domingo, 14 de outubro de 2012

Nós e Eu (The We and the I)


Dir.: Michel Gondry; Escrito por: Michel Gondry, Jeffrey Grimshaw e Paul Proch; Com Michael Brodie, Teresa Lynn, Raymond Delgado. 2012 (103 min.)


O ser humano é estranho. Estranho física e psicologicamente. Como conseguimos andar sobre os dois pés sem precisar de nenhum apoio? Lembrando que os macacos, mesmo sendo próximos de nós, não conseguem ficar sobre as duas patas inferiores por muito tempo. E a nossa mente? O ser humano vive indeciso, se esconde por trás das aparências, precisa de ajuda para saber o que fazer e pensar.

E de todas as fases da vida de um ser humano, a mais estranha é, sem dúvida, a adolescência. Entre a infância e a vida adulta, o adolescente é o ser humano mais confuso. Sua cabeça muda de opinião a cada segundo. Em um momento gosta de um tipo de música ou filme e daqui a pouco já é uma pessoa completamente diferente. Além disso, o corpo também muda constantemente graças à famosa puberdade, e assim mais confusão se apodera da mente do jovem.

Por isso é, no mínimo, interessante saber que um diretor como o francês Michel Gondry, acostumado a contar, em seus filmes, as histórias de pessoas bastante estranhas, resolveu realizar um filme sobre adolescentes. O resultado disso foi "Nós e Eu", um longa bastante estranho, mas ao mesmo tempo, acessível e muito simpático.

Passado em uma única tarde (o último dia de aula) e praticamente em um único cenário (um ônibus urbano), "Nós e Eu" documenta as conversas, os conflitos e os estilos divergentes de um grupo de adolescentes da região do Bronx, na cidade de Nova York. Há jovens de todos os estilos (valentões, nerds, músicos), etnias (brancos, latinos, negros, asiáticos), físicos (magros e gordos), orientações sexuais (héteros, homos e bissexuais) e personalidades (brincalhões, tristes, desinibidos). Consequentemente, as histórias são das mais variadas, envolvendo uma polêmica festa, um sutiã de água, desenhos e poemas, bullying, violência etc. 

Dividido em três partes, "Nós e Eu" conta com o estilo característico de Gondry: hiperativo e cheio de criatividade. O longa, principalmente nos dois primeiros atos, conta com uma edição incontrolável, que pula de uma conversa para a outra como se fosse uma mosquinha perambulando pelo ônibus: tudo isso complementado pelos ótimos flashbacks confeccionados por Gondry, misturando filmagem caseira com stop motion e outros truques do inventivo diretor.

Porém, assim como em seu filme mais conhecido, "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", Gondry usa a última parte do filme para dar algum descanso ao espectador. No caso de "Nós e Eu", a edição frenética dá lugar a conversas mais longas entre poucos personagens, uma vez que aos poucos o ônibus fica cada vez mais vazio.

O elenco também é um diferencial desse filme em relação a outros que abordam a adolescência. Todos os atores são iniciantes, o que deixa o elenco um pouco irregular, porém dá para sentir a emoção sair da performance de todos eles, seja em momentos de comédia ou de drama.

Engraçado e emocionante na mesma medida, é bom ver Michel Gondry voltar à forma depois do morno "Besouro Verde" com um filme extremamente agradável, mas também socialmente engajado. Bem escrito, bem dirigido, criativo e com uma ótima trilha sonora, embalada pela ótima "Bust a Move" do Run DMC, "Nós e Eu" é um filme que merece ser visto.

NOTA: 4/5


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