quarta-feira, 13 de março de 2013

A Viagem (Cloud Atlas)


Dir.: Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski; Escrito por Tom Tykwer, Andy Wachowski e Lana Wachowski; Com Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving. 2012 - Imagem (172 min. - 16 anos)


"A Viagem" é um daqueles filmes que surgem de tempos em tempos que são tão ambiciosos que acabam dividindo as opiniões de todo mundo. Dirigido por três diretores, filmado em dois sets independentes com um mesmo elenco encarnando vários personagens ao longo de seis histórias paralelas, "A Viagem" é, quer goste ou não, um filme diferente de tudo que tem sido lançado ultimamente; principalmente, se considerarmos que ele foi feito com um orçamento salgado de 102 milhões de dólares, todo levantado de forma independente, já que nenhum estúdio queria financiar sozinho um filme tão arriscado, comercialmente falando. Há aqueles que odiaram o filme, dizendo ser longo e pretensioso, por outro lado, há aqueles que adoraram a experiência; e eu, sem dúvida alguma, estou no segundo grupo.

O filme conta, ao mesmo tempo, seis histórias diferentes, cada uma delas ambientada em épocas e locais diferentes. 

  • A primeira acontece no meio do Oceano Pacífico em 1849, quando numa viagem entre as Ilhas Chatham (Nova Zelândia) até São Francisco nos EUA, um advogado abolicionista americano, que esconde dentro do navio um escravo fugido, é secretamente envenenado pelo médico a bordo que quer roubar as suas finanças. 
  • A segunda se passa na Grã-Bretanha da década de 1930 e apresenta a relação entre um renomado compositor em decadência e seu escrivão bissexual, que inicia a composição de uma obra própria - o Sexteto Cloud Atlas -, que depois irá desencadear o desentendimento entre mestre e pupilo.
  • A terceira história acompanha a jornalista Luisa Rey na São Francisco dos anos 1970, enquanto ela investiga uma conspiração envolvendo um novo reator nuclear que pode ameaçar a segurança da população norte-americana.
  • A quarta se desenrola na Inglaterra de 2012 e narra as tentativas de um grupo de idosos, liderados por um ex-editor de livros, de escapar de um asilo que mais parece uma prisão.
  • A quinta história acompanha a jornada de Sonmi-451, um clone que serve mesas numa lanchonete na Neo Seul de 2144, que com a ajuda de um revolucionário resolve lutar contra o governo ditatorial e violento que comanda a humanidade.
  • E a sexta e última, ambientada na Grande Ilha, 106 invernos após A Queda, acompanha um habitante de uma pequena população pós-apocalíptica que decide acompanhar uma forasteira dotada de alta tecnologia até Cloud Atlas, uma estação de comunicação que permite o contato com outras colônias da Terra.
Com tanta ambição envolvida, era quase impossível que "A Viagem" fosse um filme sem falha alguma, e como já era de se esperar, o longa possui alguns problemas. O principal deles é a necessidade do filme abranger o maior número de temas possível - submissão, revolução, religiosidade, reencarnação, entre muitos outros. Se o filme explorasse cada um desses tópicos de forma aprofundada, seria preciso o triplo de tempo de duração, algo impensável. Dessa forma, os temas são abordados superficialmente e de forma previsível, caracterizando, portanto, clichês.

Além disso, a escolha de fazer um mesmo grupo de atores interpretar vários personagens se mostra bastante irregular. Apesar de ser bastante divertido tentar descobrir quem é quem em cada uma das histórias, o filme se torna bastante dependente da maquiagem, e esta possui resultados mistos. Enquanto em alguns momentos ela é impecável, geralmente naqueles em que nem reconhecemos o ator por trás das próteses (como essas), em outros ela é sofrível, especialmente quando Halle Berry (negra) e Doona Bae (coreana) são transformadas em mulheres brancas ou quando Jim Sturgess (inglês) e Hugo Weaving (ascendência britânica) são transformados em coreanos. Enfim, a ideia é muito interessante, mas a execução é mais ou menos.

Entretanto, no geral o filme é um acerto só, a começar pela própria produção. Os figurinos, a direção de arte, a fotografia, os efeitos especiais: tudo isso é muito bem feito. Lembrando, que o filme contou com duas equipes diferentes, ou seja, são dois figurinistas, dois diretores de arte, dois diretores de fotografia, cada um deles trabalhando em um set, o que cria um desafio a mais: manter a coesão. E esse desafio é cumprido de forma bastante competente. Um adendo: o editor Alexander Berner faz um ótimo trabalho, mantendo o ritmo do filme durante suas quase três horas de duração sem sacrificar o entendimento das seis histórias.

Falando em coesão, o trio de diretores formado por Andy e Lana Wachowski e Tom Tykwer merece muitos e muitos parabéns. Apesar de trabalharem separadamente, os irmãos de um lado e Tykwer do outro, cada lado encarregado de três histórias, os realizadores mostraram total profissionalismo ao manter no mesmo pé de igualdade os níveis técnico e artístico de ambos os sets. Sejamos sinceros, esse desafio não é para qualquer um e os três conseguiram fazer, no geral, tudo dar certo.

O elenco, também, está muito bem. Além dos veteranos como Halle Berry, Tom Hanks, Hugh Grant e Susan Sarandon, os "novatos" como Doona Bae, Jim Sturgess e Ben Whishaw se mostram mais do que capazes de fazer jus aos seus companheiros de trabalho. Por sinal, Bae e Sturgess na história em Neo Seul e Whishaw no enredo do Sexteto Cloud Atlas apresentam as melhores performances de todo o longa.

Em resumo, "A Viagem" não é uma experiência perfeita, porém não deixa de ser uma lufada de ar fresco no cinema comercial e um marco no cinema recente por suas intensões épicas e inovadoras. E o mais importante: a diversão é garantida!

NOTA: 4/5


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