Dir.: Christopher Nolan; Escrito por Christopher Nolan e David S. Goyer; Com Christian Bale, Michael Caine, Liam Neeson, Katie Holmes. 2005 - Warner (140 min. - 10 anos)
Um dos aspectos mais interessantes da franquia do super-herói Batman é a diversidade de seus filmes. Cada um de seus três diretores conseguiu imprimir um estilo próprio aos capítulos que comandou, trazendo, portanto, à série vários pontos-de-vista do mesmo personagem.
O primeiro a adaptar as histórias em quadrinhos do homem-morcego para o cinema, Tim Burton, adotou o seu estilo de sempre: gótico e irônico. Tanto em "Batman" (1989) quanto em "Batman - O Retorno" (1992), a Gotham expressionista de Burton, escura e assustadora, era recheada de personagens bastante excêntricos, para dizer o mínimo. O Coringa de Jack Nicholson que invade um museu ao som de Prince e o grotesco e caricato Pinguim, vivido por Danny DeVito, são os melhores exemplos dessa mistura.
O diretor seguinte, Joel Schumacher, trouxe de volta o clima exagerado e psicodélico da série de tevê sessentista protagonizada por Adam West. Em "Batman Eternamente", o Charada invade a batcaverna da maneira mais abilolada possível e o "Duas Caras" comanda um show de circo. Isso sem contar o close na bunda do herói ao colocar seu icônico uniforme. No filme seguinte, "Batman e Robin", parece que Gotham é uma versão em maior escala da Toys r' Us. Isso já diz tudo, não?
O terceiro e mais recente diretor da franquia é o britânico Christopher Nolan. Se Burton fez filmes fiéis ao seu estilo de filmar e Schumacher transformou Gotham num show de luzes e pirotecnia, Nolan resolveu despir a cidade e seus personagens de qualquer brilho ou glamour. Ele criou um Batman sem photoshop, digamos assim. Daí surgiu "Batman Begins".
Este primeiro filme da trilogia "Cavaleiro das Trevas" já tem a seu favor o fato de ter sido o primeiro filme do herói a realmente contar a sua origem. Apesar de ter sido apresentada no filme de Tim Burton, lá ela era apenas coadjuvante, explorada de maneira superficial. No filme de Nolan não! Em "Begins" primeiro é estudado o homem por trás da máscara, o milionário Bruce Wayne, atormentado pela morte de seus pais e pela decadência de Gotham, cada vez mais corrompida. Só depois o Batman aparece e tem-se início o filme de super-herói que conhecemos. Para se ter uma noção, Bruce só aparece vestido a caráter com quase uma hora de filme.
A partir deste prólogo começamos a ter noção da situação deplorável em que Gotham City se encontra. O roteiro de Nolan e David S. Goyer não esconde a sujeira de uma cidade outrora próspera. O número de criminosos só aumenta, a miséria toma conta das ruas e dos viadutos, a moral é uma virtude esquecida. Tudo isso é mostrado de uma maneira nua e crua, sem nenhum tipo de embelezamento.
Para poder combater esta situação, Bruce viaja pelo mundo para viver lado a lado da criminalidade, entendê-la a fundo. Quando volta, depois de passar uma época na prisão e outra num treinamento intensivo, cortesia da Liga das Sombras, liderada por Ra's Al Ghul, Bruce esta determinado a fazer justiça com as próprias mãos sob a forma de uma ideia, um símbolo que represente o seu maior medo: os morcegos. Nasce o Batman, aquele pelo qual todos esperavam, a salvação de Gotham, mas por outro lado aquele do qual todos temem.
Sem querer estragar a diversão, paro por aqui, mas digo o seguinte: o maior triunfo de "Batman Begins" não é ser um ótimo filme de super-herói, afinal ele sofre de clichês presentes em vários filmes do gênero como um romance meio chocho e alguns diálogos dramáticos bastante piegas; mas sim ser um ótimo filme sobre a capacidade do homem em se corromper, sobre a falta de esperança e sobre a necessidade de agir.
Quem quer viver em meio a mafiosos como o Falcone vivido por Tom Wilkinson ou pelo dr. Jonathan Crane, que usa a sua persona, Espantalho, para lotar as celas do sanatório Arkham e enriquecer em cima do julgamento de criminosos? Ninguém. Por que faltam mulheres como Rachel Dawes, a promotora vivida por Katie Holmes, e homens como Jim Gordon, o policial interpretado por Gary Oldman, pessoas que lutam contra a impunidade na nossa sociedade? Por que temos medo das consequências. O problema é que precisamos enfrentar o medo para conseguir nos livrar da maldade, assim como o Batman, Rachel e Jim. E essa é a mensagem no coração de "Batman Begins".
NOTA: 4/5
Nenhum comentário:
Postar um comentário