segunda-feira, 22 de abril de 2013

Oblivion (Oblivion)


Dir.: Joseph Kosinski; Escrito por Joseph Kosinski, Karl Gadjusek e Michael Arndt; Com Tom Cruise, Andrea Riseborough, Olga Kurylenko, Morgan Freeman. 2013 - Universal (126 min. - 12 anos)


Apesar de já estar chegando aos 51 anos de idade, Tom Cruise ainda é, mesmo que não na mesma proporção que há 15, 20 anos atrás, o maior astro de cinema da atualidade. Conhecido pelo mais alternativo dos cinéfilos como também pelo mais ordinário dos espectadores de fim de semana, Cruise tem sim seus muitos opositores, que, simplesmente, não entendem a sua fama. Ainda mais depois que a sua vida pessoal se tornou uma verdadeira Caras das bizarrices. Afinal, quem não se lembra dele pagando o maior mico de sua carreira no sofá da Oprah? Ou, então, de sua relação pra lá de duvidosa com a Cientologia? E por que não falar das histórias louquíssimas que envolveram a sua separação de Katie Holmes? Porém, se há algo que não se pode contestar sobre Tom Cruise é que ele sempre tenta diversificar os seus filmes. Desde dramas como "De Olhos Bem Fechados" - último filme de Stanley Kubrick -, "Magnólia" de Paul Thomas Anderson e "Vanilla Sky" de Cameron Crowe, passando por comédias como "Jerry Maguire - A Hora da Virada" e até por musicais como "Rock of Ages - O Filme", Cruise, sem dúvida, usa a sua fama mundial para chamar mais atenção para filmes que talvez não ganhassem tanta publicidade sem ele. O mesmo se aplica à ficção-científica, gênero no qual ele se tornou "habitué" e no qual ele sempre procura histórias diferentes, como as adaptações "Minority Report - A Nova Lei" (Phillip K. Dick) e "Guerra dos Mundos" (H. G. Wells) e o seu mais novo filme, "Oblivion".

Dirigido por Joseph Kosinski, "Oblivion" tem uma premissa bastante interessante. No ano de 2077, a Terra está devastada e, portanto, inabitável, resultado de uma guerra química com uma inteligente raça alienígena representada pelos Saqueadores. Apesar de terem sido vitoriosos, os terráqueos se veem obrigados a sair do planeta e procurar um novo lar; por isso, os humanos estão vivendo dentro de uma estação espacial chamada Tec, enquanto esperam para serem transferidos para Titã, uma das luas de Saturno. Entretanto, antes de seguir viagem, devem ser retiradas da Terra toda e qualquer riqueza natural ainda existente, principalmente a água dos oceanos, o que explica a existência de enormes plataformas que retiram este bem extremamente preciso. Para manter estes equipamentos e outros funcionando corretamente, especialmente os drones (espécie de robôs-vigilantes), estão sozinhos na Terra dois terráqueos, Jack e Victoria, que têm como única missão, respectivamente, consertar os robôs defeituosos e transmitir informações da Terra para a Tec. Porém, quando Jack encontra humanos dentro de câmaras de criogenia, incluindo uma mulher que ele vê constantemente nas lembranças que ainda lhe restam, ele começa a perceber que há muita coisa escondida por debaixo dos panos e que, por isso, a verdade talvez não seja tão verdadeira assim.

A primeira metade do filme, na qual as personagens são apresentadas e a história é estabelecida, é digna dos melhores filmes de ficção-científica da atualidade. Por um bom tempo eu achava estar diante de uma joia como "Looper - Assassinos do Futuro" ou "Contra o Tempo". Porém, o que começa com muita promessa acaba perdendo força com o passar do tempo.

O diretor Kosinski, sem sombra de dúvida, é um ótimo realizador no que diz respeito ao visual de seus filmes. Seu longa anterior, "Tron: o Legado", usufruía de uma exuberante fotografia e efeitos especiais de altíssima qualidade; isso sem contar com os figurinos high-tech e a direção de arte minimalista. Em "Oblivion", o mesmo acontece. A fotografia - cortesia do recém-oscarizado Claudio Miranda ("As Aventuras de Pi") - é espetacular e fica ainda mais bonita na tela maior e em alta definição do IMAX (fica a dica!). Os efeitos especiais aqui dão mais espaço a paisagens naturais do que em "Tron", mas ainda assim, estes são extremamente bem feitos. O figurino é impecável e a direção de arte de Darren Gilford segue a mesma linha clean do filme anterior de Kosinski, mas usa mais tons pastéis, em oposição ao branco e azul neon, onipresentes em "Tron". Além disso, as comparações não param por aí: se para "Tron", Kosinski convocou a dupla de DJs do Daft Punk para produzir a trilha sonora (incrível, por sinal), para "Oblivion", os encarregados são Anthony Gonzales (da banda eletrônica M83) e Joseph Trapanese, que colaborou com Daft Punk na composição da trilha de "Tron".

Porém, assim como o filme da Disney era um primor visual e uma decepção narrativa, "Oblivion" deixa a desejar no que diz respeito ao seu roteiro. A premissa, como já disse, é mesmo inventiva e merecia um filme melhor, porém o desenvolvimento desta, apesar de coerente, não consegue manter o impacto inicial que se tem com o filme. Ironicamente, exatamente quando as revelações começam a ser feitas, o filme perde força, se tornando um sci-fi convencional. Isso se deve a dois fatores: o número de reviravoltas e as personagens desinteressantes. 

Quanto ao primeiro, em sua segunda metade, o longa contém um número enorme de revelações, o que de início é empolgante, porém após a milésima o esquema começa a parecer um pouco exagerado. Além disso, certas descobertas, como a relação entre as personagens de Tom Cruise e Olga Kurylenko, são bem previsíveis. Já sobre o segundo, a falha é mais grave. Se o filme mantivesse o número enorme de reviravoltas, mas contasse com figuras mais envolventes, o longa talvez fosse melhor. O protagonista, Jack (Cruise), é um clichê ambulante desse tipo de filme - o homem que, como quem não quer nada, coleciona vários objetos antigos e que descobre até um paraíso escondido em pleno inferno - e não traz muita emoção à história. As personagens de Kurylenko e Morgan Freeman também não conseguem trazer muito gás ao filme porque a primeira é banal e a segunda aparece pouco, evitando que seja deixada uma marca mais forte. Na realidade, a personagem mais interessante do filme é Victoria, a companheira de trabalho e cônjuge de Jack, que parece ser a única na qual foi investida um pouco mais de tempo em sua construção psicológica. Não é por nada que enquanto o resto do elenco está normal, Andrea Riseborough consegue se sobressair na pele da moça que acredita piamente na verdade dita pelo povo da Tec e ter, de longe, a melhor performance do longa.

Enfim, "Oblivion" vale a pena ser visto no cinema por causa de sua produção caprichada. Quanto à narrativa, porém, alguns ajustes sutis já conseguiriam elevar o nível do material. Enquanto isso, Joseph Kosinski fica apenas na promessa como um ascendente diretor de ficção-científica, daqueles que têm as armas para fazer uma obra-prima do gênero, mas que ficam limitados pelo trabalho irregular dos outros. Pelo menos "Oblivion" já mostra uma melhora em relação a "Tron: o Legado", seu filme de estreia.

NOTA: 3/5


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