sexta-feira, 8 de março de 2013

Amor (Amour)


Dir.: Michael Haneke; Escrito por Michael Haneke; Com Jean-Louis Trintignant, Emmanuelle Riva, Isabelle Huppert. 2012 - Imovision (127 min. - 14 anos)


O casal de ex-professores de música, Georges e Anne, possuem uma vida pacata e bastante agradável. Os dois vivem num confortável apartamento em Paris e vão frequentemente a concertos de música clássica, mantendo uma vida cultural bastante ativa para dois indivíduos octogenários. Porém, tudo isso começa a se deteriorar quando Anne mostra sinais de que sua saúde está frágil, tendo que se submeter a uma cirurgia. Entretanto, o procedimento dá errado, e daí a vida de Anne morre pouco a pouco, e junto dela, a de seu marido, encarregado de cuidar dela neste momento difícil. Esta é a prova de "Amor" definitiva.

Desde o início do mais recente filme de Michael Haneke, já sabemos que a história do casal não vai acabar bem. Porém, neste caso, o que interessa não é a conclusão, mas sim o meio; e essa é a parte mais difícil. Sem dúvida alguma, "Amor" não é um filme para quem tem coração mole, pois apesar de seu título poético, o filme é bastante cru no que diz respeito ao deterioramento da saúde de Anne. Vemos cada etapa de seu sofrimento e, consequentemente, do de seu marido também.

Filmado basicamente dentro de um mesmo cenário - o apartamento do casal -, Haneke mostra em "Amor" a sua total competência tanto na escrita como na direção do filme. O seu roteiro, apesar de contar com algumas cenas mais metafóricas, é bastante realista, não apelando em momento algum para o sentimentalismo barato, pelo contrário, aqui o amor é mostrado pelo seu lado mais humano, ótimo em certos momentos e sofrido em outros. Até mesmo as cenas mais depressivas do filme não apresentam uma visão monocromática, preta ou branca, do assunto, mas sim um ponto de vista cinza, mesclado com outras cores aqui e acolá.

Além disso, diria eu, o filme é até bem acessível apesar de ser um típico produto do cinema de arte. Digo isso, pois acredito que todos nós já passamos ou presenciamos alguma situação semelhante àquela apresentada pelo filme. Quem nunca teve algum parente ou amigo que teve uma morte lenta e dolorosa? Daquelas que tentamos contornar, mas que não vemos muitas alternativas possíveis. Então, no caso de "Amor", não importa se o filme é falado em francês e os atores são desconhecidos do grande público, o que importa é a mensagem, e esta é universal.

Grande parte da verossimilhança do filme deve-se aos esforços singulares de Jean-Louis Trintignant e, principalmente, de Emmanuelle Riva. Ambos possuem performances espetacularmente contidas: Trintignant no sofrimento de seu personagem por ver a sua grande companheira presa a uma cadeira de rodas e, posteriormente, a uma cama; e Riva na gradual deterioração física de sua personagem. É aí que a experiência dos atores e do diretor faz a diferença, pois se o filme tivesse sido feito por uma equipe diferente, talvez não tivéssemos o resultado de hoje.

Apesar de se estender demais e causar cansaço, que acredito que de uma forma ou de outra até tenha sido a intenção do diretor, "Amor" é um filme melancólico, esperançoso, pesado e poético. E essas são as razões que o fazem memorável.

NOTA: 3.5/5


Nenhum comentário:

Postar um comentário