domingo, 3 de fevereiro de 2013

Obsessão (The Paperboy)


Dir.: Lee Daniels; Escrito por Lee Daniels e Peter Dexter; Com Zac Efron, Matthew McConaughey, Nicole Kidman, John Cusack. 2012 (107 min.)


"The Paperboy" começa com um close no rosto de Anita Chester, empregada de longa data da família Jansen, sentada em uma cadeira dentro da sala de uma delegacia. Ela está ali para fazer um depoimento acerca dos estranhos acontecimentos que ocorreram no verão de 1969 no interior da Flórida. Entre os envolvidos estão os dois filhos de seu patrão, W. W. Jansen, dono do jornal de uma pequena cidade do estado: Wade, jornalista do Miami Times, e Jack, o caçula da família. Aos dois juntam-se o assistente de Wade, Yardley Acheman, e uma periguete que escreve cartas para presidiários, Charlotte Bless.

Todos os quatro personagens tiveram seus destinos cruzados quando Wade resolve voltar à sua cidade natal, junto de Yardley, para investigar o misterioso julgamento de Hillary Van Wetter, que foi mandado para a cadeia por ter supostamente assassinado brutalmente um famoso xerife local. Para ajudar nas investigações, Wade entra em contato com Charlotte, que ao escrever cartas para Hillary acaba se apaixonando e ficando noiva dele. A eles, une-se Jack, irmão mais novo de Wade, que é contratado como motorista oficial do grupo.

Até aí tudo bem, porém tudo começa a ficar estranho quando Jack se apaixona perdidamente por Charlotte e novas revelações sobre Hillary Van Wetter põem a segurança dos quatro em xeque.

Não vou mentir e dizer que "The Paperboy" é um filme fácil de se ver, pelo contrário, é extremamente desagradável assisti-lo. O novo filme de Lee Daniels, diretor do premiado "Preciosa - Uma História de Esperança", exibe uma violência quase pornográfica (incluindo até a dissecação de um jacaré), conteúdo sexual bastante forte (mesmo que tenha poucas cenas de sexo) e assuntos polêmicos.

O roteiro, escrito por Daniels e Peter Dexter (autor do livro que deu origem ao filme), apesar de tentar cobrir temas demais como preconceito racial, homossexualismo e miséria, funciona muito bem como uma história de romance policial. Há vários momentos de grande tensão e todo o enredo entorno do enigmático e bizarro Hillary Van Wetter é bastante interessante.

Mas o que eu achei mais fascinante sobre o roteiro de "The Paperboy" é que no fundo, no fundo, debaixo de toda a superfície suja e violenta da trama investigativa, o filme conta uma emocionante história de amor. O romance entre Jack e Charlotte é envolvente exatamente porque ele tem dificuldades em se estabelecer. Apesar de gostar do rapaz, Charlotte o vê mais como um menino do que um homem. Ao invés disso, em sua visão, o macho alpha que pode lhe trazer prazer e uma vida melhor é o criminoso Van Wetter. Para ela, vale mais sexo oral imaginário em plena delegacia do que a ingenuidade amorosa de um jovem. Cria-se, então, um conflito muito bem construído sobre amor carnal versus amor espiritual, que mostra-se atraente até para aqueles que não suportam tramas amorosas.

Mas além do roteiro, o bom funcionamento de ambas as histórias depende de um ótimo elenco. E "The Paperboy" tem um baita elenco! Começando pelos menos conhecidos, temos David Oyelowo e Macy Gray, que vivem muito bem os dois personagens negros do filme, Yardley e Anita, respectivamente. Os dois se saem super bem em papeis secundários, deixando grandes marcas no espectador, principalmente Gray, cantora que vem se mostrando uma ótima atriz.

Em seguida temos os dois grandes astros do elenco, Matthew McConaughey e Nicole Kidman. Matthew, agora com 43 anos, tem largado as comédias românticas que lhe deram fama e vem investindo em filmes menores, mas com personagens mais desafiadores, e por enquanto, tem se saído muito bem, como é o caso de "The Paperboy". Já Nicole, que é uma das minhas estrelas favoritas, continua trilhando muito bem a sua carreira, alternando filmes comerciais com projetos mais autorais de diretores como Lars Von Trier e Stanley Kubrick; e na sua parceria com Lee Daniels, ela está incrível. Como Charlotte Bless, Nicole mostra toda a sua versatilidade como atriz, pois venhamos e convenhamos, quem esperaria ver uma das intérpretes mais famosas do mundo em cenas de sexo pra lá de estranhas ou mijando em Zac Efron?

Por falar em Efron, eu diria que este é o filme em que ele finalmente mostra o seu potencial como ator e, diga-se de passagem, se sai muito bem. Em "The Paperboy", Efron surpreende como protagonista. Além disso, é um alívio vê-lo parar de desperdiçar o seu talento em filmes água-com-açúcar.

Já sobre John Cusack quanto menos se falar melhor. Não porque a sua performance seja ruim, longe disso, mas sim porque é indescritível o asco que ele traz à tela quando seu personagem aparece. Em outras palavras, ele está excelente em seu papel.

Para finalizar, dizer que "The Paperboy" é um filme sutil seria uma grande mentira. Desde sua fotografia até aos seus momentos antológicos, tudo é exagerado de propósito. Mas neste caso quanto maior o escândalo e o choque, melhor a cena. Portanto, apesar de ser mais longo do que deveria e por vezes não conseguir abordar todos os seus temas da maneira adequada, "The Paperboy" é uma daquelas pequenas pérolas que vão passar despercebidas nessa competitiva temporada de prêmios.

NOTA: 3.5/5

INDICAÇÕES: GLOBO DE OURO - MELHOR ATRIZ COADJUVANTE (NICOLE KIDMAN); SAG AWARDS - MELHOR ATRIZ COADJUVANTE (NICOLE KIDMAN); PALMA DE OURO - FESTIVAL DE CANNES

*trailer com legendas em português de Portugal

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