quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Frankenweenie (Frankenweenie)


Dir.: Tim Burton; Escrito por John August; Com Catherine O'Hara, Martin Short, Martin Landau, Winona Ryder. 2012 - Disney (87 min. - 10 anos)


Os filmes de Tim Burton, devido ao seu visual extremamente vivo, mas ao mesmo tempo bastante obscuro, dariam ótimos filmes de animação. Não é por nada que em 1993 Tim produziu o filme "O Estranho Mundo de Jack", que apesar de não ter sido dirigido por ele (quem se encarregou disso foi Henry Selick), possui muitas semelhanças estéticas com os seus filmes. Porém, em 2005, Burton finalmente dirigiu o seu primeiro longa-metragem de animação, "A Noiva Cadáver", um ótimo musical feito em stop-motion, que chegou a ser indicado ao Oscar de Melhor Longa de Animação em 2006. Por isso, eu fiquei bastante feliz quando soube que Tim Burton iria se aventurar novamente na animação em "Frankenweenie".

Baseado em um curta-metragem de 1984 dirigido pelo próprio Tim, o filme conta a história de Victor Frankenstein, um menino solitário que tem como melhor amigo o seu cachorro, Sparky. Entretanto, um dia Sparky é atropelado e, infelizmente, morre, deixando Victor arrasado.

Mesmo assim, o menino não desiste e, inspirado em uma aula de Ciências da escola, ele decide trazer o seu grande amigo de volta à vida. E o melhor de tudo: ele consegue! Mas o que era para ser segredo acaba sendo descoberto por Edgar, um menino corcunda e fofoqueiro, que conta para todo mundo a grande façanha de Victor, trazendo graves consequências à pequena cidade de New Holland.

"Frankenweenie" é, sem dúvida, um filme de animação feito por Hollywood bastante diferente daqueles feitos nos grandes estúdios. Primeiro de tudo, o filme é todo em preto-e-branco, algo que o público em geral dificilmente aceita (o grande ganhador do Oscar passado, "O Artista" foi uma exceção à regra). Em segundo lugar, o filme tem uma história bem macabra se compararmos com outros longas de animação hollywoodianos. Além disso, o filme é feito em stop-motion, tipo de animação pouco querido pelo público (para se ter uma ideia, o filme em stop-motion mais bem sucedido é "A Fuga das Galinhas" de 2000, que faturou pouco mais de 220 milhões de dólares mundialmente). E por fim, apesar de ter sido produzido pela Disney e de ter uma classificação etária própria para as crianças, é fácil ver que o público-alvo de "Frankenweenie" são os adultos. Em outras palavras, a combinação de todos esses fatores significava fracasso. Porém, não é que o filme é muito interessante?

Já quero deixar claro que o filme não é perfeito, pelo contrário, no início ele é até um pouco monótono, porém, no fim, as suas qualidades superam os seus defeitos.

Para começar, o visual do filme, como já é de se esperar de um filme de Tim Burton, é louvável. A fotografia em preto-e-branco não só traz um charme todo especial ao filme (remetendo aos filmes-B de terror e ficção-científica do antigamente, grandes influências na filmografia de Burton) como também diferencia "Frankenweenie" dos outros longas de animação em exibição nos cinemas. Somando-se a isso, o visual dos personagens é adoravelmente perturbador e a direção de arte é muito bem-feita.

O stop-motion, no caso de "Frankenweenie", também é uma grande vantagem. Eu, particularmente, não apenas acho essa técnica de animação a mais interessante de todas como também me parece ser a mais gratificante. Afinal, imagine ficar mexendo os membros dos bonecos de massa de modelar por horas e horas a fio, frame a frame! Mas em "Frankenweenie" essa técnica ganha um quê a mais, pois ela passa uma sensação de rudimentariedade, a mesma dos filmes que "Frankenweenie" homenageia.

Por fim, é bastante divertido buscar as várias referências que o filme faz ao cinema que influenciou não só este filme de Burton como também toda a sua filmografia. Há homenagens ao livro Frankenstein de Mary Shelley como a própria história do filme e o nome da família do protagonista - isso sem contar o personagem Edgar, que é uma clara alusão ao Igor, assistente do dr. Frankenstein em diversos filmes -, mas há também referências ao Van Helsing, o famoso caçador de monstros do livro "Drácula" de Bram Stoker, e até aos filmes japoneses de kaijus, os famosos monstros gigantes como Godzilla. Tudo isso ao som da ótima trilha sonora de Danny Elfman.

Para finalizar, não acho que "Frankenweenie" supere "A Noiva Cadáver", o primeiro longa de animação dirigido por Tim Burton, nem acho que seja o melhor longa de animação deste ano. Mesmo assim, "Frankenweenie" ainda é um filme simpático e que merece a sua atenção pelo simples fato de ser diferente de todos os outros filmes familiares que estão passando agora nos cinemas.

P.S.: Eu adoraria ver a música-tema do filme, "Strange Love", cantada por Karen O, ser reconhecida pelos prêmios que estão vindo por aí.

NOTA: 3.5/5


terça-feira, 27 de novembro de 2012

Argo (Argo)


Dir.: Ben Affleck; Escrito por Chris Terrio; Com Ben Affleck, Bryan Cranston, Alan Arkin, John Goodman. 2012 - Warner (120 min. - 14 anos)


Outro dia, eu estava zapeando pela televisão quando vi que estava passando num canal de música o clipe de "Jenny From the Block" da Jennifer Lopez, aquele clipe em que ela aparece diversas vezes ao lado de Ben Affleck, seu namorado na época. Foi nesse período em que Affleck passou pelo pior momento de sua carreira, estrelando fiasco atrás de fiasco, culminando com o amaldiçoado "Contato de Risco", cuja co-protagonista era exatamente Lopez. Por isso é curioso ver que, hoje em dia, Affleck não só se tornou uma celebridade muito mais discreta como também reconquistou público e crítica depois que deu uma significante guinada em sua carreira: passou a dirigir filmes. O mais novo dessa leva é "Argo".

O filme, passado em 1980, relata uma missão da CIA até pouco tempo desconhecida como também bastante extravagante. Tudo começa com a Crise de Reféns no Irã em 1979, quando 52 funcionários da embaixada americana em Teerã foram mantidos presos pelos rebeldes iranianos, que eram contra o asilo dado pelos EUA ao ditador Mohammad Reza Pahlavi, que necessitava de cuidados médicos. Entretanto, seis funcionários (ou seja, eram 58 funcionários no total) conseguiram escapar e se refugiaram na embaixada canadense.

No ano seguinte, a fim de evitar uma ofensiva militar ao Irã, o presidente norte-americano Jimmy Carter autorizou a CIA a realizar o resgate dos tais seis funcionários que conseguiram despistar os rebeldes. Porém, a missão deveria ser extremamente discreta, de modo que os iranianos não suspeitassem de nada. 

A solução encontrada foi inventar um filme falso, que tivesse produtor, pôsteres, anúncio na Variety, roteiro, mas que não seria de fato produzido. Dessa forma, o agente Tony Mendez - que elaborou toda a operação - e os seis americanos presos em Teerã se passariam de membros de uma equipe de filmagem que estaria à procura de locações no Irã para o mais novo sucesso de Hollywood, "Argo", ou em outras palavras, uma cópia descarada de "Star Wars".

Extremamente eficiente e com uma história bastante interessante, "Argo" não só é bem melhor que o filme anterior de Affleck, "Atração Perigosa", como também é um ótimo exemplo de como fazer um thriller. Apesar de mesclar drama e comédia, o filme nunca fica cansativo para nenhum dos dois lados, como também tem um ritmo muito bom.

Grande parte disso deve-se ao ótimo roteiro de Chris Terrio. Baseado em um artigo de jornal e num livro escrito pelo próprio Tony Mendez, o roteiro de "Argo" é muito bem construído, fazendo com que uma história inegavelmente complicada como essa fique fácil de entender e de ser acompanhada. Além disso, as cenas de tensão são realmente emocionantes (especialmente o clímax, que acontece dentro do aeroporto de Teerã) e as cenas cômicas são bastante ácidas aos bastidores de Hollywood, mas também prestam uma homenagem à maquina cinematográfica norte-americana.

Por também ser ator, a principal qualidade de Ben Affleck como diretor é exatamente saber como lidar com o seu elenco, e no caso de "Argo" este é bem grande. Mesmo assim, todos os atores aqui estão muito bem, incluindo Affleck, que como intérprete é bastante irregular, e Bryan Cranston, que aqui vive o chefe de Tony Mendez. Mas os melhores são mesmo os veteranos John Goodman e Alan Arkin, ambos incríveis.

Enfim, apesar de pecar um pouco no final com algumas doses de pieguice e uma certa brincadeira de mal gosto com o Canadá, "Argo" é realmente um ótimo thriller. Não é essa maravilha toda que dizem por aí (sério, é só entrar em qualquer site dos EUA especializado em cinema e você vai ver o "hype" absurdo que colocam sobre esse filme), mas é, sem dúvida, um filme pipoca com inteligência.

NOTA: 4/5


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2, o Final (The Twilight Saga: Breaking Dawn - Part 2)


Dir.: Bill Condon; Escrito por Melissa Rosenberg; Com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner. 2012 - Paris (115 min. - 12 anos)


Sejamos sinceros, a Saga Crepúsculo está longe de ser um exemplo de qualidade cinematográfica. As atuações são bem ruinzinhas (não é por nada que o trio de protagonistas é alvo de inúmeras piadas), a história é estupidamente absurda (ainda quero saber como um vampiro consegue fazer sexo e ainda liberar esperma), os personagens são bobos (convenhamos, a Bella é uma mala sem alça), os efeitos especiais são toscos (os lobos, a "pele de diamante" e a alta velocidade dos vampiros etc.)... Enfim, a franquia é uma vergonha!

Entretanto, assistir todo ano a um novo filme da Saga Crepúsculo se tornou uma espécie de tradição. É o momento perfeito de se reunir os amigos (aqueles que amam e aqueles que odeiam a série), comprar um combo de pipoca com refrigerante na bomboniére careira do cinema e simplesmente desligar o cérebro por duas horas. E quer saber? Eu amo isso! 

Ame ou odeie a Saga Crepúsculo, deve-se admitir que os seus filmes reúnem as pessoas. Uma sessão de qualquer longa da franquia é uma verdadeira festa, na qual todos marcam presença: os amantes de Crepúsculo vibram quando Taylor Lautner tira a camisa, mas se desesperam quando algo de ruim acontece ao casal Bella e Edward, por outro lado, os "haters" debocham da maquiagem grotesca dos vampiros e dos diálogos dignos das piores novelas mexicanas. Enquanto isso, os indiferentes riem dessa guerrinha amigável. A Saga Crepúsculo é o equivalente cinematográfico dos versos de "Music" da Madonna: "music makes the people come together/music makes the bourgeoisie and the rebel". E é exatamente por isso que eu gostei de "A Saga Crepúsculo: Amanhecer - Parte 2, o Final" muito mais do que eu imaginava que gostaria!

A principal razão para isso é que este novo filme traz todas as marcas registradas da série, as quais já comentei acima, aquelas que muitos amam e muitos odeiam. A história ainda é bobinha (neste novo capítulo, Bella e cia. devem lutar contra os Volturi a fim de proteger Renesmee, filha de Bella e Edward), os efeitos especiais, apesar de melhores, ainda estão bem abaixo dos padrões hollywoodianos e as atuações ainda estão longe de serem boas (mesmo que tenham melhorado também). Enfim, a série se manteve honesta às suas origens.

Mesmo assim, certos pontos melhoraram de verdade se comparados aos primeiros filmes da série. A fotografia deste último capítulo é infinitamente melhor do que aquele mar azul que era o "Crepúsculo"da Catherine Hardwicke e a trilha sonora de Carter Burwell também está muito boa. Mas a principal melhora é o clímax. Em "Amanhecer - Parte 2" há uma batalha épica muito bem filmada e até bastante emocionante, algo que não me lembro de ver anteriormente na série - muito menos em "Amanhecer - Parte 1" em que literalmente nada de interessante acontece, a não ser as tosquices que salvavam o filme (aquela cena dos lobos falando através do pensamento é indescritível).

No final das contas, eu gostei de "A Saga Crepúsculo - Amanhecer - Parte 2, o Final" pelo conjunto da obra (eu até me diverti com as índias Ticuna do Brasil, que de brasileiras não tinham nada), pelo que estava dentro da tela e pelo que estava fora dela. Eu vou, sinceramente, sentir falta da Saga Crepúsculo por todas as suas tosquices, por toda sua pieguice, por tudo de ruim que ela tem, mas do que eu vou mais sentir saudade é do calor humano nas sessões da franquia, de toda a interatividade entre público e filme. Em resumo, a Saga Crepúsculo pode ser uma ótima porcaria, mas ela representa a real diversão que é ir ao cinema.

NOTA: 3.5/5


sábado, 24 de novembro de 2012

Além da Linha Vermelha (The Thin Red Line)


Dir.: Terrence Malick; Escrito por Terrence Malick; Com Nick Nolte, Jim Caviezel, Sean Penn, John Cusack, Elias Koteas. 1998 - Fox (170 min. - 14 anos)


"Além da Linha Vermelha" já começa com a seguinte pergunta: por que a natureza vive em conflito com si mesma? Por que o mar vive batendo nas rochas? Por que um animal tem que se alimentar de outro? Por que a harmonia da natureza depende da sua eterna guerra com si própria? 

Você deve estar pensando: o que um filme de guerra tem a ver com a realidade conflitante da natureza? Eu lhe respondo: tudo! O ser humano faz parte do mesmo mundo que as árvores, as plantas, os insetos, os animais selvagens etc., portanto qualquer atitude tomada por um humano tem influência não só em outro semelhante seu como também em todo um ecossistema. Qualquer engrenagem defeituosa na máquina chamada natureza afeta todo o seu funcionamento perfeito.

Daí tiramos o grande mote de "Além da Linha Vermelha": é inegável que os conflitos são essenciais para o perfeito entrosamento entre os diferentes elementos naturais, porém a guerra, pelo menos no caso dos conflitos entre os humanos, é um choque totalmente desnecessário. Pior, que traz consequências negativas não só para os humanos como também para todo o sistema milimetricamente calculado da natureza. Dessa forma, cria-se um paralelo entre o homem e a natureza: ao mesmo tempo em que um depende do outro, eles também podem ser vistos como um único ser.

Para provar essa teoria, o diretor Terrence Malick usa como exemplo a Batalha de Guadalcanal, ocorrida na Segunda Guerra Mundial. Este conflito, tido como um dos mais violentos da Segunda Guerra, ocorrido entre agosto de 1942 e fevereiro de 1943, foi marcado por ser a primeira grande ofensiva aliada na Guerra do Pacífico após o ataque a Pearl Harbor e à Batalha de Midway (embate aéreo entre EUA e Japão, ocorrido no Oceano Pacífico).

Dessa breve contextualização já dá a entender que Malick usa os americanos envolvidos no conflito para ilustrar bem o choque entre os próprios seres humanos e suas consequências. Dessa forma, "Além da Linha Vermelha" está longe de ser um filme patriota. Pelo contrário, o diretor tenta mostrar os dois lados da moeda (o americano e o japonês) da mesma forma, isto é, em ambos os casos os soldados, capitães, generais etc. são vítimas de um sistema superior a eles, no qual, a guerra é vista não só como a solução para todos os problemas, mas também como motivo de orgulho para uma nação por ter derrotado os seus inimigos, mesmo que isso implique em derramamento de sangue. Não digo que aqueles que morreram na guerra não devam ser homenageados, o problema é que as pessoas tendem a glorificar os assassinatos, o que é um sério desvirtuamento de valores. Isso se mostra presente nas famigeradas condecorações e na própria vida militar, que tem como grande objetivo uma guerra, ou seja, o fim da vida de muitos é o auge profissional de poucos.

Para ajudar na sua argumentação, Malick faz uso de inúmeras narrações e flashbacks. Nas narrações, diversas reflexões filosóficas, conectando o homem à natureza e a guerra à deterioração mental de seus integrantes, são feitas, trazendo o amor como a real solução para os problemas. Enquanto isso, os flashbacks, bastante utópicos, trazem imagens idealizadas das mulheres que os homens da guerra deixaram em casa. Fica, então, a pergunta: o que vale mais a pena: matar inimigos para manter a honra de seu país ou viver ao lado do seu porto seguro, aquela pessoa que o ama e na qual você confia?

A violência também não é censurada. Há sim cenas bastante fortes de homens gravemente feridos, mostrando o resultado da guerra. Uma outra interpretação é também o conflito homem/natureza, no qual o cadáver de um ser humano serve para alimentar seres decompositores que vão iniciar a cadeia alimentar, que tem como fim o homem. Enfim, ironias da vida...

O filme sofre de irritantes problemas de ritmo, principalmente em seu ato final, porém o impacto visual, sonoro e psicológico de "Além da Linha Vermelha" ainda é muito, mas muito forte. Aqui, Terrence Malick se mostra um grande mestre sobre o controle de uma incrível narrativa (algo que senti falta em seu último filme, "A Árvore da Vida", que, ironicamente, achei sem muita vida), trabalhando com um elenco invejável e em plena forma, entregando um incrível trabalho audiovisual e, principalmente, abrindo a mente do público para um pensamento indispensável para esses tempos de aquecimento global e constantes conflitos geopolíticos. Realmente, um grande filme!

NOTA: 4.5/5


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Cine Majestic (The Majestic)


Dir.: Frank Darabont; Escrito por Michael Sloane; Com Jim Carrey, Bob Balaban, Hal Holbrook, Laurie Holden, Martin Landau. 2001 - Warner (152 min. - Livre)


"Cine Majestic" é um filme "-inho"! Mas o que é um filme "-inho"? Bem, em poucas palavras um filme "-inho" é aquele que nós podemos caracterizar com vários adjetivos no diminutivo, não necessariamente no seu sentido denotativo. Podemos dizer, portanto, que "Cine Majestic" é um filme bonitinho, bem-feitinho, fofinho, longuinho, bobinho e chatinho.

Dirigido por Frank Darabont, realizador de "Um Sonho de Liberdade" e "À Espera de um Milagre", "Cine Majestic" conta a história de um roteirista de filmes-B da Hollywood dos anos 1950, que logo quando vê a chance de escrever um grande filme, com uma emocionante história e um elenco de astros, é acusado pelos macarthistas de ter envolvimento com os temidos comunistas.

Então, na noite em que é demitido do estúdio e tem o seu filme cancelado, Peter (o roteirista) enche a cara em um bar e sai dirigindo pelos arredores de Los Angeles, quando sofre um acidente e acorda, sem memória, em uma cidade parada no tempo e marcada pela morte de seus filhos na Segunda Guerra Mundial.

Porém, os habitantes da cidade começam a achar que Peter é Luke Trimble, filho desaparecido do dono do cinema da cidade, o Majestic, fechado há quase uma década. Ficam, então, as perguntas: Peter é mesmo Luke? Luke morreu mesmo na Guerra, o que justificaria o seu desaparecimento? Por via das dúvidas, Peter ou Luke resolve se enturmar com os habitantes da cidade, reatar um antigo romance e reabrir o velho Cine Majestic.

A história em si já dá indícios de um filme que manipula emoções, isto é, daqueles que faz de tudo para arrancar uma lágrima que seja dos olhos dos espectador e que o faz abrir um sorriso quando necessário. Porém, para mim, isso não é problema! Há muitos filmes manipuladores extremamente interessantes. Um exemplo recente é "Cavalo de Guerra" de Spielberg, que aumentava a trilha sonora de John Williams sempre que queria causar algum tipo de emoção no espectador. 

O problema de "Cine Majestic" é que a parte mais interessante do filme são os seus primeiros quinze minutos, que se passam na Los Angeles dos anos 1950. Neste trecho, há um ótimo humor satírico sobre os bastidores de Hollywood (a primeira cena é, talvez, a melhor do longa) como também homenageia muito bem o ato de ir ao cinema. Na verdade, o início da estadia de Luke na pequena cidade de Lawson também é bastante interessante, pois conhecemos todos os personagens e a própria história da localidade através de uma eficiente mistura de drama e comédia.

O problema está, realmente, no momento em que o filme adota um lado mais dramático, culminando na sua última meia-hora. Neste trecho, os dramas ficam desinteressantes, o romance se torna bobo e o pior de tudo, o patriotismo do filme vira uma verdadeira peça moralista. O filme prega a liberdade de expressão e o respeito aos nossos heróis, no caso do filme os veteranos e vítimas da guerra, algo, definitivamente, essencial. Porém, o clímax do filme é tão didático e piegas que suga qualquer força presente nos valores  defendidos pelo longa, o que só é prejudicado pelas suas excessivas duas horas e meia de duração.

Felizmente, o filme tem suas qualidades, sendo a principal delas a ótima performance de Jim Carrey. A sua bela atuação melhora muitas partes do longa, principalmente o clímax, que como já comentei acima, é bem bobinho.

Além de Carrey, quem também faz um ótimo trabalho são Martin Landau e Gerry Black, que vivem, respectivamente, o dono e o lanterninha do Majestic. Ambos têm cenas fortes e importantes com Carrey e se saem muito bem nelas.

Outra qualidade inegável de "Cine Majestic" é a impecabilidade técnica. A fotografia de David Tattersall é um colírio para os olhos, enquanto a direção de arte da dupla Erik Carlson e Tom Walsh e o figurino desenhado por Karyn Wagner são também de extremo profissionalismo. Além disso, a trilha sonora de Mark Isham, que possui um pezinho no jazz, também é um dos pontos altos do filme.

Enfim, apesar de ter boa intenções, seja em homenagear aqueles que lutaram na Segunda Guerra Mundial, seja em louvar a arte de ir ao cinema, e não ser um filme de todo ruim, "Cine Majestic" peca ao confundir diversão inteligente com moralismo chato.

NOTA: 2.5/5


Vida Que Segue (Moonlight Mile)


Dir.: Brad Silberling; Escrito por Brad Silberling; Com Jake Gyllenhaal, Dustin Hoffman, Susan Sarandon, Holly Hunter. 2002 - Buena Vista (117 min.)


Um jovem de vinte e poucos anos, chamado Joe, perde a sua noiva em um terrível assassinato dentro da lanchonete em que ela trabalhava. O crime, obviamente, dá início a um processo judicial, visando a condenação do assassino, o que obriga Joe a viver com seus sogros, Ben e Jojo. Entretanto, o que poderia ser apenas uma estadia tranquila inicia o desenrolar de toda a verdade sobre o relacionamento entre Joe e Diana, sua noiva, como também traz a Joe a possibilidade de uma nova paixão.

Baseado na própria vida do diretor Brad Silberling, realizador de filmes como "Cidade dos Anjos" e "Desventuras em Série", que namorava a atriz Rebecca Schaeffer quando esta foi assassinada em 1989, "Vida Que Segue" é, claramente, feito com muito carinho. Porém, isso não é o suficiente para deixar o filme mais interessante.

Na realidade, o longa começa muito bem, já mostrando logo de cara o enterro da jovem Diana e a festa que o segue, a qual o diretor usa para fazer críticas ácidas ao falso sofrimento e às lágrimas de crocodilo daqueles "amigos" que só fazem presença quando algum ente querido morre.

Entretanto, o filme perde esta acidez quando o jovem Joe começa a ter um caso com Bertie, funcionária dos correios e do bar da pequena cidade onde a história acontece. O romance entre os dois é até interessante, mas também não empolga como as primeiras cenas do filme.

Na verdade, o que salva o filme dos momentos de marasmo é o ótimo elenco. Encabeçado por Jake Gyllenhaal, que está muito bem na pele do jovem viúvo Joe, o elenco também conta com as presenças ilustres de Dustin Hoffman e Susan Sarandon, ótimos como Ben e Jojo, pais de Diana. Por sinal, as melhores cenas do filme são exatamente aquelas em que os três estão juntos.

Enfim, "Vida Que Segue", cujo título em inglês provém da canção "Moonlight Mile" dos Rolling Stones, é um filme simpático e de grande valor pessoal para o seu realizador. Mas sofre por não ter uma história tão boa quanto o seu elenco.

NOTA: 3/5


domingo, 18 de novembro de 2012

Entre o Céu e o Inferno (Black Snake Moan)


Dir.: Craig Brewer; Escrito por Craig Brewer; Com Samuel L. Jackson, Christina Ricci, Justin Timberlake, S. Epatha Merkerson. 2006 - Paramount (116 min. - 18 anos)


O pontapé inicial de "Entre o Céu e o Inferno" é, sem dúvida alguma, bastante estranho. No filme de Craig Brewer, um ex-guitarrista de uma banda de blues, em pleno processo de divórcio, encontra desmaiada, no meio de uma estrada, uma jovem ninfomaníaca de passado conturbado. Então, visando melhorar a vida da menina, o senhor resolve acolhê-la em sua casa e livrá-la de sua obsessão por sexo, mesmo que isso inclua prendê-la a uma corrente.

Sim, essa é realmente a premissa do filme. Porém, para aqueles que não se sentiram ofendidos ou enojados por ela, "Entre o Céu e o Inferno" pode se mostrar uma grata surpresa.

Protagonizado por Samuel L. Jackson e Christina Ricci, o longa tem a seu favor diversos pontos positivos. O primeiro deles é a originalidade. A premissa em si já é bastante chamativa, afinal quem poderia imaginar uma história como essa, em que um senhor mantém uma ninfomaníaca acorrentada dentro de casa? Além disso, mais surpreendente ainda é a guinada que o filme apresenta, transformando essa premissa aparentemente misógina em um bonito conto sobre o amor entre pais e filhos.

Essa última parte, por sinal, só daria certo com os atores certos; e esse é o caso de "Entre o Céu e o Inferno". Christina Ricci, que é magrinha, tem voz aguda e que não tem um rosto especialmente fotogênico, consegue se passar com muita competência como uma piriguete do sul dos Estados Unidos. Já Samuel L. Jackson é a grande revelação do filme, mostrando que consegue carregar com excelência um filme que não envolva cobras dentro de um avião. Portanto, fica a dica: Hollywood precisa dar mais papeis principais para ele!

A fotografia, também, é um show à parte. Cortesia de Amelia Vincent, ela consegue passar para o espectador a sensação de calor típica dos estados sulistas dos Estados Unidos, chamando bastante atenção para a pele cheia de suor dos atores. Isso sem contar com a valorização que as câmeras dão para o corpo de Ricci, ajudando na construção da extrema sexualidade de sua personagem.

Mas o que seria falar de "Entre o Céu e o Inferno" sem mencionar a sua ótima trilha sonora composta apenas por canções blues? Aqui, o blues não serve só de pano de fundo para a história como também é um personagem da mesma, embalando as frustrações amorosas de seus protagonistas: Lazarus (L. Jackson) com sua ex-esposa que o trocou por seu irmão e Rae (Ricci) com seu namorado que está servindo no Exército. Não é por nada que o próprio nome original do filme ("Black Snake Moan") foi tirado de um blues de 1927, interpretado por Blind Lemon Jefferson.

Enfim, para quem estiver disposto a assistir a um filme simpático, mas não necessariamente fácil de aguentar, "Entre o Céu e o Inferno" é uma boa pedida.

NOTA: 3.5/5


À Toda Prova (Haywire)


Dir.: Steven Soderbergh; Escrito por Lem Dobbs; Com Gina Carano, Ewan McGregor, Michael Fassbender, Bill Paxton. 2011 - Imagem (93 min.)


Que o diretor Steven Soderbergh gosta de trabalhar, isso já não é segredo, afinal desde o ano passado ele lançou nada menos do que três filmes e já tem mais um engatilhado para o início de 2013. Além disso, outra característica sua, que já foi até comentada aqui no blog, é a sua versatilidade, alternando filmes comerciais e alternativos, comédias e dramas e filmes de ação; e em 2012, nós tivemos a verdadeira prova disso, já que além de lançar a comédia dramática "Magic Mike", no início do ano Soderbergh revelou ao mundo "À Toda Prova", um filme de ação que ele tinha filmado em 2010.

Como já é tradição em muitos filmes do diretor, o elenco aqui é espetacular integrado por astros como Ewan McGregor, Antonio Banderas, Bill Paxton (irreconhecível!) e Michael Douglas e estrelas em ascensão como Channing Tatum (que virou o novo ator favorito de Soderbergh) e Michael Fassbender. Todos eles em participações pequenas, mas conseguindo deixar a sua marca.

Mas o mais engraçado é que, apesar de contar com este elenco invejável, Soderbergh contratou uma iniciante para protagonizar o filme. A sortuda foi Gina Carano, ex-lutadora de MMA, famosa por sua participação no programa de tevê "American Gladiators". Que Soderbergh gosta de confiar seus filmes em gente sem qualquer experiência com a câmera, isso também não é novidade, afinal em 2005, ele lançou "Bubble", um filme cujo elenco era todo de novatos no ramo da atuação, e em 2009, ele dirigiu "Confissões de uma Garota de Programa" protagonizado pela ex-atriz pornô Sasha Grey.

Porém, o grande problema de "À Toda Prova" é que o diretor não deu um filme à altura de toda a sua ambição.

Primeiro de tudo, Gina Carano, apesar de ser uma atriz competente, não tem o carisma necessário para sustentar um filme como esse em suas costas. Ela aparece em praticamente todas as cenas, sua personagem é a espinha dorsal de toda a história, mas ela não dá mostras da estrela de ação que Steven Soderbergh planejava lançar com este filme. Talvez, caso tenha mais oportunidades, Gina possa se soltar um pouco e mostrar que pode carregar um filme, mas por enquanto, não mostrou todo o seu potencial.

Além disso, "À Toda Prova" sofre da ausência de momentos realmente emocionantes, daqueles de pura tensão. Ao invés disso, não faltam lutas e perseguições, de carro ou a pé, mas nenhuma de grande impacto.

Mesmo assim, "À Toda Prova" ainda tem as suas qualidades como as cenas de luta coreografadas com extrema precisão e apresentadas de forma seca pela total ausência de trilha sonora nesses momentos. Portanto, o que falta de tensão nelas, sobra em profissionalismo.

O cuidado estético de Steven Soderbergh também está presente através da fotografia e da edição, mais uma vez feitas por ele mesmo por meio dos pseudônimos Peter Andrews e Mary Ann Bernard. 

O roteiro de Lem Dobbs também é bastante competente, trazendo uma história que realmente merecia um filme melhor.

Mas o principal ponto positivo de "À Toda Prova" é a ótima trilha sonora de David Holmes, reminiscente daqueles clássicos filmes de espionagem. Em certos momentos, é ela que torna o filme realmente interessante.

Enfim, "À Toda Prova" não está entre os melhores trabalhos de Steven Soderbergh e nem é dos melhores filmes de ação, mas também não é uma chatice sem tamanho. Basicamente, é um filme decente, mas decepcionante.


NOTA: 3/5



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Magic Mike (Magic Mike)


Dir.: Steven Soderbergh; Escrito por Reid Carolin; Com Channing Tatum, Alex Pettyfer, Cody Horn, Matthew McConaughey. 2012 - Imagem (110 min. - 16 anos)


Mike é um homem de trinta e poucos anos com muitas ambições, sendo a maior delas montar a sua própria empresa de móveis customizados. Para isso, ele precisa desempenhar vários empregos bastante diferentes um do outro, fazendo com que durante o dia ele monte telhados e à noite viva nas ruas mais badaladas de Tampa à procura de clientes para o seu ganha-pão mais rentável: o strip-tease masculino. Porém, ele já está ficando velho para a função e precisa arranjar um substituto, figura esta que ele vê no jovem Adam. Daí, desenrola-se a trama de "Magic Mike", novo filme do oscarizado Steven Soderbergh.

Primeiro, vamos responder à pergunta que mais é feita sobre o filme. Quando foi lançado nos EUA, as sessões de "Magic Mike" ficaram lotadas de grupos de mulheres e homossexuais, fica, então, a dúvida: o filme tem algum atrativo para os homens heterossexuais? Acredite se quiser, tem sim! Apesar de o longa possuir cenas bem safadas de strip, incluindo closes em homens usando tanguinhas e tudo o mais, a parte da história que mais ganha importância é exatamente aquela que acontece fora do bar de strip-tease. Para falar a verdade, essas cenas até que não são muitas. Portanto, os "macho men" de plantão não precisam ficar tão preocupados caso a companheira queira levá-los ao cinema para assistir a esse filme.

E em segundo lugar: o filme é bom? Bom ele é, mas nada mais que isso.

O primeiro problema de "Magic Mike" é que ele é uma comédia dramática. Nada contra o gênero, que por sinal, quando bem-feito rende filmes ótimos. A questão é que para um longa desse tipo funcionar, ele deve equilibrar com extrema precisão a parte cômica com a parte trágica do filme, algo que não acontece em "Magic Mike". No filme de Soderbergh, essas duas partes não conseguem criar um todo coeso, pois a primeira parte do filme é decididamente cômica, cheia de shows de strip-tease e piadas; enquanto que a segunda é uma verdadeira tragédia grega, tanto que nem as poucas cenas de strip, que serviriam de alívio cômico, conseguem fazer rir. 

Outra falha é o desenvolvimento dos personagens. Apesar dos três protagonistas, Mike, Adam e Brooke (irmã de Adam), serem muito bem explorados, os demais personagens são meras caricaturas. Tirando Mike e Adam, todos os outros strippers tem pouquíssimo tempo de tela, tendo, portanto, uma presença nada marcante. O único desse grupo que consegue um pouco mais de atenção é o dono do bar onde Mike trabalha, Dallas, vivido muito bem por Matthew McConaughey. Não é por nada que esse é o único dos strippers secundários que tem uma cena de real importância no filme.

Um terceiro aspecto que eu não entendi é o seguinte: Mike é considerado um stripper já em fase de envelhecimento, ou seja, perto da idade de se aposentar, entretanto, todos os outros strippers, exceto Adam, são mais velhos que ele. Enfim, fica claro que o grande problema de "Magic Mike" é o roteiro falho, escrito por Reid Carolin.

Pode-se dizer, portanto, que o que faz "Magic Mike" ir para a frente é a direção e o elenco. Quanto aos atores, todos eles estão muito bem (algo que se espera de um filme de Soderbergh, mestre em conduzir com competência grandes elencos), incluindo Channing Tatum, que vem mostrando cada vez mais que não é apenas um daqueles galãs que "atuam". Nos últimos dois anos ele tem mostrado o seu ótimo timing para comédia em filmes como "Anjos da Lei" e "O Dilema" (filme de Ron Howard em que ele tem uma pequena participação) e aqui, em "Magic Mike", ele demonstra que também sabe fazer papéis dramáticos.

Já de Soderbergh, "Magic Mike" mostra mais uma vez a versatilidade do diretor, que passeia com facilidade entre filmes independentes e alternativos (seu filmes dos anos 1990, "Bubble", "Che", "Traffic") e filmes comerciais de grande orçamento (trilogia "Onze/Doze/Treze Homens", "Contágio", "Erin Brockovich"). Além disso, mostra o cuidado que Soderbergh tem com a fotografia e com a edição de seus filmes, que, geralmente, ele mesmo faz sob os pseudônimos Peter Andrews e Mary Ann Bernard, respectivamente.

No fim, "Magic Mike" tem como o seu maior triunfo o diretor Steven Soderbergh, que não só preza pela estética de seus filmes como também tem experiência em lidar com grandes elencos, e olha, que ainda assim "Magic Mike" não é um filme notável. Imagine se dependesse apenas de seu roteiro? Teria sido bem pior.

NOTA: 3/5


domingo, 11 de novembro de 2012

Anônimo (Anonymous)


Dir.: Roland Emmerich; Escrito por John Orloff; Com Rhys Ifans, Vanessa Redgrave, Sebastian Armesto, Rafe Spall, David Thewlis. 2011 - Sony (130 min.)


Não há dúvidas de que William Shakespeare é o mais conhecido escritor de língua inglesa. Autor de 38 peças, 154 sonetos e diversos epitáfios e outros poemas, o Bardo de Avon é um ícone não só da Inglaterra, mas de todo mundo, uma vez que suas obras já foram traduzidas para quase todas as línguas vivas. Imagine, porém, se descobrissem que, na verdade, Shakespeare era uma fraude. Ele não escreveu nenhum de seus textos e, quem diria, era analfabeto. Daí surge a premissa de "Anônimo".

Segundo o filme, o verdadeiro autor de obras como "Romeu e Julieta", "A Megera Domada", "Macbeth" e "Hamlet" era Edward de Vere, 17º Conde de Oxford. Por ser nobre e casado com a filha de William Cecil, 1º Barão de Burghley, um homem averso à escrita, Edward nunca pôde assumir publicamente a autoria de suas obras com a ameaça de ter a sua reputação e a da família de sua esposa prejudicadas.

Entretanto, Edward ainda queria mostrar o seu trabalho para o povo, não só para poder ver as suas peças ganharam a luz do dia, mas também para difundir as suas opiniões quanto à política e à nobreza britânica pelas camadas populares. Dessa forma, ele contacta um promissor escritor, Ben Jonson, obrigando-o a pôr o seu nome nas peças de autoria do conde. Entretanto, por uma virada do destino, quem acaba "assinando" as obras é William Shakespeare, um ator analfabeto e sem muitos escrúpulos.

Entretanto, o filme não fica só por aí, ligando as peças supostamente escritas por Shakespeare à toda a tensão política existente na Inglaterra da virada do século XVI para o XVII, principalmente a questão sucessória, envolvendo a já idosa Rainha Elizabeth I e o Rei Jaime VI da Escócia (posteriormente, Jaime I da Inglaterra).

Dirigido pelo alemão Roland Emmerich, conhecido por já ter destruído o mundo várias vezes no cinema em filmes como "2012", "O Dia Depois de Amanhã" e "Independence Day", "Anônimo" não traz nenhuma inovação ao gênero do drama histórico, porém recompensa a falta de originalidade com um filme bastante eficiente, divertido e envolvente. 

As suas qualidades são várias. Primeiro de tudo, o elenco escolhido é muito bom. Rhys Ifans, que vive Edward de Vere desempenha muito bem o seu papel, assim como Sebastian Armesto, intérprete de Ben Jonson, e Rafe Spall, como o boêmio e irresponsável William Shakespeare. O elenco ainda conta com as presenças ilustres de David Thewlis como William Cecil e Vanessa Redgrave e sua filha Joely Richardson vivendo a Rainha Elizabeth I em duas épocas distintas de sua vida.

A reconstituição histórica também é ótima. Filmado nos estúdios Babelsberg, "Anônimo" conta com uma impecável versão cenográfica da Londres elizabetana, incluindo reconstituições do The Rose Theatre e o do The Globe Theatre. Isso sem contar os lindos palácios que abrigavam a corte britânica e suas festas. O figurino desenhado por Lisy Christl também é notável, tanto que foi indicado ao Oscar.

Até mesmo o roteiro, que peca no final com uma revelação, que apesar de ser possível naquela época, é extremamente estranha, mantém o ritmo frenético até o último minuto. Portanto, não pense em ver "Anônimo" se você estiver com sono ou prestando apenas meia atenção na história, pois é daqueles filmes que se você perde um momento sequer, você já fica todo confuso.

Enfim, "Anônimo" não foi indicado a nenhum grande prêmio em nenhuma grande categoria, mas e daí? O filme é muito bem-feito, tem uma premissa interessante, tem boas atuações e toda a produção luxuosa que você pode esperar de um longa-metragem de época.


NOTA: 3.5/5


007 - Operação Skyfall (Skyfall)


Dir.: Sam Mendes; Escrito por Neal Purvis, Robert Wade e John Logan; Com Daniel Craig, Judi Dench, Javier Bardem, Ralph Fiennes. 2012 - Sony (143 min. - 14 anos)


A franquia 007 é realmente impressionante! São 50 anos de história contados por 23 filmes e seis intérpretes diferentes de James Bond. Era de se esperar que hoje em dia a franquia já estivesse bastante desgastada, mas não, parece que atualmente ela está vivendo o seu auge de popularidade. Mas como? Simples: como o próprio James Bond diz no mais novo filme da saga, o seu hobby é a ressurreição; e quer fênix maior do que essa franquia? E num desses momentos de renascimento das cinzas, eis que surge "007 - Operação Skyfall".

O novo longa do agente secreto tem como pano de fundo o misterioso passado de M, que ameaça não só a reputação da chefe dos agentes como também a de todo o MI6, o serviço secreto do Reino Unido. Dessa forma, em "Skyfall", M não é apenas mais uma coadjuvante, como acontecia nos outros filmes, aqui ela é a peça-chave de toda a narrativa do longa.

A história se desenvolve exatamente igual aos últimos filmes da franquia, cheia de perseguições e cenas de ação mais realistas, opondo-se aos filmes mais antigos, que usavam e abusavam da imaginação. Apesar disso, pode-se dizer que este "Skyfall" seja o filme mais "absurdo" protagonizado por Daniel Craig como o agente secreto. Algumas cenas dentro do metrô de Londres e a própria suposta morte de Bond são bem irreais, mas não chegam nem perto das invencionices de outros filmes do personagem.

Uma das maiores qualidades de "Skyfall", porém, não é nem a história nem mesmo Daniel Craig (que a essa altura do campeonato já convence como James Bond), mas sim o vilão. Assim como em alguns filmes clássicos de 007, o vilão de "Skyfall" é memorável. Vivido espetacularmente bem por Javier Bardem, Silva é um daqueles antagonistas que vão ficar para a história da franquia. Ele é bronzeado e tem um cabelo loiro esquisito, para dizer o mínimo, ele tem parte da sua mandíbula deformada, o que o obriga a usar uma espécie de dentadura, ele tem planos mirabolantes e, por fim, tem uma cena homoerótica hilária com James Bond. Tem como não gostar?

Outra que também não deixa por menos é Judi Dench. Principalmente neste capítulo, em que M tem grande importância na história, a veterana faz o seu melhor como a exigente chefe dos agentes secretos do MI6. Isso sem contar as cenas mais desafiadoras, fisicamente falando, que devem ser bem difíceis para uma atriz de 77 anos. Mas ela foi lá e correu, se meteu debaixo de mesas etc.

Outro aspecto notável foi a direção. O filme é muito bem fotografado, a trilha sonora é boa, as atuações são ótimas, o ritmo é bem construído, enfim, o diretor mandou muito bem. Mas também não é por menos, o filme foi realizado por Sam Mendes, ganhador do Oscar por "Beleza Americana" em 2000 e diretor de outros filmes elogiados como "Estrada para a Perdição" e "Foi Apenas um Sonho". Nem preciso dizer que para quem não tinha experiência em dirigir blockbusters de ação, ele fez um excelente trabalho.

Entretanto, não gostei de alguns pontos do filme. Em primeiro lugar, em "Skyfall", falta uma Bond girl que seja realmente interessante. Neste filme, há duas, vividas pela inglesa Naomie Harris e pela francesa Bérenice Marlohe, porém nenhuma das duas tem uma entrada triunfal ou muito tempo para mostrar alguma coisa a mais do típico "quero ajudar e/ou transar com Bond". Em resumo, senti falta de uma Vesper, de "Cassino Royale". As duas deste filme nem precisavam ter a importância que a personagem de Eva Green teve no primeiro filme do 007 estrelado por Daniel Craig, mas poderiam ser, no mínimo, mais bem exploradas pelo roteiro, dando-lhes um quê a mais, que é o diferencial das Bong girls.

Além disso, o filme com seus 143 minutos começa a cansar um pouquinho no final, ainda mais que o clímax nem é tão climático assim. Para falar a verdade, na minha opinião, a melhor cena do filme foi a ótima abertura ao som da música-tema interpretada por Adele, que compete com a abertura de "Os Homens que não Amavam as Mulheres" ao som do cover de "Immigrant Song" cantado por Karen O como a melhor cena de abertura do ano.

No final das contas, "007 - Operação Skyfall" representa uma grande melhora em relação ao filme anterior da franquia, o insosso "Quantum of Solace", mas não achei o melhor filme do ano como alguns acharam. Entretanto, pode-se afirmar que "Skyfall" é um filme de ação acima da média.

P.S.: Coincidência ou não, este é o 100º post do Cinematógrapho e o personagem James Bonf fez em 2012 cinquenta anos de cinema.

NOTA: 3.5/5