segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A Garota das Nove Perucas (Heute Bin Ich Blonde)


Dir.: Marc Rothemund; Escrito por Kati Eyssen; Com Lisa Tomaschewsky, David Rott, Karoline Teska, Jasmin Gerat. 2013 (115 min. - 14 anos)


O câncer é uma doença cada vez mais em voga nas discussões das pessoas. Talvez não haja uma única pessoa no mundo que não conheça outra que tenha câncer. Entretanto, é inegável que hoje em dia é mais fácil sobreviver à doença graças aos tratamentos, cada vez mais modernos. Porém, o câncer continua sendo uma doença tabu e que, sem dúvida alguma, ainda chama bastante atenção, especialmente quando o enfermo já tem a cabeça raspada. É a partir dessa constatação que saiu a história de "A Garota das Nove Perucas".

O filme tem como protagonista Sophie, uma jovem de 21 anos, recém-ingressa na universidade, que descobre que sofre de um câncer da pleura pulmonar raro e bastante agressivo. Consequentemente, o que se segue é um doloroso tratamento que fará Sophie mudar completamente de vida. Porém, quando seu cabelo começa a cair e ela decide raspar a cabeça, a jovem percebe que dessa situação aparentemente sem saída ela pode encontrar uma forma de não só disfarçar a sua doença, mas também de dar uma agitada em seu cotidiano até então resumido ao hospital: comprar perucas e dar a cada uma delas um pseudônimo e uma personalidade diferentes.

Em primeiro lugar, deve-se elogiar a ótima performance de Lisa Tomaschewsky como Sophie. A jovem atriz consegue carregar o filme nas costas, principalmente no primeiro ato, que é mais longo do que devia. Além disso, quando a sua personagem adota as várias personas, Lisa mostra ser uma intérprete versátil e bastante talentosa. Enfim, ela é, na minha humilde opinião, a principal razão de ir assistir ao filme.

O roteiro, porém, não fica atrás. Escrito por Kati Eyssen, baseado na autobiografia de Sophie van der Stap, o filme acompanha de forma realista e nem um pouco sensacionalista todo o tratamento do câncer, desde os primeiros exames até os estágios finais. Além disso, o longa contém diálogos bem escritos, que transitam entre o engraçado e o comovente com muita naturalidade. Mesmo assim, o filme sofre de alguns problemas de ritmo, principalmente no primeiro ato, que como já falei aqui, se estende mais do que devia e que poderia facilmente ter sido encurtado sem comprometer o enredo.

Não há muito mais o que dizer. Em poucas palavras, "A Menina das Nove Perucas" é uma comédia dramática que realmente consegue equilibrar os seus extremos, graças à direção competente de Marc Rothemund, e que merece a sua atenção não só por ser um filme que retrata de forma fiel a luta contra o câncer, mas também por ser simplesmente um bom filme.

NOTA: 3.5/5



domingo, 29 de setembro de 2013

Apenas Deus Perdoa (Only God Forgives)


Dir.: Nicolas Winding Refn; Escrito por Nicolas Winding Refn; Com Ryan Gosling, Kristin Scott Thomas, Vithaya Pansringarm. 2013 (90 min. - 16 anos)


Depois de ganhar o prêmio de melhor diretor no Festival de Cannes 2012 por seu ótimo "Drive" (que até entrou na 7ª posição da lista dos 10 melhores filmes de 2012 aqui do blog), o diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn arranjou para si uma dura missão: superar - ou pelo menos se igualar - ao seu maior sucesso comercial e de crítica. Seu mais novo filme, "Apenas Deus Perdoa", consegue isso? Não. Mas também não dá para dizer que o diretor não continua fazendo filmes interessantes.

Passado inteiramente em Bangcoc, o longa acompanha Julian, um homem americano, dono de uma academia de lutas bancada pelo tráfico de drogas, que resolve se vingar do assassino de seu irmão mais velho, Billy. Entretanto, Julian se comove com a história dele e o deixa vivo. Porém, quem chega à cidade para buscar o corpo do filho mais velho é Crystal, mãe de Julian e chefona de uma rede de tráfico internacional de drogas; e é ela quem vai botar em prática a vingança que Julian não teve a coragem de fazer.

"Apenas Deus Perdoa" funciona, às vezes, quase como um filme mudo, apostando na força de suas imagens para captar os espectadores. E que imagens! A excelente fotografia de Larry Smith é de encher os olhos, recheando a tela com cores fortes e vibrantes como o vermelho e o azul. O que não falta ao filme de Refn são belas imagens, já que até mesmo os mais grotescos atos de violência (que não são poucos) recebem um cuidado estético invejável.

Falando na violência, essa é pesadíssima! Até me surpreendi com a classificação 16 anos do filme. Tem de tudo que você imaginar: olho furado, garganta cortada, face deformada, braço amputado. Em outras palavras, quem tem coração fraco não deve nem passar perto do cinema. Entretanto, vale ressaltar, que apesar das brutalidades cometidas no filme parecerem, num primeiro momento, gratuitas, elas, na verdade, servem apenas para corroborar a mensagem do filme de que o crime não compensa. Melhor viver pobre e morrer tarde do que viver rico e morrer cedo.

A trilha sonora de Cliff Martinez é outro triunfo. Em "Drive", a parceria entre Refn e Martinez já tinha dado super certo. Aqui, ela é mais uma vez bem-sucedida, passando a emoção certa que as cenas exigem, especialmente naquelas que correm sem nem um diálogo travado - o que não é raro.

Quanto às atuações, Ryan Gosling faz mais do mesmo. Não está ruim, mas também não deixa fortes impressões. Na verdade, seu personagem, Julian, poderia ter sido muito mais bem explorado do que é durante o filme, já que ele é um criminoso sanguinário, mas que demonstra, no fundo, ter algum resquício de escrúpulos. Enfim, foi uma oportunidade perdida.

Por outro lado, Kristin Scott Thomas e Vithaya Pansringarm arrasam em papéis que, sim, flertam e muito com o exagero e com a caricatura, mas sinto que essa foi mesmo a intenção do diretor. Thomas, num visual Donatella Versace dos infernos, tem as melhores falas de todo o filme, seja quando arma barraco na recepção do hotel onde está hospedada, seja quando acaba com a moral do filho num jantar. A personagem não tem censura nenhuma e a atriz aproveita isso para fazer de Crystal uma figura memorável. Já Pansringarm, interpretando o grande "vilão" (como se os mocinhos também não o fossem...) da história, um policial corrupto que vive carregando pra lá e pra cá uma espada para matar seus oponentes, dá o seu melhor no papel. Carregando quase que uma mesma expressão durante todo o filme, ele faz rir, como nos momentos em que canta karaokê para oficiais fardados, mas também nos faz morrer de tensão cada vez que saca a sua amada espada.

"Apenas Deus Perdoa" parece uma daquelas "pulp fictions". É curto (tem apenas 90 minutos de duração), tem uma história bem simples, personagens extravagantes e litros e litros de sangue. Talvez, se fosse um filme mais convencional em certos aspectos, teria sido ainda mais atraente, porém, mesmo com seus floreios por vezes desnecessários, o novo filme de Nicolas Winding Refn reserva para si um estilo único e uma experiência, no mínimo, diferente.

NOTA: 3.5/5



sábado, 28 de setembro de 2013

Austenland


Dir.: Jerusha Hess; Escrito por Jerusha Hess e Shannon Hale; Com Keri Russel, JJ Feild, Bret McKenzie, Jennifer Coolidge. 2013 (97 min. - 14 anos)


Junto de seu marido, Jared, Jerusha Hess co-escreveu um dos filmes independentes mais conhecidos deste início de século XXI, "Napoleon Dynamite". Depois do sucesso estrondoso dessa primeira parceria, o casal trabalhou em mais dois filmes: "Nacho Libre" e "Gentlemen Broncos - Cavalheiros Nada Gentis" - todos os três dirigidos por Jared. Entretanto, no Festival de Sundance desse ano, Jerusha lançou seu primeiro filme como diretora: "Austenland".

O filme possui uma premissa bastante inusitada. Jane é uma mulher de trinta e poucos anos que é bastante azarada no amor e que se sente muito mal por isso. O motivo para todo esse sofrimento é a sua fixação pela obra da escritora britânica Jane Austen, e por conseguinte, o seu enorme desejo de encontrar o seu Mr. Darcy - protagonista masculino de "Orgulho e Preconceito". Ao perceber que o tempo para realizar o seu grande sonho está cada vez mais perto de se esgotar, Jane resolve fazer uma loucura: pegar todas as suas economias e gastar em uma viagem a Austenland, um lugar nos arredores de Londres que recria com fidelidade a ambientação dos romances de Austen, e onde cada visitante encontra o seu Mr. Darcy no final da viagem. Em outras palavras, é o verdadeiro paraíso para as fãs da escritora.

Porém, ao chegar lá, Jane percebe que tudo é bastante diferente do que ela imaginou. Ela pagou pelo pacote básico, então, ao invés de dormir numa luxuosa suíte, ela se hospeda em um quarto da criadagem, o dia-a-dia das mulheres da Regência Britânica é um tédio sem fim, e por aí vai. Entretanto, tudo ganha novos ares quando ela se vê dividida entre um dos funcionários da propriedade e um dos Mr. Darcy contratados para agradá-la.

A grande questão aqui não é a originalidade, que é quase inexistente, tanto no enredo quanto na estética, mas sim o roteiro inteligente e divertido de Hess e Shannon Hale. Apesar de se assumir um "chick flick" desde o primeiro minuto, "Austenland" tem uma abundância sem fim de piadas, muitas vezes pastelão e outras vezes bem satíricas, que acabam divertindo tanto homens quanto mulheres. Para eles, há a paródia aos filmes baseados na obra de Austen, para elas, há a homenagem ao romantismo presente em cada uma das histórias da autora. Enfim, para os marmanjos odeio-comédia-romântica de plantão não há desculpa. Tanto não há que, atrás de mim no cinema, estava sentado um casal de idosos, e o homem fez muito mais questão de demonstrar sua satisfação com o filme do que sua companheira.

Outra cartada de mestre de Hess foi a escalação do elenco e a enorme competência deste. Keri Russel está ótima como a fã número um de Jane Austen. Na verdade, a atriz está tão simpática e engraçada que surpreende saber que, ainda hoje, a sua personagem mais famosa seja a Felicity da série homônima. Felizmente, ela parece estar sofrendo um renascimento em sua carreira, iniciado pela série "The Americans" e continuado por este filme. Como a grande amiga de Jane na viagem, Jennifer Coolidge interpreta a mesma personagem que ela sempre faz, porém, como ela é engraçada! A comediante sabe quais são os seus pontos fortes e faz um uso excepcional deles, sendo, junto com Russel, um dos pontos altos de "Austenland". Como os interesses românticos, Bret McKenzie e JJ Feild estão também de parabéns. O primeiro incorpora o jeito sacana e descompromissado de seu personagem, e o segundo parece retirado diretamente de um dos filmes baseados nos livros de Jane Austen, que é exatamente a intenção da diretora.

Sem medo de ser fofinho e feliz, "Austenland" é uma estreia promissora de Jerusha Hess na direção, e mesmo que não traga nada de novo ao gênero da comédia romântica, também não o deixa cair no marasmo pelo qual tem sido marcado nos últimos anos.

NOTA: 3.5/5





sábado, 21 de setembro de 2013

Truque de Mestre (Now You See Me)


Dir.: Louis Leterrier; Escrito por Ed Solomon, Boaz Yakin e Edward Ricourt; Com Jesse Eisenberg, Mark Ruffalo, Woody Harrelson, Mélanie Laurent. 2013 - Paris Filmes (115 min. - 12 anos)


A temporada de filmes de verão nos EUA terminou há menos de um mês e, portanto, têm surgido listas e mais listas com os grandes vitoriosos e os grandes perdedores nas bilheterias no período entre o início de maio e o final de agosto, e algo unânime foi "Truque de Mestre" como o maior vencedor da temporada. Esperava-se do filme, orçado em US$ 75 milhões, uma trajetória de "midlevel hit", ou seja, não seria um grande sucesso (mais de US$ 100 milhões), mas também não seria um fracasso. Porém, não houve quem não se surpreendesse com a performance incrível do filme nas bilheterias, estreando melhor do que "Depois da Terra" (fracasso do antes imbatível Will Smith) e cruzando a marca dos US$ 100 milhões com relativa facilidade. Entretanto, depois de assistir ao filme, não é difícil de entender o porquê de seu sucesso: ele é divertidíssimo!

A premissa do filme é bastante simples: um grupo de quatro ilusionistas começa a fazer um enorme sucesso após iniciarem uma série de roubos que funcionam como o gran-finale de sua apresentação. Logicamente, as autoridades logo ficam sabendo da situação e põem lado a lado dois agentes, um do FBI e outra da Interpol, para irem atrás desses criminosos e, principalmente, entender os truques que eles usam em seus roubos.

Porém, se o pontapé inicial é simples, o enredo é bem embolado e, por vezes, até absurdo. Entretanto, a diferença de "Truque de Mestre" para outros filmes do gênero é que os seus realizadores têm noção da grande loucura que é narrativa e do quão ilógica ela é de vez em quando. Portanto, ao invés de levar tudo a sério, como se o longa fosse um thriller policial extremamente elaborado, o diretor Louis Leterrier resolveu investir num clima de filme "Tela Quente": elenco carismático + cenas de ação bem feitas = diversão garantida.

Falemos, então, do primeiro termo dessa equação: o elenco. Para conseguir tirar o melhor do roteiro falho, o diretor reuniu um elenco de respeito formado por todo tipo de atores, desde daqueles premiados até aqueles não muito conhecidos, mas em ascensão. Como os quatro ilusionistas, temos Jesse Eisenberg, Woody Harrelson, Isla Fisher e Dave Franco, todos os quatros interagindo muito bem entre si, exatamente como se eles se conhecessem há um bom tempo, sendo que os dois primeiros merecem uma menção especial, já que põem as suas características mais marcantes (o jeito rápido de falar e o timing cômico, respectivamente) a favor do longa. Há ainda em papéis secundários a presença mais do que bem-vinda de dois veteranos: Morgan Freeman, como um ex-mágico que ajuda os agentes a entenderem os truques utilizados nos roubos, e Michael Caine, como o empresário que financia o grupo de ilusionistas. Porém, o filme pertence mesmo à dupla de agentes, vivida por Mark Ruffalo e Mélanie Laurent. O destino dos dois personagens já é visível desde o primeiro momento em que os dois se encontram (sendo um dos poucos pontos fracos do filme), contudo a química entre os dois é excelente e ambos atuam muito bem, trazendo não só mais credibilidade ao projeto, mas também contribuindo para um maior envolvimento do espectador com a narrativa.

Quanto ao segundo termo da equação, as cenas de ação, essas são bastante eficientes e são também uma das grandes qualidades do filme. Leterrier, acostumado a esse gênero (ele realizou "O Incrível Hulk" e dois filmes da trilogia "Carga Explosiva"), constrói sequências de deixar qualquer um na ponta da cadeira, como as perseguições em Nova Orleans em pleno Mardi Gras (uma espécie de Carnaval da região) e nas ruas e avenidas de Nova York. Enfim, o diretor não deixa o filme ficar monótono em momento algum, mas também não o deixa ficar cansativo.

Inevitavelmente, uma continuação já está a caminho, coisa com a qual eu não concordo, mas mesmo assim, nada tira o mérito de "Truque de Mestre" ser um filme de ação descompromissado e genuinamente divertido, algo cada vez mais em falta nesses tempos de que a moda é fazer filme sério e sombrio.

NOTA: 4/5


sexta-feira, 20 de setembro de 2013

O Cavaleiro Solitário (The Lone Ranger)


Dir.: Gore Verbinski; Escrito por Justin Haythe, Ted Elliot e Terry Rossio; Com Armie Hammer, Johnny Depp, William Fichtner, Tom Wilkinson. 2013 - Disney (149 min. - 14 anos)


No dia vinte de setembro, foi anunciado o fim da parceria entre o produtor Jerry Bruckheimer e a Disney. Juntos, os dois produziram grandes sucessos, como os dois "A Lenda do Tesouro Perdido", "Falcão Negro em Perigo" de Ridley Scott, "Pearl Harbor" de Michael Bay e a franquia bilionária "Piratas do Caribe". Porém, de uns anos pra cá, essa parceria tem dado sinais de desgaste, sob a forma de decepções comerciais como "Príncipe da Pérsia: As Areias do Tempo" e "O Aprendiz de Feiticeiro" ou de fracassos, como o filme mais recente da safra, "O Cavaleiro Solitário".

Dirigido por Gore Verbinski (diretor dos três primeiros filmes "Piratas do Caribe" e vencedor do Oscar pela animação "Rango") e protagonizado pelo eterno Jack Sparrow, Johnny Depp, "O Cavaleiro Solitário" não tinha como dar errado! Porém, não foi isso que aconteceu e o filme, orçado em US$ 215 milhões, não conseguiu passar dos US$ 100 milhões nos EUA e vem tendo dificuldades em ter sucesso no resto do mundo, onde westerns geralmente não são bem recebidos.

O longa, baseado na série homônima, que começou no rádio em 1933 e que depois foi para a tevê, sendo exibida até 1957, conta a história de John Reid, um homem há pouco formado na Faculdade de Direito, e que vai até o Texas, sua terra natal, para visitar seu irmão Dan, um Texas Ranger. Porém, na viagem de trem ao seu destino, um criminoso chamado Butch Cavendish consegue se soltar de suas algemas e começa a tocar o terror dentro do comboio. No meio de toda essa confusão, John e Tonto, um índio extravagante que carrega um corvo empalhado sobre a cabeça, se conhecem e definitivamente não se entendem.

Mais tarde, já estabelecido em sua cidade natal, John acompanha seu irmão e outros Rangers na busca pelo foragido Cavendish. Porém, no final das contas, tudo se mostra uma emboscada, na qual Dan e outros Rangers são brutalmente assassinados, sobrando apenas John para contar a história.

Coincidentemente, quem acaba salvando a vida de John, ajudando em sua recuperação, mesmo que de má-vontade, é o mesmo Tonto do trem. Os dois, então, acabam tornando-se amigos e decidem se unir para ir atrás de Butch Cavendish e vingar a morte de Dan. Entretanto, no meio do caminho, tudo se mostra muito mais complicado do que eles imaginavam inicialmente.

Somente pela sinopse já dá para perceber o quão embolada é a história de "O Cavaleiro Solitário" e, não tenha dúvidas, a bagunça é ainda maior. Assim como nas continuações de "Piratas do Caribe", também escritas por Ted Elliot e Terry Rossio (em "Solitário" há ainda a colaboração de Justin Haythe), o filme como um todo acaba sofrendo com a ambição excessiva dos roteiristas. O número de personagens é tão grande e há tantas tramas entrelaçadas, que no final das contas, o que era para ser uma simples história de dois homens indo atrás de justiça se torna uma mistura de gêneros que às vezes funciona e em outras não. Além disso, por causa desse enorme acúmulo de narrativas, o filme acabou ficando longo demais, chegando a praticamente duas horas e meia de duração.

"O Cavaleiro Solitário" também parece constantemente indeciso sobre a quem ele é direcionado. Por um lado, o longa aposta num clima de matinê, especialmente no clímax (que também é o seu melhor momento), quando há uma abundância de comédia pastelão, violência no estilo "Tom e Jerry" e, o principal, mera diversão escapista. Já por outro, o filme acaba se excedendo e apresenta cenas de violência seca e sangrenta (há até personagem comendo coração humano!) e crítica social deslocada, como o massacre de uma tribo indígena. Em resumo, "O Cavaleiro Solitário" acaba resultando bobo demais para os adultos e violento demais para as crianças, o que é uma falha grave, ainda mais vindo da mesma equipe que havia conseguido equilibrar bem esses dois extremos em "Piratas do Caribe".

O elenco está bem irregular. Há aqueles que estão muito bem, como Armie Hammer, interpretando John Reid. O ator, que já havia mostrado talento antes, tanto no drama ("A Rede Social", "J. Edgar") quanto na comédia ("Espelho, Espelho Meu"), aqui mostra-se um protagonista bastante carismático e divertido de se ver. A competência e a aparência de ator do antigamente, ele já tem, falta, porém, o veículo que lhe faça total jus, já que "O Cavaleiro Solitário" não o é. 

Ainda no rol das boas interpretações, há William Fichtner, como Butch Cavendish. O personagem é exagerado e parece um verdadeiro clichê ambulante dos filmes de faroeste, porém o ator consegue tirar o melhor do personagem e se destacar dentro do filme.

Já o resto do elenco não faz grandes coisas. Tom Wilkinson, como Latham Cole, o dono de uma ferrovia, faz uma atuação competente, mas que nada acrescenta à sua carreira. Helena Bonham Carter parece que se perdeu no estúdio e, ao invés de chegar na hora no set de um filme de Tim Burton, acabou fazendo uma pontinha como uma cafetina num filme da Disney. A mocinha da história, Ruth Wilson, é bonita (mesmo que tenha uma boca cheia do botox), mas também não deixa grandes impressões.

A maior decepção, porém, é Johnny Depp. Apesar de sua performance não ser ruim, ela parece um mero pastiche de outras atuações suas. No todo, o seu Tonto é uma mistura do visual e dos trejeitos de Jack Sparrow com a entonação da voz de Barnabas Collins. Sim, ele continua engraçado, mesmo que não tanto quanto antes, mas não deixa de ser cansativo vê-lo fazer o mesmo personagem pela milésima vez. Enfim, Depp tem mais é que agradecer por ter uma química genuína com Hammer.

Pelo lado positivo, "O Cavaleiro Solitário" serve para mostrar mais uma vez a qualidade de Gore Verbinski como diretor de grandes produções. Ele é, sim, megalomaníaco e perfeccionista ao extremo (um dos motivos para o orçamento exorbitante do filme foi a exigência de Verbinski em usar o menos possível de CGI, mesmo que para isso tivesse de ser construída do zero uma locomotiva do final do século XIX), porém ele sabe montar como ninguém uma sequência de ação. Não há uma só delas em "O Cavaleiro Solitário" que seja incompreensível ou barulhenta a ponto de irritar. Nesse sentido, as cenas de ação do filme de Verbinski são muito mais agradáveis de se assistir do que àquelas contidas em, digamos, "O Homem de Aço".

O filme também possui uma bela fotografia, cortesia de Bojan Bazelli, especialmente nas cenas que acompanham Tonto, já ancião, trabalhando numa feira de variedades em São Francisco. A direção de arte também não fica atrás, construindo cenários exuberantes, como o bordel comandado pela personagem de Bonham Carter, e as enormes locomotivas já citadas no texto.

Em suma, "O Cavaleiro Solitário" não é a porcaria que muitos andam falando por aí. Pelo contrário, é um filme perfeitamente aceitável. Porém, não deixa de ser decepcionante saber que um filme que poderia ter sido uma ótima diversão leve e descompromissada acabou se tornando uma verdadeira bagunça só porque seus realizadores queriam agradar a tudo e a todos de qualquer maneira.

NOTA: 3/5


quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Bem-Vindo aos 40 (This is 40)


Dir.: Judd Apatow; Escrito por Judd Apatow; Com Paul Rudd, Leslie Mann, Albert Brooks, Megan Fox. 2012 - Universal (134 min. - 16 anos)


Há alguns anos atrás, Judd Apatow já era conhecido por ser o produtor de uma das séries mais elogiadas do final dos anos 90 e início dos anos 2000, "Freaks and Geeks", que foi cancelada depois de apenas 18 episódios, e por produzir muitas comédias que foram sucesso de bilheteria nos anos que se seguiram, como "O Âncora", "Superbad - É Hoje" e "Segurando as Pontas". Porém, em 2005, Apatow também ganhou fama como diretor com a comédia "O Virgem de 40 Anos" (até hoje, na minha opinião, o seu melhor filme), e que foi seguido por "Ligeiramente Grávidos" (seu maior sucesso de bilheteria) e "Tá Rindo do Quê?" (um filme simpático, mas que naufragou nas bilheterias). Três anos depois de seu terceiro longa, Apatow volta com uma nova comédia, a divertida, mas decepcionante, "Bem-Vindo aos 40".

Para tentar arrecadar mais dinheiro nas bilheterias, o diretor decidiu pôr como protagonistas Pete e Debbie, personagens vividos por Paul Rudd e Leslie Mann em "Ligeiramente Grávidos", que naquele filme, representavam a típica família de classe média alta norte-americana. Em "Bem-Vindo aos 40", o casal, ao passar por complicações financeiras e crises conjugais, passa a reavaliar o relacionamento deles até ali e como a fase dos "-enta" pode significar um novo começo para ambos, seja pelo lado bom ou pelo lado ruim.

Assim como em seus outros filmes, em "Bem-Vindo aos 40", Apatow faz uso de sua fama em Hollywood para conseguir formar um elenco de ótimos comediantes. Rudd e Mann são dois ótimos atores que não só têm uma química invejável juntos, mas que também conseguem transitar entre o drama e a comédia sem parecer algo forçado. Sem dúvida alguma, eles são realmente a alma do filme. Entretanto, Apatow, não se dando por satisfeito, chamou atores como Albert Brooks e John Lithgow, ambos ótimos, interpretando os pais dos protagonistas, Jason Segel, Chris O'Dowd, Megan Fox (numa das melhores performances de sua carreira) e até a nova sensação do momento, Melissa McCarthy, fazendo uma ponta como a gorda boca-suja que ela já se especializou em interpretar (mas pelos menos aqui ela está realmente divertida). E como prova maior de que o elenco é realmente muito bom, até as filhas de Apatow com Leslie Mann, Maude e Iris, se saem muito bem como as filhas do casal principal, tendo papéis bastante significativos dentro da trama.

Entretanto, nem tudo são flores, a começar pelo roteiro, que é uma bagunça. Em determinados momentos, o filme mostra cenas extremamente bem escritas, tanto pelo lado do drama quanto pelo da comédia, que mostram o que o filme poderia ter sido. Entre alguns exemplos dessas cenas estão a consulta de Debbie no ginecologista, quando descobre-se que ela põe uma idade diferente na ficha cada vez que vai lá, dando origem a uma hilária discussão sobre ela escolher uma única idade na hora de mentir; e quando Debbie resolve tirar satisfações com um menino que vive xingando a sua filha no Facebook, resultando em divertidas consequências. Porém, em outros trechos, Apatow deixa clara a sua origem no stand-up comedy, criando diálogos que mais parecem esquetes do que vida real, como a cena em que Pete e Debbie chegam à conclusão de que J.J. Abrams é o culpado pelo mal relacionamento deles com a filha mais velha, já que ela é viciada em "Lost", ou então, quando o ginecologista de Debbie compara um mioma à bola que corre atrás do Indiana Jones em "Caçadores da Arca Perdida". Em resumo, o filme alterna o tempo inteiro entre a comédia escrachada e exagerada do stand-up comedy e um humor mais pé-no-chão, mais próximo do dia-a-dia, nunca chegando a uma decisão.

Outro problema é a duração do longa: 134 minutos! Mesmo se fosse um filme bem melhor, dificilmente uma história como a de "Bem-Vindo aos 40" conseguiria se sustentar por tanto tempo. A causa dessa metragem excessiva é o número grande de personagens, muitos deles facilmente descartáveis, e cenas que não tem nada a dizer ou que, simplesmente, não contribuem para o andamento da trama. Consequentemente, o longa muitas vezes acaba mais parecendo um pastiche de situações do que uma história propriamente dita. Portanto, se o roteiro focasse apenas na narrativa central do longa, excluindo várias cenas e personagens, e com isso enxugando o longa em uns 20/30 minutos, "Bem-Vindo aos 40" poderia ter sido melhor, mais objetivo e menos cansativo.

Mesmo assim, apesar do roteiro falho e, por vezes, incoerente (se está com tanta dificuldade financeira, por que ao final do filme o casal organiza uma baita festa de 40 anos?) e da falta de controle de Apatow ao editar o filme, "Bem-Vindo aos 40" tem qualidades o suficiente para ser recomendado.

NOTA: 3/5


terça-feira, 17 de setembro de 2013

Filmes em DVD (parte 4):

A Vila (The Village): (2.5/5)


Considerado por muitos o filme que marcou o início do declínio do diretor M. Night Shyamalan, "A Vila" tem, sim, as suas qualidades. A trilha sonora de James Newton Howard é excelente (tanto que foi a única indicação do longa ao Oscar), a fotografia de Roger Deakins é belíssima e Shyamalan ainda dá mostras de que sabe construir tensão quando necessário. Porém, se nos momentos de suspense, o filme funciona, o mesmo não se pode dizer das cenas entre eles. Apesar de ter um elenco invejável (Joaquin Phoenix, Bryce Dallas Howard, Adrien Brody, William Hurt, Sigourney Weaver etc.) e em boa forma, o longa de Shyamalan é parado até demais, o que torna difícil sustentar a história do filme pelos 108 minutos de duração. Além disso, a grande reviravolta final deixa a desejar, parecendo absurda em demasia.

[Dir.: M. Night Shyamalan; Escrito por M. Night Shyamalan; Com Bryce Dallas Howard, Joaquin Phoenix, William Hurt, Adrien Brody, Sigourney Weaver. 2004 - Buena Vista (108 min. - 14 anos)]

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Os Infratores (Lawless): (3.5/5)


Dirigido por John Hillcoat ("A Estrada"), "Os Infratores" conta a história dos irmãos Bondurant, famosos contrabandistas de bebida na Virgínia, na época da Lei Seca norte-americana. O filme possui um ótimo elenco (Shia LaBeouf, Tom Hardy, Jessica Chastain, Mia Wasikowska, Guy Pearce, Gary Oldman etc.) e uma direção firme de Hillcoat, que consegue criar um eficiente filme de ação, mesmo que não seja especialmente memorável. Lançado no Festival de Cannes de 2012, o longa conta também com uma boa reconstituição de época tanto nos cenários como nos figurinos. Enfim, é uma boa pedida para uma noite de sábado em casa, desde que se esteja preparado para ver uma elevada dose de violência.

[Dir.: John Hillcoat; Escrito por Nick Cave; Com Shia LaBoeuf, Tom Hardy, Jason Clarke, Guy Pearce, Jessica Chastain, Gary Oldman. 2012 - Imagem Filmes (116 min. - 16 anos)]

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Corpo Fechado (Unbreakable): (3.5/5)


Primeiro filme de M. Night Shyamalan depois do fenômeno que foi "O Sexto Sentido", "Corpo Fechado" é um filme bastante interessante. A história do longa gira em torno da relação entre um segurança que fica famoso por ter sido o único sobrevivente de um catastrófico acidente de trem e um homem que sofre de uma rara doença que fragiliza os seus ossos, tornando-o altamente suscetível a sofrer graves acidentes. Esse dois opostos se atraem e daí surge uma grande dúvida: será que o segurança é uma espécie de super-herói do mundo real ou isso é apenas uma obsessão de um homem de fraqueza extrema? Realizado com muita competência por Shyamalan e protagonizado por Bruce Willis e Samuel L. Jackson, ambos em ótimas performances, "Corpo Fechado" é um filme extremamente bem filmado (o trabalho de câmera de Eduardo Serra é um dos melhores que eu já vi) e bem escrito, mesmo que muitos o achem lento demais.

[Dir.: M. Night Shyamalan; Escrito por M. Night Shyamalan; Com Bruce Willis, Samuel L. Jackson, Robin Wright, Spencer Treat Clark. 2000 - Buena Vista (106 min. - 12 anos)]

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Namorados para Sempre (Blue Valentine): (4/5)


Apesar do terrível título brasileiro, "Namorados para Sempre" é um ótimo filme de estreia do diretor Derek Cianfrance. O longa acompanha o relacionamento amoroso de um casal de seus vinte e tantos anos desde o início de tudo até a separação que parece estar cada vez mais próxima. Mesmo tendo sido feito com apenas um milhão de dólares, "Blue Valentine" (no original) tem um enredo tão ambicioso que consegue ser, ao mesmo tempo, épico e íntimo. Além disso, o roteiro, escrito pelo diretor, Cami Delavigne e Joey Curtis, possui diálogos críveis e nada pretensiosos. Entretanto, o grande trunfo do longa ainda é o casal principal, interpretado magistralmente por Ryan Gosling e Michelle Williams, tanto que a última foi indicada ao Oscar por sua atuação. Em poucas palavras, "Namorados para Sempre" é um romance bonito, mas trágico.


[Dir.: Derek Cianfrance; Escrito por Derek Cianfrance, Cami Delavigne e Joey Curtis; Com Ryan Gosling, Michelle Williams. 2010 - Paris Filmes (112 min. - 14 anos)]


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Elefante (Elephant): (3.5/5)

Filme que deu ao diretor Gus Van Sant a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2003, "Elefante" usa como inspiração a tragédia de Columbine para criar um panorama da adolescência no século XXI e de como as relações sociais entre os jovens afetam uns aos outros de diferentes formas. O elenco, formado em sua maioria por não-atores, conta com ótimas performances, porém, o grande diferencial do filme de Van Sant para outros longas sobre adolescentes é o seu roteiro inventivo e original, que usa e abusa de flashbacks para contar a mesma história sob vários pontos de vista diferentes. Resumindo, se não fossem alguns deslizes, como certas cenas clichês de bullying e outras, mais artísticas, que acabam quebrando o ritmo do filme, "Elefante" seria, sem dúvida alguma, uma verdadeira obra-prima.

[Dir.: Gus Van Sant; Escrito por Gus Van Sant; Com Alex Frost, Eric Deulen, John Robinson, Elias McConnell. 2003 - Warner (81 min. - 16 anos)]

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Reencarnação (Birth): (3/5)

Segundo filme do diretor Jonathan Glazer (que acabou de lançar "Under the Skin", seu novo longa depois de um jejum de nove anos), "Reencarnação" possui uma premissa interessantíssima: uma mulher de trinta e poucos anos perde o noivo depois que este tem um infarto fulminante. Algum tempo mais tarde, quando está prestes a se casar com outro homem, ela recebe a visita de um menino que diz ser a reencarnação de seu falecido companheiro, e agora, o "espírito" quer impedir o novo casamento de sua mulher a qualquer custo. Com uma direção segura de Glazer, uma fotografia deslumbrante de Harry Savides, uma bela trilha sonora de Alexandre Desplat e ótimas atuações, especialmente de Nicole Kidman e Cameron Bright, que interpreta o misterioso menino, "Reencarnação" é, no mínimo, um filme curioso de se assistir. Porém, é inegável o sentimento de decepção ao fim da projeção, ao perceber que, ao tentar fazer um suspense de arte, Glazer acaba sacrificando sensivelmente o ritmo e a tensão do enredo. Além disso, a revelação final é boba e não faz muito sentido. Mas, no geral, valeu a tentativa.

[Dir.: Jonathan Glazer; Escrito por Jean-Claude Carrière, Milo Addica e Jonathan Glazer; Com Nicole Kidman, Cameron Bright, Lauren Bacall, Anne Heche. 2004 - PlayArte (100 min. - 12 anos)]

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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sem Dor, Sem Ganho (Pain & Gain)


Dir.: Michael Bay; Escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely; Com Mark Wahlberg, Dwayne Johnson, Anthony Mackie, Tony Shalhoub, Ed Harris. 2013 - Paramount (129 min. - 18 anos)


Michael Bay é conhecido por seus filmes de ação de orçamento gigante e profundidade zero. É, sem dúvida, um dos diretores mais odiados pelos críticos de cinema, sendo acusado de dar prioridade a explosões e mulheres de biquíni do que à uma história coerente e personagens interessantes, o que não é de todo mentira. Porém, há de se admitir que se ele realizou alguns filmes bem ruins, como "Transformers: A Vingança dos Derrotados" (que me tirou qualquer vontade de ver "O Lado Oculto da Lua", terceiro filme da série), ele também já fez alguns projetos, no mínimo, interessantes, como "A Ilha" e o primeiro "Transformers". E seu último filme, "Sem Dor, Sem Ganho", felizmente, está nesse último grupo.

Orçado em apenas US$ 26 milhões, uma quantia mínima se comparada às dos outros filmes de Bay, o novo longa do diretor é baseado numa história que de tão absurda não parece verdade. Em 1994, um trio de marombeiros, liderados por Daniel Lugo, um homem obcecado pelo sonho americano, sequestraram, torturaram e mutilaram empresários de diversos ramos a fim de pegar o seu dinheiro e poder gastá-lo em mulheres, casas, bebidas etc. Essa história inacreditável deu origem à uma série de artigos publicados pelo jornal Miami New Times em 1999, que por sua vez, interessaram Michael Bay, que por alguns anos tentou produzir um filme sobre esses crimes.

Um dos aspectos mais curiosos de "Sem Dor, Sem Ganho" é que é um filme dirigido por Michael Bay, mas que ao mesmo tempo, satiriza tudo aquilo que é exaltado nos outros longas do diretor. Geralmente, Bay fala do Sonho Americano - caracterizado por grandes casas, carrões e belas mulheres - como algo a ser almejado a qualquer custo, porém em seu mais novo longa, ele prefere criar uma nova visão sobre tudo isso. Aqui ele diz que, sim, o Sonho Americano é algo atingível e que pode até trazer felicidade, porém avisa que com ele vem também um preço; o preço a ser pago por tudo que foi feito para atingir o Sonho. Por isso mesmo, Bay foi, provavelmente, o diretor perfeito para esse filme. Quem melhor para falar sobre o costume americano de consumir e esbanjar a riqueza em níveis homéricos do que o diretor mais megalomaníaco de Hollywood?

Para passar a sua mensagem da melhor forma possível, Bay contou com um ótimo elenco, ancorado por uma das melhores performances de Mark Wahlberg. Aqui, o ator transita muito bem entre o drama e a comédia e constrói um Daniel Lugo identificável, através da sua busca incansável por reconhecimento, mas também repreensível e imaturo, por ir atrás do reconhecimento usando a brutalidade da forma mais rústica possível. Interpretando os parceiros de Lugo, Dwayne Johnson e Anthony Mackie também estão de parabéns. Johnson, vivendo um ex-drogado e ex-presidiário convertido à uma igreja evangélica, possui o papel mais interessante do longa. O do homem, que em meio à sua busca pela redenção, se envolve num crime sanguinário e cujas consequências podem afetar, para pior, o resto de sua vida. Já Mackie vive um homem que, de tanto usar anabolizantes, sofre de disfunção erétil, e que para poder voltar a ter uma vida sexual ativa decide participar do roubo, para poder dar uma vida melhor à sua noiva, que, coincidência ou não, é enfermeira de uma clínica de urologia.

No elenco de apoio, há outros nomes conhecidos, como Tony Shalhoub e Ed Harris, vivendo, respectivamente, a vítima da primeira ação do grupo de marombeiros e o investigador contratado por ele para conseguir pender o trio. Há ainda Rob Corddry, como o dono da Sun Gym, academia onde os criminosos trabalhavam, a nova revelação da comédia, Rebel Wilson, vivendo a esposa do personagem de Anthony Mackie, e a modelo israelense Bar Paly, vivendo a mulher dos sonhos de qualquer fã dos filmes de Michael Bay. Isso sem contar com uma pequena, mas essencial participação de Ken Joeng, como um palestrante que inspira Daniel Lugo a cometer os crimes.

Visualmente falando, o filme é um verdadeiro orgasmo para os saudosos dos anos 1990. Usando uma fotografia vibrante, câmera lenta e uma edição ágil, Bay emula de forma excepcional o clima da Miami caótica, exigida pelo roteiro de Christopher Markus e Stephen McFeely (curiosamente, eles também escreveram os filmes da série "As Crônicas de Nárnia").

Por falar no roteiro, Markus e McFeely se saem bem tanto nos diálogos, que muitas vezes são inspirados, como o lema de Lugo ("eu acredito na ginástica") e a definição que o mesmo dá a Miami ("a sala de espera do Céu", referindo-se à fama da Flórida ser o estado dos aposentados), como no tratamento dado aos três bandidos. Ao invés de criar empatia entre o grupo de marombeiros e o espectador através dos atos cometidos por eles (a não ser quando eles servem de mostra da incompetência do grupo), os roteiristas apostam na força dos desejos dos personagens, que podem ser relacionados a qualquer pessoa que viva em uma sociedade capitalista.

Mesmo que não vá atrair aqueles que não gostam do estilo de filmar de Michael Bay, "Sem Dor, Sem Ganho" é um ponto positivo na carreira do diretor, mostrando que, apesar de ser conhecido pelos filmes "estúpidos", ele tem muito a dizer sobre a sociedade em que vive de maneira divertida, mas também reflexiva.

NOTA: 4/5



segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Filmes em DVD (parte 3):

Katy Perry: Part of Me (idem): (4/5)

Mais um dos filmes que aproveitaram a onda de filmes-concerto em 3D, "Katy Perry: Part of Me" é um documentário que foi feito para servir apenas de peça promocional para a maior hit-maker do momento, porém, se outros artistas fizeram filmes semelhantes que mais parecem amaciantes de ego do que qualquer outra coisa, "Part of Me" é genuinamente divertido! As músicas são grudentas por natureza (até quem não gosta da cantora conhece pelo menos o refrão de uma de suas canções), as cenas dos shows são bem filmadas, o ritmo é dinâmico e, o principal de tudo, Katy Perry tem carisma em abundância, o que só beneficia o filme. Há, sim, momentos desnecessários como aqueles em que fãs dão os seus depoimentos do quanto sofreram bullying e a música de Perry lhes deu autoestima, assim como também é, no mínimo, estranho ver a cantora receber em seu "meet-and-greet" um monte de crianças logo depois de cantar músicas como "Peacock", cujo refrão deixa bem claro as intenções de Perry. Mas mesmo com prós e contras, "Katy Perry: Part of Me" são 93 minutos bem aproveitados.

[Dir.: Dan Cutforth e Jane Lipsitz; Com Katy Perry. 2012 - Paramount (93 min. - Livre)]

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Histeria (Hysteria): (3.5/5)

Mais uma daquelas deliciosas comédias de época inglesas que de tempos em tempos são feitas, "Histeria" já vale o aluguel do DVD pela premissa: o que fez com que alguém decidisse criar o vibrador e qual foi o impacto que isso causou na Londres do século XIX? Porém, só isso não faria o longa de Tanya Wexler ser tão bom quanto o é. Para isso, tem-se um roteiro simpático e engraçado, ainda que previsível ao extremo, personagens verdadeiramente carismáticos e atores muito bem em seus respectivos papéis, especialmente a dupla de protagonistas, Hugh Dancy e Maggie Gyllenhaal. Elogios também devem ser feitos à ótima direção de arte e ao figurino.


[Dir.: Tanya Wexler; Escrito por Stephen Dyer e Jonah Lisa Dyer; Com Hugh Dancy, Maggie Gyllenhaal, Jonathan Pryce, Felicity Jones, Rupert Everett. 2011 - Imagem Filmes (100 min. - 14 anos)]

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Sinais (Signs): (3/5)

Depois de "O Sexto Sentido", este é o maior sucesso comercial da carreira de M. Night Shyamalan. Entretanto, "Sinais" já dá sinais do desgaste da fórmula eternizada pelo filme mais famoso do diretor, que ficou conhecido pelos finais surpreendentes. Nesse longa de 2002, o diretor faz uma homenagem aos antigos filmes de invasão alienígena, o que fica ainda mais evidente pela ótima trilha sonora de James Newton Howard. Assim como em outros filmes de Shyamalan, o competência do diretor na hora de filmar e de criar tensão é o que leva "Sinais" em frente. Além disso, o entrosamento entre Mel Gibson e Joaquin Phoenix, que vivem irmãos, é muito bom. Porém, a reviravolta final é meio forçada e a própria história em si não é lá grandes coisas.

[Dir.: M. Night Shyamalan; Escrito por M. Night Shyamalan; Com Mel Gibson, Joaquin Phoenix, Rory Culkin, Abigail Breslin. 2002 - Buena Vista (106 min. - 12 anos)]

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Tempo de Matar (A Time to Kill): (3.5/5)

Dirigido por Joel Schumacher e baseado no livro de John Grisham, "Tempo de Matar" é um interessante e envolvente filme de tribunal, mesmo que não seja perfeito. O longa acompanha o julgamento de um negro que matou os dois estupradores de sua filha de 10 anos. O problema é que os dois criminosos eram brancos e a história se desenrola no Mississippi, um dos estados estadunidenses mais marcados pela herança racista. O filme beneficia-se do bom desempenho de seu elenco, encabeçado por Matthew McConaughey, Sandra Bullock e Samuel L. Jackson, e da trama bem construída por Grisham e adaptada às telas por Akiva Goldsman. Entretanto, o longa peca, primeiro, em sua duração excessiva de duas horas e meia e, segundo, em toda a subtrama envolvendo o ressurgimento da Ku Klux Klan, que soa extremamente forçado.

[Dir.: Joel Schumacher; Escrito por Akiva Goldsman; Com Matthew McConaughey, Sandra Bullock, Samuel L. Jackson, Kevin Spacey. 1996 - Warner (149 min. - 14 anos)]

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Poder sem Limites (Chronicle): (4/5)

Um dos filmes de super-herói mais interessantes dos últimos anos, "Poder sem Limites" conta a história de três jovens, que após serem contaminados por uma substância estranha, adquirem poderes telecinéticos. Porém, se de início, está tudo bem, as coisas começam a piorar quando um deles deixa o poder subir à cabeça. Dirigido pelo estreante Josh Trank e escrito por Max Landis (filho de John), o longa conta com três ótimas performances de seu trio de protagonistas, além de representar uma lufada de ar fresco no saturado gênero de "found footage" (filmagem encontrada). Não apenas isso, o filme também consegue manter um bom ritmo, favorecido pelos enxutos 84 minutos de duração, e apresenta um clímax de deixar qualquer um na ponta da cadeira.

[Dir.: Josh Trank; Escrito por Max Landis; Com Dane DeHaan, Alex Russell, Michael B. Jordan. 2012 - Fox (84 min. - 14 anos)]

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Cold Mountain (idem): (2.5/5)

Penúltimo filme do finado diretor Anthony Minghella, oscarizado por "O Paciente Inglês", "Cold Mountain" é, sem dúvida alguma, um filme bastante ambicioso. O longa acompanha a história de um casal separado pela Guerra Civil norte-americana. Ele, após ser ferido em combate, é levado ao hospital. Porém, assim que pode, foge de lá, tornando-se um desertor, e enquanto tenta voltar para os braços de sua amada, se esconde das autoridades e conhece civis afetados pela Guerra. Ela, por outro lado, vê a fazenda onde vive se deteriorar rapidamente até que recebe a ajuda de uma moça simples, mas forte, e juntas elas começam a reerguer a propriedade, ao mesmo tempo, que veem a cidade onde vivem, a Cold Mountain do título, se tornar vítima das barbáries das autoridades locais. Apesar de contar com uma produção de respeito, uma bela trilha sonora de Gabriel Yared e atuações de ótima qualidade, o filme de Minghella peca no enredo. Ao dividir o filme, basicamente, em dois, o diretor/roteirista deixa claro a discrepância de qualidade entre as histórias. Enquanto a parte das moças, protagonizada por Nicole Kidman e Renée Zellweger, funciona muito bem, a outra metade do filme, ancorada por Jude Law, é uma chatice sem fim, mesmo tendo participações mais do que especiais de atores como Philip Seymour Hoffman e Natalie Portman.

[Dir.: Anthony Minghella; Escrito por Anthony Minghella; Com Jude Law, Nicole Kidman, Renée Zellweger. 2003 - Buena Vista (154 min. - 16 anos)]

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domingo, 8 de setembro de 2013

Filmes em DVD (parte 2)

Moulin Rouge! - Amor em Vermelho (Moulin Rouge!): (4/5)

Esse é o terceiro e melhor filme do diretor australiano Baz Luhrmann, conhecido por fazer longas de visual marcante, com ritmo acelerado e trilha sonora anacrônica. Assim como os outros filmes do diretor, "Moulin Rouge" é um caso clássico de ame-ou-odeie, mas mesmo quem não gostou do filme deve, pelo menos, admitir que ele tem suas qualidades como a fotografia vibrante, a direção de arte impecável e o repertório agitado e variado de músicas pop. Para aqueles que o amam há ainda outros pontos a serem elogiados, como o tom satírico que permeia muitas sequências do longa e o modo como Luhrmann conseguiu deixar uma história pra lá de batida, baseada na ópera "La Traviata", no romance "A Dama das Camélias" e no mito grego de Orfeu, original e envolvente. O filme foi indicado a 8 Oscars, incluindo melhor filme, mas, injustamente, não foi feita nenhuma menção ao inventivo diretor. 

[Dir.: Baz Luhrmann; Escrito por Baz Luhrmann e Craig Pearce; Com Ewan McGregor, Nicole Kidman, Jim Broadbent, John Leguizamo, Richard Roxburgh. 2001 - Fox (127 min. - 12 anos)]


Um Misterioso Assassinato em Manhattan (Manhattan Murder Mystery): (4/5)

O segundo de dois filmes que Woody Allen lançou pela TriStar, "Um Misterioso Assassinato em Manhattan" acompanha um casal de meia-idade, vivido por Allen e sua amiga de longa data Diane Keaton, que começa a suspeitar que seu vizinho assassinou a própria mulher, o que faz com que os dois comecem uma investigação atrapalhada, mas ao mesmo tempo, bastante perigosa. O engraçado desse filme é que, de início, ele nem é muito engraçado, porém, com o desenrolar da narrativa, essa espécie de "Janela Indiscreta" para fãs de Woody Allen envolve cada vez mais e apresenta situações ainda mais divertidas. Além de Allen e Keaton, o longa também conta com atuações inspiradas de Alan Alda e Anjelica Huston, como amigos do casal que também se envolvem no mistério que dá título ao filme.

[Dir.: Woody Allen; Escrito por Woody Allen e Marshall Brickman; Com Woody Allen, Diane Keaton, Alan Alda, Anjelica Huston. 1993 (104 min. - 14 anos)]

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Cenas em um Shopping (Scenes from a Mall): (2/5)


É realmente difícil de entender como "Cenas em um Shopping" deu errado. O diretor Paul Mazursky conseguiu reunir dois ótimos comediantes, Woody Allen e Bette Midler, em um mesmo filme, mas o resultado final, exceto em suas cenas iniciais, é extremamente sem graça. O diretor, assim como os dois protagonistas, até tentam tirar alguma coisa engraçada do roteiro escrito por ele mesmo e por Roger L. Simon, porém se a quantidade de piadas é grande, o mesmo não se pode dizer da qualidade delas. Além disso, o lado mais dramático do filme, que envolve os dois cônjuges confessando as suas traições, é raso e não traz nada de novo, assim como o personagem do mímico que persegue o casal por todo o shopping e que chega ao final sem dizer a que veio. Uma ótima oportunidade perdida!

[Dir.: Paul Mazursky; Escrito por Paul Mazursky e Roger L. Simon; Com Woody Allen, Bette Midler. 1991 - Buena Vista (89 min. - 12 anos)]

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Uma Vida Iluminada (Everything is Illuminated): (3.5/5)


Primeiro, e até agora único, filme dirigido pelo ator Liev Schreiber, "Uma Vida Iluminada" é uma adaptação do romance homônimo de Jonathan Safran Foer (que teve outro livro, "Extremamente Alto e Incrivelmente Perto", adaptado para as telas, com menos sucesso, em "Tão Forte e Tão Perto"). O longa conta a história de um escritor, o próprio Foer, que coleciona objetos familiares e que, ao receber uma foto deixada pelo seu falecido avô, decide ir à Ucrânia descobrir as origens daquela fotografia. O caso de "Uma Vida Iluminada" é bastante peculiar: geralmente, um filme sofre com uma mudança brusca de gênero, especialmente quando vai da comédia ao drama. Porém, no caso do longa de Schreiber, a história fica muito mais interessante quando assume o seu lado dramático, se tornando uma bela e uma emocionante reflexão sobre a importância da família. Além disso, o filme só tem a ganhar com as ótimas atuações de Elijah Wood e Eugene Hutz, com o excelente trabalho de fotografia de Matthew Libatique e com a trilha sonora empolgante de Paul Cantelon. Ficamos, então, na espera pelo próximo filme de Schreiber.

[Dir.: Liev Schreiber; Escrito por Liev Schreiber; Com Elijah Wood, Eugene Hutz, Boris Leskin, Laryssa Lauret. 2005 - Warner (106 min. - 14 anos)]

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O Segredo de Berlim (The Good German): (3/5)


Dirigido por Steven Soderbergh, "O Segredo de Berlim" é, no mínimo, um filme curioso. O longa emula os filmes noir dos anos 1940, fazendo homenagens principalmente a "Casablanca", seja no pôster, seja na última cena, passada em um aeroporto. Entretanto, se é notável o cuidado que Soderbergh tomou ao criar um filme de visual idêntico ao daquela época, usando, inclusive, técnicas e equipamentos do período, também é sensível a falta de substância da história em si. Se a fotografia, a direção de arte, os figurinos e a trilha sonora são ótimas e as atuações também não deixam nada a desejar, o enredo de "O Segredo de Berlim" não consegue empolgar e parece ficar na primeira marcha o filme todo. Valeu a tentativa.

[Dir.: Steven Soderbergh; Escrito por Paul Attanasio; Com George Clooney, Cate Blanchett, Tobey Maguire. 2006 - Warner (105 min. - 16 anos)]

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Na Terra de Amor e Ódio (In the Land of Blood and Honey): (3.5/5)


"Na Terra de Amor e Ódio" é o primeiro filme dirigido por Angelina Jolie. O filme acompanha um casal (ele é sérvio, ela é bósnia) que fica em lados opostos da Guerra da Bósnia, no início dos anos 1990. Claramente influenciada pelo seu trabalho na ACNUR, setor da ONU responsável pela questão dos refugiados, Jolie cria aqui um longa que não mede esforços em mostrar as atrocidades cometidas num dos conflitos mais violentos do pós-Segunda Guerra. Para isso, a atriz se aliou a um ótimo time, tanto na frente quanto atrás das câmeras, e fez um filme honesto e bonito, mesmo que seja mais a favor dos bósnios, talvez por essa ser a nacionalidade da protagonista feminina, e mais longo do que devia.

[Dir.: Angelina Jolie; Escrito por Angelina Jolie; Com Zana Marjanovic, Goran Kostic, Rade Serbedzija. 2011 - Paris Filmes (127 min. - 16 anos)]

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Southland Tales: O Fim do Mundo (Southland Tales): (1/5)


Segundo longa do diretor Richard Kelly, "Southland Tales" é um dos piores filmes que eu já vi! Sim, Kelly, tentando superar seu filme de estreia, "Donnie Darko", realizou um longa incrivelmente ambicioso, apostando suas cartas em uma história que envolve viagens no tempo, o fim do mundo, a eclosão da Terceira Guerra Mundial, os EUA numa realidade alternativa. Porém, apesar de ser bem dirigido, o roteiro de "Southland Tales" é uma porcaria com "P" maiúsculo. Mesmo me esforçando para pegar todos os detalhes, com 20 minutos de filme eu já não estava entendendo mais nada e a grande revelação do final do filme fez a minha cabeça virar um omelete de vez. Além disso, o diretor, ao fazer uma crítica à cultura norte-americana, acaba perdendo a mão e criando personagens e situações ridículas, que deixaria qualquer outro diretor de ficção-científica morrendo de vergonha. Enfim, uma verdadeira furada que nem mesmo os próprios atores conseguem entender.

[Dir.: Richard Kelly; Escrito por Richard Kelly; Com Dwayne Johnson, Seann William Scott, Sarah Michelle Gellar, Justin Timberlake. 2006 - Universal (145 min. - 16 anos)]

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A Dama na Água (Lady in the Water): (2.5/5)


"A Dama na Água" é uma espécie de contos de fadas do século XXI realizado no auge da Guerra do Iraque. O longa relata a chegada de uma ninfa à piscina de um condomínio de apartamentos nos arredores da Filadélfia, a fim de alertar os humanos sobre os perigos que sua raça sofre em consequência às guerras e outros conflitos violentos, e como isso pode acabar com a existência humana. Para isso, ela recebe a ajuda do tímido, mas amigável zelador do condomínio. O filme de M. Night Shyamalan tem como sua principal qualidade o ótimo entrosamento de todo o elenco, marcado por atores de diferentes etnias, criando um paralelo entre o condomínio do filme e os EUA. Porém, se a promessa é bastante interessante e o filme em si é simpático, Shyamalan revela aqui uma certa falta de criatividade, usando soluções fáceis em seu roteiro, dando a impressão de que primeiro inventou a reviravolta do filme para depois criar uma história que se encaixasse a ela. Além disso, o filme também sofre com o pedantismo do diretor que se escalou para viver um escritor destinado a inspirar um futuro Presidente dos EUA. Pelo menos, se o seu roteiro deixa a desejar, o diretor ainda se mostra um realizador eficiente.

[Dir.: M. Night. Shyamalan; Escrito por M. Night Shyamalan; Com Paul Giamatti, Bryce Dallas Howard, Bob Balaban. 2006 - Warner (110 min. - 10 anos)]

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