Dir.: Ryan Murphy; Escrito por Ryan Murphy; Com Joseph Cross, Annette Bening, Brian Cox, Evan Rachel Wood. 2006 - Sony (122 min. - 14 anos)
Diz-se que todo mundo tem um pouco de loucura dentro de si, seja um temperamento explosivo, crenças de caráter duvidoso e até inofensivas superstições entram nessa categoria. Porém, há sempre aqueles que não conseguem controlar a sua própria loucura e têm que ser isolados do resto da sociedade. O primeiro filme dirigido pelo cultuado produtor de tevê Ryan Murphy, "Correndo com Tesouras", anda na linha tênue que divide esses dois lados da insanidade; e o resultado, assim como os loucos, tem suas duas facetas.
Em poucas palavras, o filme conta a história real de Augusten Borroughs, filho de uma família abastada e à beira do colapso: seu pai não vive sem um copo de uísque na mão, enquanto a sua mãe, uma frustrada aspirante à poetisa, aos poucos começa a ficar louca. Por causa da crise no casamento, a mãe de Augusten procura um renomado psiquiatra a fim de resolver os seus problemas familiares, porém a situação é pior do que se imaginava e a única solução é afastar Augusten de sua mãe para que ele não seja influenciado por suas crises. Para facilitar a situação, o psiquiatra da família se oferece para abrigar o jovem Augusten em sua casa enquanto tudo se ajeita. Entretanto, ao contrário do que se espera, a família do médico é ainda mais maluca!
Como já é de se esperar de um trabalho de Ryan Murphy, "Correndo com Tesouras" começa bastante interessante, dando a entender de que será uma ácida comédia de humor negro. Afinal, se tem algo que o conhecido produtor sabe fazer muito bem é surgir com premissas pra lá de inusitadas, como aquelas de suas séries mais famosas: "Nip/Tuck" - que acompanha as vidas de dois famosos cirurgiões plásticos - e "Glee" - que reintegrou o gênero musical à televisão. Porém, o filme, assim como ambas as séries citadas, começa a dar sinais de que não vai conseguir cumprir a sua promessa. Para ser mais claro, o filme começa a desandar justamente quando o protagonista vai viver junto com a família do psiquiatra. A partir desse momento, o filme envereda para o drama e não sai mais dele, exceto em alguns momentos. Porém se fosse só isso, não haveria problema algum, entretanto, o drama nunca parece muito crível, o que acaba tornando o filme distante, falhando na missão de passar qualquer emoção ao público. Grande parte disso deve-se aos personagens em si, que são loucos em demasia, evitando uma maior conexão entre espectador e história. Só a título de comparação, a família Finch parece uma versão dramática da família Addams, o que venhamos e convenhamos, não é tão interessante e parece ainda mais fora da realidade.
Felizmente, a seu favor, o filme também tem fortes qualidades, sendo a principal delas o elenco. O protagonista, Joseph Cross, está muito bem como Augusten, o garoto que aos poucos se descobre numa nova realidade. Falando nessa nova realidade, a família Finch também conta com ótimas atuações de Evan Rachel Wood, Joseph Fiennes, Brian Cox, Jill Clayburgh e Gwyneth Paltrow. Entretanto, quem rouba mesmo a cena é a incomparável Annette Bening, que está excelente como Deidre Borroughs, mãe de Augusten.
Ainda no lado bom da loucura, está também a direção segura de Ryan Murphy, que consegue compensar, em parte, os problemas do roteiro - também de sua autoria.
No geral, "Correndo com Tesouras" é um filme decente e muito bem-feito, mesmo que não consiga atingir todo o seu potencial e fazer jus ao ótimo elenco que tem em mãos.
NOTA: 3/5
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