quarta-feira, 13 de março de 2013

O Mestre (The Master)


Dir.: Paul Thomas Anderson; Escrito por Paul Thomas Anderson;Com Joaquin Phoenix, Phillip Seymour Hoffman, Amy Adams. 2012 - Paris (144 min. - 14 anos)


O primeiro filme que eu vi do diretor Paul Thomas Anderson foi "Sangue Negro". Me lembro que estava super receoso, uma vez que o filme tinha mais de duas horas e meia de duração, e se eu não gostasse estava definitivamente ferrado. Felizmente, o filme é espetacular, com ótimas atuações, um roteiro afiado e uma produção impecável. Por isso, eu fiquei bastante feliz quando soube que depois de cinco anos afastado do cinema, Anderson iria lançar um novo filme que supostamente criava mais polêmicas sobre a já polêmica Cientologia. Temos, então, "O Mestre", que apesar de não ser tão bom quanto o filme anterior do diretor, ainda é definitivamente um longa acima da média.

O filme começa logo após o fim da Segunda Guerra Mundial quando os americanos, entre eles Freddie Quell, estão voltando para casa. A vida, claro, não é fácil, já que Freddie passa por diversos empregos, de fotógrafo até trabalhador rural, sendo demitido de todos eles por causar mal-estar no local de trabalho. Alcoólatra inveterado, misturando tudo que tenha álcool em sua "poção mágica", e desempregado, Freddie um dia resolve entrar dentro de um barco atracado num cais. Daí começa a relação dele com A Causa.

Fascinado com a estranha bebida preparada por Freddie, o líder d'A Causa, Lancaster Dodd (também chamado de Mestre), resolve adotar o veterano de guerra como o seu pupilo, não só para salvá-lo da vida de sexo e bebedeiras, mas também para atrair cada vez mais pessoas para a sua seita. Entretanto, quem não compra a ideia é a esposa de Dodd, a jovem Peggy, que apesar de acreditar n'A Causa, não acredita na salvação de Freddie.

Então, inicia-se toda uma iniciação de Freddie ao grupo que irá por a sanidade tanto do Mestre quanto de seu aprendiz em xeque. Além de surgirem questionamentos quanto à veracidade do discurso de Dodd, uma vez que Freddie se mostra uma cobaia muito mais difícil do que se imaginava.

O grande chamariz de "O Mestre" é a relação entre Freddie Quell e Lancaster Dodd. O interessante é perceber que Dodd trata Quell como um filho seu, porém não como a um rebento qualquer, mas sim como um diamante bruto, esperando por uma bela lapidação. Por causa disso, não é de se espantar que no início do filme Dodd chame Quell de animal e o trate como um cãozinho malcriado. Porém, vale lembrar que essa relação não é assim por acaso. Na verdade, a meu ver, o relacionamento entre os dois é uma forma do Mestre compensar o desprezo que tem por seu filho verdadeiro, que não acredita nem um pouco nas palavras dele. Pode-se dizer, portanto, que o principal ponto de discussão de "O Mestre" não é nem a polêmica em torno d'A Causa (que seria uma alusão à Cientologia), mas sim as relações humanas - entre pais e filhos, entre mestre e súditos - que permeiam as reuniões da seita.

Quanto a isso, o roteiro de Paul Thomas Anderson e as performances do elenco estão muito bem. Anderson, que escreve todos os seus filmes, aqui constrói cenas perfeitas como a primeira sessão entre Freddie e o Mestre, que servem para formar dinamicamente a personalidade dos dois protagonistas. Além disso, Anderson mantém o tempo inteiro um clima bastante misterioso, enigmático sobre o que realmente é a Causa e se o Mestre realmente acredita naquilo que diz ou se ele apenas inventa tudo.

O elenco também está ótimo, principalmente os dois protagonistas. Joaquin Phoenix por vezes exagera, especialmente na postura e em algumas caretas de seu personagem, porém no geral é uma performance especial; ainda mais se lembrarmos que este é o primeiro papel dele desde aquele pegadinha em que ele fingiu ter desistido da vida de ator para virar rapper, que deu origem ao falso documentário "I'm Still Here" dirigido por Casey Affleck. Phillip Seymour Hoffman, colaborador frequente de Paul Thomas Anderson desde "Jogada de Risco", na minha opinião é quem tem o melhor desempenho de todo o filme. Gostei muito das oposições que ele deu ao Mestre, por vezes bastante sereno, mas em outros momentos claramente raivoso e até intolerante. Fechando o trio principal, Amy Adams faz uma participação relativamente pequena e sem grandes momentos como Peggy, mas no geral é mais uma boa performance dessa ótima atriz.

Como já é de se esperar de um filme de Paul Thomas Anderson, "O Mestre" é tecnicamente perfeito. A fotografia de Mihai Malaimare Jr. é de fazer qualquer um babar de tão bonita que é, o figurino e a direção de arte traduzem muito bem a época em que a história é situada e a trilha sonora de Jonny Greenwood (guitarrista da banda Radiohead e colaborador de Anderson desde "Sangue Negro", para o qual fez um excelente trilha) traz ainda mais mistério para o enredo do longa.

Para não-iniciados na filmografia de Paul Thomas Anderson, "O Mestre" pode parecer um saco (a mulher que sentou atrás de mim no cinema que o diga) por conter cenas bastante estranhas como a sequência de abertura do filme, por exemplo. Mas para quem, como eu, já viu "Embriagado de Amor" e a chuva de sapos em "Magnólia", fica a impressão de que "O Mestre" é mais um ótimo trabalho do diretor californiano.

NOTA: 4/5


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