domingo, 26 de agosto de 2012

John Carter - Entre Dois Mundos (John Carter)


Dir.: Andrew Stanton; Escrito por Andrew Stanton, Mark Andrews e Michael Chabon; Com Taylor Kitsch, Lynn Collins, Samantha Morton, Willem Dafoe. 2012 - Disney (132 min. - 12 anos)


"John Carter - Entre Dois Mundos" é um filme que tentava sair do papel desde a década de 1930, quando Bob Clampett, diretor dos curtas dos Looney Tunes, começou a trabalhar numa adaptação animada do primeiro livro da série de 11 livros escrita por Edgar Rice Borroughs, "A Princesa de Marte". Entretanto, a produção foi interrompida quando o filme foi mal recebido pelos donos de cinemas. Curiosamente, caso a produção tivesse continuado, este "John Carter" poderia ter sido o primeiro longa-metragem de animação da história, passando à frente de "Branca de Neve e os Sete Anões".

Já na década de 1950, o mestre da animação stop-motion, Ray Harryhausen ("Fúria de Titãs", "O Poderoso Joe"), mostrou interesse em adaptar as histórias de John Carter para os cinemas. Porém, somente na década de 1980 houve uma nova tentativa de realizar o filme, com John McTiernan ("Duro de Matar", "Predadores") na direção e Tom Cruise como protagonista. Entretanto, McTiernan achava que os efeitos especiais ainda não eram bons o suficiente para recriar o mundo criado por Borroughs.

Porém, no início dos anos 2000, os direitos para uma adaptação de "A Princesa de Marte" foram comprados pela Paramount Pictures e Robert Rodriguez ("Sin City", "El Mariachi") foi contratado para dirigi-la. Mesmo assim, depois da saída de Rodriguez, mais dois diretores passaram pelo projeto - Kerry Conran ("Capitão Sky e o Mundo de Amanhã") e Jon Favreau ("Homem de Ferro") - , resultando em nada.

Foi somente quando Andrew Stanton, diretor de clássicos da animação como "Procurando Nemo" e "WALL-E", pediu para a Disney reaver os direitos da série, que o projeto começou a realmente sair do papel. Não sem os seus problemas, é claro. Stanton era um novato na direção de filmes live-action, queria atores desconhecidos para estrelar um blockbuster e controlava toda a estratégia de marketing feita para o filme. Enfim, queria fazer as coisas do seu jeito.

Mesmo assim, "John Carter - Entre Dois Mundos" foi produzido e lançado pela Disney em 2012. Porém, o filme, que custou US$ 350 milhões em produção mais publicidade, se tornou o primeiro grande fracasso do ano, custando a cabeça do presidente do estúdio na época, Rich Ross, que poderia ter evitado a catástrofe diminuindo o orçamento ou cancelando a produção.

Entretanto, ao assistir a "John Carter - Entre Dois Mundos" fica a impressão de que o filme ganhou notoriedade por todos os motivos errados, uma vez que o longa em si é um prato cheio para quem gosta de grandes histórias, ação, aventura, romance e ficção científica. Sim, o maior fiasco do ano é um ótimo filme!

No longa, um jovem, chamado Edgar, chega à movimentada cidade de Nova York para receber a herança de seu tio recém-falecido, o ex-capitão da Guerra Civil, John Carter. É nessa visita em que Edgar fica sabendo da maior aventura já vivida por ele: a sua visita ao planeta Marte, ou melhor, Barsoom.

Tudo começa quando dez anos antes, John encontra uma caverna lotada de ouro no estado do Arizona. Porém, quando um homem tenta matá-lo sem sucesso, ele encontra algo muito melhor do que ouro: um medalhão que o leva para um lugar incrivelmente diferente de tudo o que ele já tinha visto: Barsoom.

Lá ele conhece um grupo chamado Tharks, humanoides de 4 metros e meio de altura, de pele verde e com longas e curvadas presas. Assim que chega, John (ou Virginia, como os Tharks o chamam) é adotado por Sola, uma Thark rejeitada pelo grupo e marcada pelos castigos corporais que sofreu por ter desobedecido à lei.

Um dia, porém, duas grandes naves surgem no céu de Barsoom, uma de Zodanga e outra de Helium, os dois grupos que vivem em guerra há mais de 1000 anos. Nessa batalha, a princesa de Helium, Dejah Thoris, foge e se abriga com os Tharks numa tentativa de impedir seu casamento com Sab Than, o líder de Zodanga. É exatamente nesse momento em que ela conhece John Carter e vê nele a única chance de Helium vencer a guerra.

Um dos aspectos mais legais de "John Carter - Entre Dois Mundos" é o mundo criado pelo escritor Edgar Rice Borroughs. Toda a mitologia envolvendo os três grupos, desde as suas histórias até à sua religiosidade, representada pela figura divina de Iss, a Deusa, são muito interessantes e nos lembram de outros grandes marcos da ficção científica no cinema como "Star Wars", "Jornada nas Estrelas" e até mesmo o recente "Avatar" de James Cameron, que por sinal foi bastante inspirado pelas histórias de Borroughs. Isso sem contar com as grandes sacadas do autor como por exemplo o fato de Carter poder pular longas alturas e distâncias devido à gravidade de Marte ser mais baixa que a da Terra.

Uma outra jogada de mestre é exatamente a relação criada por Borroughs entre Barsoom e os EUA. A guerra entre Zodanga e Helium remete claramente à Guerra Civil norte-americana travada entre o sul e o norte das Treze Colônias. Enquanto isso, os Tharks representam os índios, principalmente por serem os únicos fisicamente diferentes, já que os outros dois grupos possuem aparência humana.

Além disso, todo o pessoal envolvido na produção desse filme merece palmas, pois o trabalho feito por eles é incrível. Os efeitos especiais que dão vida aos Tharks e às excêntricas criaturas de Barsoom como os macacos brancos e o "cão" Woola, que acompanha John em várias de suas aventuras, são de excepcional qualidade. O figurino criado por Mayes C. Rubeo também é notável. Não é por pouco, ela foi a responsável pelo figurino do já citado "Avatar" e de "Apocalypto" de Mel Gibson. A direção de arte também é primorosa, principalmente aquela criada para Zodanga. Mas, no final, o melhor é a trilha sonora clássica, mas muito criativa de Michael Giacchino.

Quanto ao elenco, não há nenhuma atuação primorosa, mas os dois protagonistas, Taylor Kitsch e Lynn Collins, possuem carisma o suficiente para sustentar o filme durante os seus 132 minutos de duração.

O roteiro, por sua vez, também não é a obra de um gênio. O que não falta são aquelas frases bem clichês e os diálogos bobinhos, entretanto, pode-se dizer que isso até faz parte do charme do filme, afinal "John Carter - Entre Dois Mundos" é, como alguns já disseram, um filme B disfarçado de blockbuster hollywoodiano. Porém, só não entendi a reclamação de muitos críticos que disseram que o filme era, em alguns trechos, incompreensível. Sim, não é aquele filme que demora um tempão explicando as coisas, mas dizer que não dá para entender algumas partes me parece preguiça.

Enfim, é uma pena "John Carter - Entre Dois Mundos" ter ido mal de bilheteria (eu, por exemplo, até me senti culpado por não ter ido vê-lo no cinema), pois eu gostaria de ver na tela grande a continuação das aventuras de John Carter de Marte. Entretanto, acredito que "John Carter" será redescoberto daqui a algum tempo e, finalmente, receberá o reconhecimento que merece.

NOTA: 4/5


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