terça-feira, 18 de março de 2014

Caçadores de Obras-Primas (The Monuments Men)

Dir: George Clooney
Roteiro: George Clooney e Grant Heslov (baseado no livro 'The Monuments Men' escrito por Robert M. Edsel e Bret Witter)
Com: George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, John Goodman, Jean Dujardin, Bob Balaban, Hugh Bonneville, Cate Blanchett
Duração: 118 minutos
Distribuidora: Fox Film
Classificação Indicativa: 12 anos
Ano: 2014

NOTA: 2.5/5

Veredicto: "O grande problema do filme é confundir nostálgico com datado."


George Clooney é um dos atores que conseguiu fazer melhor a transição da frente das câmeras para detrás delas, seja como produtor, diretor ou roteirista. Como intérprete, Clooney conseguiu ser indicado quatro vezes ao Oscar, ganhando um prêmio, por "Syriana - A Indústria do Petróleo", em 2006. No papel de diretor/produtor/autor, ele também soma quatro indicações, seja por filmes próprios ("Boa Noite, e Boa Sorte", "Tudo pelo Poder") ou de terceiros ("Argo", pelo qual ganhou o Oscar em 2013 como produtor). Digo tudo isso para deixar claro o quanto a figura de George Clooney é importante dentro da indústria hollywoodiana.

Por isso mesmo, quando o ator anunciou que iria dirigir um novo filme, ambientado na 2ª Guerra Mundial, encabeçado por um elenco de dar inveja a qualquer diretor e contando com o maior orçamento de sua carreira como realizador, não houve um jornalista de cinema que não tenha pensado: "A Academia vai adorar esse filme!"

Quando o primeiro trailer saiu, as expectativas esfriaram um pouco, pois muitos perceberam que o longa talvez fosse mais comercial do que um forte concorrente a prêmios. Alguns meses depois, o filme foi retirado de sua data de estreia original, dezembro de 2013 - bem no meio da temporada de ouro -, e transferido para um mês mais tranquilo (e conhecido por abrigar filmes mais fracos): fevereiro.

Quando as primeiras críticas começaram a sair, as suposições se confirmaram: "Caçadores de Obras-Primas" simplesmente não era grande coisa. E eu concordo plenamente com isso.

Ambientado na primeira metade dos anos 1940, na reta final da 2ª Guerra Mundial, "Caçadores de Obras-Primas" acompanha o grupo de mesmo nome, idealizado pelos americanos, para encontrar obras de arte que haviam sido roubadas pelos nazistas, que pretendiam colocá-las em exposição no que se chamaria "Museu do Führer". O edifício, fruto de uma antiga apreciação de Adolf Hitler pelas belas-artes, constituiria o maior acervo museológico do mundo e seria construído na cidade austríaca de Linz.

O longa começa com o criador do projeto, Frank Stokes, tentando convencer o então presidente norte-americano, Franklin Roosevelt, a investir na ambiciosa empreitada. Segundo Stokes, o grupo, aparentemente desnecessário em meio a um conflito no qual milhões de pessoas morreram, iria, em suas palavras, "impedir que a Mona Lisa deixasse de sorrir", ou seja, não só frustaria os desejos de Hitler como também manteria viva a cultura das nações cujas obras foram roubadas. No final das contas, Roosevelt aprova o projeto e Stokes põe as mãos na massa.

Ele convoca, então, velhos conhecidos seus, restauradores, arquitetos e especialistas no estudo da arte. O grupo passa por um treinamento militar básico, embarca para a Europa e dali inicia a sua missão.

É exatamente nesse ponto em que o filme começa a desandar. Ao invés de criar um objetivo único para as suas personagens, mantendo o grupo unido durante toda a projeção, Clooney, junto de seu co-roteirista e parceiro de longa data, Grant Heslov decidem em criar pequenas sub-tramas dentro do filme, dispersando o foco e separando os personagens pela maior parte de seus 118 minutos de duração.

Ao meu ver, a melhor opção seria iniciar o filme com os Caçadores já trabalhando na Europa e indo atrás de uma última obra de arte que falta ou de um esconderijo nazista essencial para conclusão de sua missão. Dessa forma, o espectador ficaria mais ligado à trama, como também teriam muito mais cenas com todos os integrantes do grupo juntos. Afinal, venhamos e convenhamos, o grande chamariz de "Caçadores de Obras-Primas" é a possibilidade de ter George Clooney, Matt Damon, Bill Murray, John Goodman etc. contracenando uns com os outros. Infelizmente, o que falta ao filme é exatamente mais cenas do clã todo reunido e um objetivo mais poderoso.

Do jeito que o filme está, o foco do espectador fica disperso em várias narrativas confusas e, na maior parte do tempo, desinteressantes. Além disso, alguns personagens ficam deslocados dentro do longa. Um ótimo exemplo disso são as personagens de Matt Damon e Cate Blanchett, que num enredo paralelo entre James Granger (Damon) e a historiadora Claire Simon (Blanchett), ambientado numa Paris ocupada pelos alemães, nunca parece estar em perfeita sintonia com o restante do filme.

Outro problema sério que tive com "Caçadores de Obras-Primas" foi o tão retrógrado que ele é. Apesar de ter sido filmado em 2013, parece ter sido escrito há mais de cinquenta anos atrás, uma vez que se assemelha, e muito, com aqueles antigos filme-propaganda produzidos pelos EUA durante e um pouco depois da 2ª Guerra. Os alemães são um bando de vilões de gibi, estereotipados ao extremo. Não há um convincente! Além disso, ninguém merece a cena em que a personagem de Clooney dá lição de moral num militar nazista. Desculpa, mas até parece que os americanos já não cometeram muitos erros e desvios de conduta em outros conflitos armados. 

Isso sem contar com a presença enigmática dos soviéticos no longa. Além de serem, mais uma vez, meras caricaturas ambulantes, os russos aparecem na história não sei para o quê. A função deles na trama poderia ter sido mantida apenas em narrações ou em comentários dos protagonistas; não era em nada necessário a estúpida competição entre EUA e URSS no clímax do longa, com os americanos vencendo a disputa e ainda deixando uma bandeira sua - gigantesca, diga-se de passagem - só para denegrir a imagem dos soviéticos. Não sou de esquerda nem nada, mas até eu achei infantil essa "brincadeirinha", remanescente dos tempos da Guerra Fria.

Felizmente, o filme se redime em alguns aspectos. O elenco está competente, mesmo que alguns de seus membros sejam muito sub-utilizados, como a excelente atriz e recém-oscarizada Cate Blanchett. Ela merecia um papel muito melhor do que o que lhe foi dado! Além disso, a parte técnica do longa é primorosa, contando com trabalhos de direção de arte e figurino exemplares. Isso sem contar com a bonita fotografia de Phedon Papamichael e a trilha sonora vibrante de Alexandre Desplat, ambas contribuindo com um ar nostálgico ao filme.

As aventuras dos Caçadores de Obras-Primas são mais do que merecedoras de um filme, especialmente por servirem como um ponto de vista diferente de um dos períodos mais trágicos da História recente. Porém, o longa que foi produzido a partir de seu legado, peca ao priorizar posicionamentos políticos ultrapassados, ao invés de apenas fazer a esses homens a sua devida homenagem.


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