Roteiro: Lars Von Trier
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Stellan Skarsgard, Stacy Martin, Shia LaBeouf, Uma Thurman, Christian Slater
Duração: 118 minutos
Classificação Indicativa: 18 anos
Distribuidora: California Filmes
Ano: 2013
NOTA: 3/5
Veredicto: "Lars Von Trier continua irônico, porém a primeira parte de 'Ninfomaníaca' deixa a desejar."
Lars Von Trier é uma pessoa que adora criar polêmica, seja com seus filmes, seja com suas atitudes. Em 2000, ao lançamento de "Dançando no Escuro", Björk, protagonista do longa, por mais de uma vez, falou mal de Von Trier e de como era difícil trabalhar com ele. Nove anos depois, seu filme "Anticristo" ganhou notoriedade graças às suas cenas de sexo explícitas e violência pesada, muitas delas direcionadas à personagem da atriz Charlotte Gainsbourg. Não foi por nada que o filme recebeu um "anti-prêmio" no Festival de Cannes por seu conteúdo considerado, por muitos, misógino. Em 2011, também no festival francês, Von Trier disse compreender Adolf Hitler, o que enfureceu muita gente e o fez ser considerado "persona non grata" do festival.
Pouco tempo depois dessa última controvérsia, o diretor anunciou que filmaria a história de vida de uma mulher viciada em sexo sem o menor pudor. Daí nasceu "Ninfomaníaca" (ou "Ninf()maníaca", se você quiser ser mais provocador), um longa dividido em duas partes e com um teor altíssimo de conteúdo sexual.
Para vender o filme, criou-se uma campanha de marketing nunca antes vista para um longa de arte. Trailers, prévias, diversos cartazes, fotos... Enfim, não era difícil saber que o filme estava para estrear. E para colocar a cereja em cima do bolo, ele ainda estreou na Dinamarca (país natal do diretor) bem no Dia de Natal. Infelizmente, a equipe de divulgação do projeto fez um trabalho melhor do que Lars Von Trier.
O filme começa com a figura de Joe - a ninfomaníaca do título - estatelada em um beco escuro e sinistro. É aí que aparece Seligman, um pescador que, ao ir fazer compras, se depara com ela e lhe oferece abrigo. Já na casa de Seligman, bem acomodada e tomando uma xícara de chá, Joe começa a contar como ela foi parar toda machucada naquele beco.
Para isso, ela volta até à sua infância, quando, segundo ela, descobriu a sua vagina enquanto brincava no banheiro com uma amiga. Daí, Joe passa a narrar os momentos mais importantes de sua vida sexual, indo desde quando ela perdeu a virgindade com seu vizinho, Jerôme, até o momento em que começa a ter vários parceiros sexuais ao mesmo tempo.
Se há uma coisa em que Lars Von Trier é bom, é em ser irônico; e "Ninfomaníaca: Volume I" é uma obra verdadeiramente sarcástica, a ponto de não sabermos se o longa é um drama ou uma comédia. Há sequências bastante melancólicas, e que fazem questão de serem nada sutis. Um exemplo claro disso é o quarto capítulo da história de Joe, "Delírio", em que a protagonista narra os últimos dias de vida de seu pai. Esse trecho é tão sério e dramático, que Von trier optou por apresenta-lo em preto-e-branco. Por outro lado, há outros momentos verdadeiramente engraçados (de um modo tragicômico, naturalmente), como quando a esposa de um dos parceiros de Joe vai até o seu apartamento, junto dos filhos, para "lavar a roupa suja".
Além disso, o diretor apresenta intervenções visuais em meio ao filme que lhe trazem um necessário dinamismo. Números na tela contam quantas vezes Jerôme penetra Joe em sua primeira transa, cálculos ensinam ao público a Sequência de Fibonacci, imagens de vídeos de pescaria fazem a comparação entre o método com que Joe encontra seus parceiros sexuais a rituais de pescador, e por aí vai... Visualmente, portanto, "Ninfomaníaca: Volume I" é bastante interessante.
O roteiro de Von Trier também é um dos pontos altos do longa. Apesar de, algumas vezes, as comparações feitas entre sexo e música, matemática, pescaria etc. serem um pouco forçadas, elas trazem uma perspectiva interessante a um tema que já foi tratado inúmeras vezes no cinema. Além disso, algumas sequências, como aquela em que Joe e sua amiga tentam transar com o maior número de homens possível em uma viagem de trem ou o terceiro capítulo da história, "Sra. H", são inspiradíssimas.
Porém, não há como negar que o filme se estica além do que devia. Apesar de usar diversos artifícios, visuais e narrativos, para manter o longa dinâmico, Lars Von Trier não consegue sumir com a impressão de que o filme poderia ser mais curto. Ao assistir ao filme, não pude deixar de pensar em como ele seria se não fosse apenas meio-filme, mas sim o filme completo de quatro (QUATRO!) horas de duração. Pode parecer desculpa dos distribuidores para arrecadar mais dinheiro nas bilheterias, mas é inegável que a ideia de dividir "Ninfomaníaca" em duas partes foi uma boa saída para evitar uma possível letargia. Se a primeira parte, com pouco menos de duas horas de exibição, já é cansativa, imagina um filme com quatro horas de uma tacada só.
Felizmente, o elenco, em alguns momentos, consegue agitar o longa. A dupla formada por Charlotte Gainsbourg (Joe) e Stellan Skarsgard (Seligman) é de uma ótima química, essencial para o bom funcionamento da história. Stacy Martin, como a jovem Joe, impressiona com um verdadeiro tour-de-force dramático, equilibrando drama, comédia e romance, e ainda, entremeando-os com diversas cenas de sexo. Shia LaBeouf surpreende como Jerôme, mostrando bastante competência tanto como ator dramático como ator cômico, e formando um belo entrosamento com Martin. A cena em que ele apresenta a Joe o seu escritório e seu colegas de trabalho é uma das melhores do longa. Mas quem se apresenta espetacularmente bem é Uma Thurman, como Sra. H, a esposa/mãe traída. Ela aparece em uma cena... mas que cena! É, de longe, o melhor momento do longa!
Distante de ser uma versão da Playboy TV adaptada ao público do cinema de arte, "Ninfomaníaca: Volume I" apresenta ótimas ideias e, em muitos momentos, é bem interessante. Porém, não há como esconder o fato de que se fosse mais curto, poderia ter sido bem melhor.
Para vender o filme, criou-se uma campanha de marketing nunca antes vista para um longa de arte. Trailers, prévias, diversos cartazes, fotos... Enfim, não era difícil saber que o filme estava para estrear. E para colocar a cereja em cima do bolo, ele ainda estreou na Dinamarca (país natal do diretor) bem no Dia de Natal. Infelizmente, a equipe de divulgação do projeto fez um trabalho melhor do que Lars Von Trier.
O filme começa com a figura de Joe - a ninfomaníaca do título - estatelada em um beco escuro e sinistro. É aí que aparece Seligman, um pescador que, ao ir fazer compras, se depara com ela e lhe oferece abrigo. Já na casa de Seligman, bem acomodada e tomando uma xícara de chá, Joe começa a contar como ela foi parar toda machucada naquele beco.
Para isso, ela volta até à sua infância, quando, segundo ela, descobriu a sua vagina enquanto brincava no banheiro com uma amiga. Daí, Joe passa a narrar os momentos mais importantes de sua vida sexual, indo desde quando ela perdeu a virgindade com seu vizinho, Jerôme, até o momento em que começa a ter vários parceiros sexuais ao mesmo tempo.
Se há uma coisa em que Lars Von Trier é bom, é em ser irônico; e "Ninfomaníaca: Volume I" é uma obra verdadeiramente sarcástica, a ponto de não sabermos se o longa é um drama ou uma comédia. Há sequências bastante melancólicas, e que fazem questão de serem nada sutis. Um exemplo claro disso é o quarto capítulo da história de Joe, "Delírio", em que a protagonista narra os últimos dias de vida de seu pai. Esse trecho é tão sério e dramático, que Von trier optou por apresenta-lo em preto-e-branco. Por outro lado, há outros momentos verdadeiramente engraçados (de um modo tragicômico, naturalmente), como quando a esposa de um dos parceiros de Joe vai até o seu apartamento, junto dos filhos, para "lavar a roupa suja".
Além disso, o diretor apresenta intervenções visuais em meio ao filme que lhe trazem um necessário dinamismo. Números na tela contam quantas vezes Jerôme penetra Joe em sua primeira transa, cálculos ensinam ao público a Sequência de Fibonacci, imagens de vídeos de pescaria fazem a comparação entre o método com que Joe encontra seus parceiros sexuais a rituais de pescador, e por aí vai... Visualmente, portanto, "Ninfomaníaca: Volume I" é bastante interessante.
O roteiro de Von Trier também é um dos pontos altos do longa. Apesar de, algumas vezes, as comparações feitas entre sexo e música, matemática, pescaria etc. serem um pouco forçadas, elas trazem uma perspectiva interessante a um tema que já foi tratado inúmeras vezes no cinema. Além disso, algumas sequências, como aquela em que Joe e sua amiga tentam transar com o maior número de homens possível em uma viagem de trem ou o terceiro capítulo da história, "Sra. H", são inspiradíssimas.
Porém, não há como negar que o filme se estica além do que devia. Apesar de usar diversos artifícios, visuais e narrativos, para manter o longa dinâmico, Lars Von Trier não consegue sumir com a impressão de que o filme poderia ser mais curto. Ao assistir ao filme, não pude deixar de pensar em como ele seria se não fosse apenas meio-filme, mas sim o filme completo de quatro (QUATRO!) horas de duração. Pode parecer desculpa dos distribuidores para arrecadar mais dinheiro nas bilheterias, mas é inegável que a ideia de dividir "Ninfomaníaca" em duas partes foi uma boa saída para evitar uma possível letargia. Se a primeira parte, com pouco menos de duas horas de exibição, já é cansativa, imagina um filme com quatro horas de uma tacada só.
Felizmente, o elenco, em alguns momentos, consegue agitar o longa. A dupla formada por Charlotte Gainsbourg (Joe) e Stellan Skarsgard (Seligman) é de uma ótima química, essencial para o bom funcionamento da história. Stacy Martin, como a jovem Joe, impressiona com um verdadeiro tour-de-force dramático, equilibrando drama, comédia e romance, e ainda, entremeando-os com diversas cenas de sexo. Shia LaBeouf surpreende como Jerôme, mostrando bastante competência tanto como ator dramático como ator cômico, e formando um belo entrosamento com Martin. A cena em que ele apresenta a Joe o seu escritório e seu colegas de trabalho é uma das melhores do longa. Mas quem se apresenta espetacularmente bem é Uma Thurman, como Sra. H, a esposa/mãe traída. Ela aparece em uma cena... mas que cena! É, de longe, o melhor momento do longa!
Distante de ser uma versão da Playboy TV adaptada ao público do cinema de arte, "Ninfomaníaca: Volume I" apresenta ótimas ideias e, em muitos momentos, é bem interessante. Porém, não há como esconder o fato de que se fosse mais curto, poderia ter sido bem melhor.
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