domingo, 24 de junho de 2012

Sombras da Noite (Dark Shadows)


Dir.: Tim Burton; Escrito por Seth Grahame-Smith; Com Johnny Depp, Michelle Pfeiffer, Eva Green, Helena Bonham Carter. 2012 - Warner (113 min. - 14 anos)


Uma das maiores qualidades de Tim Burton é o fato de seus filmes serem facilmente identificáveis. Todos eles possuem um visual gótico bastante característico do diretor, até mesmo os mais coloridos como os infantis "A Fantástica Fábrica de Chocolate" e "Alice no País das Maravilhas". Mais interessante ainda é a sua capacidade de manter este mesmo estilo tanto em produções modestas como os clássicos "Edward Mãos de Tesoura" e "Ed Wood" quanto em filmes de altíssimo orçamento como os seus filmes da franquia "Batman" e os já citados "Alice" e "Fábrica de Chocolate". Porém, isto tem um preço: a sua carreira é considerada por muitos como irregular. Felizmente, o seu último longa, "Sombras da Noite", apesar de ser visto pela maioria como um trabalho inferior seu, me fez passar duas horas bastante agradáveis no cinema.

Baseado numa telenovela homônima exibida entre 1966 e 1971, que devo admitir, não conhecia até saber da produção deste filme, o longa conta a história de Barnabas Collins. Herdeiro de uma rica família do ramo da pesca, Barnabas encontrou na doce Josette o amor de sua vida. Porém, uma de suas empregadas, a bruxa Angelique, era perdidamente apaixonada por ele e não aceitava de jeito nenhum o relacionamento entre os dois. Para dar fim ao romance, ela enfeitiçou Josette e fez com que ela pulasse de um penhasco direto nas pedras à beira do mar. Ao tentar salvá-la, Barnabas também se jogou do penhasco, mas sobreviveu, dando chance a Angelique transformá-lo num vampiro e fazer ele sofrer todos os dias pela perda de sua amada. Barnabas foi, então, enterrado vivo por Angelique e pela população da cidadezinha de Collinsport. 

Entretanto, 200 anos mais tarde, em 1972, Barnabas é acordado e retorna à cidade que leva o nome de sua família. Ao chegar lá, descobre que o clã dos Collins está falido e sua magnífica mansão, Collinswood, está em deplorável estado. Barnabas decide, então, ajudar a matriarca da nova geração da família Collins, Elizabeth, a dar a volta por cima e trazer os Collins novamente ao seu tempo de glória.

Sem dúvida alguma, "Sombras da Noite" tem um roteiro falho, afinal a quantidade de personagens envolvidos na história é considerável. Para se ter uma noção, somente a família Collins conta com 5 integrantes, isso sem contar com o empregado, com a tutora e com a psiquiatra que também vivem na mansão Collinswood. Portanto, não é surpresa, que alguns deles vão ficar sem muito o que fazer ou vão ser esquecidos em certos momentos da trama. Um exemplo deles é Roger, o irmão de Elizabeth, pai do menino David. Ele aparece basicamente nas refeições da família, e apesar de ter uma subtrama ao seu redor, ela não é muito explorada pelo roteirista Seth Grahame-Smith. Outra que também tem uma aparição problemática é a tutora de David, Victoria. No início do filme, ela ganha bastante importância por ser, supostamente, a reencarnação de Josette, a grande paixão de Barnabas. Entretanto, a partir do momento em que o vampiro aparece para a sua família, ela quase não dá as caras, até que no  final ela volta a ser uma das personagens mais importantes novamente. Pode-se dizer, que na realidade, apenas três personagens têm uma presença constante no filme: Barnabas, Angelique e Elizabeth.

Consequentemente, são de seus intérpretes as melhores interpretações do longa. Johnny Depp, na pele de Barnabas, mostra novamente que nasceu para interpretar tipos estranhos. Foi assim com Edward Mãos de Tesoura, Jack Sparrow, Willy Wonka entre outros. Aqui, o seu Barnabas é um homem atormentado pelas suas perdas do passado, mas ao mesmo tempo engraçado, pois tem uma dificuldade imensa em se adaptar aos loucos anos 1970. Eva Green como Angelique mostra um lado cômico que ainda não havia sido muito explorado e se sai muito bem na sua missão. Já Michelle Pfeiffer, interpretando a matriarca Elizabeth, tem uma performance competente, principalmente nos momentos em que conversa com o Barnabas de Johnny Depp. Realmente, os dois têm química juntos, assim como Depp também tem uma ótima química com Green. Enfim, esse trio funciona porque o entrosamento entre os atores é muito bom.

Mesmo assim, o resto do elenco também está muito bem, com menções especiais para Helena Bonham Carter e Jackie Earle Haley. Ela, como a dra. Hoffman, a psiquiatra dos Collins, tem alguns ótimos momentos, principalmente com Depp, com quem já trabalhou outras vezes; já ele, como Willie, o faz-tudo (é jardineiro, motorista, faxineiro...), aparece pouco no filme, mas quando aparece consegue imprimir a sua marca.

Outra falha do roteiro é a sua indecisão. Ele não sabe muito bem qual gênero seguir. Durante o prólogo, que apresenta a história de Barnabas, o longa é claramente um drama de época. Porém, quando o seu protagonista acorda do seu sono de 200 anos, o filme torna-se uma comédia, sendo fiel ao que o trailer do filme tenta vender. Porém, em seu clímax, o longa torna-se um filme de aventura, com pouco espaço para risadas. Por sinal, o final têm alguns elementos bastante forçados, mas que não posso contar aqui porque são spoilers. Além disso, não estranhe a quantidade de subtramas que o filme possui.

Tecnicamente falando, o filme é uma beleza, talvez a característica mais marcante da marca Tim Burton. Os figurinos de Colleen Atwood (ganhadora do Oscar de melhor figurino em 2011 pelo filme anterior de Burton, "Alice no País das Maravilhas") são de extrema qualidade como sempre, a trilha sonora de Danny Elfman combina muito bem com o clima de humor negro do filme, a fotografia de Bruno Delbonnel, apesar de ser um pouco escura demais (em certos momentos nem consegue-se ver as expressões dos atores direito), passa de forma correta o estilo gótico de Burton, e por fim, a equipe de cenografia merece aplausos por construir de forma competente Collinsport do zero. Isso mesmo, a cidade foi construída especialmente para o filme no estúdios Pinewood na Inglaterra!

No final das contas, "Sombras da Noite" é um filme falho, mas que devido à excentricidade de sua história e ao carisma de seu elenco consegue divertir e encantar uma plateia.

NOTA: 3.5/5


sábado, 23 de junho de 2012

Pi (Pi)


Dir.: Darren Aronofsky; Escrito por Darren Aronofsky; Com Sean Gullette, Mark Margolis, Ben Shenkman. 1998 - Europa (84 min. - 14 anos)


Max é um matemático que acredita que tudo aquilo que está ao nosso redor pode ser definido pelos números. Sequências, espirais, padrões seriam a explicação para o porquê de tudo e todos. A partir deste conceito, ele inicia uma busca incessante pelo padrão das bolsas de valores. O que faz as ações caírem num dia e no outro subirem? Deve haver uma explicação matemática para isso. A possível resposta seja um número formado por 216 dígitos. Enquanto isso, um conhecido seu, judeu praticante, lhe conta de toda a Matemática que permeia as páginas do Torá, uma vez que cada letra do hebraico representa um número. Assim, como na bolsa de valores, é provável que haja um padrão matemático relacionado também a um número de 216 dígitos. A partir daí, Max inicia uma jornada frenética para buscar o tal número de 216 dígitos, mesmo que ponha a sua vida em risco.

Só pela sinopse já dá para perceber que "Pi" não é um filme calminho e devagar, mas sim o oposto. São 84 minutos de ação ininterrupta, cortes rápidos e diálogos afiados dirigidos com precisão por Darren Aronofsky, em sua estreia no cinema.

Com uma curiosa fotografia granulada e em preto e branco, "Pi" tem em seu roteiro a sua maior qualidade. Apesar de perder tempo em cenas desnecessárias como aquela em que Max encontra um cérebro na escada do metrô, que não contribui em nada para a trama, o filme ganha pontos por momentos inspirados como o primeiro encontro entre Max e Lenny, o seu amigo judeu, em que Lenny explica a Max a Matemática por trás do Torá. Isso sem falar no clímax de ritmo acelerado, artimanha que Aronofsky usaria em seu próximo filme, "Réquiem para um Sonho".

As atuações também contribuem. Sean Gullette, principalmente, como Max incorpora bem a paranoia do personagem quanto aos números e àqueles que vêm lhe procurar por causa de suas pesquisas nas bolsas de valores, como por exemplo a misteriosa Marcy Dawson. Em certos  momentos de agonia, podemos sentir na pele o incômodo sentido por Max, principalmente em suas crises.

Apesar de não ser um grande filme (não é nem o melhor do diretor), "Pi" entretém com suas ideias mirabolantes sobre as relações entre a nossa vida e a Matemática.

NOTA: 3/5


sexta-feira, 22 de junho de 2012

Cisne Negro (Black Swan)


Dir.: Darren Aronofsky; Escrito por Mark Heyman, Andrés Heinz e John McLaughlin; Com Natalie Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel. 2010 - Fox (108 min. - 16 anos)


Ao analisar a filmografia do norte-americano Darren Aronofsky, pode-se perceber que vários de seus filmes falam sobre a importância que os seres humanos dão à notoriedade. Todos nós queremos ser vistos da melhor forma possível, nós queremos ser perfeitos a qualquer custo. Este tema foi abordado em "Réquiem para um Sonho", em "O Lutador" e em seu mais recente filme, "Cisne Negro".

No longa, uma bailarina extremamente técnica e perfeccionista, Nina Sayers, recebe a incumbência de protagonizar uma nova montagem do clássico de Tchaikovsky, "O Lago dos Cisnes". Porém, o seu personagem, a Rainha Cisne, incorpora duas personas completamente opostas: o Cisne Branco e o Cisne Negro. O Cisne Branco não é o problema: Nina é um doce de pessoa, frágil e um pouco infantil; enfim, ela se encaixa perfeitamente no papel. Por outro lado, o Cisne Negro é sensual e perigoso, o inverso de Nina. Entretanto, no intuito de manter o papel em suas mãos de qualquer jeito, ela começa a se esforçar para deixar o seu lado negro aparecer mesmo que para isso tenha que abandonar a sua sanidade também. A partir desta premissa, Aronofsky constrói um suspense psicológico intenso, abundante em violência e sexualidade. 

Um dos aspectos mais interessantes do roteiro é o fato do filme se passar no mundo do balé, que é, aparentemente, encantador e mágico, mas que no fundo esconde uma realidade muito mais densa e sofrida. Podemos até considerar isto como uma representação literal do espírito de Nina, dividido entre o bem e o mal durante a procura pela perfeição.

Num ritmo frenético, "Cisne Negro" mostra de forma bastante convincente a transformação de sua protagonista. A cada passo seu, a cada gesto, é possível ver que ela já não é mais a mesma. A garota meiga, como diz sua mãe, está desaparecendo e dando lugar à uma figura perigosa e sexualizada. Para isso, Natalie Portman desempenha uma boa performance (apesar de não ser tão boa quanto o seu Oscar parece indicar), na qual ela se desgasta física e emocionalmente.

Acompanhando a turbulência emocional de Nina estão Thomas, Lily e Erica, respectivamente, o diretor da companhia de balé, a concorrente de Nina ao papel principal de Rainha Cisne e a mãe da bailarina perturbada. Todos os três vividos com competência por Vincent Cassel, Mila Kunis e Barbara Hershey.

Com uma trilha sonora desesperada (no bom sentido) de Clint Mansell e tensão para dar e vender, "Cisne Negro" não é um filme perfeito, mas que merece toda a atenção que lhe foi, e em certa parte, ainda lhe é dada.

NOTA: 4/5


quinta-feira, 21 de junho de 2012

Cidade das Sombras (City of Ember)


Dir.: Gil Kenan; Escrito por Caroline Thompson; Com Saoirse Ronan, Harry Treadaway, Bill Murray, Tim Robbins. 2008 - Paris Filmes (90 min.)


Quando estreou nos cinemas norte-americanos, "Cidade das Sombras" foi um verdadeiro fracasso de bilheteria. Com um orçamento de 55 milhões de dólares, o longa, ao fim de sua exibição, não passou dos 7 milhões de renda nos EUA e no Canadá e dos 17 milhões no mundo todo. É realmente uma pena, já que "Cidade das Sombras" é uma diversão e tanto.

Dirigido por Gil Kenan (realizador de "A Casa Monstro", um outro filme bem divertido, diga-se de passagem), o longa se passa em Ember, uma cidade localizada no subsolo da Terra, criada no intuito de manter uma parte da espécie humana preservada após a realização de uma guerra nuclear. A cidade foi planejada para se sustentar por cerca de 200 anos, sendo estes cronometrados numa caixa de metal na qual está guardada também um segredo que só deve ser revelado em caso de extrema necessidade. Porém, num certo momento esta caixa se perde e os anos passam até que chegam aos tais 200 anos sem que ninguém saiba disso. A cidade começa, então, a se mostrar precária: o gerador que alimenta a cidade para de funcionar com mais frequência, os alimentos estão ficando escassos, as construções estão velhas e em situação deplorável; enfim, é apenas questão de tempo até que não haja mais condições de habitar Ember. É neste contexto que entra na história Lina, uma menina que descobre na casa de sua avó a tal caixa desaparecida e a partir daí começa a descobrir a verdade que o governo esconde dos cidadãos. Ela, então, se junta ao seu amigo Doon, e os dois vão descobrir uma forma de sair de Ember e livrar-se do fim iminente e da escuridão permanente.

Protagonizado por dois bons atores juvenis, Saoirse Ronan (já indicada ao Oscar por "Desejo e Reparação") e Harry Treadaway, "Cidade das Sombras" surpreende, não apenas por possuir uma história bastante interessante, mas também porque flerta com alguns assuntos mais sérios, normalmente pouco tratados em filmes infanto-juvenis como política e religião e crença.

Por um ponto de vista técnico, a sua produção também é bastante caprichada. O departamento de arte responsável pela construção de Ember está de parabéns, assim como a fotografia de Xavier Pérez Grobet, bastante adequada à escura e suja cidade subterrânea.

Além de Ronan e Treadaway, o elenco também possui coadjuvantes de peso como Bill Murray, interpretando um prefeito nem um pouco honesto, Tim Robbins como o pai de ideais revolucionários de Doon e Toby Jones vivendo o assistente e braço direito do prefeito.

Em poucas palavras, "Cidade das Sombras" é um filme que merece uma segunda chance.

NOTA: 4/5


Deus da Carnificina (Carnage)


Dir.: Roman Polanski; Escrito por: Yasmina Reza e Roman Polanksi; Com Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz, John C. Reilly. 2011 - Imagem (80 min. - 12 anos)


"Deus da Carnificina" começa com uma cena na qual um grupo de crianças está brincando num parque à beira de um rio. Tudo está muito bem, todos estão alegres até que algo - não sabemos o quê - acontece e o clima muda drasticamente. Os meninos começam a discutir até que um deles acerta um galho de árvore na cara de um outro. A confusão foi iniciada.

Na cena seguinte, os pais dos dois garotos que se desentenderam estão num confortável apartamento de classe média alta em Nova York. Eles estão formulando um documento em que fica claro o estado físico do menino agredido: em resumo, ele perdeu dois dentes, mas segundo a mãe do menino ele ficou desfigurado.

Assim que o documento está pronto, os casais vão para a sala de estar e começam a tomar um café e comer bolo de frutas. Até aí tudo vai bem, todos estão devidamente vestidos, falam da forma mais educada possível, porém o clima começa a mudar e os pais passam a discutir e o que era para ser uma tarde agradável torna-se um verdadeiro inferno. Acontece de tudo um pouco: briga entre casais, vômito, xingamentos... Enfim, os bons modos vão pelos ares.

Dirigido por Roman Polanski, "Deus da Carnificina" tem ao seu favor, primeiro, o elenco. Integrado por gente oscarizada como Jodie Foster, Kate Winslet e Christoph Waltz e pelo cada vez mais competente John C. Reilly, o longa mantém o espectador vidrado o tempo inteiro, sempre curioso em saber o que vem em seguida. 

Aos atores une-se também o roteiro extremamente dinâmico escrito por Polanksi e Yasmina Reza, autora da peça homônima que inspirou o filme. Para se ter uma ideia, durante todo o encontro entre os casais não há uma única música, a intervenção de qualquer outro personagem além dos quatro protagonistas, um outro cenário a não ser o apartamento do casal vivido por Foster e Reilly, mas ainda assim, em nenhum momento o longa deixa a peteca cair e cede para a monotonia.

De um ponto de vista técnico, o filme também está de parabéns, principalmente a iluminação, que acompanha o passar do dia. No início da projeção, o apartamento é iluminado basicamente pela luz vinda do meio externo, enquanto ao fim do filme, percebe-se que o apartamento está mais escuro e que agora as luzes estão todas ligadas. Na minha opinião, é algo sutil, mas bastante interessante, tanto que chamou a minha atenção.

Em resumo, é nada menos do que divertido ver quatro pessoas perdendo a cabeça em apenas 80 minutos, provando que o ser humano ainda é um selvagem, apesar de todas as boas aparências. E o mais interessante: isto serve para os personagens do filme e para o espectador também.

NOTA: 4/5


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Branca de Neve e o Caçador (Snow White and the Huntsman)



Dir.: Rupert Sanders; Escrito por Evan Daugherty, John Lee Hancock e Hossein Amini; Com Kristen Stewart, Chris Hemsworth, Charlize Theron. 2012 - Universal (127 min. - 12 anos)


De tempos em tempos, os estúdios de Hollywood lançam num curto espaço de tempo filmes de temática bastante parecida. Foi assim com "Armageddon" e "Impacto Profundo" em 1998,  "O Show de Truman" e "Edtv" em 1998/99, "Curtindo a Liberdade" e "A Filha do Presidente" em 2004, "O Ilusionista" e "O Grande Truque" em 2006, e mais recentemente, "Sexo sem Compromisso" e "Amizade Colorida" em 2011. Obviamente, as comparações são inevitáveis e, exatamente por isso, o lançamento de dois filmes baseados no conto da Branca de Neve no mesmo ano deu o que falar.

Entretanto, os dois filmes não podiam ser mais diferentes um do outro. Enquanto "Espelho, Espelho Meu", lançado no início do ano, é uma comédia familiar colorida e alegre, "Branca de Neve e o Caçador" é um épico de ação recheado de efeitos especiais e sequências de batalha. Porém, apesar do potencial, esta adaptação sombria do conto dos irmãos Grimm deixa um gosto de decepção ao final da sessão.

No longa, Branca de Neve é uma jovem que vive trancafiada numa cela dentro de uma das torres do castelo da rainha Ravenna, sua bela e amargurada madrasta. Um dia, porém, Branca consegue fugir e se refugia na Floresta Negra, onde conhece o Caçador, um viúvo que havia sido contratado pela rainha para capturá-la. Entretanto, o Caçador simpatiza com a garota e ambos decidem se unir para acabar com o reinado de Ravenna.

Para início de conversa, quero deixar bem claro que não achei "Branca de Neve e o Caçador" um filme ruim, mas sim um projeto mal-aproveitado. O roteiro, apesar de ter sido escrito a seis mãos, peca em não trazer elementos novos realmente interessantes ao conto medieval, exceto por um discurso feminista que se encaixa bem na história. O filme, que já demora a dar início à sua história propriamente dita, não tem um único momento em que o espectador fica na ponta da cadeira, genuinamente animado. Pelo contrário, quando o filme parece que vai empolgar, murcha e fica por isso mesmo.

Além disso, certos momentos parecem extremamente forçados. Um exemplo é a sequência em que Branca de Neve escapa do castelo de sua madrasta. Ela, simplesmente, ficou presa numa masmorra por quase toda a vida, mas ainda assim, consegue nadar em alto mar e cavalgar como uma experiente amazona, despistando os funcionários da rainha. Isso sem contar que em apenas alguns dias ela se torna uma verdadeira guerreira, sabendo empunhar uma espada com se fizesse isso há muito tempo.

O elenco também está insosso. Kristen Stewart está melhor aqui do que em todos os filmes da saga Crepúsculo juntos, mas continua usando e abusando de seus trejeitos característicos. Chris Hemsworth, apesar de ser aquele com o melhor desempenho entre o trio de protagonistas, ainda interpreta o Caçador como uma versão menos shakesperiana de Thor. Mas sem dúvida alguma a maior decepção é Charlize Theron. Não só a sua personagem, a rainha, tão presente nos trailers e pôsteres do filme, aparece basicamente no início e no fim do filme, a sua interpretação é bem acima do tom, cheia de caras e bocas. Enfim, nem parece aquela atriz que ganhou um Oscar por "Monster - Desejo Assassino" e que consegue ter boas performances até em filmes medianos.

Felizmente, a equipe técnica ampara com muita competência o diretor Rupert Sanders. Os efeitos especiais são muito bons, a trilha sonora de James Newton Howard se encaixa perfeitamente com a proposta do filme, a fotografia de Greig Fraser, apesar de às vezes ser um pouco escura demais, é muito bonita, o figurino da ótima Colleen Atwood é extremamente bem-feito, a direção de arte é notável, e por aí vai.

Então, apesar de ser perfeitamente suportável e tecnicamente impecável, "Branca de Neve e o Caçador" decepciona, pois poderia ter sido muito mais do que apenas um colírio para os olhos.

NOTA: 3/5





terça-feira, 19 de junho de 2012

O Lutador (The Wrestler)


Dir.: Darren Aronofsky; Escrito por Robert Siegel; Com Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood. 2008 - Paris (109 min. - 14 anos)


Todos os filmes de Darren Aronofsky provocam uma reação, seja ela boa ou ruim. Paranoia e aflição em "Cisne Negro", curiosidade e confusão em "Fonte da Vida", choque em "Réquiem para um Sonho". Entretanto, o filme que causa emoção, no sentido mais conhecido da palavra, é "O Lutador" de 2008.

Protagonizado por Mickey Rourke, o longa narra a jornada de Randy "The Ram" Robinson, um lutador de vale-tudo famoso nos anos 1980, mas em plena decadência vinte anos mais tarde. A vida de Randy é, simplesmente, uma bagunça: ele tem dificuldades em pagar o aluguel, tem uma amizade complicada com uma stripper, vive um relacionamento conturbado com sua única filha, é usuário de anabolizantes; enfim, todos os clichês possíveis de um filme esportivo.

A grande diferença de "O Lutador" para outros filmes de mesmo gênero é que os seus personagens são realmente interessantes. Randy, apesar de viver da pior forma possível, ainda é uma figura incrivelmente fascinante, devido à sua disposição em vencer na vida. Cassidy, a stripper amiga de Randy, mesmo já sendo velha quando comparada às suas colegas de trabalho (o que a evita de ganhar alguns preciosos dólares), procura ganhar dinheiro suficiente para poder criar o seu filho de forma decente e, no futuro, largar de vez o striptease. Stephanie, a filha de Randy, trata o pai que nem lixo, porém não há como não o ser, já que ele nem se deu ao trabalho de criá-la da forma que deveria. Em resumo, é gente como a gente: que comete erros, mas que procura sempre consertá-los (podendo ter êxito ou não).

No fundo, "O Lutador", apesar de ser um filme sobre vale-tudo, explora um tema já explorado por Aronofsky em "Réquiem para um Sonho": a necessidade que o ser humano tem em ser importante para outro. Se no filme de 2000, os personagens usavam as drogas para se sobressair, aqui Randy faz de tudo para se mostrar um grande amigo para Cassidy ou para provar que pode ser um pai presente para Stephanie. Isso em paralelo ao desejo de mostrar ao mundo de que ele ainda tem o seu valor no ringue, e que não é apenas uma estrela que não brilha mais.

Mas como em todo bom filme, não adianta ter um bom roteiro sem um elenco que lhe faça jus, e em "O Lutador" o elenco faz do filme algo maior. Rourke, extremamente deformado pelas cirurgias plásticas, vive aqui o personagem de sua vida: não só porque ele mergulha de cabeça no papel (o que lhe rendeu prêmios como o Globo de Ouro e o Bafta e uma indicação ao Oscar), como também o próprio filme lembra um pouco a sua vida pessoal (Rourke foi um galã de cinema nos anos 1980 até que decidiu tornar-se lutador de boxe profissional nos anos 1990, o que fez com que o seu rosto ficasse desfigurado e ele necessitasse fazer as tais plásticas que mudaram as suas feições). Outra que também impressiona é Marisa Tomei, uma atriz bastante vista em papéis secundários, mas que costuma roubar as cenas nas quais aparece em diversos filmes. No longa de Aronofsky, impressiona não só a sua atuação como também o seu comprometimento com o papel, já que em diversas cenas aparece praticamente pelada, fazendo verdadeiras performances eróticas, indo do "lap" ao "pole dance". Isso sem contar os piercings que botou nos mamilos. Não é surpresa saber que ela foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel. Enfim, é uma atriz com A maiúsculo, que não tem medo de enfrentar desafios.

Apesar de ser um filme cru, pesado e bastante violento, "O Lutador" possui uma bela história, regada com ótimas performances e com um final que, aposto, vai fazer muito marmanjo chorar.

NOTA: 4/5



Fonte da Vida (The Fountain)


Dir.: Darren Aronofsky; Escrito por Darren Aronofsky; Com Hugh Jackman, Rachel Weisz, Ellen Burstyn. 2006 - Fox (96 min. - 14 anos)


A relação entre o ser humano e a morte sempre foi complicada. Alguns grupos a veem como algo bom, outros como uma desgraça. Para alguns existe vida após a morte, para outros ela é o fim de tudo. Não precisa ser muito esperto para entender porque essa relação é tão conturbada: nós, humanos, simplesmente não sabemos como é a morte e o que vem depois dela; o que sabemos é fruto de lendas, crenças, mas provas concretas, só quem já a vivenciou as tem; porém, quem a vivenciou não está mais entre nós (pelo menos não em corpo). Por isso mesmo, a discussão levantada por "Fonte da Vida" é interessante: o que é a morte para a vida, e o que é a vida para a morte?

Para criar hipóteses para esta pergunta, o diretor Darren Aronofsky resolveu contar uma história de amor atemporal, literalmente. O longa cobre um período de mil anos, mais especificamente os séculos XVI, XXI e XXVI. Em cada um deles, uma história se desenrola.

No século XVI, um conquistador chamado Tomás é chamado pela rainha da Espanha para ir até às Américas com o objetivo de achar uma pirâmide maia perdida no meio da floresta na qual está localizada a Árvore da Vida, uma vez que esta é a única maneira de salvar o reino espanhol das garras da Inquisição.

No século XXI, um neurocientista chamado Tommy procura uma cura para o câncer a fim de conseguir curar a sua esposa, Izzy, vítima da doença. Com o avançar das pesquisas, descobre-se que a solução esteja ligada a uma árvore localizada na América Central, mais precisamente na Guatemala.

Já no século XXVI, um viajante espacial chamado Tom, vive dentro de uma esfera alimentando-se da casca de uma enorme árvore da qual cuida e com a qual se comunica.

Já sei o que você deve estar pensando: "que filme mais maluco!"; realmente, "Fonte da Vida" não é dos filmes mais fáceis de se assistir, porém com um pouco de esforço consegue-se aproveitar a experiência, principalmente o seu ato intermediário.

Com ótimas performances de Hugh Jackman e Rachel Weisz, uma bela fotografia de Matthew Libatique e uma trilha sonora emocionante de Clint Mansell, "Fonte da Vida" se perde no final (ou fui eu que me perdi?), mas por não ser longo (tem apenas 96 minutos) não chega a cansar, sendo, no mínimo uma experiência única e fonte para algumas conversas.

NOTA: 3/5



segunda-feira, 18 de junho de 2012

Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream)


Dir.: Darren Aronofsky; Escrito por Hubert Selby Jr. e Darren Aronofsky; Com Ellen Burstyn, Jared Leto, Jennifer Connelly, Marlon Wayans. 2000 - Europa Filmes (102 min. - 18 anos)


Várias vezes já ouvimos que algo é igual a um soco no estômago. Mesmo não sabendo exatamente qual é a sensação de levar um soco no estômago, sabemos que é algo extremamente desagradável, incômodo por demais. Palavras, músicas, pinturas... dependendo do quão forte são, lembram um soco no estômago. E claro, há certos filmes que causam um incômodo imenso, praticamente incontrolável, parecem um soco no estômago. Podemos dizer, então, que "Réquiem para um Sonho" é um verdadeiro soco. No estômago, na cara, nas pernas, onde quer que seja! A sensação de incômodo é inevitável.

Mas alguém pode dizer: "mas afinal, o que você esperava de um filme sobre drogas?". Realmente, algo não muito diferente, mas sempre há filmes sobre assuntos obscuros, pesados, que são apenas um tapinha nas costas. Um exemplo recente é "Paraísos Artificiais" de Marcos Prado: um filme que fala sobre drogas, tem muitas cenas que envolvem o seu consumo, mas ao mesmo tempo é um tédio, bem chatinho mesmo; simplesmente não causa sensação alguma, exceto um pouco de sono. Felizmente, não é o caso aqui.

"Réquiem para um Sonho" leva o espectador ao riso, ao espanto, ao choque, à empatia, ao medo, à pena... Enfim, a uma infinidade de sensações; e é por isso que dá tão certo.

O filme é divido basicamente em três histórias que envolvem quatro personagens. A primeira tem como protagonista uma idosa, Sara, que depois que o marido morreu e o filho saiu de casa sente-se bastante sozinha. Portanto, gasta todo o seu dia assistindo a um programa de auto-ajuda na televisão. Um dia, porém, a sua vida fica movimentada quando ela recebe uma ligação de uma empresa que procura pessoas que possam participar de programas de tevê, dizendo que ela havia sido selecionada entre uma enorme lista de possíveis participantes. A autoestima de Sara, então, cresce absurdamente e ela resolve que vai emagrecer para caber no vestido vermelho que usou na formatura de seu filho no ensino médio. Com isso, ela acaba se viciando em anfetaminas.

Em paralelo, o filho de Sara, Harry, e seu amigo, Tyrone - dois viciados em drogas -, decidem iniciar o seu próprio negócio: um esquema de tráfico de narcóticos. Com este plano, eles procuram mudar de vida completamente (enriquecer, melhorar o apartamento onde vivem, investir em outros ramos), entretanto, sem deixar de consumir drogas diariamente.

Enquanto isso, numa terceira história, a namorada de Harry, Marion, se junta aos dois rapazes e decide aproveitar para abrir a sua própria loja de roupas. O problema é que Marion, assim como Harry e Tyrone, também é usuária de drogas e não pretende largar o vício, mesmo que a sua vida melhore.

Em todas as três histórias, o início é promissor: Sara consegue emagrecer treze quilos, Harry e Tyrone começam a ganhar bastante dinheiro com o tráfico e, consequentemente, Marion consegue comprar a sua loja e passa a desenhar modelos e mais modelos de roupas. Entretanto, não é surpresa que uma hora a casa cai, e é aí que os quatro começam a ver o lado negro das drogas.

Dirigido pelo cultuado Darren Aronofsky (do recente sucesso "Cisne Negro"), "Réquiem para um Sonho" não só é um filme bem-feito e com ótimas performances de Ellen Burstyn (indicada ao Oscar de melhor atriz em 2001), Jared Leto, Jennifer Connelly e Marlon Wayans, mas é um longa único e que merece ser visto não só pelo público dos cinemas de arte, mas por toda sociedade. 

Apesar de ser um filme no estilo "ame-ou-odeie", com cortes rápidos, ritmo acelerado e posicionamentos de câmera excêntricos, "Réquiem para um Sonho" não é apenas um longa sobre as consequências do uso de drogas, mas acima de tudo, é um estudo do próprio ser humano e do seu vício em ser reconhecido pelos outros como alguém importante, mesmo que tudo que lhe seja essencial já esteja ao seu lado.

NOTA: 4/5


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Solteiros com Filhos (Friends with Kids)


Dir.: Jennifer Westfeldt; Escrito por Jennifer Westfeldt; Com Jennifer Westfeldt, Adam Scott, Maya Rudolph, Kristen Wiig. 2011 - Paris (107 min.)


Quando foi lançado o trailer de "Solteiros com Filhos", parecia que teríamos uma reunião do elenco de "Missão Madrinha de Casamento" menos de um ano depois de seu lançamento. Muitos esperavam, portanto, que este filme dirigido/escrito/estrelado por Jennifer Westfeldt fosse ser uma comédia sem o menor pudor, assim como o sucesso do diretor Paul Feig. Entretanto, "Missão Madrinha de Casamento" e "Solteiros com Filhos" não poderiam ser dois filmes mais diferentes um do outro.

Apesar de ter em seu elenco quatro integrantes do filme de 2011 - Kristen Wiig (que co-escreveu e estrelou "Missão de Madrinha de Casamento"), Maya Rudolph, Jon Hamm e Chris O'Dowd -, "Solteiros com Filhos" é um drama com toques de comédia, enquanto o filme das madrinhas era uma comédia extremamente escrachada.

No filme de Westfeldt, a protagonista é Julie, uma mulher que de um ponto de vista material, deveria ser uma pessoa bastante feliz, entretanto, por dentro ela não está nada contente. Seus amigos estão tendo filhos e com isso os jantares e as noitadas estão se tornando eventos cada vez mais raros. Além disso, ela própria tem o desejo de ser mãe, porém ainda não encontrou o cara certo. O problema é que Julie já está chegando aos 40 anos e esta pode ser a última chance de realizar o seu sonho.

Para resolver este problema, então, seu melhor amigo, Jason, lhe faz uma proposta: os dois transam, têm um filho, mas não constrõem uma relação amorosa entre eles; dessa forma ambos conseguem o que tanto querem (Jason também quer ter um filho) e não precisam enfrentar as agruras do casamento. Porém, depois que o filho dos dois nasce, eles percebem que este plano que, aparentemente, era perfeito, é, na verdade, uma faca de dois gumes.

Guiado por muitas cenas de diálogo, "Solteiros com Filhos" não é o seu típico filme romântico norte-americano, pelo contrário, em nenhum momento ele apela para o sentimentalismo nem para a fantasia. Aqui, todos os acontecimentos podem realmente acontecer na vida real, portanto, as idas e vindas amorosas são constantes ao longo de seus 107 minutos de duração.

Apesar de às vezes se alongar demais, principalmente em seu último ato, o filme possui cenas bastante interessantes graças ao seu roteiro competente. Todos os seus diálogos têm uma razão de ser, falam coisas inteligentes, contribuem para o enredo do filme. Momentos como o climático jantar entre os amigos durante uma viagem de Ano Novo funcionam por causa de seu texto afiado e de seus atores extremamente eficientes.

Falando no elenco, todos estão muito bem. A dupla de protagonistas, Jennifer Westfeldt e Adam Scott possuem uma ótima química juntos, assim como Maya Rudolph e Chris O'Dowd que formam o casal Leslie e Alex. Kristen Wiig mostra que tem um potencial dramático que ainda não foi muito bem explorado (afinal, ela é integrante do Saturday Night Live, ou seja, é, em primeiro lugar, uma comediante) e Jon Hamm consegue fazer de seu personagem, Ben, um homem detestável, mas ao mesmo tempo, compreensível. Até mesmo Megan Fox e Edward Burns, dois atores bastante característicos, têm um bom desempenho como casos amorosos de Jason e Julie, respectivamente.

Em resumo, se você procura um filme para rir bastante, daqueles de cair da cadeira do cinema, esquece! Este filme não vai lhe agradar. Mas se você quer se emocionar, refletir um pouco e, de quebra, dar umas risadinhas, "Solteiros com Filhos" é o filme do seu final de semana.

NOTA: 3.5/5