Dir.: Steven Soderbergh; Escrito por Scott Z. Burns; Com Jude Law, Rooney Mara, Catherine Zeta-Jones, Channing Tatum. 2013 - Diamond Films (106 min. - 14 anos)
Há cerca de um ano ou dois atrás, o diretor norte-americano Steven Soderbergh anunciou que iria fazer uma pausa de tempo indeterminado em sua carreira cinematográfica para passar a pintar em tempo integral. Apesar da surpresa, não é difícil de entender a sua decisão. Extremamente prolífico (26 filmes em 24 anos), o diretor além de dirigir também edita e fotografa a maioria de seus filmes sob os pseudônimos Mary Ann Bernard e Peter Andrews, o que torna a produção de seus filmes algo muito exaustivo. Além disso, na época em que fez as polêmicas declarações, o diretor já tinha engatilhado três longas: "Magic Mike" (estreou em 2012), "Behind the Candelabra" (recém-exibido no Festival de Cannes) e este "Terapia de Risco, que estreou nos EUA no início do ano e que chegou agora ao Brasil. Sobre "Magic Mike", tenho que admitir que fiquei decepcionado, quanto a "Behind the Candelabra", este, apesar de ter sido exibido em Cannes (onde recebeu muitos aplausos), foi realizado como um telefilme para a HBO. Sobra, então, "Terapia de Risco", que, oficialmente falando, é o último filme de Soderbergh direcionado para as telonas e, novamente, fiquei decepcionado.
Roteirizado por Scott Z. Burns, que colaborou com o diretor no eficiente "Contágio", o longa acompanha Emily, uma jovem que espera ansiosamente a saída de seu marido da prisão. Quando este é finalmente libertado, a moça começa a se sentir uma má esposa, incapaz de ajudá-lo a se reintegrar na sociedade, e por isso, tenta se suicidar ao bater, propositalmente, o carro contra uma parede.
No hospital, enquanto se recupera do "acidente", Emily conhece o dr. Jonathan Banks, que de imediato percebe as reais intenções da jovem. Para evitar que um novo desastre aconteça, a moça se dispõe a iniciar um tratamento psiquiátrico com Banks. Dessa forma, Emily começa a tomar antidepressivos, que, a curto prazo, realmente melhoram a sua vida conjugal e sexual. Porém, quando os efeitos colaterais dos remédios começam a aparecer, tudo muda e a jovem comete um crime enquanto estava sob o efeito das drogas. Crime esse que terá consequências graves tanto à paciente quanto ao médico.
O ponto de partida do filme é realmente interessante, uma vez que cria todo o cenário para o que poderia ser um intrigante thriller ou até mesmo um intenso filme de tribunal. Porém, se inicialmente o filme se apresenta como uma incisiva crítica à cultura dos remédios nos EUA, onde até anúncios de remédios tarja preta são veiculados em rede nacional, em pouco tempo o longa começa a perder força, tanto que até mesmo a primeira grande reviravolta da história não causa muito impacto.
Ainda assim, não me dei por vencido e fiquei esperando que o filme finalmente engrenasse. Entretanto, isso não aconteceu. Parecendo que estava sob o efeito de antidepressivos, assim como sua protagonista, em nenhum momento o filme empolga ou cria qualquer tipo de tensão, algo que esperava que acontecesse durante o julgamento de Emily. Por sinal, esse trecho é muito mal aproveitado, já que daria chance aos realizadores do filme questionarem mais uma vez o consumo abusivo de remédios pesados pela população norte-americana, como também usaria o mote dramático do "quem é culpado?": a paciente que cometeu o crime ou o médico que não interrompeu o tratamento?
Ao invés disso, a trama resolve focar na figura do médico que tenta descobrir se Emily estava realmente drogada na hora do crime ou se foi tudo intencionado, assim como o seu suicídio. Já achei essa escolha equivocada, mas se, no mínimo, a história tivesse uma conclusão satisfatória, até que isso não seria um grande problema. Porém, o clímax do filme é ridículo e até mesmo apelativo, sendo digno dos piores novelões das oito. Mas o mais engraçado é que essa péssima revelação é levada super a sério, o que deixa a situação ainda pior.
Entretanto, apesar dos pesares, o filme está longe de ser um fracasso e serve até mesmo de entretenimento passageiro. Entre suas qualidades estão, como de costume, o trabalho de Soderbergh (ou Peter Andrews, como preferir) na direção de fotografia do filme e o desempenho do elenco, encabeçado por Rooney Mara, Jude Law, Catherine Zeta-Jones e Channing Tatum, que apesar de não estarem memoráveis, conseguem cumprir direitinho os seus respectivos papéis.
Assim como todo diretor com uma média impressionante de um ou até dois filmes por ano, Soderbergh possui uma filmografia de altos e baixos, e "Terapia de Risco" está entre esses últimos. Porém, ainda temos que conferir "Behind the Candelabra" para termos a total certeza se o período sabático foi uma boa ou má escolha do prolífico realizador.
NOTA: 2.5/5