Dir.: René Sampaio; Escrito por Marcos Bernstein e Victor Atherino; Com Fabrício Boliveira, Ísis Valverde, Felipe Abib, Antonio Calloni. 2013 - Europa Filmes (105 min. - 16 anos)
Para ser contada, a saga de João de Santo Cristo exigiu de Renato Russo pouco mais de 160 versos e nove minutos de canção, dando origem ao sucesso Faroeste Caboclo. Já na vida real, a jornada feita pelo filme "Faroeste Caboclo" desde sua idealização até às salas de cinema daria também uma música tão extensa e complicada quanto aquela que o originou. A ideia de desenvolver uma versão cinematográfica da canção escrita pelo líder da Legião Urbana surgiu em 2005, porém o filme só começou a ser filmado seis anos depois, já que os realizadores passaram um bom tempo procurando patrocinadores para o projeto. Com as filmagens encerradas em meados de 2011, o longa ainda passou por um árduo período de pós-produção e de busca por um distribuidor. Dessa forma, levou praticamente dois anos para que "Faroeste Caboclo" chegasse aos cinemas, e o pior é que, mesmo assim, o filme tem o mesmo destino de João de Santo Cristo. NÃO É SPOILER! Ele tenta e sua e se esforça, mas acaba morrendo no final.
Apesar de ser clara a paixão que os realizadores têm pelo projeto, especialmente o diretor René Belmonte, nativo de Brasília, cidade onde a história do filme se desenrola, "Faroeste Caboclo" não consegue sustentar toda a sua ambição. Parece que alguma coisa se perdeu na transição de uma mídia para a outra e fez com que o filme não desse certo.
Surpreendentemente, a história da canção, que é o maior atrativo dela, sem dúvida alguma, fica totalmente sem força no formato de longa-metragem. As desventuras de João de Santo Cristo na capital federal, decorrência do seu envolvimento com o tráfico de drogas, liderado por Jeremias, e o romance com Maria Lúcia tinham tudo para dar origem a um filme que, no mínimo, chamasse a atenção. O que não falta é violência, consumo e tráfico de drogas e crítica social, porém a ausência de um anti-herói carismático, de uma mocinha interessante e de um vilão envolvente prejudicam o produto final, deixando-o monótono. Além disso, todo o romance central me pareceu pouco convincente, uma vez que acontece de uma hora pra outra, quase que do nada, e o grand finale, o esperado duelo entre Santo Cristo e Jeremias, é, possivelmente, um dos mais insossos confrontos do cinema recente.
O elenco, encabeçado por Fabrício Boliveira, Ísis Valverde e Felipe Abib, dá o seu melhor, mas, infelizmente, é prejudicado pelas personagens desinteressantes.
Por outro lado, o filme, sendo ele bom ou ruim, não deixa de representar uma tentativa de trazer novos ares para o cinema nacional comercial, dominado pelas comédias escrachadas e pelos dramas biográficos. Afinal, quem esperava um dia ver um faroeste situado em pleno Cerrado brasileiro protagonizado por um migrante baiano?
Ainda entre suas qualidades estão a produção como um todo, principalmente a sua ótima fotografia, e a excelente escolha das músicas, que vão da composição que deu origem ao filme até These Boots Are Made for Walkin' de Nancy Sinatra sendo tocada em meio a uma sequência em que Santo Cristo resolve criar uma plantação de maconha em Ceilândia, cidade satélite de Brasília.
Enfim, "Faroeste Caboclo" merece nota 10 pela tentativa e pela coragem de adaptar uma das canções mais conhecidas do rock brasileiro para o cinema, porém o longa em si merece uma nota 4, já que apesar das boas intenções de fazer jus à sua matéria-prima e de constituir uma feroz crítica à desigualdade social e ao racismo, o filme deixa a desejar num dos quesitos cinematográficos básicos: o entretenimento.
NOTA: 2/5
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