terça-feira, 31 de julho de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises)


Dir.: Christopher Nolan; Escrito por Jonathan Nolan e Christopher Nolan; Com Christian Bale, Gary Oldman, Anne Hathaway, Tom Hardy. 2012 - Warner (165 min. - 12 anos)


Todo mundo sabe o que aconteceu num cinema em Aurora, uma cidade de mais de 300 mil habitantes, no estado do Colorado, Estados Unidos. Um homem começou a atirar na plateia durante a exibição de um dos filmes mais esperados (se não o mais esperado) do ano, "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge". A partir daí, tornaram-se constante as reportagens sobre o caso na televisão, falando da tragédia e do assassino, nesse processo quem saiu prejudicado (além das vítimas e familiares, é claro) foi o filme, que ficou com fama de amaldiçoado e tal. Uma pena, pois é um ótimo projeto manchado por circunstâncias externas a ele.

Se em "Batman Begins" o diretor e co-roteirista Christopher Nolan explorou o medo e suas consequências na moral da população de Gotham City, e em "Batman - O Cavaleiro das Trevas" ele abordou o caos e a sua influência nos civis, em "Ressurge" Nolan abre um leque de temas diversos: dor, amizade, vingança, lealdade, superação, desigualdade e por aí vai. E uma das maiores qualidades deste terceiro e último capítulo da trilogia "Cavaleiro das Trevas" é conseguir dar a todos estes temas um espaço de tempo razoável e encaixá-los de forma convincente na história.

O filme também ganha pontos com a sua história bem construída e bastante atual. Um dos elementos mais importantes da trama é a rebelião popular liderada por Bane a fim de derrubar os ricos e poderosos da cidade. Ao assistir ao longa, não é difícil recordar do movimento Occupy Wall Street, que aglomerou diversas pessoas no centro financeiro de Nova York numa forma de lutar contra o 1% detentor das maiores riquezas do país. Curiosamente, o filmagens do longa ocorreram em Wall Street durante essas manifestações.

Outra qualidade do filme é a boa construção dos personagens. Enquanto alguns personagens foram estudados durante toda a saga como Bruce Wayne, outros, cuja primeira aparição ocorre neste filme, também têm apresentação e desenvolvimento satisfatórios. O grande vilão do filme, Bane, vivido muito bem por Tom Hardy, apesar de ter as suas expressões limitadas, já que usa o tempo inteiro uma máscara sobre seu nariz e boca, tem uma história interessantíssima e é, na minha opinião, apesar de não ser tão marcante como o Coringa, antagonista do filme anterior, o vilão mais humano não só desta trilogia, mas de todos os outros filmes do homem-morcego.

A outra vilã (ou heroína. Depende do ponto de vista.) do filme, a Mulher-Gato, também é bem explorada. A sua história de ladra de joias, moradora de um apartamento decadente numa área ruim de Gotham City que se torna uma das personagens mais importantes na salvação da cidade é interessante e ganha mais profundidade pelas mãos da ótima Anne Hathaway, que apesar de não ser a Mulher-Gato mais marcante (Michelle Pfeiffer ainda ganha!), consegue construir uma versão humanizada de uma personagem bem caricaturesca e fetichista.

Uma conclusão de respeito para uma das séries mais bem-feitas no cinema, no que diz respeito à qualidade narrativa e técnica, "Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge", ao mesmo tempo em que mantém portas abertas para novas adaptações, fecha de forma redondinha e satisfatória a saga do herói.

P.S. Para melhor entendimento do enredo do filme, recomendo assistir aos dois filmes anteriores.

NOTA: 4/5


sábado, 28 de julho de 2012

Valente (Brave)


Dir.: Mark Andrews, Brenda Chapman e Steve Purcell (co-diretor); Escrito por Mark Andrews, Steve Purcell, Brenda Chapman e Irene Mecchi. Com Kelly MacDonald, Emma Thompson, Julie Walters. 2012 - Disney (93 min. - Livre)


Dentre os mais famosos estúdios de animação em Hollywood, de longe, o mais celebrado é a Pixar. Na ativa desde 1986 como produtora de filmes, a empresa sempre recebeu os mais diversos elogios por sua inventividade e pela maneira com que valoriza personagens e histórias ao mesmo tempo em que aprimora sua tecnologia.

Entretanto, depois de anos de céu de brigadeiro, em 2011, a Pixar tomou o seu primeiro grande baque: apesar de ter sido um grande sucesso nas bilheterias, "Carros 2" foi para muitos a prova de que o estúdio não era infalível. A sequência do filme de 2006 é, sem dúvidas, o longa mais criticado já executado pela empresa. Mas como não é boba nem nada, em 2012, a Pixar resolveu dar a volta por cima e nos trouxe "Valente", uma deliciosa aventura passada nas Highlands escocesas.

Apesar de não ser um clássico como vários outros filmes do estúdio e não ter um roteiro tão original assim, "Valente" ganha pontos por ter uma das protagonistas mais interessantes vistas esse ano: Merida, a princesa rebelde. Com seus longos e encaracolados cabelos vermelhos, a menina é uma figura vibrante e cativante, que consegue fazer de seu filme algo muito mais do que poderia ser.

A batida história do filme fala daquela típica relação conflituosa entre mãe e filha adolescente. Enquanto a rainha Elinor se porta como uma verdadeira monarca, Merida prefere viver na floresta, no lombo de seu cavalo, a praticar tiro ao alvo nos troncos das árvores. A situação se complica mais ainda quando Elinor, junto do rei Fergus, decidem que sua filha deve se casar com o herdeiro de um dos três clãs mais importantes da Escócia. Merida, obviamente, não aceita bem a ideia e decide confrontar a sua mãe ao estragar o evento no qual seu marido seria escolhido.

Após uma série de longas e intensas discussões, Merida decide se vingar de sua mãe e entra em contato com uma bruxa que se disfarça de artesã. A senhorinha joga, então, um feitiço na rainha, como pedido pela menina de cabelos vermelhos. Porém, é aí que a história fica mais interessante, pois o feitiço trará consequências inimagináveis a Elinor que testarão o seu relacionamento com a filha.

Enquanto assistia ao filme, cheguei a conclusão de que este era o longa mais Dreamworks que a Pixar já havia produzido. Mas vale dizer, um ótimo filme da Dreamworks! Em "Valente", a ação é constante e as piadas pastelão são comuníssimas, principalmente quando os três irmãos mais novos de Merida estão em cena, entretanto, ainda há espaço para uma narrativa envolvente e bastante emocionante. O relacionamento entre Merida e Elinor é a maior qualidade do filme. Enfim, está mais para "Kung Fu Panda" do que "Bee Movie".

Como se já não fosse o bastante, "Valente" ainda tem um visual espetacular. As Highlands da Escócia já são naturalmente deslumbrantes, em animação então, nem se fala! Para completar, ainda tem animais ferozes e luzes mágicas para deixar o ambiente ainda mais selvagem, mas ao mesmo tempo, encantador. Além disso, tem também o cabelo ruivo de Merida. É simplesmente impressionante o trabalho exercido para fazer aquela verdadeira juba de cor rubra, tanto que foi criado um novo software só para possibilitar este feito.

Uma história antiga, mas ao mesmo tempo nova; uma heroína meiga, mas também revolucionária; qualidade técnica impecável; uma ótima trilha sonora composta pelo (olha só!) escocês Patrick Doyle; entre outros fazem de "Valente" uma experiência extremamente agradável aos olhos, aos ouvidos e à mente.

NOTA: 4/5


sexta-feira, 27 de julho de 2012

Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight)


Dir.: Christopher Nolan; Escrito por Jonathan Nolan e Christopher Nolan; Com Christian Bale, Michael Caine, Heath Ledger, Gary Oldman. 2008 - Warner (152 min. - 12 anos)


Uma das diferenças mais fáceis de se notar entre "Batman Begins" e "Batman - O Cavaleiro das Trevas" é a abundância de espaços abertos. Se em "Begins" era claro que certas partes da cidade de Gotham foram construídas em estúdio, como a área favelizada da cidade, conhecida como Narrows, em "O Cavaleiro das Trevas" é comum avistar largas avenidas, túneis extensos, vistas panorâmicas da cidade. É como se Gotham City estivesse mais exposta, vulnerável à ação de bandidos, o que em consequência, afeta a vida de seus habitantes. Eles também estão sujeitos a perigos maiores, a grandes dilemas e situações de extremo desespero. Não é por nada que este segundo filme da trilogia "Cavaleiro das Trevas" é um filme mais caótico (no bom sentido) que o seu antecessor.

Desta vez, a história é mais complexa, envolvendo mafiosos, empresários, funcionários públicos e o grande vilão do filme, o maníaco Coringa, interpretado de forma majestosa pelo finado Heath Ledger. O vilão mais famoso do homem-morcego é um homem atormentado, que procura no caos e na destruição uma forma de, quem sabe, aliviar a sua dor; ou talvez ele seja apenas um psicopata que se diverte com o sofrimento dos outros. Quem sabe? Nem a origem de suas cicatrizes sabemos ao certo, pois se num momento o culpado é seu pai, no outro é ele próprio. Daí, já podemos entender um pouco mais o porquê da história de "O Cavaleiro das Trevas" ser tão intrincada. Se o seu vilão é mais complexo do que Ra's Al Gul e o Espantalho (que por sinal tem uma pontinha no início do filme) juntos, por que a sua trama também não pode ser um pouco mais ambiciosa?

Como se isso já não fosse bastante, os outros personagens, principalmente Bruce Wayne também estão em momentos de extrema batalha psicológica. Bruce já não sabe mais se continua a ser o Batman e põe a vida daqueles que ama em perigo ou se desiste de tudo, mas deixa Gotham ruir diante do império dos criminosos. Enquanto isso, sua amada, Rachel Dawes, fica na dúvida entre uma vida estável com o mais bem-sucedido promotor da cidade, Harvey Dent, ou se se joga de cabeça numa paixão talvez mais intensa, mas certamente mais perigosa com Bruce Wayne.

Para aumentar o clima de tensão, os diálogos dramáticos falhos de "Begins" dão espaço a frases mais obscuras e indecisas entre a esperança ou a perda total de qualquer tipo de fé. Apesar dos espaços abertos, a cidade e seus cidadãos estão cada vez mais confinados num mundo de violência e sofrimento, onde, entre os poderosos, apenas os mais fortes sobrevivem; por outro lado, os civis estão no meio da linha de tiro, esperando apenas a sua vez de serem mortos ou de cederem às tentações da corrupção. A trilha sonora pesada de James Newton Howard e Hans Zimmer intensifica ainda mais essas sensações.

Apesar de em muitos aspectos apresentar uma melhora significativa quanto ao filme anterior da franquia, "Batman - O Cavaleiro das Trevas" não é a obra-prima que tanto se fala e também é mais cansativo, uma consequência de sua natureza mais difícil e densa. Mesmo assim, não deixa nada a desejar a qualquer filme de super-herói e é um segundo capítulo memorável, graças principalmente às cenas do Coringa de Ledger, da trilogia de um dos personagens mais famosos dos quadrinhos.

NOTA: 4/5


quinta-feira, 26 de julho de 2012

Batman Begins (Batman Begins)


Dir.: Christopher Nolan; Escrito por Christopher Nolan e David S. Goyer; Com Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson, Katie Holmes. 2005 - Warner (140 min. - 10 anos)


Um dos aspectos mais interessantes da franquia do super-herói Batman é a diversidade de seus filmes. Cada um de seus três diretores conseguiu imprimir um estilo próprio aos capítulos que comandou, trazendo, portanto, à série vários pontos-de-vista do mesmo personagem.

O primeiro a adaptar as histórias em quadrinhos do homem-morcego para o cinema, Tim Burton, adotou o seu estilo de sempre: gótico e irônico. Tanto em "Batman" (1989) quanto em "Batman - O Retorno" (1992), a Gotham expressionista de Burton, escura e assustadora, era recheada de personagens bastante excêntricos, para dizer o mínimo. O Coringa de Jack Nicholson que invade um museu ao som de Prince e o grotesco e caricato Pinguim, vivido por Danny DeVito, são os melhores exemplos dessa mistura.

O diretor seguinte, Joel Schumacher, trouxe de volta o clima exagerado e psicodélico da série de tevê sessentista protagonizada por Adam West. Em "Batman Eternamente", o Charada invade a batcaverna da maneira mais abilolada possível e o "Duas Caras" comanda um show de circo. Isso sem contar o close na bunda do herói ao colocar seu icônico uniforme. No filme seguinte, "Batman e Robin", parece que Gotham é uma versão em maior escala da Toys r' Us. Isso já diz tudo, não?

O terceiro e mais recente diretor da franquia é o britânico Christopher Nolan. Se Burton fez filmes fiéis ao seu estilo de filmar e Schumacher transformou Gotham num show de luzes e pirotecnia, Nolan resolveu despir a cidade e seus personagens de qualquer brilho ou glamour. Ele criou um Batman sem photoshop, digamos assim. Daí surgiu "Batman Begins".

Este primeiro filme da trilogia "Cavaleiro das Trevas" já tem a seu favor o fato de ter sido o primeiro filme do herói a realmente contar a sua origem. Apesar de ter sido apresentada no filme de Tim Burton, lá ela era apenas coadjuvante, explorada de maneira superficial. No filme de Nolan não! Em "Begins" primeiro é estudado o homem por trás da máscara, o milionário Bruce Wayne, atormentado pela morte de seus pais e pela decadência de Gotham, cada vez mais corrompida. Só depois o Batman aparece e tem-se início o filme de super-herói que conhecemos. Para se ter uma noção, Bruce só aparece vestido a caráter com quase uma hora de filme.

A partir deste prólogo começamos a ter noção da situação deplorável em que Gotham City se encontra. O roteiro de Nolan e David S. Goyer não esconde a sujeira de uma cidade outrora próspera. O número de criminosos só aumenta, a miséria toma conta das ruas e dos viadutos, a moral é uma virtude esquecida. Tudo isso é mostrado de uma maneira nua e crua, sem nenhum tipo de embelezamento.

Para poder combater esta situação, Bruce viaja pelo mundo para viver lado a lado da criminalidade, entendê-la a fundo. Quando volta, depois de passar uma época na prisão e outra num treinamento intensivo, cortesia da Liga das Sombras, liderada por Ra's Al Ghul, Bruce esta determinado a fazer justiça com as próprias mãos sob a forma de uma ideia, um símbolo que represente o seu maior medo: os morcegos. Nasce o Batman, aquele pelo qual todos esperavam, a salvação de Gotham, mas por outro lado aquele do qual todos temem.

Sem querer estragar a diversão, paro por aqui, mas digo o seguinte: o maior triunfo de "Batman Begins" não é ser um ótimo filme de super-herói, afinal ele sofre de clichês presentes em vários filmes do gênero como um romance meio chocho e alguns diálogos dramáticos bastante piegas; mas sim ser um ótimo filme sobre a capacidade do homem em se corromper, sobre a falta de esperança e sobre a necessidade de agir. 

Quem quer viver em meio a mafiosos como o Falcone vivido por Tom Wilkinson ou pelo dr. Jonathan Crane, que usa a sua persona, Espantalho, para lotar as celas do sanatório Arkham e enriquecer em cima do julgamento de criminosos? Ninguém. Por que faltam mulheres como Rachel Dawes, a promotora vivida por Katie Holmes, e homens como Jim Gordon, o policial interpretado por Gary Oldman, pessoas que lutam contra a impunidade na nossa sociedade? Por que temos medo das consequências. O problema é que precisamos enfrentar o medo para conseguir nos livrar da maldade, assim como o Batman, Rachel e Jim. E essa é a mensagem no coração de "Batman Begins".

NOTA: 4/5


terça-feira, 24 de julho de 2012

A Era do Gelo 4 (Ice Age: Continental Drift)


Dir.: Steve Martino e Michael Thurmeier; Escrito por Michael Berg e Jason Fuchs; Com Denis Leary, John Leguizamo, Ray Romano, Queen Latifah. 2012 - Fox (88 min.)


A franquia "A Era do Gelo" é um daqueles sucessos à prova de tudo. A série nunca foi das mais elogiadas pelos críticos, muitos dizem que ela apenas repete a formula que deu certo no primeiro filme até à exaustão. Os protagonistas sempre se perdem e precisam encontrar o caminho para casa, o esquilo Scrat tenta sempre guardar a sua noz e nunca consegue, as piadas são, em sua maioria, pertencentes ao ramo da comédia pastelão e por aí vai. Entretanto, a cada novo filme lançado, a franquia arrecada mais e mais dinheiro. Consequentemente, os executivos da Fox ficam ainda mais ricos e novos filmes da marca são encomendados. Mas afinal, qual é o poder que "A Era do Gelo" joga sobre o público? Simples, apesar de não serem ambiciosos, os filmes da série são sempre divertidos.

E isto continua no quarto filme da série. Apesar de ser o menos inspirado da saga, "A Era do Gelo 4" consegue ainda assim ser um passatempo agradável à todas as idades, pois manteve em sua base os elementos que deram certo nos três filmes anteriores. Porém, é necessário lembrar que a série começa a mostrar sinais de cansaço.

Neste novo capítulo, numa tentativa frustrada de guardar uma noz, Scrat provoca a deriva continental, afetando a vida de diversos animais, entre eles o trio de protagonistas: o mamute Manny, o tigre dentes-de-sabre Diego e a preguiça Sid. Com a separação dos continentes, os três acabam se afastando de seus amigos e familiares e se veem na difícil missão de voltar para casa sãos e salvos.

Porém, as coisas complicam quando um grupo de piratas, liderado pelo Capitão Entranha, intercepta o caminho dos três amigos e os obriga a fazer parte de sua tripulação, o que acarreta em abandonar o plano de rever os seus familiares.

Enquanto isso, Ellie e Amora, esposa e filha de Manny, junto de seus amigos, tentam ir para um local mais seguro e se salvar da enorme catástrofe prestes a acontecer.

Um problema bastante irritante em "A Era do Gelo 4" é que enquanto a história principal, envolvendo Manny, Sid e Diego, é muito divertida, a trama secundária, que envolve os familiares do grupo é extremamente bobinha e convencional. Neste pedaço do filme, as atenções se voltam para as angústias vividas por Amora, a filha adolescente bem chatinha de Manny. Os clichês são vários: ela se desentende com o pai constantemente, está apaixonada pelo mamute mais bonito da região, tem um amigo apaixonado por ela, sua mãe diz que ela tem que ser quem ela é, etc. Enfim, aquela bobagem motivacional de sempre.

Entretanto, apesar da trama principal ser, no geral, envolvente, em alguns momentos ela também cansa. A principal causa disso é a ação ininterrupta. Se por um lado, a história de Amora é devagar quase parando, as aventuras de Sid, Manny e Diego são hiperativas, para dizer o mínimo. Quando uma luta acaba, uma tempestade já começa, e em seguida já se inicia uma nova luta. Enfim, quando chega no clímax do filme, o espectador já está exausto de tanta confusão.

Outra prova de que a série já está na hora de acabar é o esquilo Scrat. Apesar de ainda ser responsável pelas melhores cenas do filme, as suas peripécias já não são tão engraçadas quanto eram nos filmes anteriores.

No final das contas, "A Era do Gelo 4" mostra que a franquia já não tem mais o mesmo fôlego de outrora. Ainda assim, tem qualidades o suficiente (como a inclusão de uma nova personagem ótima, a avó maluca de Sid) para cumprir o seu papel de entretenimento descartável e inofensivo, mas bastante eficiente.

P.S.: Por estar em São Paulo, pude aproveitar a oportunidade e assistir ao filme na primeira sala 4D do país, localizada no Cinépolis do Shopping JK Iguatemi. O que posso dizer é que para quem já experimentou esta tecnologia antes em algum parque de diversões, a experiência pode ser um pouco frustrante já que não são apenas 10-15 minutos e sim 1 hora e meia de cadeira balançando, vento soprando e água espirrando. Porém, para quem (como eu) nunca havia ido numa sala 4D antes, a diversão é garantida.

Entretanto fica a dúvida: será que isso vai dar certo num multiplex convencional? Afinal, o ingresso é bem salgado e os filmes em exibição são longa-metragens e não curtas.

NOTA: 3/5


quinta-feira, 12 de julho de 2012

Extermínio (28 Days Later)


Dir.: Danny Boyle; Escrito por Alex Garland; Com Cillian Murphy, Naomie Harris, Brendan Gleeson. 2002 - Fox (113 min. - 16 anos)


Danny Boyle fez um enorme sucesso no Reino Unido com seus dois primeiros filmes, "Cova Rasa" e "Trainspotting - Sem Limites". Seus dois filmes seguintes, "Por Uma Vida Menos Ordinária" e "A Praia", filmados nos EUA, não foram bem-sucedidos, principalmente com a crítica especializada. Portanto, Boyle fez o que todo diretor esperto faz quando não encontra sucesso no exterior: volta para a sua terra natal. E este retorno à Inglaterra deu origem a "Extermínio", um de seus filmes mais conhecidos.

A trama do longa é centrada em Jim, um entregador que acorda na cama de um hospital vazio e depredado. Ao sair nas ruas de Londres, percebe que estas estão vazias, inclusive os locais que costumam ser bastante movimentados como os arredores do Big Ben ou a Picadilly Circus. Durante estas andanças ele encontra Selena, uma mulher que lhe conta toda a verdade: em apenas 28 dias, a Inglaterra foi tomada por um vírus transmitido pelo sangue e pela saliva, o que acarretou a evacuação da cidade; e a partir daí, quem sobreviveu à epidemia tem que lutar pela própria vida, já que os infectados estão soltos pelas ruas.

Então, num ato de esperança, Jim e Selena, juntos de Frank e Hannah (pai e filha que lhes acolheram num momento de necessidade), partem em direção a Manchester, onde há um grupo do exército oferecendo a cura para esse mal. Só que, como já podemos esperar, isso é apenas o início de uma série de desventuras.

Após essa descrição, pode-se dizer que a história de "Extermínio" é simples. Porém, a grande jogada do roteirista Alex Garland é que, na verdade, o filme é uma crítica ao governo, principalmente às Forças Armadas. No longa, a epidemia é usada apenas para dar chance aos soldados britânicos mostrarem o seu pior lado, as suas atitudes mais baixas. Podemos até considerar a possibilidade de que os infectados são pessoas melhores do que os integrantes do exército apresentados no filme. Infelizmente, não posso contar muito mais sem estragar a história, então é melhor pararmos por aqui e falarmos sobre o filme sob uma perspectiva técnica.

Assim como todos os outros filmes de Boyle, o filme é visualmente marcante. No caso de "Extermínio", o sangue "vomitado" pelos infectados e seus vibrantes olhos vermelhos são as grandes marcas estéticas do filme. 

O elenco também esta ótimo. Cillian Murphy está muito bem como o protagonista Jim, assim como Naomie Harris como Selena. Por sinal, diria que ela é quem tem a performance mais forte do filme, já que sua personagem é também a mais atormentada. Enquanto isso, Brendan Gleeson e Megan Burns, como Frank e Hannah, apesar de serem personagens secundários também brilham. Isso sem contar com o major duas-caras vivido por Christopher Eccleston, de suma importância no último ato do longa.

Enfim, é uma pena não poder falar muito mais sobre "Extermínio" sem estragar o seu final, no mínimo, perturbador. Entretanto, posso dizer que é um filme de terror que apesar de não ser perfeito, merece ser conferido.

NOTA: 3.5/5


O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man)


Dir.: Marc Webb; Escrito por James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves; Com Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans. 2012 - Sony (136 min. - 10 anos)


Algum tempo após o lançamento de "Homem-Aranha 3" especulou-se sobre a produção de um quarto capítulo na saga do famoso herói aracnídeo. As dúvidas eram muitas: o diretor Sam Raimi voltaria para mais um filme?; o elenco original estaria disposto a viver mais uma vez os mesmos personagens?

No final das contas, o projeto de "Homem-Aranha 4" foi cancelado. Entretanto, a Sony Pictures precisava produzir um filme do super-herói caso não quisesse perder os direitos de sua franquia mais lucrativa para a Marvel; ainda mais num momento em que a famosa editora resolveu investir em incursões cinematográficas de seus personagens. A solução mais óbvia foi fazer um "reboot", ou seja, relançar a série com diretor, atores e alguns personagens novos. Daí nasceu "O Espetacular Homem-Aranha".

Sem dúvida, o estúdio tomou riscos imensos. O primeiro deles foi recomeçar a franquia apenas cinco anos depois do lançamento do terceiro filme da trilogia original, que por sua vez, teve início em 2002, exatamente dez anos antes. Fica, então, a pergunta: o publico vai sentir alguma necessidade em ver a mesma história ser contada novamente num espaço de tempo tão pequeno?

Outra jogada arriscada foi a contratação do diretor Marc Webb para comandar o novo filme. Apesar de ser um veterano do mundo dos videoclipes, Webb só havia dirigido um único filme, a comédia romântica "500 Dias com Ela". Esse filme, apesar de ter sido bastante elogiado, tinha custado apenas US$7,5 milhões e tinha um roteiro formado, basicamente, por diálogos. Outra grande dúvida: será que ele seria a pessoa certa para dirigir um filme deste porte, com orçamento de US$230 milhões, e recheado de cenas de ação? Afinal, é sempre bom lembrar o caso de "Hulk", dirigido por Ang Lee. O diretor era bastante reconhecido, mas a sua adaptação não foi bem recebida nem pelos críticos nem pelo público.

Finalmente, depois de tanta polêmica e incógnitas em torno do projeto, "O Espetacular Homem-Aranha" estreou com um ligeiro saldo positivo. Em sua semana de estreia, o filme arrecadou mais de US$300 milhões em todo o mundo - um número notável -, entretanto, o filme é um pouco decepcionante no que diz respeito à qualidade.

O longa tem sim muitos pontos positivos. O principal deles são os protagonistas vividos por Andrew Garfield e Emma Stone. Garfield, apesar de não se encaixar tão bem no papel quanto Tobey Maguire, que nasceu para interpretar o herói, consegue se sair muito bem na sua missão de criar empatia entre Peter Parker e o público. Seja em suas cenas com Emma ou com a veterana Sally Field, intérprete da tia May, Garfield é extremamente simpático e faz de Parker aquele amigo que todos gostariam de ter. Enquanto isso, Stone, que se firma cada vez mais como uma grande estrela em Hollywood, tem ótimos momentos com Garfield e traz uma personalidade para a personagem de Gwen Stacy (apresentada na trilogia original apenas em "Homem-Aranha 3", onde foi interpretada por Bryce Dallas Howard, que por sinal, trabalhou com Stone em "Histórias Cruzadas").

Além disso, as cenas de ação em "O Espetacular Homem-Aranha" são muito boas, principalmente a luta entre o Homem-Aranha e o Lagarto dentro de uma escola. Já que os dois personagens conseguem escalar paredes e andar no teto, os produtores conseguiram criar sequências, no mínimo, atípicas. Claro que os efeitos especiais ajudam e muito nesse quesito e, felizmente, os de "O Espetacular Homem-Aranha" são muito bons.

Por fim, o vilão deste novo capítulo na franquia do aracnídeo é bastante interessante. O Dr. Curtis Connors/Lagarto é um daqueles vilões que não são essencialmente maus, mas sim obcecados por suas criações. Tanto que em alguns momentos ele lembra o Dr. Octopus de "Homem-Aranha 2", que assim como o Lagarto, é um gênio que começa a enlouquecer.

Porém, como já falamos antes, o filme é uma decepção. Primeiro de tudo, a tal história que explicaria o porquê do sumiço dos pais de Peter Parker, chamada de a "história não revelada" pelos publicitários do filme, serve simplesmente de trampolim para apresentar o grande vilão do filme, o Lagarto. Depois que este aparece pela primeira vez, a trama dos pais de Peter é praticamente esquecida, portanto, pelo que dá para entender essa história deve ser melhor desenvolvida nos próximos filmes da série. Mas, ainda assim, não deixa de ser uma propaganda enganosa.

Outro problema é que a história do filme propriamente dita, o embate entre o Homem-Aranha e o Lagarto, demora para começar, já que a origem do herói é explicada mais uma vez. Dessa forma, tem-se novamente as cenas de Peter Parker descobrindo os seus poderes, de Peter Parker pulando de prédios, do tio Ben sendo assassinado e por aí vai. Esta parte do filme rende ate alguns bons momentos como a cena do metrô, em que Peter enfia a pancada  num grupo de beberrões, mas não deixa de parecer um déja vu de vez em quando.

O filme também sofre da carência de cenas realmente empolgantes ou até memoráveis. Se no primeiro filme do Homem-Aranha tinha cenas que até hoje são lembradas como aquele beijo de cabeça para baixo entre o aracnídeo e Mary Jane ou o primeiro confronto entre o Homem-Aranha e o Duende Verde em meio à uma parada de balões e bonecos infláveis gigantes, neste novo longa não há nenhum momento que eu vejo sendo recordado daqui a alguns anos. O final também tem alguns trechos que não me agradaram como aquele em que todos os guindastes se alinham para ajudar o Aranha chegar até a Torre Oscorp, onde o Lagarto está pondo em prática o seu plano maligno. Piegas seria a palavra ideal.

Para quem nunca teve contato com a trilogia dirigida por Sam Raimi, "O Espetacular Homem-Aranha" deve ser um filmaço. Mas para quem, como eu, já conhece a origem do herói e já viu os filmes anteriores, principalmente os dois primeiros, esse novo filme está longe de ser espetacular. Digamos que bom está mais do que apropriado. 

NOTA: 3/5


segunda-feira, 9 de julho de 2012

Para Roma com Amor (To Rome with Love)


Dir.: Woody Allen; Escrito por Woody Allen; Com Woody Allen, Roberto Benigni, Alec Baldwin, Penélope Cruz. 2012 - Paris (112 min. - 12 anos)


A viagem de Woody Allen pela Europa começou em 2005, depois de uma onda de fracassos no EUA no início da década de 2000. Desde então, apenas "Tudo Pode Dar Certo" de 2009 foi filmado na sua amada Nova York. Enquanto isso, a aventura que começou em Londres se expandiu para outros países como Espanha, França e agora, Itália.

Dessa viagem resultaram-se sete filmes que vão do ótimo como o primeiro da safra, o londrino "Match Point - Ponto Final", ao razoável como "Você Vai Conhecer o Homem dos Seus Sonhos", também concebido em Londres. O último filme desse grupo, "Para Roma com Amor" está no meio desses dois extremos: não é o melhor deles, mas por outro lado, é um filme muito simpático e divertido.

O longa é uma antologia de contos, a primeira de Allen desde "Tudo o que Você Sempre Quis Saber Sobre Sexo, mas Tinha Medo de Perguntar" há quarenta anos atrás. Porém, ao invés de ser divido em segmentos como o filme de 1972, "Para Roma com Amor" entrelaça os seus quatro contos, portanto, o início, o meio e o fim deles acontecem simultaneamente.

O primeiro conto conta a história de um jovem casal que se conhece nas ruas de Roma - ele é italiano, Michelangelo, e ela é americana, Hayley - e que se apaixona quase que instantaneamente. Em pouco tempo, Hayley já conhece toda a família de Michelangelo, porém, ele deseja conhecer os pais dela, afinal se eles quiserem deixar o relacionamento mais sério, precisam do aval dos pais da moça.

Quando estes chegam, não deixam uma boa impressão, principalmente o pai de Hayley, um diretor de ópera aposentado que, após ouvir o pai de Michelangelo cantando lindamente no chuveiro, insiste na ideia de fazê-lo uma estrela dos palcos. O problema é que ele só canta bem debaixo d'água.

Como não é bobo nem nada, Woody Allen escreveu o melhor personagem do filme para ele interpretar como também o conto do qual participa é o mais engraçado. A premissa é inusitada, as piadas funcionam, os personagens são bons etc. Isso sem contar com a ótima parceria entre Allen e Judy Davis, que fazem os pais de Hayley; os dois estão simplesmente ótimos em seus respectivos papéis.

O segundo conto baseia-se naquela famosa frase de Andy Warhol: "no futuro toda a gente será famosa por quinze minutos". Nele, um pacato trabalhador romano, da noite para o dia, torna-se a nova sensação da Itália, sendo chamado para participar de programas de tevê e pré-estreias de filmes. Mas por quê? Ele não fez nada de importante, não é ator ou cantor. Simples, ele é famoso por ser famoso.

Esse é outro conto que dá certo por causa de sua premissa absurda, que cria possibilidade para piadas extremamente engraçadas como a primeira entrevista de Leopoldo, o cidadão celebridade, para a televisão. As perguntas são tão idiotas que nos fazem rir loucamente. Além disso, Roberto Benigni não faz feio e deixa as situações ainda mais engraçadas.

O terceiro conto mostra a chegada de um casal, Antonio e Milly, do interior à Roma para se encontrar com um grupo de familiares aristocráticos que podem dar um ótimo emprego a Antonio. Porém, quando vai buscar um cabeleireiro, Milly se perde nas ruas da cidade e não consegue chegar a tempo ao encontro. Enquanto isso, Antonio recebe a visita de uma prostituta, Anna, que diz ter sido paga para satisfazer os seus desejos. Entretanto, a situação se complica quando os tais aristocratas encontram Antonio e Anna em cima da cama em trajes não muito adequados. Por causa disso, Anna tem que fingir ser Milly para que Antonio não perca o emprego que pode mudar a sua vida.

Esse é outro conto bastante interessante. Não é o mais engraçado deles, mas possui momentos bastante inspirados, principalmente aqueles que envolvem a garota de programa vivida pela ótima Penélope Cruz, que apesar de ser espanhola, aqui fala italiano o tempo todo. Além disso, o desfecho, mesmo sendo bem louco, não deixa de ser engraçado e até um pouco surpreendente.

Por fim, o quarto e último conto narra a confusão mental pela qual um estudante de arquitetura americano chamado Jack passa quando ele começa a se apaixonar pela melhor amiga da sua namorada. Enquanto isso, um arquiteto experiente chamado John tenta lhe dar os melhores conselhos para evitar que ele cometa o grande erro de abandonar a sua namorada por Monica, a instável melhor amiga.

Esse é, de longe, o conto menos interessante. Apesar de ter bons momentos, como aquele em que Monica conta como foi a sua primeira transa com uma mulher, e ter uma sacada interessante já que ficamos na dúvida se John é a consciência de Jack ou vice-versa, esse é o trecho menos inspirado do longa, sendo, portanto, aquele mais escasso em risadas. Mesmo assim, o elenco está super bem, principalmente a dupla de arquitetos vivida por Jesse Eisenberg e Alec Baldwin.

Por ser uma antologia de contos, já era de se esperar que "Para Roma com Amor" não fosse perfeito, afinal sempre há um conto que se sobressai e outro que decepciona. Além disso, uns 15 minutos a menos fariam muito bem ao filme. Mesmo assim, esta primeira viagem de Woody Allen à Itália é tão boa quanto uma deliciosa macarronada.

NOTA: 3.5/5


sábado, 7 de julho de 2012

O Homem do Futuro


Dir.: Cláudio Torres; Escrito por Cláudio Torres; Com Wagner Moura, Alinne Moraes, Maria Luísa Mendonça, Fernando Ceylão. 2011 - Paramount (106 min.)


Uma das críticas mais comuns feitas a "O Homem do Futuro" era de que o longa de Cláudio Torres parecia mais um filme americano do que brasileiro. Mas que bobagem! Tudo bem que, realmente, o filme não retrata a realidade brasileira, mas quem disse que todo filme brasileiro tem que ser um retrato da realidade? Por acaso o nosso cinema deve se restringir a filmes situados em favelas, recheados de cenas de violência e sexo? O povo não tem o direito de se divertir e esquecer por meras duas horas a dura realidade brasileira? Pois, então, digo: apesar de ser um filme "americanizado", "O Homem do Futuro" é bastante divertido, simplesmente pelo fato de fugir do estereótipo do "favela movie", cada vez mais enraizado em nossa cultura. Nada contra esse tipo de filme, mas o cinema nacional não deve se restringir a apenas isso, mesmo que tenha que pegar emprestado elementos de outros "cinemas" para poder fugir da mesmice.

Em "O Homem do Futuro" é contada a história de Zero, um brilhante cientista que é atormentado por uma decepção amorosa do passado. Por causa disso, ele resolve investir dias e noites em pesquisas a fim de desenvolver um acelerador de partículas capaz de levá-lo para o passado. Dessa forma, ele poderia impedir o momento a partir do qual a sua vida se tornou um inferno e, por tabela, conquistar a mulher de seus sonhos.

Porém, apesar de conseguir viajar do ano de 2011 até 1991 e chegar à festa onde tudo aconteceu, Zero vai começar a perceber que mexer no tempo pode ser uma verdadeira armadilha; e o pior, as consequências podem ser bastante difíceis de resolver.

Cheio de reviravoltas no tempo, universos paralelos e referências a Albert Einstein, "O Homem do Futuro", devo admitir, começa com o pé esquerdo. As cenas que antecedem a primeira viagem de Zero através do tempo são extremamente acima do tom, praticamente caricaturescas. Até mesmo Wagner Moura, um ator super competente, consegue ficar canastrão à beça. Felizmente, quando os dois Zeros se encontram (o do passado e o do presente), o filme perde este tom exagerado e começa a realmente envolver.

Apesar do roteiro não ser algo realmente original (quem já viu "De Volta Para o Futuro" vai perceber algumas similaridades entre os dois filmes, inclusive o fato de ambos se desenrolarem em torno de uma festa), ele é um dos fatores que faz do filme um sucesso. Os personagens são interessantes, o casal principal é simpático, o protagonista é alguém por quem a gente sente vontade de torcer, entre outros. Além disso, tudo ganha uma proporção maior, pois o elenco também é bastante eficiente: Wagner Moura e Alinne Moraes estão ótimos, Maria Luísa Mendonça está muito divertida como Sandra (principalmente no passado) e Gabriel Braga Nunes convence como vilão; só mesmo Fernando Ceylão não me agradou porque ele não consegue largar o tom exagerado do início do filme.

Como se já não bastasse, é também um orgulho ver como o cinema brasileiro tem melhorado a qualidade técnica de seus filmes. Apesar de alguns ainda terem cara de produção barata, outros como "O Homem do Futuro" não deixam nada a desejar a uma produção hollywoodiana. A direção de arte, o figurino, a fotografia, os efeitos especiais: todos de muito boa qualidade. 

Além de ser uma raridade no cinema nacional, já que é um filme de ficção cientifica, "O Homem do Futuro" consegue se sair bem em sua missão de trazer diversão descompromissada, mas sem deixar de lado uma história de qualidade e inteligente, como muitos sucessos nacionais andam ignorando. Fica aqui, então, a esperança pela maior diversidade do cinema brasileiro e pelo fim do estereótipo de que apenas fazemos filmes sobre violência e miséria. Temos um país riquíssimo culturalmente e por isso mesmo não temos a obrigação de fazer sempre o mesmo tipo de filme.


NOTA: 3.5/5


sexta-feira, 6 de julho de 2012

A Praia (The Beach)


Dir.: Danny Boyle; Escrito por John Hodge; Com Leonardo DiCaprio, Tilda Swinton, Virginie Ledoyen. 2000 - Fox (119 min. - 18 anos)


Depois de ter ganhado notoriedade com seus dois primeiros filmes, "Cova Rasa" e "Trainspotting - Sem Limites", principalmente com o segundo, era apenas questão de tempo até que Danny Boyle fosse procurado pelos estúdios de Hollywood para iniciar a sua carreira nos EUA. Seu primeiro filme em solo estadunidense foi a comédia "Por Uma Vida Menos Ordinária", que foi um fracasso de bilheteria e de crítica. Uma pena, já que eu gostei bastante do filme.

Apesar disso, a 20th Century Fox, estúdio que distribuiu a comédia romântica com Ewan McGregor e Cameron Diaz, viu potencial em Boyle e lhe deu o sinal verde para filmar "A Praia", uma adaptação de 50 milhões de dólares do livro de Alex Garland protagonizada por um dos jovens atores mais cobiçados da época, Leonardo DiCaprio. O filme foi um sucesso comercial (sendo a maior bilheteria do diretor até "Quem Quer Ser um Milionário?" em 2008), entretanto foi detonado pela crítica. Dá para entender, afinal, apesar de não ser tão ruim quanto dizem, "A Praia" é sim um filme menor de Boyle.

No longa, um jovem americano de vinte e poucos anos chamado Richard viaja para Bangcoc, capital da Tailândia, no intuito de se divertir; em outras palavras, beber e fumar maconha. Entretanto, a viagem fica bem mais interessante quando ele conhece o homem hospedado no quarto ao lado: o lunático Perdido (ou Daffy em inglês), que lhe fala sobre uma ilha paradisíaca localizada no Golfo da Tailândia.

No dia seguinte, porém, Perdido é encontrado morto em seu quarto depois de ter cortado os próprios pulsos durante a noite. Mas antes de partir, deixa para Richard um mapa com o caminho para a tal ilha maravilhosa. O jovem, então, decide ir até lá junto de um casal de franceses também hospedado no hotel, Étienne e Françoise. Porém, ele não sabe que o que lhe espera é uma mistura de paraíso e inferno.

Para início de conversa, vamos citar as qualidades de "A Praia". Em primeiro lugar, Leonardo DiCaprio está bem como o protagonista da história. Não é nenhuma performance memorável, mas ele consegue carregar o filme sem problemas. Em segundo, o filme é, sem dúvida alguma, muito bonito visualmente. Tudo bem que as praias e florestas tailandesas contribuem, mas se tem uma coisa que Boyle consegue fazer com primor é imprimir um visual marcante aos seus filmes. Por último, o ritmo do longa é eficiente. Ele tem praticamente duas horas de duração e não cansa em momento algum.

Infelizmente, o filme tem defeitos, principalmente em seu roteiro. Apesar do bom ritmo, como já citamos, em certos momentos a história apresenta falhas incômodas. A principal delas refere-se a um trecho do longa em que Richard começa a perder a cabeça e torna-se, literalmente, um garoto das selvas. Não só este pedaço do filme tem uma cena digna de risadas involuntárias, ele também termina de forma abrupta, pois de uma cena para a outra, a loucura de Richard some e ele volta a ser o que era antes.

Outro problema do roteiro de John Hodges é a sua indecisão entre ser um filme sério para adultos ou um filme divertido para adolescentes. Há certos momentos extremamente fortes como quando um tubarão ataca alguns dos habitantes da ilha, deixando-os gravemente feridos. Porém, há outros extremamente bobos como a cena em que Richard, Étienne e Françoise chegam à praia do título ou quando Richard imagina estar dentro de um videogame. Isso tudo realçado pela trilha-sonora composta por Angelo Badalamenti, digna de filme da Sessão da Tarde.

Por fim, como é um filme americano passado na Tailândia não poderiam faltar os esteriótipos asiáticos. Em "A Praia", os locais estão sempre ou muito felizes, sorrindo de orelha à orelha, ou são bandidos casca-grossa munidos de rifles AK-47. 

Enfim, eu, pessoalmente, não recomendo "A Praia". Entretanto, também não acho que assisti-lo é uma total perda de tempo, afinal eu mesmo não o achei uma tortura ou uma experiência insuportável. É apenas uma diversão descartável que não faz mal a ninguém.

NOTA: 3/5


Por Uma Vida Menos Ordinária (A Life Less Ordinary)


Dir.: Danny Boyle; Escrito por John Hodge; Com Ewan McGregor, Cameron Diaz, Holly Hunter. 1997 - Fox (103 min. - 12 anos)


Como o cartaz do filme faz questão de deixar bem claro, "Por uma Vida Menos Ordinária" é uma história de amor distorcida dos mesmos criadores de "Trainspotting - Sem Limites". Só essa frase já deixa a entender que essa comédia romântica não é que nem as outras, apesar de ser bastante previsível; e realmente, "Por uma Vida Menos Ordinária" é, no mínimo, é uma viagem muito louca, mas nem por isso menos satisfatória.

O filme já começa com uma visão bastante bem-humorada do Céu, na qual este é representado como um escritório caótico todo pintado de branco comandado pelo arcanjo Gabriel, que está incrivelmente insatisfeito com a quantidade de divórcios que estão sendo assinados na Terra. Ele, então, chama dois de seus funcionários mais confiáveis, O'Reilly e Jackson, e lhes dá a difícil missão de unir dois completos opostos. Ainda por cima, caso eles falhem, eles serão condenados à vida terrestre para o resto da eternidade.

Os dois opostos que devem ser unidos a qualquer custo são Robert e Celine. Ele é um faxineiro que é demitido da firma onde trabalha, pois o seu cargo passou a ser ocupado por robôs, que podem fazer a mesma função muito mais rápido e sem reclamar ou perder tempo conversando. Enquanto isso, ela é uma herdeira que nunca teve que trabalhar em toda sua vida. Ao invés disso, seus dias se resumem a ficar à beira da piscina e praticar tiro ao alvo com os funcionários de sua mansão. Entretanto, as vidas de Robert e Celine se cruzam quando ele resolve se vingar de seu ex-chefe, sequestrando a sua filha que, coincidência ou não, é a Celine da qual já falamos.

Só pela sinopse já dá para perceber que "Por uma Vida Menos Ordinária" é um daqueles filmes frenéticos em que acontecem mil coisas ao mesmo tempo, mas apesar disso ser normalmente o defeito de muitos filmes, aqui é, talvez, a sua maior qualidade. Dessa forma, o filme nunca fica monótono; não há um único momento que se estenda mais do que deve. Enfim, o filme não sofre daquelas malditas "barrigas". Por outro lado, o seu ritmo acelerado pode ser um motivo de distanciamento para alguns. Portanto, fica aqui o aviso.

Outro ponto positivo do filme é o casal de protagonistas vivido por Ewan McGregor e Cameron Diaz. Os dois têm bastante química juntos e têm um ótimo timing para comédia. Cenas como a da cabine telefônica, na qual Celine ensina Robert a ameaçar alguém pelo telefone, ou a do karaokê só dão certo porque os dois atores estão muito bem. Se fosse outro casal, essas cenas, possivelmente, não teriam a mesma graça.

Falando em casal, os anjos vividos por Holly Hunter (O'Reilly) e Delroy Lindo (Jackson) também são bastante divertidos em suas inúmeras tentativas de juntar sequestrador e refém.

Recheado de humor negro e com uma fotografia vibrante, assim como o filme, "Por uma Vida Menos Ordinária" é, geralmente, visto com um dos piores longas do diretor Danny Boyle. Discordo totalmente! Me diverti muito e gostei de ver um filme mais leve depois dos densos "Cova Rasa" e "Trainspotting - Sem Limites".

NOTA: 3.5/5


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Trainspotting - Sem Limites (Trainspotting)


Dir.: Danny Boyle; Escrito por John Hodge; Com Ewan McGregor, Ewen Bremner, Jonny Lee Miller. 1996 - New Way Filmes (94 min. - 18 anos)


Quando foi lançado nos EUA, "Trainspotting - Sem Limites" causou diversas polêmicas, entre elas o destaque vai para uma criada pelo senador Bob Dole. Dole acusou o filme de glorificar o uso de drogas, mesmo não tendo visto o filme. Pura bobagem! Se o senador tivesse realmente assistido a "Trainspotting", ele teria visto que o filme faz exatamente o contrário, ele retrata as drogas da forma mais perturbadora possível. Se há algum momento em que as drogas são elogiadas durante os 94 minutos de duração, eu simplesmente o perdi.

Segundo filme do diretor Danny Boyle, "Trainspotting - Sem Limites" está junto de "Réquiem para um Sonho" de Darren Aronofsky na lista dos filmes que fazem qualquer um temer as drogas. Ambos usam bastante a linguagem visual para atrair o público e também para intensificar as suas respectivas mensagens. Nos dois casos o consenso é: as drogas não valem a pena!

No filme de Boyle é narrada a história de um jovem escocês chamado Mark Renton, viciado em drogas pesadas, principalmente a heroína. Apesar de sentir-se bem com esta situação (chega a dizer que heroína é melhor do que qualquer orgasmo), ele chega à conclusão de que precisa acabar com o seu vício caso queira melhorar de vida, profissional e socialmente. Entretanto, esta jornada é muito mais difícil do que ele pensava, já que todos os seus amigos são usuários de drogas e ele próprio não consegue deixá-las de lado.

O filme inicia, então, uma jornada frenética pelo mundo das drogas, mesclando realidade e imaginação. Por isso mesmo não é de se surpreender que uma das cenas mais famosas do filme é quando Renton entra, literalmente, dentro de uma privada para buscar supositórios de ópio (sim, isso existe!). Além disso, há também uma mistura de drama/suspense com comédia, algo com que Boyle já havia trabalhado em seu longa anterior, "Cova Rasa", obtendo resultados satisfatórios. Aqui a fórmula se repete e mais uma vez agrada.

Protagonizado por Ewan McGregor numa ótima performance e recheado de personagens excêntricos como Sick Boy, Spud e Begbie, por sua vez, muito bem interpretados por Jonny Lee Miller, Ewen Bremner e Robert Carlyle, respectivamente, não há muito o que falar sobre "Trainspotting - Sem Limites" sem estragar as reviravoltas da história ou diluir o impacto das cenas mais chocantes. Só posso dizer o seguinte: se você estiver disposto a ver cenas bem fortes, mas acompanhadas de uma boa e inteligente trama, vá em frente, pois você não vai se decepcionar.

NOTA: 4/5


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Cova Rasa (Shallow Grave)


Dir.: Danny Boyle; Escrito por John Hodge; Com Kerry Fox, Christopher Eccleston, Ewan McGregor. 1994 - New Way Filmes (92 min.)


Imagine que um dia você encontrasse dentro do seu apartamento uma maleta lotada de dinheiro. O que você faria? Ligaria para a polícia para devolvê-la ou a guardaria no lugar mais seguro da sua casa? Você gastaria o dinheiro ou doaria aos pobres? É exatamente esta confusão de ideias que dá origem ao filme "Cova Rasa".

No longa, um trio de amigos que vivem no mesmo apartamento está à procura de alguém que possa ocupar o quarto vazio do imóvel. Após diversas entrevistas com todo tipo de gente, eles decidem abrigar Hugo, um escritor, que à primeira vista, parece ser bastante normal. Entretanto, quando este se muda para o apartamento, suas atitudes começam a ficar cada vez mais estranhas. Até que um dia, os três amigos, suspeitando do fato de Hugo ficar trancado em seu quarto o dia inteiro, decidem arrombar a porta e ver o que está acontecendo lá dentro. Ao entrar no quarto, descobrem o cadáver de Hugo sobre a cama e uma maleta escondida. Dentro dela, há mais e mais notas de dinheiro.

Depois de um primeiro momento de incerteza, os amigos decidem, então, ficar com o dinheiro e esconder o corpo de Hugo, aos pedaços, no meio de uma floresta. Porém, com o passar do tempo, a situação começa a se complicar e a amizade dos três é posta em xeque.

Filme de estreia do inglês Danny Boyle (ganhador do Oscar por "Quem Quer Ser um Milionário?"), "Cova Rasa" é um daqueles filmes que começa meio irritante porque os protagonistas são pessoas bem antipáticas. Para se ter uma ideia, parecem aqueles amigos sem noção que todo mundo tem. Porem, quando o dilema dos personagens começa, a história ganha fôlego e envolve até à última cena. Não só pelo mistério envolvendo o dinheiro do falecido, mas também pela forma que os personagens começam a mudar drasticamente depois do acontecimento.

O mais prejudicado é, sem dúvida alguma, David, muito bem interpretado por Christopher Eccleston. Ele, que era o mais sensato de todos os três (tanto que foi quem mais questionou a ideia de ficar com o dinheiro e ocultar o corpo), é o que sofre a maior crise psicológica, principalmente por ter sido ele quem teve que, literalmente, fatiar o corpo e martelar a cara do cadáver, a fim de impossibilitar a sua identificação. Christopher incorpora muito bem a confusão que toma conta da cabeça de David e a frieza que o personagem adquire, muito bem mostrada num dos momentos mais importantes do filme.

Enquanto isso, os outros dois amigos, Juliet e Alex, interpretados, respectivamente, por Kerry Fox e Ewan McGregor, tentam aproveitar ao máximo a situação, causando a insatisfação de David. Juliet, principalmente, começa a perder a razão e a ficar deslumbrada com o dinheiro que ela agora pode gastar.

Mas talvez o mais interessante de tudo é como o filme, apesar de ser pesado e bastante violento, mantém o bom humor em diversas situações, principalmente na sequência do baile de caridade. Além disso, a fotografia do filme é caracterizada por cores bem fortes, especialmente o apartamento dos protagonistas, onde a maioria da ação do filme acontece, incluindo cenas violentas, criando, portanto, uma espécie de brincadeira entre este lado mais cômico do filme e o outro, mais sombrio e sério; o que pode dar origem a uma discussão sobre o lado bom e o lado ruim do crime que, diria eu, é o tema principal do longa.

Enfim, "Cova Rasa" não é para aqueles que não aguentam ver filmes muito fortes, porém para quem estiver disposto é uma hora e meia muito bem aproveitada.

NOTA: 4/5