Dir.: Antoine Delesvaux e Joann Sfar; Escrito por Sandrina Jardel e Joann Sfar; Com François Morel, Mathieu Amalric, Hafsia Herzi. 2011 - Imovision (100 min.)
Logo no início de "O Gato do Rabino", há uma narração feita pelo próprio bicho do título explicando o porquê dos judeus preferirem ter gatos a cachorros. A explicação é bastante simples: os judeus não gostam de cachorros pelo fato de eles estarem sempre atrás de seu dono, como se o perseguisse, e como os judeus já foram perseguidos diversas vezes, eles se sentem desconfortáveis nessa situação. Por isso, eles preferem os gatos, já que estes são independentes e não fiquem rodeando o dono o tempo inteiro. Digamos que esta pequena fala já dá uma amostra do que vai ser o resto do filme.
"O Gato do Rabino", vencedor do César 2012 (o Oscar do cinema francês) de melhor filme de animação, está longe de ser um filme para crianças, pelo contrário, o seu público alvo são os adultos. Um exemplo disso é a própria temática do filme, extremamente ligada à religião. Além disso, há algumas (mas sutis) cenas de sexo e outras sequências mais violentas. Só esse já é um motivo para conferir o filme, já que animações adultas são raras de se encontrar em nossos cinemas. Mas há outro motivo: "O Gato do Rabino" é muito bom.
O longa conta a história de um grupo formado por um gato e um burro falantes, dois rabinos e dois russos - um judeu e outro constantemente bêbado -, que viajam à bordo de um mini-trator Citroën 1925 da Argélia até a Etiópia, onde supostamente os judeus vivem em paz. Entretanto, até chegar nessa história principal, o filme narra pequenas histórias que ajudam na apresentação e construção dos personagens. Estes contos explicam desde como o gato adquiriu o dom da fala até como o judeu russo chegou à Argélia dentro de uma caixa.
A maior qualidade de "O Gato do Rabino" é a forma como trata as religiões. Os roteiristas decidiram por satirizar, mas ao mesmo tempo homenagear diversas crenças, principalmente o judaísmo e a fé muçulmana. Dessa forma, o filme possui piadas inteligentes, mas que ao mesmo tempo não causam nenhum mal estar no espectador.
Outro triunfo dessa animação francesa são os seus personagens. O narrador da historia, o gato que quer fazer um bar mitzvah, é uma figura bastante interessante por ser irônico, estressado, irritante, mas também muito divertido. O seu dono, o rabino, também é ótimo, mas exatamente por ser o oposto do seu bichinho de estimação. Ele é basicamente um doce de pessoa. Outro personagem muito bom é o russo Vastenov, um bebedor inveterado de vodca, responsável por ótimos momentos no filme como quando compara o seu amor à bebida e ao tabaco ao amor que o rabino sente por Deus.
Um longa de cores e opiniões fortes, "O Gato do Rabino" não é uma unanimidade (posso apostar que muitos não vão gostar), mas merece a sua atenção por ser um dos filmes de animação mais interessantes (e excêntricos) do ano.
P.S. - Para quem for fã do Tintim, fique atento à participação do personagem perto do final do filme.
NOTA: 4/5
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