Dir.: Nicolas Winding Refn; Escrito por Nicolas Winding Refn; Com Ryan Gosling, Kristin Scott Thomas, Vithaya Pansringarm. 2013 (90 min. - 16 anos)
Depois de ganhar o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes 2012 por seu ótimo "Drive" (que até entrou na 7ª posição da lista dos 10 melhores filmes de 2012 aqui do blog), o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn arranjou para si uma dura missão: superar - ou pelo menos se igualar - ao seu maior sucesso comercial e de crítica. Seu mais novo filme, "Apenas Deus Perdoa", consegue isso? Não. Mas também não dá para dizer que o diretor não continua fazendo filmes interessantes.
Passado inteiramente em Bangcoc, o longa acompanha Julian, um homem americano, dono de uma academia de lutas bancada pelo tráfico de drogas, que resolve se vingar do assassino de seu irmão mais velho, Billy. Entretanto, Julian se comove com a história dele e o deixa vivo. Porém, quem chega à cidade para buscar o corpo do filho mais velho é Crystal, mãe de Julian e chefona de uma rede de tráfico internacional de drogas; e é ela quem vai botar em prática a vingança que Julian não teve a coragem de fazer.
"Apenas Deus Perdoa" funciona, às vezes, quase como um filme mudo, apostando na força de suas imagens para captar os espectadores. E que imagens! A excelente fotografia de Larry Smith é de encher os olhos, recheando a tela com cores fortes e vibrantes como o vermelho e o azul. O que não falta ao filme de Refn são belas imagens, já que até mesmo os mais grotescos atos de violência (que não são poucos) recebem um cuidado estético invejável.
Falando na violência, essa é pesadíssima! Até me surpreendi com a classificação 16 anos do filme. Tem de tudo que você imaginar: olho furado, garganta cortada, face deformada, braço amputado. Em outras palavras, quem tem coração fraco não deve nem passar perto do cinema. Entretanto, vale ressaltar, que apesar das brutalidades cometidas no filme parecerem, num primeiro momento, gratuitas, elas, na verdade, servem apenas para corroborar a mensagem do filme de que o crime não compensa. Melhor viver pobre e morrer tarde do que viver rico e morrer cedo.
A trilha sonora de Cliff Martinez é outro triunfo. Em "Drive", a parceria entre Refn e Martinez já tinha dado super certo. Aqui, ela é mais uma vez bem-sucedida, passando a emoção certa que as cenas exigem, especialmente naquelas que correm sem nem um diálogo travado - o que não é raro.
Quanto às atuações, Ryan Gosling faz mais do mesmo. Não está ruim, mas também não deixa fortes impressões. Na verdade, seu personagem, Julian, poderia ter sido muito mais bem explorado do que é durante o filme, já que ele é um criminoso sanguinário, mas que demonstra, no fundo, ter algum resquício de escrúpulos. Enfim, foi uma oportunidade perdida.
Por outro lado, Kristin Scott Thomas e Vithaya Pansringarm arrasam em papéis que, sim, flertam e muito com o exagero e com a caricatura, mas sinto que essa foi mesmo a intenção do diretor. Thomas, num visual Donatella Versace dos infernos, tem as melhores falas de todo o filme, seja quando arma barraco na recepção do hotel onde está hospedada, seja quando acaba com a moral do filho num jantar. A personagem não tem censura nenhuma e a atriz aproveita isso para fazer de Crystal uma figura memorável. Já Pansringarm, interpretando o grande "vilão" (como se os mocinhos também não o fossem...) da história, um policial corrupto que vive carregando pra lá e pra cá uma espada para matar seus oponentes, dá o seu melhor no papel. Carregando quase que uma mesma expressão durante todo o filme, ele faz rir, como nos momentos em que canta karaokê para oficiais fardados, mas também nos faz morrer de tensão cada vez que saca a sua amada espada.
"Apenas Deus Perdoa" parece uma daquelas "pulp fictions". É curto (tem apenas 90 minutos de duração), tem uma história bem simples, personagens extravagantes e litros e litros de sangue. Talvez, se fosse um filme mais convencional em certos aspectos, teria sido ainda mais atraente, porém, mesmo com seus floreios por vezes desnecessários, o novo filme de Nicolas Winding Refn reserva para si um estilo único e uma experiência, no mínimo, diferente.
NOTA: 3.5/5
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