Roteiro: Max Borenstein
Elenco: Aaron Taylor-Johnson, Elizabeth Olsen, Ken Watanabe, Sally Hawkins, Bryan Cranston, Juliette Binoche
Duração: 123 minutos
Classificação Indicativa: 12 anos
Distribuidora: Warner
Ano: 2014
NOTA: 2.5/5
Veredicto: "O trailer é bem melhor que o filme."
Os filmes de monstro já formam uma verdadeira entidade dentro da história do cinema, indo de "Nosferatu" de F. W. Murnau a "Círculo de Fogo" de Guillermo Del Toro, passando pela série de longas dos Monstros da Universal. Esse tipo de filme obviamente possui apelo com o público, que deseja se aterrorizar com algumas das criaturas mais esdrúxulas já criadas. Em alguns casos clássicos, esses monstros serviam não só para assustar os espectadores, mas também para conscientiza-los e passar-lhes importantes mensagens. Godzilla é um desses casos.
Criado em 1954 pela empresa japonesa Toho, o Rei dos Monstros surgiu como uma metáfora para os perigos do uso de bombas atômicas, uma vez que o próprio Godzilla seria fruto da radiação emanada por esses artefatos. Entretanto, o sucesso estrondoso do personagem acabou ofuscando a mensagem que ele representava, tanto que em suas dezenas de continuações, ele foi apresentado como uma aberração pura e simplesmente. O mesmo aconteceu na primeira adaptação hollywoodiana do personagem, dirigida pelo alemão Rolland Emmerich.
Por isso mesmo é que se esperava ansiosamente pela nova versão norte-americana do monstro, que prometia trazer a conscientização de volta à figura do lagarto gigante. Porém, mesmo que uma mensagem esteja realmente atrelada ao personagem (a de que o homem não controla a natureza), "Godzilla" é um filme aquém de suas possibilidades.
Dirigido pelo britânico Garreth Edwards, revelado pela ficção-científica de minúsculo orçamento "Monstros", o longa começa em 1999, apresentando uma família americana que vive no Japão. Tanto Joe quanto Sandra, marido e mulher, trabalham na usina nuclear nos arredores da cidade e já há algum tempo presenciam estranhos acontecimentos que ocorrem lá dentro. Um dia, essas anomalias tomam uma proporção tal que provocam um vazamento dentro da usina, acarretando na morte de um grupo de cientistas, no qual Sandra se incluía.
Inconformado com a morte de sua esposa, Joe fica obcecado em comprovar que aquilo que aconteceu dentro da usina não foi fruto de um mero terremoto, como as autoridades fazem questão de dizer. Para ele, o vazamento foi resultado de algo muito mais atípico. A sua obsessão pelo assunto levou a um desgaste do relacionamento entre ele e seu filho, Ford, que, com a maioridade, se mudou para San Francisco, formou uma família e começou a servir à Marinha dos EUA.
Já nos dias atuais, Ford, logo depois de voltar à casa após 14 meses de serviço no exterior, recebe a notícia de que seu pai foi preso no Japão por ultrapassar a zona de quarentena demarcada após o vazamento da usina em 99. O jovem, então, viaja até o outro lado do mundo para tirar Joe da cadeia e persuadi-lo a voltar para os EUA a fim de passar mais tempo com a sua família. Ele, porém, recusa a oferta e diz que deve permanecer no Japão, uma vez que as suas investigações acerca da morte de sua mulher ainda não estão concluídas.
No final das contas, Ford é convencido pelo pai a voltar à casa onde eles viviam quando ele era criança (atualmente, dentro da zona de quarentena) e buscar mais provas para as teorias de Joe. Chegando lá, entretanto, eles são presos, mas não sem antes descobrirem que a região está livre de radiação quando, na verdade, era para estar lotada dela. Eles são levados, em seguida, a uma base de pesquisas localizada dentro da usina danificada, onde Joe ganha a confiança de Ishiro e Vivienne, cientistas cientes do real motivo do vazamento. Para eles, o vazamento foi formado pela locomoção de um ser chamado MUTO, que se deslocou das Filipinas até o Japão para deixar um casulo em um local rico em radiação, mais precisamente, a usina onde Joe e Sandra trabalhavam.
Enquanto Joe era interrogado pela polícia dentro da usina, porém, o tal casulo se abre e lá de dentro sai um novo MUTO que causa um estrago no local e leva à morte muitas pessoas, inclusive Joe. Ishiro e Vivienne, então, passam a contar com a ajuda de Ford para adivinhar os passos seguintes do casal de MUTOS e localizar o único monstro que pode detê-los: Godzilla.
Curiosamente, esse primeiro ato do filme é também a sua melhor parte. Nesse segmento, o ritmo é intenso e o enredo bastante intrigante, uma vez que o espectador ainda não sabe muito bem o que está acontecendo. Porém, após a morte de Joe, o filme perde força e se torna apenas mais uma história de monstros destruindo o maior número possível de cidades; e essa monotonia se deve a uma série de fatores.
O primeiro deles é o roteiro fraco de Max Borenstein. Ancorado por um número considerável de personagens, praticamente todos desinteressantes, o enredo peca, principalmente, ao depender de uma série de coincidências para se desenvolver. Coincidentemente, quando Ford e Joe estão na usina, o casulo do MUTO se abre e comprova a teoria "maluca" do ex-cientista. Coincidentemente, o clímax do filme acontece em San Francisco, cidade onde vive a família de Ford. Coincidentemente, Ford está no aeroporto de Honolulu quando o MUTO ataca a cidade. E por aí vai...
Além disso, nenhum dos personagens é bem desenvolvido, sendo reduzidos a meras peças de figuração em meio ao espetáculo. Ishiro e Vivienne existem basicamente para explicar o roteiro (quem é o Godzilla; o que são os MUTOS; do que esses monstros se alimentam); Elle, esposa de Ford, só aparece para correr dos monstros; e até o suposto protagonista, Ford, tem um drama familiar muito mal explorado e acaba ficando restrito ao papel de jovem forte e corajoso que faz de tudo pra salvar o dia. Enfim, a Warner fez de tudo para vender o filme como uma fita de monstro com um grande enfoque nos dramas humanos, mas, no final das contas, as pessoas são o ponto menos envolvente do longa.
Prejudicado também pelos personagens unidimensionais, é o elenco que não tem muito com que trabalhar. Ótimas atrizes, como Sally Hawkins (Vivienne), Elizabeth Olsen (Elle) e Juliette Binoche (Sandra) são desperdiçadas sem dó nem piedade em papéis ingratos. Hawkins serve de escada para o personagem de Ken Watanabe (Ishiro), Olsen é requisitada apenas para fazer cara de assustada e Binoche... Coitada da Juliette Binoche! É contratada para ser morta nos primeiros quinze minutos de filme.
Entre os homens, a situação é um pouco melhor, se bem que fica claro que Aaron Taylor-Johnson não tem força para carregar um filme dessa magnitude sozinho. Como Ford, Johnson atua no piloto automático do início ao fim da projeção, não mostrando um pingo de carisma em 123 minutos de filme. Decepcionante para quem fez bons trabalhos em projetos, como "Kick-Ass - Quebrando Tudo", "Selvagens" e "Albert Nobbs".
Na realidade, o único intérprete que parece realmente envolvido com o filme é Bryan Cranston como Joe. Nas cenas em que aparece, Cranston consegue transmitir com bastante competência a dor de seu personagem. A última cena entre ele e Juliette Binoche serve de amostra do filme que Godzilla poderia ter sido. Infelizmente, o roteiro de Max Borenstein elimina Joe em menos de uma hora de exibição, desperdiçando um grande ator e um personagem bastante promissor.
Outra falha foi manter o monstro que dá nome ao longa tanto tempo fora da tela. A ideia de mostrar Godzilla aos poucos é bastante interessante, porém quando Garreth Edwards decide mostrar o "lagartão" em toda sua magnitude, já é tarde demais. A letargia formada por dois atos protagonizados por personagens apáticos não consegue ser compensada nem pelos urros do Godzilla nem por sua grande batalha com os MUTOS.
Entretanto, o filme tem suas qualidades. Edwards pode até ser um diretor de atores irregular, mas se teve algo que ele acertou em cheio foi a escala do longa. Tudo é grandioso, o número de efeitos especiais (muito bons, por sinal) é enorme, a destruição é maciça. Enfim, não dá para negar que, nesse sentido, o realizador foi extremamente ambicioso.
Outro ponto positivo é a bela fotografia de Seamus McGarvey, que apesar de não ter sido pensada para o 3D, é valorizada por essa tecnologia. Falando nele, o 3D de "Godzilla" também é bastante competente. Apesar de ser fruto de uma conversão, ele é muito bem utilizado, especialmente por não escurecer o filme em demasia, como acontece em muitos outros projetos que recebem o 3D em sua pós-produção.
A direção de arte também é muito boa e a trilha sonora de Alexandre Desplat, criticada por muitos, na minha opinião, não prejudica o filme. Pelo contrário, se encaixa muito bem em sua proposta.
Porém, no geral, "Godzilla" tinha tudo para ser um grande filme, mas não passa de uma tentativa frustrada. Por via das dúvidas, fique com os trailers, que vendiam uma experiência muito mais satisfatória.
No final das contas, Ford é convencido pelo pai a voltar à casa onde eles viviam quando ele era criança (atualmente, dentro da zona de quarentena) e buscar mais provas para as teorias de Joe. Chegando lá, entretanto, eles são presos, mas não sem antes descobrirem que a região está livre de radiação quando, na verdade, era para estar lotada dela. Eles são levados, em seguida, a uma base de pesquisas localizada dentro da usina danificada, onde Joe ganha a confiança de Ishiro e Vivienne, cientistas cientes do real motivo do vazamento. Para eles, o vazamento foi formado pela locomoção de um ser chamado MUTO, que se deslocou das Filipinas até o Japão para deixar um casulo em um local rico em radiação, mais precisamente, a usina onde Joe e Sandra trabalhavam.
Enquanto Joe era interrogado pela polícia dentro da usina, porém, o tal casulo se abre e lá de dentro sai um novo MUTO que causa um estrago no local e leva à morte muitas pessoas, inclusive Joe. Ishiro e Vivienne, então, passam a contar com a ajuda de Ford para adivinhar os passos seguintes do casal de MUTOS e localizar o único monstro que pode detê-los: Godzilla.
Curiosamente, esse primeiro ato do filme é também a sua melhor parte. Nesse segmento, o ritmo é intenso e o enredo bastante intrigante, uma vez que o espectador ainda não sabe muito bem o que está acontecendo. Porém, após a morte de Joe, o filme perde força e se torna apenas mais uma história de monstros destruindo o maior número possível de cidades; e essa monotonia se deve a uma série de fatores.
O primeiro deles é o roteiro fraco de Max Borenstein. Ancorado por um número considerável de personagens, praticamente todos desinteressantes, o enredo peca, principalmente, ao depender de uma série de coincidências para se desenvolver. Coincidentemente, quando Ford e Joe estão na usina, o casulo do MUTO se abre e comprova a teoria "maluca" do ex-cientista. Coincidentemente, o clímax do filme acontece em San Francisco, cidade onde vive a família de Ford. Coincidentemente, Ford está no aeroporto de Honolulu quando o MUTO ataca a cidade. E por aí vai...
Além disso, nenhum dos personagens é bem desenvolvido, sendo reduzidos a meras peças de figuração em meio ao espetáculo. Ishiro e Vivienne existem basicamente para explicar o roteiro (quem é o Godzilla; o que são os MUTOS; do que esses monstros se alimentam); Elle, esposa de Ford, só aparece para correr dos monstros; e até o suposto protagonista, Ford, tem um drama familiar muito mal explorado e acaba ficando restrito ao papel de jovem forte e corajoso que faz de tudo pra salvar o dia. Enfim, a Warner fez de tudo para vender o filme como uma fita de monstro com um grande enfoque nos dramas humanos, mas, no final das contas, as pessoas são o ponto menos envolvente do longa.
Prejudicado também pelos personagens unidimensionais, é o elenco que não tem muito com que trabalhar. Ótimas atrizes, como Sally Hawkins (Vivienne), Elizabeth Olsen (Elle) e Juliette Binoche (Sandra) são desperdiçadas sem dó nem piedade em papéis ingratos. Hawkins serve de escada para o personagem de Ken Watanabe (Ishiro), Olsen é requisitada apenas para fazer cara de assustada e Binoche... Coitada da Juliette Binoche! É contratada para ser morta nos primeiros quinze minutos de filme.
Entre os homens, a situação é um pouco melhor, se bem que fica claro que Aaron Taylor-Johnson não tem força para carregar um filme dessa magnitude sozinho. Como Ford, Johnson atua no piloto automático do início ao fim da projeção, não mostrando um pingo de carisma em 123 minutos de filme. Decepcionante para quem fez bons trabalhos em projetos, como "Kick-Ass - Quebrando Tudo", "Selvagens" e "Albert Nobbs".
Na realidade, o único intérprete que parece realmente envolvido com o filme é Bryan Cranston como Joe. Nas cenas em que aparece, Cranston consegue transmitir com bastante competência a dor de seu personagem. A última cena entre ele e Juliette Binoche serve de amostra do filme que Godzilla poderia ter sido. Infelizmente, o roteiro de Max Borenstein elimina Joe em menos de uma hora de exibição, desperdiçando um grande ator e um personagem bastante promissor.
Outra falha foi manter o monstro que dá nome ao longa tanto tempo fora da tela. A ideia de mostrar Godzilla aos poucos é bastante interessante, porém quando Garreth Edwards decide mostrar o "lagartão" em toda sua magnitude, já é tarde demais. A letargia formada por dois atos protagonizados por personagens apáticos não consegue ser compensada nem pelos urros do Godzilla nem por sua grande batalha com os MUTOS.
Entretanto, o filme tem suas qualidades. Edwards pode até ser um diretor de atores irregular, mas se teve algo que ele acertou em cheio foi a escala do longa. Tudo é grandioso, o número de efeitos especiais (muito bons, por sinal) é enorme, a destruição é maciça. Enfim, não dá para negar que, nesse sentido, o realizador foi extremamente ambicioso.
Outro ponto positivo é a bela fotografia de Seamus McGarvey, que apesar de não ter sido pensada para o 3D, é valorizada por essa tecnologia. Falando nele, o 3D de "Godzilla" também é bastante competente. Apesar de ser fruto de uma conversão, ele é muito bem utilizado, especialmente por não escurecer o filme em demasia, como acontece em muitos outros projetos que recebem o 3D em sua pós-produção.
A direção de arte também é muito boa e a trilha sonora de Alexandre Desplat, criticada por muitos, na minha opinião, não prejudica o filme. Pelo contrário, se encaixa muito bem em sua proposta.
Porém, no geral, "Godzilla" tinha tudo para ser um grande filme, mas não passa de uma tentativa frustrada. Por via das dúvidas, fique com os trailers, que vendiam uma experiência muito mais satisfatória.

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