Dir.: Danny Boyle; Escrito por Frank Cottrell Boyce; Com Alex Etel, Lewis McGibbon, James Nesbitt. 2004 - Playarte (98 min. - Livre)
Danny Boyle é conhecido por ser um diretor que imprime um visual marcante a cada um de seus filmes, seja na fotografia, no posicionamento da câmera ou nos efeitos gráficos. Para ele, então, que costuma dirigir filmes bastante violentos, o sangue é um de seus elementos favoritos. Desde o seu primeiro filme, "Cova Rasa", passando por "Extermínio" e até pela comédia romântica "Por Uma Vida Menos Ordinária", o famoso líquido vermelho era marca registrada do diretor.
Entretanto, depois de tantos filmes fortes, Boyle decidiu investir num filme mais família, com uma história ingênua, mas nem por isso boba. Saiu daí "Caiu do Céu", uma comédia extremamente simpática e que se beneficia não só de um ótimo roteiro de Frank Cottrell Boyce e de elenco e personagens cativantes como também de seu visual incrivelmente criativo, mostrando que Boyle, apesar de gostar de sangue, consegue criar sem ele.
O filme se passa na Inglaterra do início dos anos 2000, quando deu-se início à implantação do euro em diversos países da União Europeia, entre eles (segundo o filme), a Inglaterra. É neste cenário em que um dia, ao brincar perto da linha do trem, um menino de sete anos de idade, Damian, recebe, supostamente, um presente divino: uma sacola cheia de libras.
Ao mostrar, então, o dinheiro ao seu irmão mais velho, Anthony, este decide que o melhor a se fazer no momento é gastar tudo, uma vez que em poucos dias toda aquela grana não iria valer mais nada. Entretanto, Damian, por ser um grande estudioso dos santos (apesar da pouca idade), acredita que a caridade é a melhor saída, ainda mais na época do Natal (período do ano em que o filme se passa).
Porém, os dois irmãos nem imaginavam que o dinheiro era roubado, e que os ladrões estão agora à procura de toda a quantia perdida.
Para início de conversa, o filme já ganha pontos por ter um dos protagonistas mais simpáticos que eu já vi. Damian, o menino que acredita na bondade do homem e no poder de Deus e dos santos, é a simpatia em pessoa. Só daí já dá para gostar do filme.
Mas como se já não fosse o bastante, o roteiro de Boyce é irônico ao extremo! Algumas das cenas mais divertidas do filme são aquelas em que Damian conversa cara-a-cara com diversos santos. A diferença é que a maioria deles é mostrada de forma bastante cômica e, diria até, politicamente incorreta, mas nem por isso ofensiva. Um exemplo claro é quando Santa Clara aparece fumando um cigarro na frente do menino. Pode apostar que se fosse um filme hollywoodiano essa cena teria sido cortada sem dó nem piedade.
Outro aspecto do roteiro que eu gostei muito foi o fato de que apesar de ser um filme familiar, ele não trata seus espectadores como bobalhões. O filme trata de assuntos polêmicos como morte, religião, ganância e pobreza de maneira inteligente, mas ao mesmo tempo leve e divertida (quando necessário), sendo, portanto, agradável a crianças e adultos.
Como já citei acima, visualmente falando, o filme também é bastante inventivo. A fotografia é belíssima, a cena de abertura - que mostra a construção de uma casa - é bastante alegre e divertida, os efeitos de transição são bem elaborados... Enfim, não deixa a desejar a nenhum dos outros filmes do diretor neste quesito.
Uma divertida crítica ao consumismo desenfreado e ao egoísmo dos dias de hoje, "Caiu do Céu" é um dos filmes menos conhecidos de Danny Boyle, mas também é um de seus melhores títulos. Além disso, para quem gostou da cerimônia de abertura das Olimpíadas de Londres, vale a pena a espiada, pois eu tenho certeza que muito do que Boyle inventou para aquela noite teve inspiração em sua experiência com esse filme.
NOTA: 4/5
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