sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger)


Dir.: Gore Verbinski; Escrito por Justin Haythe, Ted Elliot e Terry Rossio; Com Armie Hammer, Johnny Depp, William Fichtner, Tom Wilkinson. 2013 - Disney (149 min. - 14 anos)


No dia vinte de setembro, foi anunciado o fim da parceria entre o produtor Jerry Bruckheimer e a Disney. Juntos, os dois produziram grandes sucessos, como os dois "A Lenda do Tesouro Perdido", "Falcão Negro em Perigo" de Ridley Scott, "Pearl Harbor" de Michael Bay e a franquia bilionária "Piratas do Caribe". Porém, de uns anos pra cá, essa parceria tem dado sinais de desgaste, sob a forma de decepções comerciais como "Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo" e "O Aprendiz de Feiticeiro" ou de fracassos, como o filme mais recente da safra, "O Cavaleiro Solitário".

Dirigido por Gore Verbinski (diretor dos três primeiros filmes "Piratas do Caribe" e vencedor do Oscar pela animação "Rango") e protagonizado pelo eterno Jack Sparrow, Johnny Depp, "O Cavaleiro Solitário" não tinha como dar errado! Porém, não foi isso que aconteceu e o filme, orçado em US$ 215 milhões, não conseguiu passar dos US$ 100 milhões nos EUA e vem tendo dificuldades em ter sucesso no resto do mundo, onde westerns geralmente não são bem recebidos.

O longa, baseado na série homônima, que começou no rádio em 1933 e que depois foi para a tevê, sendo exibida até 1957, conta a história de John Reid, um homem há pouco formado na Faculdade de Direito, e que vai até o Texas, sua terra natal, para visitar seu irmão Dan, um Texas Ranger. Porém, na viagem de trem ao seu destino, um criminoso chamado Butch Cavendish consegue se soltar de suas algemas e começa a tocar o terror dentro do comboio. No meio de toda essa confusão, John e Tonto, um índio extravagante que carrega um corvo empalhado sobre a cabeça, se conhecem e definitivamente não se entendem.

Mais tarde, já estabelecido em sua cidade natal, John acompanha seu irmão e outros Rangers na busca pelo foragido Cavendish. Porém, no final das contas, tudo se mostra uma emboscada, na qual Dan e outros Rangers são brutalmente assassinados, sobrando apenas John para contar a história.

Coincidentemente, quem acaba salvando a vida de John, ajudando em sua recuperação, mesmo que de má-vontade, é o mesmo Tonto do trem. Os dois, então, acabam tornando-se amigos e decidem se unir para ir atrás de Butch Cavendish e vingar a morte de Dan. Entretanto, no meio do caminho, tudo se mostra muito mais complicado do que eles imaginavam inicialmente.

Somente pela sinopse já dá para perceber o quão embolada é a história de "O Cavaleiro Solitário" e, não tenha dúvidas, a bagunça é ainda maior. Assim como nas continuações de "Piratas do Caribe", também escritas por Ted Elliot e Terry Rossio (em "Solitário" há ainda a colaboração de Justin Haythe), o filme como um todo acaba sofrendo com a ambição excessiva dos roteiristas. O número de personagens é tão grande e há tantas tramas entrelaçadas, que no final das contas, o que era para ser uma simples história de dois homens indo atrás de justiça se torna uma mistura de gêneros que às vezes funciona e em outras não. Além disso, por causa desse enorme acúmulo de narrativas, o filme acabou ficando longo demais, chegando a praticamente duas horas e meia de duração.

"O Cavaleiro Solitário" também parece constantemente indeciso sobre a quem ele é direcionado. Por um lado, o longa aposta num clima de matinê, especialmente no clímax (que também é o seu melhor momento), quando há uma abundância de comédia pastelão, violência no estilo "Tom e Jerry" e, o principal, mera diversão escapista. Já por outro, o filme acaba se excedendo e apresenta cenas de violência seca e sangrenta (há até personagem comendo coração humano!) e crítica social deslocada, como o massacre de uma tribo indígena. Em resumo, "O Cavaleiro Solitário" acaba resultando bobo demais para os adultos e violento demais para as crianças, o que é uma falha grave, ainda mais vindo da mesma equipe que havia conseguido equilibrar bem esses dois extremos em "Piratas do Caribe".

O elenco está bem irregular. Há aqueles que estão muito bem, como Armie Hammer, interpretando John Reid. O ator, que já havia mostrado talento antes, tanto no drama ("A Rede Social", "J. Edgar") quanto na comédia ("Espelho, Espelho Meu"), aqui mostra-se um protagonista bastante carismático e divertido de se ver. A competência e a aparência de ator do antigamente, ele já tem, falta, porém, o veículo que lhe faça total jus, já que "O Cavaleiro Solitário" não o é. 

Ainda no rol das boas interpretações, há William Fichtner, como Butch Cavendish. O personagem é exagerado e parece um verdadeiro clichê ambulante dos filmes de faroeste, porém o ator consegue tirar o melhor do personagem e se destacar dentro do filme.

Já o resto do elenco não faz grandes coisas. Tom Wilkinson, como Latham Cole, o dono de uma ferrovia, faz uma atuação competente, mas que nada acrescenta à sua carreira. Helena Bonham Carter parece que se perdeu no estúdio e, ao invés de chegar na hora no set de um filme de Tim Burton, acabou fazendo uma pontinha como uma cafetina num filme da Disney. A mocinha da história, Ruth Wilson, é bonita (mesmo que tenha uma boca cheia do botox), mas também não deixa grandes impressões.

A maior decepção, porém, é Johnny Depp. Apesar de sua performance não ser ruim, ela parece um mero pastiche de outras atuações suas. No todo, o seu Tonto é uma mistura do visual e dos trejeitos de Jack Sparrow com a entonação da voz de Barnabas Collins. Sim, ele continua engraçado, mesmo que não tanto quanto antes, mas não deixa de ser cansativo vê-lo fazer o mesmo personagem pela milésima vez. Enfim, Depp tem mais é que agradecer por ter uma química genuína com Hammer.

Pelo lado positivo, "O Cavaleiro Solitário" serve para mostrar mais uma vez a qualidade de Gore Verbinski como diretor de grandes produções. Ele é, sim, megalomaníaco e perfeccionista ao extremo (um dos motivos para o orçamento exorbitante do filme foi a exigência de Verbinski em usar o menos possível de CGI, mesmo que para isso tivesse de ser construída do zero uma locomotiva do final do século XIX), porém ele sabe montar como ninguém uma sequência de ação. Não há uma só delas em "O Cavaleiro Solitário" que seja incompreensível ou barulhenta a ponto de irritar. Nesse sentido, as cenas de ação do filme de Verbinski são muito mais agradáveis de se assistir do que àquelas contidas em, digamos, "O Homem de Aço".

O filme também possui uma bela fotografia, cortesia de Bojan Bazelli, especialmente nas cenas que acompanham Tonto, já ancião, trabalhando numa feira de variedades em São Francisco. A direção de arte também não fica atrás, construindo cenários exuberantes, como o bordel comandado pela personagem de Bonham Carter, e as enormes locomotivas já citadas no texto.

Em suma, "O Cavaleiro Solitário" não é a porcaria que muitos andam falando por aí. Pelo contrário, é um filme perfeitamente aceitável. Porém, não deixa de ser decepcionante saber que um filme que poderia ter sido uma ótima diversão leve e descompromissada acabou se tornando uma verdadeira bagunça só porque seus realizadores queriam agradar a tudo e a todos de qualquer maneira.

NOTA: 3/5


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