Dir.: Marc Webb; Escrito por James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves; Com Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans. 2012 - Sony (136 min. - 10 anos)
Algum tempo após o lançamento de "Homem-Aranha 3" especulou-se sobre a produção de um quarto capítulo na saga do famoso herói aracnídeo. As dúvidas eram muitas: o diretor Sam Raimi voltaria para mais um filme?; o elenco original estaria disposto a viver mais uma vez os mesmos personagens?
No final das contas, o projeto de "Homem-Aranha 4" foi cancelado. Entretanto, a Sony Pictures precisava produzir um filme do super-herói caso não quisesse perder os direitos de sua franquia mais lucrativa para a Marvel; ainda mais num momento em que a famosa editora resolveu investir em incursões cinematográficas de seus personagens. A solução mais óbvia foi fazer um "reboot", ou seja, relançar a série com diretor, atores e alguns personagens novos. Daí nasceu "O Espetacular Homem-Aranha".
Sem dúvida, o estúdio tomou riscos imensos. O primeiro deles foi recomeçar a franquia apenas cinco anos depois do lançamento do terceiro filme da trilogia original, que por sua vez, teve início em 2002, exatamente dez anos antes. Fica, então, a pergunta: o publico vai sentir alguma necessidade em ver a mesma história ser contada novamente num espaço de tempo tão pequeno?
Outra jogada arriscada foi a contratação do diretor Marc Webb para comandar o novo filme. Apesar de ser um veterano do mundo dos videoclipes, Webb só havia dirigido um único filme, a comédia romântica "500 Dias com Ela". Esse filme, apesar de ter sido bastante elogiado, tinha custado apenas US$7,5 milhões e tinha um roteiro formado, basicamente, por diálogos. Outra grande dúvida: será que ele seria a pessoa certa para dirigir um filme deste porte, com orçamento de US$230 milhões, e recheado de cenas de ação? Afinal, é sempre bom lembrar o caso de "Hulk", dirigido por Ang Lee. O diretor era bastante reconhecido, mas a sua adaptação não foi bem recebida nem pelos críticos nem pelo público.
Finalmente, depois de tanta polêmica e incógnitas em torno do projeto, "O Espetacular Homem-Aranha" estreou com um ligeiro saldo positivo. Em sua semana de estreia, o filme arrecadou mais de US$300 milhões em todo o mundo - um número notável -, entretanto, o filme é um pouco decepcionante no que diz respeito à qualidade.
O longa tem sim muitos pontos positivos. O principal deles são os protagonistas vividos por Andrew Garfield e Emma Stone. Garfield, apesar de não se encaixar tão bem no papel quanto Tobey Maguire, que nasceu para interpretar o herói, consegue se sair muito bem na sua missão de criar empatia entre Peter Parker e o público. Seja em suas cenas com Emma ou com a veterana Sally Field, intérprete da tia May, Garfield é extremamente simpático e faz de Parker aquele amigo que todos gostariam de ter. Enquanto isso, Stone, que se firma cada vez mais como uma grande estrela em Hollywood, tem ótimos momentos com Garfield e traz uma personalidade para a personagem de Gwen Stacy (apresentada na trilogia original apenas em "Homem-Aranha 3", onde foi interpretada por Bryce Dallas Howard, que por sinal, trabalhou com Stone em "Histórias Cruzadas").
Além disso, as cenas de ação em "O Espetacular Homem-Aranha" são muito boas, principalmente a luta entre o Homem-Aranha e o Lagarto dentro de uma escola. Já que os dois personagens conseguem escalar paredes e andar no teto, os produtores conseguiram criar sequências, no mínimo, atípicas. Claro que os efeitos especiais ajudam e muito nesse quesito e, felizmente, os de "O Espetacular Homem-Aranha" são muito bons.
Por fim, o vilão deste novo capítulo na franquia do aracnídeo é bastante interessante. O Dr. Curtis Connors/Lagarto é um daqueles vilões que não são essencialmente maus, mas sim obcecados por suas criações. Tanto que em alguns momentos ele lembra o Dr. Octopus de "Homem-Aranha 2", que assim como o Lagarto, é um gênio que começa a enlouquecer.
Porém, como já falamos antes, o filme é uma decepção. Primeiro de tudo, a tal história que explicaria o porquê do sumiço dos pais de Peter Parker, chamada de a "história não revelada" pelos publicitários do filme, serve simplesmente de trampolim para apresentar o grande vilão do filme, o Lagarto. Depois que este aparece pela primeira vez, a trama dos pais de Peter é praticamente esquecida, portanto, pelo que dá para entender essa história deve ser melhor desenvolvida nos próximos filmes da série. Mas, ainda assim, não deixa de ser uma propaganda enganosa.
Outro problema é que a história do filme propriamente dita, o embate entre o Homem-Aranha e o Lagarto, demora para começar, já que a origem do herói é explicada mais uma vez. Dessa forma, tem-se novamente as cenas de Peter Parker descobrindo os seus poderes, de Peter Parker pulando de prédios, do tio Ben sendo assassinado e por aí vai. Esta parte do filme rende ate alguns bons momentos como a cena do metrô, em que Peter enfia a pancada num grupo de beberrões, mas não deixa de parecer um déja vu de vez em quando.
O filme também sofre da carência de cenas realmente empolgantes ou até memoráveis. Se no primeiro filme do Homem-Aranha tinha cenas que até hoje são lembradas como aquele beijo de cabeça para baixo entre o aracnídeo e Mary Jane ou o primeiro confronto entre o Homem-Aranha e o Duende Verde em meio à uma parada de balões e bonecos infláveis gigantes, neste novo longa não há nenhum momento que eu vejo sendo recordado daqui a alguns anos. O final também tem alguns trechos que não me agradaram como aquele em que todos os guindastes se alinham para ajudar o Aranha chegar até a Torre Oscorp, onde o Lagarto está pondo em prática o seu plano maligno. Piegas seria a palavra ideal.
Para quem nunca teve contato com a trilogia dirigida por Sam Raimi, "O Espetacular Homem-Aranha" deve ser um filmaço. Mas para quem, como eu, já conhece a origem do herói e já viu os filmes anteriores, principalmente os dois primeiros, esse novo filme está longe de ser espetacular. Digamos que bom está mais do que apropriado.
NOTA: 3/5
Nenhum comentário:
Postar um comentário