Dir.: Zack Snyder; Escrito por David S. Goyer; Com Henry Cavill, Amy Adams, Michael Shannon, Diane Lane, Russel Crowe, Kevin Costner. 2013 - Warner (143 min. - 12 anos)
Super-Homem é, talvez, o super-herói mais conhecido em todo o mundo. É praticamente impossível encontrar alguém que nunca tenha visto o seu símbolo característico, a sua roupa com cueca por cima da calça ou que não conheça a sua identidade secreta (Clark Kent). Entretanto, a sua jornada pelos cinemas é irregular. Considerados clássicos mesmo são apenas os dois primeiros, protagonizados por Christopher Reeve, e que deram origem à marcante música-tema composta por John Williams. Os terceiro e quarto capítulos estrelados por Reeve são considerados até hoje verdadeiros desastres, tanto de crítica como de público.
Demorou, então, quase vinte anos para trazer o herói novamente as telonas com "Superman - O Retorno". Dirigido por Bryan Singer, recém-saído do sucesso absoluto dos dois primeiros longas da franquia X-Men, que atualmente são considerados os abre-alas dessa nova onda de filmes de super-heróis, "Superman - O Retorno" até foi bem recebido pelos críticos na época. Entretanto, apesar de ter tido uma carreira respeitável nas bilheterias, a arrecadação foi abaixo do esperado; ainda mais considerando o seu orçamento astronômico acima dos 200 milhões de dólares. Além disso, com o passar do tempo, o longa tem se tornado mais um alvo de reclamações (principalmente por sua homenagem exagerada e excessiva ao longa original, dirigido por Richard Donner) do que motivo de orgulho para os fãs.
Consequentemente, a Warner Bros. decidiu reiniciar a saga do Super-Homem no cinema. Para isso, chamou o diretor da mais recente trilogia do Batman (que limpou a reputação do herói depois do fiasco de "Batman & Robin"), o inglês Christopher Nolan, para produzir e o roteirista dessa mesma trilogia, David S. Goyer, para escrever uma nova aventura para o mais famoso personagem da DC Comics. Para dirigir a mais nova adaptação convocaram Zack Snyder, mesmo depois do fracasso comercial e de crítica que foi "Sucker Punch - Mundo Surreal", devido a sua experiência em levar HQs para as telonas, como é o caso de seus filmes mais famosos: "300" e "Watchmen - O Filme". A partir daí, era ver o que o trio nos daria como resultado. No caso de "O Homem de Aço", uma bela decepção!
Como já era de se esperar, o filme é realmente um primor visual, afinal se há algo que o diretor Snyder sabe fazer direito é imprimir uma estética bastante interessante aos seus projetos. A fotografia feita por Amir Mokri é belíssima e realça de forma espetacular os olhos azuis do protagonista Henry Cavill e a capa vermelha (vivíssima!) do Super-Homem. Além disso, as imagens da infância de Clark Kent tem um quê dos filmes de Terrence Malick, aliando belas imagens com elementos característicos do meio-oeste norte-americano como a roupa no varal, o carrinho de mão e a plantação de milho, dando uma maior noção de localização da história (Kansas) e uma inspirada veia artística ao filme. A direção de arte de Chris Farmer e Kim Sinclair também é muito boa, tanto na criação dos ambientes terrestres como a cidadezinha de Smallville e a casa da família Kent como na dos cenários de Krypton. Além disso, palmas para a equipe de efeitos especiais do longa, que faz um ótimo trabalho aqui.
Entretanto, se visualmente o filme é primoroso, o filme possui outros problemas bem sérios. O principal é o roteiro falho de David S. Goyer. A história do filme em si até é interessante. No longa, acompanhamos a vida de Clark Kent antes dele se tornar o Super-Homem, como também a ameaça que se instala na Terra quando o General Zod chega ao nosso planeta querendo a ajuda do Homem de Aço para construir um novo Krypton (que foi destruído) sobre a estrutura da Terra, fazendo com que seja necessário modificar toda a atmosfera e topografia terrestres, além de, obviamente, aniquilar a raça humana.
Um dos problemas do roteiro é que se o conflito central da trama é até bem construído, o passado de Clark Kent, por sua vez, quando ele está descobrindo os seus poderes e criando uma forte relação com a sua família da Terra, é extremamente bagunçado e possui uma estrutura desleixada. A primeira meia hora, aproximadamente, de filme é uma verdadeira lição de como não estruturar uma história. Ao abordar a infância e adolescência de Clark em uma série de flashbacks, à medida que o herói a lembra enquanto perambula por vários locais como um navio pesqueiro, um bar ou uma plataforma de petróleo em chamas, o filme fica parecendo mais um amontoado de situações do que uma história propriamente dita. Além disso, a construção dos personagens fica precária. Afinal, por que Clark resolveu andar pelo país, trabalhando desde pescador até funcionário de base militar, passando por garçom? A relação dele com os seus pais e com seus poderes também merecia uma maior atenção do roteiro.
Passado o início mal-estruturado acumulam-se outros problemas como os personagens mal-desenvolvidos. O Planeta Diário, local onde trabalha Lois Lane, por exemplo, é um antro deles como o editor do jornal Perry White (que até é desculpável porque Laurence Fishburne não tem mesmo muito o que fazer com ele), mas pior ainda são os colegas de trabalho de Lois, que ganham uma importância excessiva, especialmente no terceiro ato, quando, na verdade, a presença deles não faz grande diferença e nem favorece o andamento da história. Enfim, no final das contas, o longa acumula muitos personagens, sendo que parte deles poderiam ter sido excluídos a fim de dar mais espaço para outros, mais importantes na jornada de descobrimento de Clark.
Mas o pior ainda estar por vir, que é o terceiro ato, que é, simplesmente uma das experiências mais desagradáveis que eu já passei em um cinema. Nesse momento, a história anda bem, aí o problema é de direção mesmo. Zack Snyder, nesse trecho do filme, confunde de forma imperdoável espetáculo com cacofonia. Uma coisa é você ter três sequências de ação cheias de efeitos especiais e com uma enorme escala (algo que o produtor Christopher Nolan soube fazer muito bem nos seus filmes do Batman), outra é simplesmente passar uma hora jogando coisas e mais coisas em prédios e mais prédios, é destruir duas cidades, é conseguir derrubar um satélite da órbita da Terra e jogá-lo sem dó nem piedade em cima de Metrópolis etc, etc, etc. Em outras palavras, é exagerar na dose sem nenhum motivo aparente.
Um exemplo recente de espetáculo é "Os Vingadores". No filme de Joss Whedon, o grupo de super-heróis da Marvel luta com robôs alienígenas em plena Manhattan e, com isso, consegue causar um destruição considerável a uma área importante dessa ilha. Entretanto, nesse filme, o diretor conseguiu fazer do clímax cheio de destruição algo divertido, empolgante. Em "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge" do produtor Nolan, Gotham City passa por poucas e boas no terceiro ato, mas nem por isso o filme torna-se chato, pelo contrário, é no meio do caos que o longa tem o seu melhor momento, de maior tensão e excitação. Em "O Homem de Aço", porém, a destruição do terceiro ato é simplesmente insuportável! Nunca na minha vida desejei tanto que não houvesse mais explosões em um filme de ação ou que de repente o som da sala de cinema pifasse e ficassem apenas as imagens. Em outras palavras, há quem diga que Michael Bay é o rei da barulheira e das explosões insuportáveis, porém, sendo sincero, prefiro assistir 10 vezes a "Transformers" do que ter que passar pela tortura sonora que é a hora final de "O Homem de Aço".
Para finalizar, "O Homem de Aço" tinha uma boa equipe para fazer tudo dar certo, tanto de realizadores quanto de atores (inclusive Henry Cavill que traz uma certa ingenuidade ao personagem central, algo que achei bem interessante). Porém, a insistência em acreditar que quanto mais barulho (tanto da destruição quanto da trilha sonora exagerada de Hans Zimmer) melhor fez com que o longa, ao seu final, se tornasse uma experiência insalubre.
NOTA: 2/5
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