Dir.: Domingos Oliveira; Escrito por Domingos Oliveira; Com Vanessa Gerbelli, Aderbal Freire Filho, Pedro Furtado. 2012 - Forte Filmes (83 min. - 12 anos)
Inês é uma psicanalista de trinta e tantos anos que, apesar de aconselhar diversas pessoas diariamente, vive um momento bastante complicado de sua vida. Seu pai morreu há três anos e desde então ela não namora mais ninguém e nem faz sexo. Uma noite, porém, o fantasma de seu falecido progenitor aparece e diz a Inês que mais cedo ou mais tarde ela vai se apaixonar. Entretanto, o que ela não esperava é que ela iria se encantar por dois homens ao mesmo tempo, e pior ainda, que eles são pai e filho. Esse é o ponto de partida do novo filme de Domingos Oliveira, "Paixão e Acaso".
Seguindo a mesma linha dos últimos filmes do diretor, seu novo longa também foi feito com um pequeníssimo orçamento, artifício que Domingos utiliza para poder rodar os filmes que quer, quando quiser, sem ter que se submeter ao exaustivo processo de captação de verba. Essa prática, porém, é uma faca de dois gumes. Por um lado, o diretor não fica na mão de produtores nem burocracias governamentais, por outro, seus filmes tem uma produção bastante precária.
Tecnicamente falando, "Paixão e Acaso" é uma verdadeira desgraça! O trabalho de fotografia é bastante simples, o que por si só não constitui um problema, porém a forma como ele é feito é demasiadamente desleixado. Sobram momentos durante os 83 minutos de projeção do longa em que a iluminação é péssima ou, então, muda repentinamente. Por exemplo, num instante ela é mais escura, dá um corte, e do nada ela fica mais clara, só para então haver mais um corte e ela voltar a ficar mais escura novamente.
A edição também é deplorável, rendendo erros de continuidade bem explícitos e cenas mal-cortadas, daquelas em que os personagens estão na sala e de repente estão no quarto. Há também o artifício comum de Domingos em editar conversas usando transições. Não sei por que a insistência nisso, o resultado fica ruim, dando a impressão de que o bate-papo dos personagens não interessa, mas sim apenas trechos dele. É quase um compacto, só que ao invés de gols de uma partida de futebol ou desfiles de escola de samba, temos pedaços de um diálogo.
Além disso, há a inserção de músicas fora de hora ou de forma totalmente incompetente e a captação de som também deixa a desejar. Enfim, já vi trabalhos de vídeo de estudantes colegiais feitos no Windows Movie Maker com edição de som e imagem bem melhor do que a desse longa, que tinha à sua disposição uma equipe técnica e equipamentos profissionais.
Entretanto, compensando a pobreza da produção, "Paixão e Acaso" possui um elenco bastante competente. A protagonista, Vanessa Gerbelli, é bastante carismática e tem um desempenho muito bom, assim como seus companheiros de cena, os atores Pedro Furtado e Aderbal Freire Filho. Sem dúvida alguma, o trio principal merecia um filme muito melhor do que o entregue por Domingos Oliveira.
Quanto ao roteiro, ele é falho. Ao longo da história há alguns bons momentos, como as sessões de análise de Inês, porém, no geral, os elementos sobrenaturais da narrativa não combinam com a parte realista da história, deixando bem claro a origem teatral do texto (o filme é uma adaptação da peça "Turbilhão" do próprio Domingos Oliveira), onde, sem dúvidas, esse realismo fantástico deve funcionar de forma muito mais eficiente. O longa também em diversos momentos perde o foco, fazendo com que a trama principal ceda espaço para narrativas secundárias, resultando em vários eixos narrativos pouco desenvolvidos. Além disso, há personagens que poderiam ter sido facilmente retirados, como a mãe/esposa fantasma de Bento e Fábio (os dois pretendentes de Inês) e o narrador, ambos não trazendo nada de importante para a história.
"Paixão e Acaso" tem uma produção pobre e um roteiro distante do ideal, sendo nem muito engraçado, porém o bom elenco faz com que o filme consiga ser, no mínimo, aceitável. Está longe de merecer uma recomendação, porém não chega a ser uma tortura também.
NOTA: 2.5/5

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