sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Temporada de Prêmios: Globo de Ouro

Foram anunciados hoje de manhã os indicados ao Globo de Ouro, prêmio entregue pela Associação dos Correspondentes Estrangeiros em Hollywood, um pequeno grupo de cerca de 90 pessoas que inclui jornalistas de diversos países do mundo, inclusive do Brasil.

Conhecido por ser uma espécie de "termômetro do Oscar", o Globo de Ouro muitas vezes é motivo de chacota da indústria, já que é conhecido por adorar estrelas, e por isso, fazer todo ano algumas escolhas bastante duvidosas só para ter o maior número possível de celebridades em sua cerimônia. Esse ano, porém, os Globos se mostraram bastante coerentes e evitaram ao máximo as tais indicações curiosas. Mas nem por isso faltaram surpresas na lista de indicações.

Apesar da liderança de "12 Anos de Escravidão" e "Trapaça" não ter sido nem um pouco
inusitada (ambos os filmes receberam 7 indicações), algumas inclusões e omissões chamaram bastante a atenção. A principal, delas foi, sem dúvida alguma, a esnobada generalizada a "O Mordomo da Casa Branca". Um dos grandes nomes na lista do SAG (Sindicato de Atores), na qual o filme se fez presente em 3 categorias - incluindo melhor elenco -, o longa de Lee Daniels não recebeu nenhuma menção da HFPA. Nem mesmo para Oprah Winfrey, dada como certa para uma indicação na categoria de Melhor Atriz Coadjuvante. Os correspondentes estrangeiros realmente não gostaram desse filme!

Além disso, a escassez de indicações para "Walt nos Bastidores de Mary Poppins" (que título, hein?) também foi surpreendente. O filme, assim como no SAG, recebeu apenas uma indicação, para Melhor Atriz - Drama para Emma Thompson. Essa situação é decepcionante para um filme até pouco tempo atrás considerado um forte concorrente na temporada de premiações, especialmente no Globo de Ouro, onde esperava-se indicações em Melhor Filme - Drama e Melhor Ator Coadjuvante para Tom Hanks. Enfim, eu não queria ser funcionário da Disney nesse momento.

Quanto a "O Lobo de Wall Street", novo filme de Martin Scorsese, a situação também foi decepcionante. Apesar de ter sido indicado a Melhor Filme - Comédia/Musical e a Melhor Ator - Comédia/Musical para Leonardo DiCaprio, não eram esperadas as omissões de Jonah Hill em Melhor Ator Coadjuvante e do próprio Scorsese em Melhor Diretor, ainda mais ele que é um queridinho do Globo de Ouro. Parece que a HFPA gosta, mas não ama o filme.

Em Melhor Canção Original, a falta de Lana Del Rey e sua canção para "O Grande Gatsby", "Young and Beautiful", foi bastante sentida. A música era a fórmula perfeita para uma indicação para os Globos: uma intérprete jovem em ascensão + uma balada romântica + sucesso nas rádios = indicação garantida! Ao invés de indicar Lana, o Globo demonstrou mais uma vez o seu afeto por outra jovem cantora, Taylor Swift, indicando-a pelo segundo ano seguido, desta vez pela música "Sweeter than Fiction" do filme "One Chance" (ano passado Taylor foi indicada com a banda The Civil Wars por "Safe and Sound" de "Jogos Vorazes"). Entretanto, se havia uma canção marcada a ferro para receber uma indicação era "Ordinary Love" do U2 para o filme "Mandela: Long Walk to Freedom".

Falando em Mandela, a sua morte certamente influenciou os votantes, já que a sua
cinebiografia, que havia recebido críticas mornas, foi surpreendentemente indicada a três prêmios: Melhor Canção Original, Melhor Trilha Sonora e Melhor Ator - Drama para Idris Elba.

"Rush: No Limite da Emoção" também surpreendeu muita gente, recebendo indicações para Melhor Ator Coadjuvante para Daniel Brühl (num papel de protagonista, diga-se de passagem) e Melhor Filme - Drama. O filme de Ron Howard andava esquecido depois que foi mal de bilheteria, porém tanto os Globos quanto o SAG lembraram dele e o botaram novamente na corrida pelo ouro.

Outras surpresas incluíram as indicações de Kate Winslet em Melhor Atriz - Drama por "Refém da Paixão" e Julie Delpy e Greta Gerwig em Melhor Atriz - Comédia/Musical por "Antes da Meia-Noite" e "Frances Ha", respectivamente, e a omissão do finado James Gandolfini na categoria de Melhor Ator Coadjuvante por "À Procura do Amor".

Sem mais delongas, vamos aos indicados...

MELHOR FILME - DRAMA

MELHOR FILME - MUSICAL/COMÉDIA
MELHOR ATRIZ - DRAMA
MELHOR ATOR - MUSICAL/COMÉDIA
  • Christian Bale - Trapaça
  • Bruce Dern - Nebraska
  • Leonardo DiCaprio - O Lobo de Wall Street
  • Oscar Isaac - Inside Llewyn Davis - Balada de um Homem Comum
  • Joaquin Phoenix - Ela
MELHOR ATRIZ - MUSICAL/COMÉDIA
MELHOR ATOR COADJUVANTE
  • Barkhad Abdi - Capitão Phillips
  • Daniel Brühl - Rush: No Limite da Emoção
  • Bradley Cooper - Trapaça
  • Michael Fassbender - 12 Anos de Escravidão
  • Jared Leto - Dallas Buyers Club
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
  • Sally Hawkins - Blue Jasmine
  • Jennifer Lawrence - Trapaça
  • Lupita Nyong`o - 12 Anos de Escravidão
  • Julia Roberts - Álbum de Família
  • June Squibb - Nebraska
MELHOR DIRETOR
  • Steve McQueen - 12 Anos de Escravidão
  • David O. Russell - Trapaça
  • Paul Greengrass - Capitão Phillips
  • Alfonso Cuarón - Gravidade
  • Alexander Payne - Nebraska
MELHOR ROTEIRO
  • 12 Anos de Escravidão (John Ridley)
  • Trapaça (Eric Warren Singer e David O. Russell)
  • Ela (Spike Jonze)
  • Nebraska (Bob Nelson)
  • Philomena (Jeff Pope e Steve Coogan)
MELHOR TRILHA SONORA
  • 12 Anos de Escravidão (Hans Zimmer)
  • All Is Lost (Alex Ebert)
  • A Menina que Roubava Livros (John Williams)
  • Gravidade (Steven Price)
  • Mandela: Long Walk to Freedom (Alex Heffes)
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL
MELHOR FILME DE ANIMAÇÃO
MELHOR FILME DE LÍNGUA ESTRANGEIRA

domingo, 8 de dezembro de 2013

Primeiro Dia de um Ano Qualquer


Dir.: Domingos Oliveira; Escrito por Domingos Oliveira; Com Maitê Proença, Domingos Oliveira, Priscilla Rozenbaum. 2012 - Forte Filmes (81 min. - 12 anos)


Com dificuldades para lançar os seus dois últimos projetos, o diretor e roteirista Domingos Oliveira encontrou como solução estrear ambos os filmes em um mesmo final de semana. O primeiro longa é "Paixão e Acaso" (que já foi objeto de um texto aqui no Cinematógrapho) e o segundo é o de título auto-explicativo "Primeiro Dia de um Ano Qualquer".

Ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Gramado 2012, o filme se desenrola ao longo de um dia 1º de janeiro (daí o título), quando um grupo de amigos e familiares está reunido em uma aconchegante casa de veraneio na Região Serrana fluminense depois de passarem o Revéillon juntos. Entretanto, o que era para ser algumas horas tranquilas, de puro ócio, se transforma rapidamente em um turbilhão de emoções (boas e ruins) envolvendo uma gama de personagens diferentes.

Diferentemente de "Paixão e Acaso", "Primeiro Dia de um Ano Qualquer" não chega a causar vergonha pela sua produção pobre. Na verdade, aqui o pior são os títulos, todos dignos de Windows Movie Maker. Pelo menos no outro filme de Domingos Oliveira os letreiros iniciais fazem uma simpática homenagem a Woody Allen, apresentando a característica fonte Windsor dos longas do diretor nova-iorquino.

Entretanto, em "Primeiro Dia...", a edição é infinitamente superior e a fotografia muito melhor realizada, diria até que em alguns momentos é bem bonita. Claro que filmar em uma belíssima casa (da atriz Maitê Proença) no meio da floresta com as formas da serra fluminense como pano de fundo facilitam (e muito!) o trabalho.

Infelizmente, o roteiro deixa a desejar. O filme é daqueles em que não há uma história muito bem definida, ao invés disso, o texto parece mais um amontoado de observações e pequenos esquetes. Há alguns traços de enredo, como a história envolvendo a personagem de Priscilla Rozenbaum, que passa o dia inteiro questionando o seu casamento, porém elas são desinteressantes, possuem figuras bem chatinhas e algumas delas têm uma moral, no mínimo, duvidosa. Em poucas palavras, falta foco ao filme. Não há nenhum objetivo, nenhum obstáculo no caminho dos personagens, tanto que, no final das contas, o longa termina do mesmo jeito que começou. É simplesmente monótono!

O elenco, por outro lado, parece perceber que o texto em si não é nenhuma maravilha e, portanto, tenta trazer alguma vida ao filme. Há alguns, como a anfitriã Maitê Proença, que se saem melhor do que outros, mas, no geral, os atores desempenham bem os seus papéis. Até o próprios Domingos, com sua fala meio enrolada, está bem à vontade em seu personagem (que não deixa de ser um alter ego de si próprio).

"Primeiro Dia de um Ano Qualquer" vale por alguns bons momentos, como a hilária participação especial de Ney Matogrosso, mas, no geral, é um filme insosso e que parece ter sido muito mais divertido de se fazer do que é de se assistir.

NOTA: 2.5/5


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Paixão e Acaso


Dir.: Domingos Oliveira; Escrito por Domingos Oliveira; Com Vanessa Gerbelli, Aderbal Freire Filho, Pedro Furtado. 2012 - Forte Filmes (83 min. - 12 anos)


Inês é uma psicanalista de trinta e tantos anos que, apesar de aconselhar diversas pessoas diariamente, vive um momento bastante complicado de sua vida. Seu pai morreu há três anos e desde então ela não namora mais ninguém e nem faz sexo. Uma noite, porém, o fantasma de seu falecido progenitor aparece e diz a Inês que mais cedo ou mais tarde ela vai se apaixonar. Entretanto, o que ela não esperava é que ela iria se encantar por dois homens ao mesmo tempo, e pior ainda, que eles são pai e filho. Esse é o ponto de partida do novo filme de Domingos Oliveira, "Paixão e Acaso". 

Seguindo a mesma linha dos últimos filmes do diretor, seu novo longa também foi feito com um pequeníssimo orçamento, artifício que Domingos utiliza para poder rodar os filmes que quer, quando quiser, sem ter que se submeter ao exaustivo processo de captação de verba. Essa prática, porém, é uma faca de dois gumes. Por um lado, o diretor não fica na mão de produtores nem burocracias governamentais, por outro, seus filmes tem uma produção bastante precária.

Tecnicamente falando, "Paixão e Acaso" é uma verdadeira desgraça! O trabalho de fotografia é bastante simples, o que por si só não constitui um problema, porém a forma como ele é feito é demasiadamente desleixado. Sobram momentos durante os 83 minutos de projeção do longa em que a iluminação é péssima ou, então, muda repentinamente. Por exemplo, num instante ela é mais escura, dá um corte, e do nada ela fica mais clara, só para então haver mais um corte e ela voltar a ficar mais escura novamente.

A edição também é deplorável, rendendo erros de continuidade bem explícitos e cenas mal-cortadas, daquelas em que os personagens estão na sala e de repente estão no quarto. Há também o artifício comum de Domingos em editar conversas usando transições. Não sei por que a insistência nisso, o resultado fica ruim, dando a impressão de que o bate-papo dos personagens não interessa, mas sim apenas trechos dele. É quase um compacto, só que ao invés de gols de uma partida de futebol ou desfiles de escola de samba, temos pedaços de um diálogo.

Além disso, há a inserção de músicas fora de hora ou de forma totalmente incompetente e a captação de som também deixa a desejar. Enfim, já vi trabalhos de vídeo de estudantes colegiais feitos no Windows Movie Maker com edição de som e imagem bem melhor do que a desse longa, que tinha à sua disposição uma equipe técnica e equipamentos profissionais.

Entretanto, compensando a pobreza da produção, "Paixão e Acaso" possui um elenco bastante competente. A protagonista, Vanessa Gerbelli, é bastante carismática e tem um desempenho muito bom, assim como seus companheiros de cena, os atores Pedro Furtado e Aderbal Freire Filho. Sem dúvida alguma, o trio principal merecia um filme muito melhor do que o entregue por Domingos Oliveira.

Quanto ao roteiro, ele é falho. Ao longo da história há alguns bons momentos, como as sessões de análise de Inês, porém, no geral, os elementos sobrenaturais da narrativa não combinam com a parte realista da história, deixando bem claro a origem teatral do texto (o filme é uma adaptação da peça "Turbilhão" do próprio Domingos Oliveira), onde, sem dúvidas, esse realismo fantástico deve funcionar de forma muito mais eficiente. O longa também em diversos momentos perde o foco, fazendo com que a trama principal ceda espaço para narrativas secundárias, resultando em vários eixos narrativos pouco desenvolvidos. Além disso, há personagens que poderiam ter sido facilmente retirados, como a mãe/esposa fantasma de Bento e Fábio (os dois pretendentes de Inês) e o narrador, ambos não trazendo nada de importante para a história.

"Paixão e Acaso" tem uma produção pobre e um roteiro distante do ideal, sendo nem muito engraçado, porém o bom elenco faz com que o filme consiga ser, no mínimo, aceitável. Está longe de merecer uma recomendação, porém não chega a ser uma tortura também.

NOTA: 2.5/5