Dir.: Terrence Malick; Escrito por Terrence Malick; Com Nick Nolte, Jim Caviezel, Sean Penn, John Cusack, Elias Koteas. 1998 - Fox (170 min. - 14 anos)
"Além da Linha Vermelha" já começa com a seguinte pergunta: por que a natureza vive em conflito com si mesma? Por que o mar vive batendo nas rochas? Por que um animal tem que se alimentar de outro? Por que a harmonia da natureza depende da sua eterna guerra com si própria?
Você deve estar pensando: o que um filme de guerra tem a ver com a realidade conflitante da natureza? Eu lhe respondo: tudo! O ser humano faz parte do mesmo mundo que as árvores, as plantas, os insetos, os animais selvagens etc., portanto qualquer atitude tomada por um humano tem influência não só em outro semelhante seu como também em todo um ecossistema. Qualquer engrenagem defeituosa na máquina chamada natureza afeta todo o seu funcionamento perfeito.
Daí tiramos o grande mote de "Além da Linha Vermelha": é inegável que os conflitos são essenciais para o perfeito entrosamento entre os diferentes elementos naturais, porém a guerra, pelo menos no caso dos conflitos entre os humanos, é um choque totalmente desnecessário. Pior, que traz consequências negativas não só para os humanos como também para todo o sistema milimetricamente calculado da natureza. Dessa forma, cria-se um paralelo entre o homem e a natureza: ao mesmo tempo em que um depende do outro, eles também podem ser vistos como um único ser.
Para provar essa teoria, o diretor Terrence Malick usa como exemplo a Batalha de Guadalcanal, ocorrida na Segunda Guerra Mundial. Este conflito, tido como um dos mais violentos da Segunda Guerra, ocorrido entre agosto de 1942 e fevereiro de 1943, foi marcado por ser a primeira grande ofensiva aliada na Guerra do Pacífico após o ataque a Pearl Harbor e à Batalha de Midway (embate aéreo entre EUA e Japão, ocorrido no Oceano Pacífico).
Dessa breve contextualização já dá a entender que Malick usa os americanos envolvidos no conflito para ilustrar bem o choque entre os próprios seres humanos e suas consequências. Dessa forma, "Além da Linha Vermelha" está longe de ser um filme patriota. Pelo contrário, o diretor tenta mostrar os dois lados da moeda (o americano e o japonês) da mesma forma, isto é, em ambos os casos os soldados, capitães, generais etc. são vítimas de um sistema superior a eles, no qual, a guerra é vista não só como a solução para todos os problemas, mas também como motivo de orgulho para uma nação por ter derrotado os seus inimigos, mesmo que isso implique em derramamento de sangue. Não digo que aqueles que morreram na guerra não devam ser homenageados, o problema é que as pessoas tendem a glorificar os assassinatos, o que é um sério desvirtuamento de valores. Isso se mostra presente nas famigeradas condecorações e na própria vida militar, que tem como grande objetivo uma guerra, ou seja, o fim da vida de muitos é o auge profissional de poucos.
Para ajudar na sua argumentação, Malick faz uso de inúmeras narrações e flashbacks. Nas narrações, diversas reflexões filosóficas, conectando o homem à natureza e a guerra à deterioração mental de seus integrantes, são feitas, trazendo o amor como a real solução para os problemas. Enquanto isso, os flashbacks, bastante utópicos, trazem imagens idealizadas das mulheres que os homens da guerra deixaram em casa. Fica, então, a pergunta: o que vale mais a pena: matar inimigos para manter a honra de seu país ou viver ao lado do seu porto seguro, aquela pessoa que o ama e na qual você confia?
A violência também não é censurada. Há sim cenas bastante fortes de homens gravemente feridos, mostrando o resultado da guerra. Uma outra interpretação é também o conflito homem/natureza, no qual o cadáver de um ser humano serve para alimentar seres decompositores que vão iniciar a cadeia alimentar, que tem como fim o homem. Enfim, ironias da vida...
O filme sofre de irritantes problemas de ritmo, principalmente em seu ato final, porém o impacto visual, sonoro e psicológico de "Além da Linha Vermelha" ainda é muito, mas muito forte. Aqui, Terrence Malick se mostra um grande mestre sobre o controle de uma incrível narrativa (algo que senti falta em seu último filme, "A Árvore da Vida", que, ironicamente, achei sem muita vida), trabalhando com um elenco invejável e em plena forma, entregando um incrível trabalho audiovisual e, principalmente, abrindo a mente do público para um pensamento indispensável para esses tempos de aquecimento global e constantes conflitos geopolíticos. Realmente, um grande filme!
NOTA: 4.5/5
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