Dir.: Cláudio Torres; Escrito por Cláudio Torres; Com Wagner Moura, Alinne Moraes, Maria Luísa Mendonça, Fernando Ceylão. 2011 - Paramount (106 min.)
Uma das críticas mais comuns feitas a "O Homem do Futuro" era de que o longa de Cláudio Torres parecia mais um filme americano do que brasileiro. Mas que bobagem! Tudo bem que, realmente, o filme não retrata a realidade brasileira, mas quem disse que todo filme brasileiro tem que ser um retrato da realidade? Por acaso o nosso cinema deve se restringir a filmes situados em favelas, recheados de cenas de violência e sexo? O povo não tem o direito de se divertir e esquecer por meras duas horas a dura realidade brasileira? Pois, então, digo: apesar de ser um filme "americanizado", "O Homem do Futuro" é bastante divertido, simplesmente pelo fato de fugir do estereótipo do "favela movie", cada vez mais enraizado em nossa cultura. Nada contra esse tipo de filme, mas o cinema nacional não deve se restringir a apenas isso, mesmo que tenha que pegar emprestado elementos de outros "cinemas" para poder fugir da mesmice.
Em "O Homem do Futuro" é contada a história de Zero, um brilhante cientista que é atormentado por uma decepção amorosa do passado. Por causa disso, ele resolve investir dias e noites em pesquisas a fim de desenvolver um acelerador de partículas capaz de levá-lo para o passado. Dessa forma, ele poderia impedir o momento a partir do qual a sua vida se tornou um inferno e, por tabela, conquistar a mulher de seus sonhos.
Porém, apesar de conseguir viajar do ano de 2011 até 1991 e chegar à festa onde tudo aconteceu, Zero vai começar a perceber que mexer no tempo pode ser uma verdadeira armadilha; e o pior, as consequências podem ser bastante difíceis de resolver.
Cheio de reviravoltas no tempo, universos paralelos e referências a Albert Einstein, "O Homem do Futuro", devo admitir, começa com o pé esquerdo. As cenas que antecedem a primeira viagem de Zero através do tempo são extremamente acima do tom, praticamente caricaturescas. Até mesmo Wagner Moura, um ator super competente, consegue ficar canastrão à beça. Felizmente, quando os dois Zeros se encontram (o do passado e o do presente), o filme perde este tom exagerado e começa a realmente envolver.
Apesar do roteiro não ser algo realmente original (quem já viu "De Volta Para o Futuro" vai perceber algumas similaridades entre os dois filmes, inclusive o fato de ambos se desenrolarem em torno de uma festa), ele é um dos fatores que faz do filme um sucesso. Os personagens são interessantes, o casal principal é simpático, o protagonista é alguém por quem a gente sente vontade de torcer, entre outros. Além disso, tudo ganha uma proporção maior, pois o elenco também é bastante eficiente: Wagner Moura e Alinne Moraes estão ótimos, Maria Luísa Mendonça está muito divertida como Sandra (principalmente no passado) e Gabriel Braga Nunes convence como vilão; só mesmo Fernando Ceylão não me agradou porque ele não consegue largar o tom exagerado do início do filme.
Como se já não bastasse, é também um orgulho ver como o cinema brasileiro tem melhorado a qualidade técnica de seus filmes. Apesar de alguns ainda terem cara de produção barata, outros como "O Homem do Futuro" não deixam nada a desejar a uma produção hollywoodiana. A direção de arte, o figurino, a fotografia, os efeitos especiais: todos de muito boa qualidade.
Além de ser uma raridade no cinema nacional, já que é um filme de ficção cientifica, "O Homem do Futuro" consegue se sair bem em sua missão de trazer diversão descompromissada, mas sem deixar de lado uma história de qualidade e inteligente, como muitos sucessos nacionais andam ignorando. Fica aqui, então, a esperança pela maior diversidade do cinema brasileiro e pelo fim do estereótipo de que apenas fazemos filmes sobre violência e miséria. Temos um país riquíssimo culturalmente e por isso mesmo não temos a obrigação de fazer sempre o mesmo tipo de filme.
NOTA: 3.5/5
Joao,
ResponderExcluirCritica muito bem escrita, leve, gostosa de ler e opinativa com assertividade..
Parabens !,
Vinicius