terça-feira, 19 de junho de 2012

O Lutador (The Wrestler)


Dir.: Darren Aronofsky; Escrito por Robert Siegel; Com Mickey Rourke, Marisa Tomei, Evan Rachel Wood. 2008 - Paris (109 min. - 14 anos)


Todos os filmes de Darren Aronofsky provocam uma reação, seja ela boa ou ruim. Paranoia e aflição em "Cisne Negro", curiosidade e confusão em "Fonte da Vida", choque em "Réquiem para um Sonho". Entretanto, o filme que causa emoção, no sentido mais conhecido da palavra, é "O Lutador" de 2008.

Protagonizado por Mickey Rourke, o longa narra a jornada de Randy "The Ram" Robinson, um lutador de vale-tudo famoso nos anos 1980, mas em plena decadência vinte anos mais tarde. A vida de Randy é, simplesmente, uma bagunça: ele tem dificuldades em pagar o aluguel, tem uma amizade complicada com uma stripper, vive um relacionamento conturbado com sua única filha, é usuário de anabolizantes; enfim, todos os clichês possíveis de um filme esportivo.

A grande diferença de "O Lutador" para outros filmes de mesmo gênero é que os seus personagens são realmente interessantes. Randy, apesar de viver da pior forma possível, ainda é uma figura incrivelmente fascinante, devido à sua disposição em vencer na vida. Cassidy, a stripper amiga de Randy, mesmo já sendo velha quando comparada às suas colegas de trabalho (o que a evita de ganhar alguns preciosos dólares), procura ganhar dinheiro suficiente para poder criar o seu filho de forma decente e, no futuro, largar de vez o striptease. Stephanie, a filha de Randy, trata o pai que nem lixo, porém não há como não o ser, já que ele nem se deu ao trabalho de criá-la da forma que deveria. Em resumo, é gente como a gente: que comete erros, mas que procura sempre consertá-los (podendo ter êxito ou não).

No fundo, "O Lutador", apesar de ser um filme sobre vale-tudo, explora um tema já explorado por Aronofsky em "Réquiem para um Sonho": a necessidade que o ser humano tem em ser importante para outro. Se no filme de 2000, os personagens usavam as drogas para se sobressair, aqui Randy faz de tudo para se mostrar um grande amigo para Cassidy ou para provar que pode ser um pai presente para Stephanie. Isso em paralelo ao desejo de mostrar ao mundo de que ele ainda tem o seu valor no ringue, e que não é apenas uma estrela que não brilha mais.

Mas como em todo bom filme, não adianta ter um bom roteiro sem um elenco que lhe faça jus, e em "O Lutador" o elenco faz do filme algo maior. Rourke, extremamente deformado pelas cirurgias plásticas, vive aqui o personagem de sua vida: não só porque ele mergulha de cabeça no papel (o que lhe rendeu prêmios como o Globo de Ouro e o Bafta e uma indicação ao Oscar), como também o próprio filme lembra um pouco a sua vida pessoal (Rourke foi um galã de cinema nos anos 1980 até que decidiu tornar-se lutador de boxe profissional nos anos 1990, o que fez com que o seu rosto ficasse desfigurado e ele necessitasse fazer as tais plásticas que mudaram as suas feições). Outra que também impressiona é Marisa Tomei, uma atriz bastante vista em papéis secundários, mas que costuma roubar as cenas nas quais aparece em diversos filmes. No longa de Aronofsky, impressiona não só a sua atuação como também o seu comprometimento com o papel, já que em diversas cenas aparece praticamente pelada, fazendo verdadeiras performances eróticas, indo do "lap" ao "pole dance". Isso sem contar os piercings que botou nos mamilos. Não é surpresa saber que ela foi indicada ao Oscar de atriz coadjuvante pelo papel. Enfim, é uma atriz com A maiúsculo, que não tem medo de enfrentar desafios.

Apesar de ser um filme cru, pesado e bastante violento, "O Lutador" possui uma bela história, regada com ótimas performances e com um final que, aposto, vai fazer muito marmanjo chorar.

NOTA: 4/5



Nenhum comentário:

Postar um comentário