sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Anna Karenina (Anna Karenina)


Dir.: Joe Wright; Escrito por Tom Stoppard; Com Keira Knightley, Jude Law, Aaron Taylor-Johnson. 2012 - Universal (129 min. - 14 anos)


Desde quando foi lançado, em 1877, "Anna Karenina" de Leo Tolstoy tornou-se uma das obras fundamentais da elogiadíssima literatura russa. Não é por nada que este livro foi adaptado em diversas áreas, dando origem a até uma ópera e um espetáculo de balé. Entretanto, assim como outras grandes obras clássicas, "Anna Karenina" obteve o seu maior êxito no cinema. Em menos de cem anos, a obra foi levada às grandes telas nada menos do que 12 vezes, incluindo versões russas, americanas, britânicas e acredite, há até uma versão egípcia! Além disso, a personagem principal já foi interpretada por grandes musas do cinema como Greta Garbo e Vivian Leigh nas adaptações de 1935 e 1948, respectivamente.

A última dessas interpretações da obra de Tolstoy é uma daquelas com todos os ingredientes para ser um grande filme. Em primeiro lugar, a pessoa escolhida para dirigir a produção foi Joe Wright, diretor cujos dois filmes mais aclamados, "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação", foram baseados em livros famosos, e que possui muita experiência com dramas de época. Segundo, foi chamado um elenco de peso, incluindo astros britânicos como Keira Knightley (musa de Wright) e Jude Law, e figuras em ascensão como Aaron Taylor-Johnson. Terceiro, o roteirista do filme é Tom Stoppard, ganhador do Oscar por "Shakespeare Apaixonado". E por último, ficou decidido por se fazer uma adaptação bastante ambiciosa, visualmente falando. Infelizmente, a promessa foi muito maior do que o resultado.

O grande problema de "Anna Karenina" não é ser um filme ruim, algo que não é, mas sim só conseguir se sair bem em metade do que se propõe. Se por um lado, o filme é primoroso, por outro, ele deixa a desejar.

Falemos primeiro, então, do que funciona: o visual. Acredite em mim, "Anna Karenina" é com certeza o filme mais bonito, esteticamente falando, que você vai ver em muito tempo. Para não alongar mais o texto, não preciso nem falar o quão luxuosos são os figurinos de Jacqueline Durran (curiosamente indicada ao Oscar anteriormente exatamente por "Orgulho e Preconceito" e "Desejo e Reparação") e como este filme é brilhantemente fotografado, cortesia de Seamus McGarvey (indicado anteriormente também por "Desejo e Reparação"). Isso sem contar a excelente trilha sonora de Dario Marianelli que faz muito bem aos ouvidos. 

Porém, da direção de arte eu sou obrigado a comentar. A ideia de filmar praticamente todo o filme dentro de um teatro era uma verdadeira faca de dois gumes: poderia funcionar perfeitamente, mas também poderia mostrar-se um grande equívoco. Felizmente, a concepção foi executada de forma exemplar e, dessa forma, podemos ter dentro de um mesmo local uma estação de trem, um salão de baile, as ruas de Moscou e um hipódromo; e o mais interessante é que se no início é estranho ver as pessoas andando de bicicleta por entre as pilastras que sustentam o balcão do teatro, em pouco tempo já estamos acostumados com aquela nova realidade. Entretanto, vale lembrar que isso só poderia ter dado certo caso o diretor do filme fosse muito bom; e nesse caso, Joe Wright mostrou ser o homem certo para o serviço.

Entretanto, como já comentei aqui, metade do filme não funciona tão bem assim; e, pasmem!, parte dessa metade é o elenco. Venhamos e convenhamos, esta era a oportunidade perfeita para termos um show de incríveis performances, mas não é isso que acontece. Ao invés disso, o elenco parece pouco inspirado, trabalhando no piloto automático. Exemplo disso é o casal principal Keira Knightley/Aaron Taylor-Johnson. Ambos já mostraram ser ótimos atores: Keira é uma das grandes atrizes de sua geração, já Aaron fez trabalhos ótimos em filmes como "Kick-Ass - Quebrando Tudo" e no recente "Selvagens"; porém em "Anna Karenina" eles parecem estar meio entediados. Nessa situação, quem se sai melhor é Jude Law, que parece ser o único integrante do trio de protagonistas que realmente se empenhou em seu papel. Em suma, fica a impressão de que o diretor Joe Wright acabou dando muito mais atenção à estética do filme do que aos atores.

Por último, mas não menos importante, o roteiro de Tom Stoppard também é falho, o que acabou prejudicando também o produto final. Entendo que condensar um romance de mais de 800 páginas em um filme de 129 minutos é uma tarefa árdua. Além disso, sei também que não tinha muita coisa para Stoppard inovar na narrativa (afinal, "Anna Karenina" é basicamente uma história sobre o adultério e suas consequências). Entretanto, é impossível não notar algumas barrigas no roteiro. Um exemplo ótimo disso é a história paralela que conta o romance entre Levin (amigo de Stiva, irmão de Anna) e Kitty (ex-noiva de Vronsky, amante de Anna). Este trecho poderia ser contado em muito menos cenas, o que evitaria as ocasionais perdas de ritmo do filme, principalmente no último ato.

Em resumo, "Anna Karenina" é um excelente filme sob um aspecto, mas é um longa chato sob outro; portanto, a mistura dessas duas partes resulta em um filme, na melhor das hipóteses, regular.

NOTA: 2.5/5 

INDICAÇÕES: OSCAR - FOTOGRAFIA, FIGURINO, TRILHA SONORA, DESIGN DE PRODUÇÃO; BAFTA - FOTOGRAFIA, CABELO E MAQUIAGEM, TRILHA SONORA, FILME BRITÂNICO, DESIGN DE PRODUÇÃO; GLOBO DE OURO - TRILHA SONORA.

VITÓRIAS: BAFTA - FIGURINO.


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