Dir.: Derek Cianfrance; Escrito por Derek Cianfrance, Ben Coccio e Darius Marder; Com Ryan Gosling, Eva Mendes, Bradley Cooper, Ray Liotta. 2012 - Paris Filmes (140 min. - 16 anos)
O sociólogo francês Émile Durkheim definiu a patologia social como o momento em que a sociedade ou as instituições que a regem, como a lei, a escola e a saúde, apresentam-se fora da normalidade. O interessante desse conceito é que coisas como o crime e o suicídio são consideradas normais, ou seja, se elas acontecem até determinada quantidade, quer dizer que a sociedade está saudável. Porém, a grande questão é: em que momento isso deixa de ser normal e passa a ser uma patologia?; e como nós, meros seres humanos, iremos perceber que a sociedade está doente? Direta ou indiretamente, é esse o tema de "O Lugar Onde Tudo Termina".
Dirigido por Derek Cianfrance, que já havia explorado o início e o fim de um relacionamento amoroso de maneira bastante natural no ótimo "Namorados para Sempre", "O Lugar Onde Tudo Termina" é um filme nada menos do que ambicioso. Metrado em 140 minutos, o longa explora os mais diversos assuntos como crime, corrupção, desvirtuamento de valores, família e responsabilidades de maneira bastante aprofundada e interessante.
O filme começa contando a história de um motoqueiro, vivido por Ryan Gosling, que faz parte de um espetáculo itinerante de globo da morte que, quando volta à cidade de Schenectady depois de um ano fora, reencontra uma ex-namorada e descobre que ela teve um filho seu. Entretanto, a moça não quer saber mais dele, já que está noiva de outro homem, mas, mesmo assim, ele decide se tornar um pai presente e arranja um emprego em uma oficina mecânica nos arredores da cidade. Porém, o salário que ganha não é o suficiente para sustentar o filho, fazendo com que ele comece a assaltar bancos para conseguir mais dinheiro.
É nesse momento em que o seu destino se cruza com o de um policial, interpretado por Bradley Cooper, que também possui um filho pequeno, e que aos poucos começa a descobrir que a polícia da cidade não é o que parece. E para completar o ciclo, quinze anos mais tarde, as vidas dos dois filhos também irão se entrelaçar.
A maior qualidade do filme de Cianfrance é, indubitavelmente, o elenco. Ryan Gosling está ótimo como o motoqueiro que vira assaltante e Bradley Cooper também se sai muito bem como o policial dividido entre o dinheiro e a honestidade. Além disso, outros que se destacam são o ascendente Dane DeHaan, que vive o filho do personagem de Gosling na adolescência, e Eva Mendes como a antiga paixão do motoqueiro. Há ainda a presença, em papéis menores, de Ray Liotta como um colega de Cooper na polícia e Rose Byrne como a esposa do policial. Na realidade, o único elo fraco do elenco é Emory Cohen como o filho das personagens de Cooper e Byrne. O personagem é estereotipado ao extremo, destoando do tom do resto do filme, e Cohen acaba ficando preso à uma atuação forçada e fraca, ainda mais se comparada à performance de DeHaan, com quem ele contracena a maior parte do tempo.
Outro ponto alto do filme é o roteiro escrito a seis mãos pelo diretor, por Ben Coccio e e por Darius Marder. O texto consegue praticamente o impossível: contar uma história dividida em três capítulos e com um grande número de personagens de forma bem acabada e aprofundada. Em outras palavras, os temas abordados são bem explorados e todos os personagens possuem, pelo menos, uma quantidade aceitável de desenvolvimento. A única ressalva a ser feita ao roteiro é que ao dividir o filme em três capítulos, os roteiristas aceitaram o risco de sacrificar um pouco o ritmo do filme, e é isso que acontece em alguns trechos, especialmente no segundo ato, centrado no personagem de Bradley Cooper, que é menos interessante do que as outras duas partes do filme.
O longa tem as suas falhas, como a maquiagem que não envelhece ninguém, mas com uma interessante fotografia de Sean Bobbitt e uma sinistra trilha sonora assinada por Mike Patton, vocalista da banda Faith No More, "O Lugar Onde Tudo Termina" é um bem realizado drama familiar e social que mostra novamente o talento e o potencial de Derek Cianfrance como um diretor em ascensão.
NOTA: 3.5/5
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