quinta-feira, 28 de março de 2013

Dançando no Escuro (Dancer in the Dark)


Dir.: Lars Von Trier; Escrito por Lars Von Trier; Com Björk, Catherine Deneuve, David Morse, Peter Stormare. 2000 - Imagem (140 min. - 12 anos)


O set de "Dançando no Escuro" é considerado até hoje um dos mais turbulentos da história do cinema. No meio do furacão estavam o diretor Lars Von Trier e a estrela do filme, a cantora islandesa Björk, que tinham ideias bastante diferentes sobre qual deveria ser o destino da protagonista do longa. Para se ter uma noção do quão intensas foram as filmagens, Björk chegou a desaparecer por três dias sem dar notícias, atrasando a produção. Depois disso, os dois nem se falavam mais no set. Entretanto, não há aquele ditado que diz os melhores perfumes vêm nos menores frascos? Então, no caso de "Dançando no Escuro", os melhores filmes são frutos das piores filmagens.

Situado numa cidadezinha do estado de Washington (EUA), em 1964, o filme conta a história da operária Selma, uma mulher humilde e apaixonada pelos musicais de Hollywood - paixão essa que a faz participar de uma pequena montagem de "A Noviça Rebelde" em sua cidade. Porém, Selma esconde um segredo de todo mundo: ela está ficando cega, devido à uma doença familiar. Para impedir que isso aconteça a seu filho, a moça guarda há anos dinheiro para pagar uma cirurgia que impedirá que ele tenha o mesmo destino que ela.

Entretanto, quanto mais cega Selma fica, pior fica a sua vida. Pessoas tentam se aproveitar dela e ela se vê em uma situação de vida ou morte. Mesmo assim, seguindo a filosofia dos musicais, ela mantém a cabeça erguida e procura sempre a luz no fim do túnel, mesmo que esta não seja visível.

Em "Dançando no Escuro", Björk tem o seu primeiro e único papel de destaque no cinema; e assim como na música, ela não decepciona. Pelo contrário, a islandesa se mostra uma atriz de mão cheia, tão boa que a gente até se pergunta se Selma não é, na verdade, um alter-ego da própria Björk. A cantora faz da operária uma personagem pela qual nós criamos uma afeição absurda e torcemos o tempo inteiro, mesmo que saibamos que ela vai sofrer ainda mais (afinal é um filme de Lars Von Trier). Pelo papel, Björk levou para casa, merecidamente, o prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes em 2000; o que só aumenta a tristeza pelo fato dela não ter mais atuado desde então. Porém, lembremos que junto a ela estão outros artistas de destaque, principalmente Catherine Deneuve, ótima como Kathy, melhor amiga da sofrida Selma.

Mas se no campo da atuação, o show é de Björk, no campo da direção e do roteiro, Lars Von Trier é quem detona. Quer queira ou não, "Dançando no Escuro" é um musical. Porém, um musical diferente de todos os outros, graças às invencionices do diretor dinamarquês. Filmando os números musicais de câmeras fixas e usando ângulos estranhos ao gênero (dando por vezes a impressão de que foram câmeras de vigilância que filmaram tudo), Von Trier traz a sua marca para um filme que, tirando a história trágica, não tinha nada a ver com ele. Entretanto, não desista de "Dançando no Escuro" por antecedência, achando que o filme vai ser uma cantoria chata e interminável. Muito pelo contrário, o números musicais servem muito mais como uma forma de complementar a história do que como a base de todo o longa. Prova disso é que o canto e a dança só começam após 40 minutos de filme. Por isso, acho que "Dançando no Escuro" é um musical para quem não gosta de musicais; e olha que eu tenho a maior propriedade para dizer isso, já que eu estou longe de ser fã do gênero.

Já que estamos falando de um musical, temos que falar das músicas. Produzidas, em sua maioria, pela atriz principal e escritas por ela juntamente com o diretor e com compositores como Mark Bell e Sjón Sigurdsson, as canções de "Dançando no Escuro" tem em suas experimentações rítmicas o seu grande trunfo. Todas elas têm como base sons ordinários como o barulho das máquinas de uma fábrica, o "estalo" provocado por um disco numa vitrola e um trem passando pelos trilhos de uma estrada férrea; e daí são criadas músicas inteiras. Entretanto, diria que, tirando algumas exceções, as letras deixam a desejar, soando literais de mais e até um pouco bobas. Mas como um conjunto, letra e música, as canções são bastante interessantes.

Original e inventivo, "Dançando no Escuro" é um musical de alto nível e essencial não só para quem gosta do gênero como também para aqueles que costumam achar a cantoria e a dança que surgem do nada uma verdadeira bobagem.

NOTA: 4/5


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