Dir.: Tim Burton; Escrito por Seth Grahame-Smith; Com Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham Carter. 2012 - Warner (113 min. - 14 anos)
Uma das maiores qualidades de Tim Burton é o fato de seus filmes serem facilmente identificáveis. Todos eles possuem um visual gótico bastante característico do diretor, até mesmo os mais coloridos como os infantis "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e "Alice no País das Maravilhas". Mais interessante ainda é a sua capacidade de manter este mesmo estilo tanto em produções modestas como os clássicos "Edward Mãos de Tesoura" e "Ed Wood" quanto em filmes de altíssimo orçamento como os seus filmes da franquia "Batman" e os já citados "Alice" e "Fábrica de Chocolate". Porém, isto tem um preço: a sua carreira é considerada por muitos como irregular. Felizmente, o seu último longa, "Sombras da Noite", apesar de ser visto pela maioria como um trabalho inferior seu, me fez passar duas horas bastante agradáveis no cinema.
Baseado numa telenovela homônima exibida entre 1966 e 1971, que devo admitir, não conhecia até saber da produção deste filme, o longa conta a história de Barnabas Collins. Herdeiro de uma rica família do ramo da pesca, Barnabas encontrou na doce Josette o amor de sua vida. Porém, uma de suas empregadas, a bruxa Angelique, era perdidamente apaixonada por ele e não aceitava de jeito nenhum o relacionamento entre os dois. Para dar fim ao romance, ela enfeitiçou Josette e fez com que ela pulasse de um penhasco direto nas pedras à beira do mar. Ao tentar salvá-la, Barnabas também se jogou do penhasco, mas sobreviveu, dando chance a Angelique transformá-lo num vampiro e fazer ele sofrer todos os dias pela perda de sua amada. Barnabas foi, então, enterrado vivo por Angelique e pela população da cidadezinha de Collinsport.
Entretanto, 200 anos mais tarde, em 1972, Barnabas é acordado e retorna à cidade que leva o nome de sua família. Ao chegar lá, descobre que o clã dos Collins está falido e sua magnífica mansão, Collinswood, está em deplorável estado. Barnabas decide, então, ajudar a matriarca da nova geração da família Collins, Elizabeth, a dar a volta por cima e trazer os Collins novamente ao seu tempo de glória.
Sem dúvida alguma, "Sombras da Noite" tem um roteiro falho, afinal a quantidade de personagens envolvidos na história é considerável. Para se ter uma noção, somente a família Collins conta com 5 integrantes, isso sem contar com o empregado, com a tutora e com a psiquiatra que também vivem na mansão Collinswood. Portanto, não é surpresa, que alguns deles vão ficar sem muito o que fazer ou vão ser esquecidos em certos momentos da trama. Um exemplo deles é Roger, o irmão de Elizabeth, pai do menino David. Ele aparece basicamente nas refeições da família, e apesar de ter uma subtrama ao seu redor, ela não é muito explorada pelo roteirista Seth Grahame-Smith. Outra que também tem uma aparição problemática é a tutora de David, Victoria. No início do filme, ela ganha bastante importância por ser, supostamente, a reencarnação de Josette, a grande paixão de Barnabas. Entretanto, a partir do momento em que o vampiro aparece para a sua família, ela quase não dá as caras, até que no final ela volta a ser uma das personagens mais importantes novamente. Pode-se dizer, que na realidade, apenas três personagens têm uma presença constante no filme: Barnabas, Angelique e Elizabeth.
Consequentemente, são de seus intérpretes as melhores interpretações do longa. Johnny Depp, na pele de Barnabas, mostra novamente que nasceu para interpretar tipos estranhos. Foi assim com Edward Mãos de Tesoura, Jack Sparrow, Willy Wonka entre outros. Aqui, o seu Barnabas é um homem atormentado pelas suas perdas do passado, mas ao mesmo tempo engraçado, pois tem uma dificuldade imensa em se adaptar aos loucos anos 1970. Eva Green como Angelique mostra um lado cômico que ainda não havia sido muito explorado e se sai muito bem na sua missão. Já Michelle Pfeiffer, interpretando a matriarca Elizabeth, tem uma performance competente, principalmente nos momentos em que conversa com o Barnabas de Johnny Depp. Realmente, os dois têm química juntos, assim como Depp também tem uma ótima química com Green. Enfim, esse trio funciona porque o entrosamento entre os atores é muito bom.
Mesmo assim, o resto do elenco também está muito bem, com menções especiais para Helena Bonham Carter e Jackie Earle Haley. Ela, como a dra. Hoffman, a psiquiatra dos Collins, tem alguns ótimos momentos, principalmente com Depp, com quem já trabalhou outras vezes; já ele, como Willie, o faz-tudo (é jardineiro, motorista, faxineiro...), aparece pouco no filme, mas quando aparece consegue imprimir a sua marca.
Outra falha do roteiro é a sua indecisão. Ele não sabe muito bem qual gênero seguir. Durante o prólogo, que apresenta a história de Barnabas, o longa é claramente um drama de época. Porém, quando o seu protagonista acorda do seu sono de 200 anos, o filme torna-se uma comédia, sendo fiel ao que o trailer do filme tenta vender. Porém, em seu clímax, o longa torna-se um filme de aventura, com pouco espaço para risadas. Por sinal, o final têm alguns elementos bastante forçados, mas que não posso contar aqui porque são spoilers. Além disso, não estranhe a quantidade de subtramas que o filme possui.
Tecnicamente falando, o filme é uma beleza, talvez a característica mais marcante da marca Tim Burton. Os figurinos de Colleen Atwood (ganhadora do Oscar de melhor figurino em 2011 pelo filme anterior de Burton, "Alice no País das Maravilhas") são de extrema qualidade como sempre, a trilha sonora de Danny Elfman combina muito bem com o clima de humor negro do filme, a fotografia de Bruno Delbonnel, apesar de ser um pouco escura demais (em certos momentos nem consegue-se ver as expressões dos atores direito), passa de forma correta o estilo gótico de Burton, e por fim, a equipe de cenografia merece aplausos por construir de forma competente Collinsport do zero. Isso mesmo, a cidade foi construída especialmente para o filme no estúdios Pinewood na Inglaterra!
No final das contas, "Sombras da Noite" é um filme falho, mas que devido à excentricidade de sua história e ao carisma de seu elenco consegue divertir e encantar uma plateia.
NOTA: 3.5/5