domingo, 3 de março de 2013

Django Livre (Django Unchained)


Dir.: Quentin Tarantino; Escrito por Quentin Tarantino; Com Jamie Foxx, Christoph Waltz, Leonardo DiCaprio, Kerry Washington, Samuel L. Jackson. 2012 - Sony (165 min. - 16 anos)

Atualmente, Quentin Tarantino é um dos poucos diretores que consegue manter as suas marcas autorais - como a violência extrema, os diálogos afiados e a trilha sonora vintage - e ainda assim atrair grandes públicos para os seus filmes. Um perfeito exemplo disso é o último longa do diretor, "Django Livre".

Passado em meados do século XIX, o filme acompanha a dupla formada por Django e o dr. King Schultz, o primeiro é um ex-escravo com sede de vingança e um segundo é um dentista que se tornou caçador de recompensas, uma vez que assim ele ganha bem mais dinheiro. Os dois percorrem o sul dos EUA atrás de criminosos procurados pela Justiça a fim de matá-los e receber grandes recompensas.

Porém, após algum tempo nessa verdadeira caça aos bandidos, Django chega à conclusão de que ele precisa usar tudo o que aprendeu com Schultz para salvar a sua esposa, Brunhilde. Coincidentemente, o nome da amada do ex-escravo é o mesmo da donzela de uma antiga lenda alemã, na qual o herói, Siegfried, deve enfrentar um dragão e seu círculo de fogo para salvar a sua companheira; e por ser alemão, o doutor se vê na obrigação de acompanhar o seu fiel escudeiro nesta nova jornada.

Porém, não é preciso dizer que nada vai ser tão simples assim, uma vez que a lenda de Siegfried irá se repetir na vida real e Django e Schultz terão que enfrentar o sádico fazendeiro Calvin Candie e seu braço-direito, o negro racista(!) Stephen.

Uma coisa é preciso admitir, Tarantino é mesmo um grande roteirista! Não só toda a premissa de "Django Livre" é bastante criativa, mas o diretor também parece ter um dom para criar personagens e cenas memoráveis. Figuras como Django, o dr. King Schultz, Calvin Candie e Stephen são daquelas que vão ser lembradas por ainda muito, mas muito tempo. Enquanto isso, Tarantino usa o seu talento como dialogista para criar situações surpreendentes e extremamente bem construídas. Sequências como o grande jantar na casa de Calvin Candie e a discussão de uma incipiente Ku Klux Klan sobre as suas máscaras estão entre algumas das melhores cenas que eu tenha visto recentemente.

Além disso, não sei se é apenas impressão minha, mas Tarantino também vem se tornando um diretor cada vez mais experiente. No caso de "Django Livre", ele faz um ótimo uso dos US$ 100 milhões do orçamento, comandando com maestria todos os seus "subordinados", indo desde a direção de arte até a fotografia, passando pelo figurino.

Isso sem contar com o elenco, que está fenomenal! Jamie Foxx tem ótimos momentos como Django, principalmente quando está junto do excelente Christolph Waltz, que consegue tirar o melhor proveito de seu personagem que, honestamente, poderia ter se tornado apenas mais uma variante do Hans Landa de "Bastardos Inglórios". Como Calvin Candie, Leonardo DiCaprio mostra como se tornou um dos melhores atores de sua geração. Kerry Washington imprime à Brunhilde um misto perfeito de coragem e sensualidade. Mas na minha humilde opinião, quem rouba a cena mesmo é Samuel L. Jackson. Desde que o vi em "Entre o Céu e o Inferno", percebi o quão bom ator ele é, e em "Django Livre", na pele do abominável Stephen, ele está excelente. Sem dúvida, é o grande injustiçado do elenco no que diz respeito a reconhecimento nas grandes premiações.

Porém, nem tudo é perfeito. Se como eu falei, Tarantino vem crescendo como diretor e mostra mais uma vez que é um ótimo roteirista, "Django Livre" deixa claro que ele realmente não é um editor experiente. Se em "Bastardos Inglórios" ele já mostrava certa dificuldade em enxugar a história, tanto que aquele filme tem mais de duas horas e meia de duração (por sinal, algo comum na filmografia do diretor), em "Django Livre" fica claro que ele realmente é uma pessoa que não sabe resumir as coisas. Se tivesse cerca de meia hora a menos (passando de inchados 165 minutos para mais ou menos 135 minutos), seu mais novo filme seria forte candidato a ser sua obra-prima, porém, talvez por ser o autor do roteiro, o que deixa mais difícil escolher o que deve ser cortado e o que deve ser mantido, Tarantino acaba deixando o filme arrastado em certos momentos, principalmente entre o fim do primeiro ato e o jantar com Candie e depois em seus últimos 20-25 minutos.

Outra coisa que eu gostaria de ver também é Tarantino abandonar um pouco a sua zona de conforto. Não é que eu não goste de suas marcas registradas (algo que eu já elogiei aqui), mas é que, tirando o orçamento maior e a escolha por histórias de época, eu não o vejo tentando coisas novas. Apesar de adorar a sua violência propositalmente exagerada e a sua trilha sonora cheia de ótimas músicas (entre elas as originais "Ancora Qui" e "100 Black Coffins" de Ennio Morricone e Rick Ross, respectivamente), "Django Livre" mostra um Tarantino acomodado em artifícios utilizados por ele desde os seus primeiros filmes. Enfim, gostaria de vê-lo experimentando mais, só para ver o que mais ele consegue criar.

"Django Livre" está longe de ser um dos melhores filmes de Tarantino (que para mim ainda são "Pulp Fiction" e os dois "Kill Bill"), entretanto até mesmo um filme menor do diretor consegue ser melhor do que muitos outros por aí.

NOTA: 3.5/5


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