Dir.: Luc Besson; Escrito por Rebecca Frayn; Com Michelle Yeoh, David Thewlis. 2011 - Paris (132 min.)
Numa das cenas mais bonitas de "Além da Liberdade", se não a mais bonita, Aung San Suu Kyi está em prisão domiciliar em sua casa em Rangum, capital da Birmânia (atual Mianmar). Entretanto, não é um dia qualquer, pois pelo rádio ela acompanha a entrega do Prêmio Nobel da Paz à sua pessoa. Como ela não pode estar lá para receber a homenagem (seu filho, Alexander, agradece por ela), Suu Kyi decide acompanhar, ao piano, a orquestra que toca após o discurso de seu primogênito. O que faz dessa cena algo belo é a honestidade que ela passa, o momento íntimo e sincero que ela transmite. É uma pena, porém, que "Além da Liberdade" não seja assim o tempo todo.
O filme conta a história de vida da ativista política Aung San Suu Kyi, que há mais de duas décadas luta pela liberdade em seu país natal, onde reina um cruel regime ditatorial. O longa abrange o período entre 1988, quando Suu Kyi retorna à Birmânia, depois de anos fora na Inglaterra, para cuidar da mãe, debilitada após sofrer um derrame, e 2007, quando ocorreram protestos de monges budistas a favor do fim da prisão domiciliar de Suu Kyi, que já durava quase 15 anos. Neste ínterim, estão incluídas a entrega do Nobel da Paz em 1991 e a morte de seu marido de longa data, Michael Aris, em 1999.
Apesar de ser bastante simpático à personalidade retratada, o filme dirigido por Luc Besson (acostumado a filmes de ação como "O Quinto Elemento", "Nikita - Criada para Matar" e "O Profissional") parece mais um fraco telefilme do que a grande biografia que prometia e deveria ter sido, e a principal causa disso é o seu roteiro amador. Apesar de ser fruto de um intenso trabalho de pesquisa, incluindo depoimentos de pessoas próximas à Aung San Suu Kyi, a roteirista Rebecca Frayn não consegue escapar dos diálogos bobos e rasos. Além disso, certos aspectos da história ficam mal contados ou apressados como, por exemplo, o momento em que Suu Kyi aceitar liderar o movimento pró-democracia na Birmânia. Tudo parece ocorrer muito rapidamente, fácil demais. Mesmo sendo filha do general Aung San, pai da Birmânia moderna, assassinado em 1947 por querer implantar a democracia, achei que a decisão dela pareceu impulsiva no filme; algo, que acredito, certamente não foi.
Para piorar ainda mais a situação, a atuação de diversos atores coadjuvantes é bastante caricata, principalmente a do ator que interpreta o ditador Ne Win. As suas cenas de ira perante os seus subordinados ou às atitudes revolucionárias de Suu Kyi são bem ruins.
Entretanto, nem tudo está perdido. O filme é tecnicamente bem feito, contando, principalmente, com uma belíssima fotografia de Thierry Arbogast e com caprichado figurino assinado por Olivier Bériot. As performances dos protagonistas Michelle Yeoh como Aung San Suu Kyi e David Tewlis como Michael Aris, apesar de serem falhas, possuem suas qualidades e são bastante cativantes, sendo um dos motivos para ver o filme.
No final das contas, "Além da Liberdade" vale mais pela sua emocionante e impressionante história real do que pelo filme em si. Nesse caso, uma biografia literária seria melhor negócio.
NOTA: 2.5/5
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