Dir.: Oliver Stone; Escrito por David Veloz, Richard Rutowski e Oliver Stone; Com Woody Harrelson, Juliette Lewis, Robert Downey Jr., Tommy Lee Jones. 1994 - Warner (118 min. - 18 anos)
Oliver Stone sempre foi conhecido por ser uma figura polêmica, seja dentro ou fora do mundo do cinema. Ao mesmo tempo em que é simpatizante de figuras geralmente criticadas como os líderes latino-americanos Hugo Chávez e Fidel Castro, Stone também é famoso por seus filmes que usam e abusam da violência, da política e do criticismo social. Entre suas obras mais famosas (e controversas) estão "JFK - A Pergunta que não Quer Calar" e "The Doors", entretanto o seu filme mais polêmico é, talvez, "Assassinos por Natureza" de 1994.
Baseado num roteiro originalmente escrito por Quentin Tarantino, o longa conta a saga de um casal de assassinos em série, Mickey e Mallory Knox, que, por mera diversão, tocam o terror por onde passam, deixando um verdadeiro rastro de sangue. Enquanto isso, o filme também mostra a ascensão do casal à fama devido aos seus atos de carnificina e o aumento de sua popularidade entre a população norte-americana.
Com um visual marcante, "Assassinos por Natureza" já deixa a sua marca logo na sequência de abertura, em que o casal assassina diversas pessoas dentro de uma lanchonete no meio do deserto. Alternando a fotografia entre cores vibrantes e o clássico preto-e-branco, cortes rápidos e abundantes, uma trilha-sonora de tirar o fôlego e uma mistura de realismo com delírio, o que é prometido é um filme incrível. Entretanto, apesar do longa continuar esteticamente interessante, a história, que é o que mais importa, começa a mostrar os seus defeitos.
Com uma ótima e bem construída crítica à imprensa e à sociedade altamente influenciável, fazendo uso de inúmeros recursos, incluindo um apresentador de tevê de moral duvidosa (vivido com louvor por Robert Downey Jr.) e um comercial da Coca-Cola para efeito cômico, "Assassinos por Natureza" peca onde deveria ter exatamente mais cuidado: na construção de seus personagens principais.
Mickey e Mallory são devidamente apresentados através de uma sequência bastante interessante (e sinistra também) que copia clássicas sitcoms como "I Love Lucy". Entretanto, a partir do momento em que os dois saem estrada afora em sua jornada de assassinatos, a história dos dois começa a ficar bem rasa, dando maior ênfase à violência e à estética do que ao drama dos protagonistas, que poderia ter sido muito mais explorado.
Exemplo desse desleixo com os personagens são as cenas de discussões entre Mickey e Mallory, que poderiam ser mais calmas, dando, portanto, mais chances aos atores (os ótimos Woody Harrelson e Juliette Lewis) de mostrar o seu potencial dramático. Mas ao invés disso, o diretor insiste em manter a edição frenética, impedindo o envolvimento do espectador com os dois serial killers (algo que tornaria o filme bem mais interessante, pois criaria uma sensação de mal-estar no público por simpatizar com uma dupla de criminosos impiedosos).
Portanto, apesar dos maiores esforços de seu talentoso elenco, "Assassinos por Natureza" perde a oportunidade de ir além em sua crítica por preferir focar em sangue e visual do que no psicológico de duas figuras visivelmente perturbadas, mas ao mesmo tempo, perdidamente apaixonadas uma pela outra. É um bom filme, mas poderia ter sido melhor.
NOTA: 3/5