sábado, 23 de março de 2013

Selvagens (Savages)


Dir.: Oliver Stone; Escrito por Shane Salerno, Don Winslow e Oliver Stone; Com Blake Lively, Aaron Johnson, Taylor Kitsch, Benicio Del Toro. 2012 - Universal (131 min. - 18 anos)


Oliver Stone é conhecido por ser um diretor nem um pouco sutil, afinal o que não falta em seus filmes é sexo, drogas e violência. Isso sem contar as atuações exageradas (no bom sentido) e a edição frenética. Porém, em alguns momentos o diretor usa essa fórmula e o resultado é mais ou menos (como em "Assassinos por Natureza"). Felizmente, em outras situações, Stone usa o excesso a seu favor e faz um ótimo filme, como é o caso de seu mais recente longa: "Selvagens".

No filme, dois amigos - Ben e Chon - são produtores de maconha na Califórnia. O negócio deles, que de início era apenas uma forma de chegar à erva perfeita, ganha tamanha proporção que os dois conseguiram dinheiro suficiente para comprar uma bela mansão envidraçada de frente para a praia - o lugar preferido deles. Somando-se ao sucesso profissional, há ainda a bela namorada da dupla, O, uma típica "pobre menina rica". Como ela faz questão de dizer, Ben e Chon são extremamente diferentes um do outro. Se com Ben ela faz amor, com Chon ela trepa; e essa relação reflete no negócio das drogas. Enquanto Ben é o cérebro por trás de toda a produção da dita melhor maconha do mundo, Chon representa a violência, ou seja, ele é aquele que quando necessário, vai acertar as contas com as próprias mãos.

Como já era de se esperar, a história da maconha perfeita vai parar nos ouvidos da líder do principal cartel mexicano, Elena, que prontamente decide fazer uma proposta aos rapazes. Em troca da "pacificidade" entre mexicanos e californianos, Ben e Chon devem fornecer a sua maconha ao cartel. Porém, apesar da tentadora proposta, a dupla de amigos recusa a oferta, o que, obviamente, causa a ira de Elena, que decide, então, se vingar. Como? Ela sequestra o grande amor da vida deles: O. E assim começa uma eletrizante corrida de gato e rato entre os dois grupos.

Pelo que dá para ver pela história, o filme tem cenas extremamente fortes, tanto de violência quanto de sexo. A maior prova disso é que logo nos primeiros minutos já há um exemplo de cada uma dessas situações: O e Chon transam loucamente num sofá e os mexicanos fazem um vídeo em que mostram as cabeças decapitadas de inimigos. E isso é só o início, portanto fica a dica: se você não gosta desse tipo de coisa, fuja de "Selvagens". Entretanto, se você não liga para isso, continue a ler esta crítica.

Como já pude falar aqui em cima, as atuações em muitos filmes de Oliver Stone são bem acima do tom, e em "Selvagens" não é exceção. Na realidade, os três "heróis", vividos por Taylor Kitsch, Aaron Johnson e Blake Lively, são até os mais discretos. O grande teatro está presente mesmo é no lado dos mexicanos. Salma Hayek como Elena e Benicio del Toro como Lado, o braço-direito da líder do Cartel, encarnam suas personagens com força total. Dessa forma, as atuações deles são bem caricatas de propósito, talvez até para deixar ainda mais clara as diferenças entre americanos e mexicanos. Por causa disso, o que não falta é grito, sotaque carregado e até peruca! Mesmo assim, do lado dos americanos há um personagem bem caricato também. Nesse caso, é o policial corrupto vivido por John Travolta, que em uma pequena participação, já consegue deixar a sua marca.

Mas não são só as atuações que são desmedidas; todo o visual do filme segue essa linha também. A edição, por exemplo, é frenética nas cenas de ação. A fotografia usa cores fortíssimas: o mar é AZUL e o sangue é VERMELHO. E quer saber? Eu amei isso! 

Entretanto, posso apostar que alguém vai se perguntar por que eu estou defendendo tanto o exagero em "Selvagens", se no caso de outros filmes eu o estaria criticando. A explicação é simples: no filme de Oliver Stone o exagero serve apenas para realçar o roteiro polêmico, ou seja, desde sua concepção "Selvagens" já tinha a intenção de ser vibrante e acima do tom. Enquanto isso, em outros filmes, que possuem roteiros mais "calmos", quando se faz o uso do exagero, em sua maioria ele acontece por mero desleixo do diretor e não como princípio cinematográfico. E mesmo quando comparado a outros filmes propositalmente acima do tom, "Selvagens" ainda tem uma vantagem crucial: o exagero não é feito em detrimento da compreensão. Qualquer um pode citar um filme em que a edição frenética, por exemplo, deixou cenas de ação incrivelmente confusas; um caso recente foi "Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança", que ao fazer uso da câmera de mão e da edição rápida nessas sequências, deixou o filme todo bagunçado, como quando uma criança pega todos os seus brinquedos e os joga ao ar. Já em "Selvagens", as cenas de ação são compreensíveis apesar da edição acelerada.

Enfim, para não me alongar mais, acho bastante interessante comparar "Selvagens" com "Assassinos por Natureza". Ambos esse filmes de Oliver Stone são exageradíssimos, porém onde "Assassinos..." erra, "Selvagens" acerta. Se no filme de 1994, o exagero acabava por prejudicar o aprofundamento da história e das personagens, no filme de 2012, que apesar de não ter, pelo menos ao meu ver, uma crítica social tão forte, a adoção do superlativo apenas faz bem à história. "Selvagens" é um filme que merece a alcunha de EXAGERADO!

NOTA: 4/5


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