeno país para dar lucro. "O Grande Gatsby" custou oficialmente US$105 milhões, mas se tirarmos os incentivos fiscais concedidos pelo governo australiano, a bagatela chega a quase US$200 milhões. As festas nababescas de Gatsby e o ritmo acelerado do filme se assemelham à vontade das pessoas, nos dias de hoje, de ostentar o que pode nas redes sociais e à correria para ganhar e gastar dinheiro em proporções praticamente iguais. Leonardo DiCaprio, protagonista do longa, logo o Gatsby de 2013, representa o padrão de beleza e sucesso que permeia a sociedade ocidental contemporânea, e por aí vai... Inconscientemente, Baz Luhrmann fez de sua releitura de um livro de quase um século atrás uma representação perfeita dos nossos tempos atuais.



Sem mais... FELIZ 2014!!!!!!