domingo, 31 de março de 2013

Magnólia (Magnolia)


Dir.: Paul Thomas Anderson; Escrito por Paul Thomas Anderson; Com John C. Reilly, Tom Cruise, Julianne Moore, Phillip Seymour Hoffman. 1999 - PlayArte (188 min. - 14 anos)


Uma das coisas mais interessantes de se morar numa cidade grande é pensar que cada uma das milhões de pessoas que nela vivem têm a sua própria vida, os seus próprios amigos e suas próprias preocupações. Por vezes me vejo na rua pensando o que cada pessoa que passa à minha frente está indo fazer, no que trabalha, onde mora... É um jogo bem divertido. Por isso mesmo, tenho que admitir que sou um grande fã daquela teoria dos Seis Graus de Separação, que diz que entre duas pessoas quaisquer há, no máximo, seis laços de amizade que as distanciam. Como consequência disso, adoro filmes-mosaico, aqueles em que há várias histórias aparentemente independentes, mas que em um momento ou outro acabam se cruzando. Não é por nada, então, que eu gostei tanto de "Magnólia".

Dirigido pelo ótimo Paul Thomas Anderson, "Magnólia" já começa deixando bem claro o seu ponto de vista quanto à vida: nada acontece por acaso! Para provar sua teoria, um narrador apresenta três histórias em épocas diferentes, envolvendo pessoas diferentes, mas que têm desfechos igualmente surpreendentes. Como aquilo pode ser mera coincidência? Daí, somos encaminhados aos dias de hoje, em que temos um primeiro contato com os vários personagens e situações que regem a narrativa do filme.

Uma grande qualidade do roteiro, escrito pelo próprio Anderson, é a ótima construção de todos os personagens. Uma das grandes armadilhas dos filmes-mosaico é a quantidade absurda de tipos, e para diferenciá-los devem-se criar características fortes a cada um deles. Porém, muitas vezes o que acontece é uma simplificação dos personagens, tornando-os meras caricaturas ao invés de seres humanos críveis. No caso de "Magnólia" isso não acontece. Até mesmo as figuras que poderiam ter se tornado esteriótipos do pior tipo como o personagem de Tom Cruise, um palestrante que diz como um homem deve dominar sexualmente a mulher, ganham nuances inesperadas. 

Ainda no roteiro, merecem elogios os diálogos. O tema principal de "Magnólia" são as relações familiares e os arrependimentos que muitas vezes esses relacionamentos nos proporcionam. Só pelo tema já dava para esperar um filme demasiadamente emotivo, que pudesse escambar facilmente para o melodrama; ainda mais num longa com várias histórias, em que muitas vezes elas são simplificadas para caber num filme de mais ou menos duas horas de duração. Porém, os diálogos criados por Anderson são muito bem escritos e não só contribuem para a construção de histórias mais bem desenvolvidas como também ajudam na caracterização dos personagens citada no parágrafo anterior.

Mas como eu sempre faço questão de ressaltar, roteiro e elenco estão de mãos dadas e, por isso, se um não está bom, o outro sai prejudicado. Em "Magnólia", para evitar que isso acontecesse, Anderson chamou um elenco de peso e os dirigiu de forma exemplar. Todos os atores estão muito bem em seus respectivos papéis, mas ao mesmo tempo, nenhum se destaca em relação aos outros, algo muito bom num filme desse gênero. Afinal, geralmente, em filmes com diversas histórias, há sempre uma certa instabilidade, já que há sempre uma que se sobressai. Porém, em "Magnólia", felizmente, isso não acontece.

Além disso, ao trabalhar com um elenco numeroso, num filme em que não há um protagonista propriamente dito, o diretor evitou que houvesse algum tipo de exagero nas performances, algo que tem acontecido em seus filmes mais recentes, que possuem um número menor de personagens. "Sangue Negro" e "O Mestre", por exemplo, são ótimos filmes, mas em ambos, os protagonistas, Daniel Day-Lewis e Joaquin Phoenix, respectivamente, apesar de terem performances notáveis, por vezes, exageram nos trejeitos e nas feições.

Apesar de ser um filme cheio de qualidades, "Magnólia" têm também as suas falhas, mesmo que elas não sejam prejudiciais ao todo. O primeiro é o tempo de duração: 3 horas e oito minutos. Como já é de se esperar, ao final, o filme começa a ficar cansativo. Entretanto, percebe-se que o filme manteve o exagerado tempo de duração em prol do melhor desenvolvimento das histórias e dos personagens. Outro problema é a trilha sonora incessante. Para manter o ritmo durante essas três horas, Anderson aplicou a música composta por Jon Brion a praticamente todas as cenas, o que ficou um pouco irritante. Mas, novamente, não é nada que prejudique o conjunto da obra.

"Magnólia" poderia ter sido apenas mais um filme-mosaico, porém o seu roteiro, elenco e direção de primeiríssima qualidade o põem em um patamar acima da média do gênero.


NOTA: 4/5


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