Dir.: Michael Bay; Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely; Com Mark Wahlberg, Dwayne Johnson, Anthony Mackie, Tony Shalhoub, Ed Harris. 2013 - Paramount (129 min. - 18 anos)
Michael Bay é conhecido por seus filmes de ação de orçamento gigante e profundidade zero. É, sem dúvida, um dos diretores mais odiados pelos críticos de cinema, sendo acusado de dar prioridade a explosões e mulheres de biquíni do que à uma história coerente e personagens interessantes, o que não é de todo mentira. Porém, há de se admitir que se ele realizou alguns filmes bem ruins, como "Transformers: A Vingança dos Derrotados" (que me tirou qualquer vontade de ver "O Lado Oculto da Lua", terceiro filme da série), ele também já fez alguns projetos, no mínimo, interessantes, como "A Ilha" e o primeiro "Transformers". E seu último filme, "Sem Dor, Sem Ganho", felizmente, está nesse último grupo.
Orçado em apenas US$ 26 milhões, uma quantia mínima se comparada às dos outros filmes de Bay, o novo longa do diretor é baseado numa história que de tão absurda não parece verdade. Em 1994, um trio de marombeiros, liderados por Daniel Lugo, um homem obcecado pelo sonho americano, sequestraram, torturaram e mutilaram empresários de diversos ramos a fim de pegar o seu dinheiro e poder gastá-lo em mulheres, casas, bebidas etc. Essa história inacreditável deu origem à uma série de artigos publicados pelo jornal Miami New Times em 1999, que por sua vez, interessaram Michael Bay, que por alguns anos tentou produzir um filme sobre esses crimes.
Um dos aspectos mais curiosos de "Sem Dor, Sem Ganho" é que é um filme dirigido por Michael Bay, mas que ao mesmo tempo, satiriza tudo aquilo que é exaltado nos outros longas do diretor. Geralmente, Bay fala do Sonho Americano - caracterizado por grandes casas, carrões e belas mulheres - como algo a ser almejado a qualquer custo, porém em seu mais novo longa, ele prefere criar uma nova visão sobre tudo isso. Aqui ele diz que, sim, o Sonho Americano é algo atingível e que pode até trazer felicidade, porém avisa que com ele vem também um preço; o preço a ser pago por tudo que foi feito para atingir o Sonho. Por isso mesmo, Bay foi, provavelmente, o diretor perfeito para esse filme. Quem melhor para falar sobre o costume americano de consumir e esbanjar a riqueza em níveis homéricos do que o diretor mais megalomaníaco de Hollywood?
Para passar a sua mensagem da melhor forma possível, Bay contou com um ótimo elenco, ancorado por uma das melhores performances de Mark Wahlberg. Aqui, o ator transita muito bem entre o drama e a comédia e constrói um Daniel Lugo identificável, através da sua busca incansável por reconhecimento, mas também repreensível e imaturo, por ir atrás do reconhecimento usando a brutalidade da forma mais rústica possível. Interpretando os parceiros de Lugo, Dwayne Johnson e Anthony Mackie também estão de parabéns. Johnson, vivendo um ex-drogado e ex-presidiário convertido à uma igreja evangélica, possui o papel mais interessante do longa. O do homem, que em meio à sua busca pela redenção, se envolve num crime sanguinário e cujas consequências podem afetar, para pior, o resto de sua vida. Já Mackie vive um homem que, de tanto usar anabolizantes, sofre de disfunção erétil, e que para poder voltar a ter uma vida sexual ativa decide participar do roubo, para poder dar uma vida melhor à sua noiva, que, coincidência ou não, é enfermeira de uma clínica de urologia.
No elenco de apoio, há outros nomes conhecidos, como Tony Shalhoub e Ed Harris, vivendo, respectivamente, a vítima da primeira ação do grupo de marombeiros e o investigador contratado por ele para conseguir pender o trio. Há ainda Rob Corddry, como o dono da Sun Gym, academia onde os criminosos trabalhavam, a nova revelação da comédia, Rebel Wilson, vivendo a esposa do personagem de Anthony Mackie, e a modelo israelense Bar Paly, vivendo a mulher dos sonhos de qualquer fã dos filmes de Michael Bay. Isso sem contar com uma pequena, mas essencial participação de Ken Joeng, como um palestrante que inspira Daniel Lugo a cometer os crimes.
Visualmente falando, o filme é um verdadeiro orgasmo para os saudosos dos anos 1990. Usando uma fotografia vibrante, câmera lenta e uma edição ágil, Bay emula de forma excepcional o clima da Miami caótica, exigida pelo roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely (curiosamente, eles também escreveram os filmes da série "As Crônicas de Nárnia").
Por falar no roteiro, Markus e McFeely se saem bem tanto nos diálogos, que muitas vezes são inspirados, como o lema de Lugo ("eu acredito na ginástica") e a definição que o mesmo dá a Miami ("a sala de espera do Céu", referindo-se à fama da Flórida ser o estado dos aposentados), como no tratamento dado aos três bandidos. Ao invés de criar empatia entre o grupo de marombeiros e o espectador através dos atos cometidos por eles (a não ser quando eles servem de mostra da incompetência do grupo), os roteiristas apostam na força dos desejos dos personagens, que podem ser relacionados a qualquer pessoa que viva em uma sociedade capitalista.
Mesmo que não vá atrair aqueles que não gostam do estilo de filmar de Michael Bay, "Sem Dor, Sem Ganho" é um ponto positivo na carreira do diretor, mostrando que, apesar de ser conhecido pelos filmes "estúpidos", ele tem muito a dizer sobre a sociedade em que vive de maneira divertida, mas também reflexiva.
NOTA: 4/5
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