domingo, 26 de agosto de 2012

John Carter - Entre Dois Mundos (John Carter)


Dir.: Andrew Stanton; Escrito por Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon; Com Taylor Kitsch, Lynn Collins, Samantha Morton, Willem Dafoe. 2012 - Disney (132 min. - 12 anos)


"John Carter - Entre Dois Mundos" é um filme que tentava sair do papel desde a década de 1930, quando Bob Clampett, diretor dos curtas dos Looney Tunes, começou a trabalhar numa adaptação animada do primeiro livro da série de 11 livros escrita por Edgar Rice Borroughs, "A Princesa de Marte". Entretanto, a produção foi interrompida quando o filme foi mal recebido pelos donos de cinemas. Curiosamente, caso a produção tivesse continuado, este "John Carter" poderia ter sido o primeiro longa-metragem de animação da história, passando à frente de "Branca de Neve e os Sete Anões".

Já na década de 1950, o mestre da animação stop-motion, Ray Harryhausen ("Fúria de Titãs", "O Poderoso Joe"), mostrou interesse em adaptar as histórias de John Carter para os cinemas. Porém, somente na década de 1980 houve uma nova tentativa de realizar o filme, com John McTiernan ("Duro de Matar", "Predadores") na direção e Tom Cruise como protagonista. Entretanto, McTiernan achava que os efeitos especiais ainda não eram bons o suficiente para recriar o mundo criado por Borroughs.

Porém, no início dos anos 2000, os direitos para uma adaptação de "A Princesa de Marte" foram comprados pela Paramount Pictures e Robert Rodriguez ("Sin City", "El Mariachi") foi contratado para dirigi-la. Mesmo assim, depois da saída de Rodriguez, mais dois diretores passaram pelo projeto - Kerry Conran ("Capitão Sky e o Mundo de Amanhã") e Jon Favreau ("Homem de Ferro") - , resultando em nada.

Foi somente quando Andrew Stanton, diretor de clássicos da animação como "Procurando Nemo" e "WALL-E", pediu para a Disney reaver os direitos da série, que o projeto começou a realmente sair do papel. Não sem os seus problemas, é claro. Stanton era um novato na direção de filmes live-action, queria atores desconhecidos para estrelar um blockbuster e controlava toda a estratégia de marketing feita para o filme. Enfim, queria fazer as coisas do seu jeito.

Mesmo assim, "John Carter - Entre Dois Mundos" foi produzido e lançado pela Disney em 2012. Porém, o filme, que custou US$ 350 milhões em produção mais publicidade, se tornou o primeiro grande fracasso do ano, custando a cabeça do presidente do estúdio na época, Rich Ross, que poderia ter evitado a catástrofe diminuindo o orçamento ou cancelando a produção.

Entretanto, ao assistir a "John Carter - Entre Dois Mundos" fica a impressão de que o filme ganhou notoriedade por todos os motivos errados, uma vez que o longa em si é um prato cheio para quem gosta de grandes histórias, ação, aventura, romance e ficção científica. Sim, o maior fiasco do ano é um ótimo filme!

No longa, um jovem, chamado Edgar, chega à movimentada cidade de Nova York para receber a herança de seu tio recém-falecido, o ex-capitão da Guerra Civil, John Carter. É nessa visita em que Edgar fica sabendo da maior aventura já vivida por ele: a sua visita ao planeta Marte, ou melhor, Barsoom.

Tudo começa quando dez anos antes, John encontra uma caverna lotada de ouro no estado do Arizona. Porém, quando um homem tenta matá-lo sem sucesso, ele encontra algo muito melhor do que ouro: um medalhão que o leva para um lugar incrivelmente diferente de tudo o que ele já tinha visto: Barsoom.

Lá ele conhece um grupo chamado Tharks, humanoides de 4 metros e meio de altura, de pele verde e com longas e curvadas presas. Assim que chega, John (ou Virginia, como os Tharks o chamam) é adotado por Sola, uma Thark rejeitada pelo grupo e marcada pelos castigos corporais que sofreu por ter desobedecido à lei.

Um dia, porém, duas grandes naves surgem no céu de Barsoom, uma de Zodanga e outra de Helium, os dois grupos que vivem em guerra há mais de 1000 anos. Nessa batalha, a princesa de Helium, Dejah Thoris, foge e se abriga com os Tharks numa tentativa de impedir seu casamento com Sab Than, o líder de Zodanga. É exatamente nesse momento em que ela conhece John Carter e vê nele a única chance de Helium vencer a guerra.

Um dos aspectos mais legais de "John Carter - Entre Dois Mundos" é o mundo criado pelo escritor Edgar Rice Borroughs. Toda a mitologia envolvendo os três grupos, desde as suas histórias até à sua religiosidade, representada pela figura divina de Iss, a Deusa, são muito interessantes e nos lembram de outros grandes marcos da ficção científica no cinema como "Star Wars", "Jornada nas Estrelas" e até mesmo o recente "Avatar" de James Cameron, que por sinal foi bastante inspirado pelas histórias de Borroughs. Isso sem contar com as grandes sacadas do autor como por exemplo o fato de Carter poder pular longas alturas e distâncias devido à gravidade de Marte ser mais baixa que a da Terra.

Uma outra jogada de mestre é exatamente a relação criada por Borroughs entre Barsoom e os EUA. A guerra entre Zodanga e Helium remete claramente à Guerra Civil norte-americana travada entre o sul e o norte das Treze Colônias. Enquanto isso, os Tharks representam os índios, principalmente por serem os únicos fisicamente diferentes, já que os outros dois grupos possuem aparência humana.

Além disso, todo o pessoal envolvido na produção desse filme merece palmas, pois o trabalho feito por eles é incrível. Os efeitos especiais que dão vida aos Tharks e às excêntricas criaturas de Barsoom como os macacos brancos e o "cão" Woola, que acompanha John em várias de suas aventuras, são de excepcional qualidade. O figurino criado por Mayes C. Rubeo também é notável. Não é por pouco, ela foi a responsável pelo figurino do já citado "Avatar" e de "Apocalypto" de Mel Gibson. A direção de arte também é primorosa, principalmente aquela criada para Zodanga. Mas, no final, o melhor é a trilha sonora clássica, mas muito criativa de Michael Giacchino.

Quanto ao elenco, não há nenhuma atuação primorosa, mas os dois protagonistas, Taylor Kitsch e Lynn Collins, possuem carisma o suficiente para sustentar o filme durante os seus 132 minutos de duração.

O roteiro, por sua vez, também não é a obra de um gênio. O que não falta são aquelas frases bem clichês e os diálogos bobinhos, entretanto, pode-se dizer que isso até faz parte do charme do filme, afinal "John Carter - Entre Dois Mundos" é, como alguns já disseram, um filme B disfarçado de blockbuster hollywoodiano. Porém, só não entendi a reclamação de muitos críticos que disseram que o filme era, em alguns trechos, incompreensível. Sim, não é aquele filme que demora um tempão explicando as coisas, mas dizer que não dá para entender algumas partes me parece preguiça.

Enfim, é uma pena "John Carter - Entre Dois Mundos" ter ido mal de bilheteria (eu, por exemplo, até me senti culpado por não ter ido vê-lo no cinema), pois eu gostaria de ver na tela grande a continuação das aventuras de John Carter de Marte. Entretanto, acredito que "John Carter" será redescoberto daqui a algum tempo e, finalmente, receberá o reconhecimento que merece.

NOTA: 4/5


domingo, 19 de agosto de 2012

Jovens Adultos (Young Adult)


Dir.: Jason Reitman; Escrito por Diablo Cody; Com Charlize Theron, Patton Oswalt, Patrick Wilson, Elizabeth Reaser. 2011 - Paramount (94 min. - 12 anos)


Mavis Gary é uma mulher bonita, mas que não realizou nada em seus 37 anos de vida. Ela trabalha para uma editora escrevendo livros de uma série voltada para jovens adultos, no mesmo estilo do fenômeno editorial "Gossip Girl". Entretanto, ela nem leva crédito por isso, já que quem é reconhecida é a criadora dos personagens, e não ela que produz todas as histórias, ou seja, é apenas um pau mandado.

Porém, a ironia maior é que Mavis, apesar de já estar chegando aos temidos 40 anos, ainda age como qualquer uma de suas leitoras. Seu apartamento é uma verdadeira bagunça, ela toma um enorme gole de Coca Light no lugar do café da manhã, ela passa o dia inteiro assistindo a pérolas da reality TV como "Keeping up with the Kardashians", entre outras atitudes inesperadas para uma mulher já crescida.

Mas o pior de tudo é que se a sua vida no presente é uma bela porcaria, na época do colegial ela era invejável. Mavis era a garota mais popular do colégio, a mais paparicada, aquela que todas as outras gostariam de ser. Daí surgiu o seu comportamento extremamente egocêntrico, o qual ela mantém durante a sua vida adulta. Para se ter uma ideia, o único "amigo" que ela tem é o seu lulu da pomerânia, para o qual ela não dá mínima. Se ele morresse, nem sentiria falta, pelo contrário, ficaria aliviada por ser um gasto a menos.

Entretanto, num dia como outro qualquer, ela recebe um e-mail em que o seu ex-namorado do colegial apresenta a todos uma foto de sua filha recém-nascida. É aí que ela decide sair de Minneapolis e passar alguns dias em sua cidade natal, a pequena Mercury, com o intuito de reaver o seu homem de volta, mesmo que ele esteja casado.

Este é o ponto de partida de "Jovens Adultos", a segunda colaboração da dupla Jason Reitman (diretor) e Diablo Cody (roteirista) depois do oscarizado "Juno". E, na minha opinião, este segundo projeto demonstrou uma grande melhora quanto ao primeiro filme da dupla.

Primeiro de tudo, o seu roteiro é bastante realista. Qualquer uma de suas cenas poderia acontecer exatamente do mesmo jeito na vida real, sem tirar nem por. Os diálogos também são ótimos e extremamente ácidos, no estilo das melhores comédias de humor negro. Além disso, o filme conta com diversos momentos inspirados como a ida de Mavis a uma loja da Macy's ou as cenas em que a personagem está na cama, morta de sono, e a TV está ligada com uma das irmãs Kardashian falando alguma bobagem como "vou fazer 30 anos. Como estou ficando velha!".

Outras cenas muito boas são aquelas que envolvem a dupla Charlize Theron e Patton Oswalt. Os seus personagens, Mavis e Matt, que na época do colegial viviam em dois grupos sociais radicalmente opostos, constroem uma bela amizade - algo até então inimaginável para ambos, já que Mavis é uma megera e Matt um nerd de primeira linha, daqueles que pinta figuras de ação como passatempo. Nestes momentos, não só os diálogos são bons como a química entre os dois atores é perfeita, dando credibilidade a cenas bastante intimistas como uma em que Mavis vai até à casa de Matt chorar suas mágoas.

Mas o maior triunfo do longa é, sem sombra de dúvida, a ótima Charlize Theron. Se este ano ela decepcionou em "Branca de Neve e o Caçador", em "Jovens Adultos" ela consegue fazer uma personagem insuportável como Mavis, que aparece em todas as cenas do filme, se tornar uma figura no mínimo curiosa, devido às suas ações nem um pouco racionais. Não é por nada que ela foi indicada a um Globo de Ouro pelo papel. Por isso, eu apoio totalmente um investimento de Theron em sua veia cômica, pois ela tem muito potencial.

No final das contas, "Jovens Adultos" é uma comédia divertida, mas ao mesmo tempo, melancólica, pois trata de forma cômica assuntos bastante fortes como preconceito, violência, distúrbios mentais, arrependimentos e, por que não, desperdício da vida? Recomendo como entretenimento e reflexão.


NOTA: 4/5


sábado, 18 de agosto de 2012

Corações Sujos



Dir.: Vicente Amorim; Escrito por David França Mendes; Com Tsuyoshi Ihara, Takako Tokiwa, Celine Fukumoto, Eduardo Moscovis. 2011 - Downtown Filmes (90 min.)


A primeira que vez em que ouvi falar de "Corações Sujos" foi durante um trajeto de ônibus. Atualmente, alguns ônibus aqui no Rio de Janeiro possuem televisores que exibem uma programação bastante variada, e de vez em quando ocorre a exibição de trailers de futuros lançamentos cinematográficos. Foi exatamente numa dessas ocasiões em que eu vi o trailer de "Corações Sujos" e me atraí instantaneamente pelo filme, ou seja, criei grandes expectativas quanto a ele. Infelizmente, o resultado final me decepcionou profundamente.

Baseado no livro homônimo de Fernando Morais, "Corações Sujos" conta a história do surgimento da Shindo Renmei, um grupo de imigrantes japoneses no Brasil que decide assassinar os seus conterrâneos que acreditam na derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. Entretanto, o filme, diferente do livro, usa a história de um personagem fictício para relatar este trecho da história do país.

O indivíduo é Takahashi, um fotógrafo japonês, que é convocado pelo coronel Watanabe a fazer parte do grupo de assassinos. A partir daí, o filme acompanha as consequências que os crimes cometidos por Takahashi trarão para a sua vida e à de sua esposa, a professora Miyuki, estendendo-se à infância de uma menina, Akemi, aluna de Miyuki.

Mas afinal, se a história real é tão interessante, por que a história fictícia desagrada? Pelo simples fato de ser tratada de uma forma fria, sem um pingo de emoção. A trama do longa conta com diversos momentos fortes e trágicos, como os assassinatos cometidos pela Shindo Renmei, e aposta bastante no derramamento de lágrimas, porém o envolvimento entre filme e espectador é quase nulo. Em nenhum momento, eu fiquei feliz ou triste, mas sim indiferente àquilo tudo, e tenho certeza de que não era essa a intenção de seus realizadores.

Felizmente, tudo o que o filme falha na narrativa, é quase recompensado nos aspectos técnicos. A reconstituição da época, incluindo cenários e figurino, é impecável; a fotografia de Rodrigo Monte é belíssima; e a trilha sonora, apesar de incessante e não conseguir salvar o filme de sua frieza, é extremamente bonita, sendo um dos pontos altos do filme.

No final das contas, "Corações Sujos" ganha pontos pelas boas interpretações de seu elenco majoritariamente nipônico e por sua imensa qualidade técnica, porém perde muitos outros por causa de sua narrativa distante e desinteressante. Enfim, apesar das boas intensões, faltou coração ao filme.


NOTA: 2/5


O Que Esperar Quando Você Está Esperando (What to Expect When You're Expecting)


Dir.: Kirk Jones; Escrito por: Shauna Cross e Heather Hach; Com Cameron Diaz, Jennifer Lopez, Elizabeth Banks, Rodrigo Santoro. 2012 - Universal (110 min.)


A gravidez, possivelmente pela quantidade de piadas que podem ser feitas a partir de suas contrações, gases, vômitos, mudanças de humor e afins, sempre foi um tema recorrente em comédias. Por exemplo, o oscarizado "Juno" acompanhava os dilemas de uma adolescente que ficava grávida de um amigo e em "Ligeiramente Grávidos" dois desconhecidos se unem quando descobrem que vão ter um bebê. Isso sem contar com "Junior", aquele filme em que Arnold Schwarzenegger ficava grávido, provando que o assunto realmente já foi motivo para tudo que é tipo de comédia.

Mesmo assim, Hollywood encontrou um jeito de pegar vários atores e atrizes conhecidos e juntá-los numa comédia sobre a gravidez, dando origem a "O Que Esperar Quando Você Está Esperando". A grande diferença é que este filme, dirigido por Kirk Jones, é baseado no guia homônimo para grávidas, escrito por Heidi Murkoff e lançado em 1984. Em resumo, os produtores quiseram fazer uma versão de "Tudo que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, Mas Tinha Medo de Perguntar" de Woody Allen, que por sua vez também é baseado em uma espécie de guia, só que para mulheres que já passaram ou desejam passar pela experiência de ser mãe.

Por seguir a mesma cartilha de filmes como "Simplesmente Amor" e "Idas e Vindas do Amor", compostos por diversas histórias semi-independentes protagonizadas por um elenco recheado de faces conhecidas, "O Que Esperar..." é, sem dúvidas, um filme episódico e irregular. Como na maioria dos filmes que seguem essa estrutura, uma das tramas sempre é mais interessante do que as outras. Por outro lado, há também aquela história que simplesmente não decola. 

Em "O Que Esperar..." são apresentadas quatro histórias. A primeira delas, protagonizada por Jennifer Lopez e Rodrigo Santoro, envolve um casal que, após gastar todas as economias em tratamentos de fertilização fracassados, decide adotar um bebê etíope; numa outra, uma apresentadora de televisão, vivida por Cameron Diaz, engravida de seu instrutor de dança, interpretado por Matthew Morrison (da série de tevê "Glee"), com quem mantinha um relacionamento secreto; a terceira trama, envolve um casal de jovens, vividos por Anna Kendrick e Chace Crawford, que após transarem uma única vez, veem-se grávidos; e a última conta as desventuras de uma especialista em bebês, interpretada por Elizabeth Banks, durante a sua primeira gravidez, sendo que, ao mesmo tempo, a sua sogra (mais nova que ela!) também engravida.

De todas as quatro histórias, a melhor, na minha opinião, é a protagonizada por Banks. Primeiramente, é a que possui o casal mais crível do longa, pois une uma mulher muito bonita como Banks a um homem gorducho e feioso como Ben Falcone, seu marido no longa. Enquanto isso, os outros casais parecem recém-saídos de uma revista de modas. Não é uma falha grave, mas deixa o longa meio artificial. Em segundo lugar, é o que possui as situações mais engraçadas, não só por ser a trama mais escrachada, como também o elenco é afiado. Banks e Falcone têm química juntos, assim como Dennis Quaid e Brooklyn Decker, que vivem o pai de Gary (personagem de Falcone) e sua esposa bem mais nova (que exige ser chamada de mãe por Gary).

Por outro lado, a trama envolvendo Rosie e Marco, os personagens de Kendrick e Crawford, é a menos interessante pelo simples fato de não combinar com o resto do filme. No geral, "O Que Esperar..." investe num humor mais pastelão e popularesco, enquanto este segmento em particular é mais calmo e, de certa forma, até dramático. Além disso, a personagem de Anna sofre (não é spoiler!) um aborto espontâneo logo no início do filme, o que a deixa em descompasso com as outras personagens. Talvez, a melhor opção para este trecho do longa seria um melhor desenvolvimento num filme-solo, já que a sua história é interessante, uma vez que procura mostrar a relação de um casal após uma fatalidade; entretanto, destoa do conjunto em "O Que Esperar...".

As outras duas histórias tem bons momentos: na de Jennifer Lopez, o melhor é o entrosamento entre Santoro e o grupo de pais com o qual ele sai, entre eles o ótimo Chris Rock; já no de Cameron Diaz, as sátiras a programas como "Dancing with the Stars" e "The Biggest Loser" são um show à parte. Mesmo assim, elas não deixam maiores impressões.

Enfim, "O Que Esperar Quando Você Está Esperando" não é o filme definitivo sobre gravidez nem uma das melhores comédias românticas, entretanto, cumpre bem a sua função de entreter o espectador por duas horas, graças, principalmente, ao seu elenco bastante eficiente.

NOTA: 3/5


segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Caiu do Céu (Millions)


Dir.: Danny Boyle; Escrito por Frank Cottrell Boyce; Com Alex Etel, Lewis McGibbon, James Nesbitt. 2004 - Playarte (98 min. - Livre)


Danny Boyle é conhecido por ser um diretor que imprime um visual marcante a cada um de seus filmes, seja na fotografia, no posicionamento da câmera ou nos efeitos gráficos. Para ele, então, que costuma dirigir filmes bastante violentos, o sangue é um de seus elementos favoritos. Desde o seu primeiro filme, "Cova Rasa", passando por "Extermínio" e até pela comédia romântica "Por Uma Vida Menos Ordinária", o famoso líquido vermelho era marca registrada do diretor.

Entretanto, depois de tantos filmes fortes, Boyle decidiu investir num filme mais família, com uma história ingênua, mas nem por isso boba. Saiu daí "Caiu do Céu", uma comédia extremamente simpática e que se beneficia não só de um ótimo roteiro de Frank Cottrell Boyce e de elenco e personagens cativantes como também de seu visual incrivelmente criativo, mostrando que Boyle, apesar de gostar de sangue, consegue criar sem ele.

O filme se passa na Inglaterra do início dos anos 2000, quando deu-se início à implantação do euro em diversos países da União Europeia, entre eles (segundo o filme), a Inglaterra. É neste cenário em que um dia, ao brincar perto da linha do trem, um menino de sete anos de idade, Damian, recebe, supostamente, um presente divino: uma sacola cheia de libras.

Ao mostrar, então, o dinheiro ao seu irmão mais velho, Anthony, este decide que o melhor a se fazer no momento é gastar tudo, uma vez que em poucos dias toda aquela grana não iria valer mais nada. Entretanto, Damian, por ser um grande estudioso dos santos (apesar da pouca idade), acredita que a caridade é a melhor saída, ainda mais na época do Natal (período do ano em que o filme se passa).

Porém, os dois irmãos nem imaginavam que o dinheiro era roubado, e que os ladrões estão agora à procura de toda a quantia perdida.

Para início de conversa, o filme já ganha pontos por ter um dos protagonistas mais simpáticos que eu já vi. Damian, o menino que acredita na bondade do homem e no poder de Deus e dos santos, é a simpatia em pessoa. Só daí já dá para gostar do filme.

Mas como se já não fosse o bastante, o roteiro de Boyce é irônico ao extremo! Algumas das cenas mais divertidas do filme são aquelas em que Damian conversa cara-a-cara com diversos santos. A diferença é que a maioria deles é mostrada de forma bastante cômica e, diria até, politicamente incorreta, mas nem por isso ofensiva. Um exemplo claro é quando Santa Clara aparece fumando um cigarro na frente do menino. Pode apostar que se fosse um filme hollywoodiano essa cena teria sido cortada sem dó nem piedade.

Outro aspecto do roteiro que eu gostei muito foi o fato de que apesar de ser um filme familiar, ele não trata seus espectadores como bobalhões. O filme trata de assuntos polêmicos como morte, religião, ganância e pobreza de maneira inteligente, mas ao mesmo tempo leve e divertida (quando necessário), sendo, portanto, agradável a crianças e adultos.

Como já citei acima, visualmente falando, o filme também é bastante inventivo. A fotografia é belíssima, a cena de abertura - que mostra a construção de uma casa - é bastante alegre e divertida, os efeitos de transição são bem elaborados... Enfim, não deixa a desejar a nenhum dos outros filmes do diretor neste quesito.

Uma divertida crítica ao consumismo desenfreado e ao egoísmo dos dias de hoje, "Caiu do Céu" é um dos filmes menos conhecidos de Danny Boyle, mas também é um de seus melhores títulos. Além disso, para quem gostou da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres, vale a pena a espiada, pois eu tenho certeza que muito do que Boyle inventou para aquela noite teve inspiração em sua experiência com esse filme.

NOTA: 4/5


sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Além da Liberdade (The Lady)


Dir.: Luc Besson; Escrito por Rebecca Frayn; Com Michelle Yeoh, David Thewlis. 2011 - Paris (132 min.)



Numa das cenas mais bonitas de "Além da Liberdade", se não a mais bonita, Aung San Suu Kyi está em prisão domiciliar em sua casa em Rangum, capital da Birmânia (atual Mianmar). Entretanto, não é um dia qualquer, pois pelo rádio ela acompanha a entrega do Prêmio Nobel da Paz à sua pessoa. Como ela não pode estar lá para receber a homenagem (seu filho, Alexander, agradece por ela), Suu Kyi decide acompanhar, ao piano, a orquestra que toca após o discurso de seu primogênito. O que faz dessa cena algo belo é a honestidade que ela passa, o momento íntimo e sincero que ela transmite. É uma pena, porém, que "Além da Liberdade" não seja assim o tempo todo.

O filme conta a história de vida da ativista política Aung San Suu Kyi, que há mais de duas décadas luta pela liberdade em seu país natal, onde reina um cruel regime ditatorial. O longa abrange o período entre 1988, quando Suu Kyi retorna à Birmânia, depois de anos fora na Inglaterra, para cuidar da mãe, debilitada após sofrer um derrame, e 2007, quando ocorreram protestos de monges budistas a favor do fim da prisão domiciliar de Suu Kyi, que já durava quase 15 anos. Neste ínterim, estão incluídas a entrega do Nobel da Paz em 1991 e a morte de seu marido de longa data, Michael Aris, em 1999.

Apesar de ser bastante simpático à personalidade retratada, o filme dirigido por Luc Besson (acostumado a filmes de ação como "O Quinto Elemento", "Nikita - Criada para Matar" e "O Profissional") parece mais um fraco telefilme do que a grande biografia que prometia e deveria ter sido, e a principal causa disso é o seu roteiro amador. Apesar de ser fruto de um intenso trabalho de pesquisa, incluindo depoimentos de pessoas próximas à Aung San Suu Kyi, a roteirista Rebecca Frayn não consegue escapar dos diálogos bobos e rasos. Além disso, certos aspectos da história ficam mal contados ou apressados como, por exemplo, o momento em que Suu Kyi aceitar liderar o movimento pró-democracia na Birmânia. Tudo parece ocorrer muito rapidamente, fácil demais. Mesmo sendo filha do general Aung San, pai da Birmânia moderna, assassinado em 1947 por querer implantar a democracia, achei que a decisão dela pareceu impulsiva no filme; algo, que acredito, certamente não foi.

Para piorar ainda mais a situação, a atuação de diversos atores coadjuvantes é bastante caricata, principalmente a do ator que interpreta o ditador Ne Win. As suas cenas de ira perante os seus subordinados ou às atitudes revolucionárias de Suu Kyi são bem ruins.

Entretanto, nem tudo está perdido. O filme é tecnicamente bem feito, contando, principalmente, com uma belíssima fotografia de Thierry Arbogast e com caprichado figurino assinado por Olivier Bériot. As performances dos protagonistas Michelle Yeoh como Aung San Suu Kyi e David Tewlis como Michael Aris, apesar de serem falhas, possuem suas qualidades e são bastante cativantes, sendo um dos motivos para ver o filme.

No final das contas, "Além da Liberdade" vale mais pela sua emocionante e impressionante história real do que pelo filme em si. Nesse caso, uma biografia literária seria melhor negócio.


NOTA: 2.5/5