Dir.: David Frankel; Escrito por Vanessa Taylor; Com Meryl Streep, Tommy Lee Jones, Steve Carell. 2012 - Imagem (100 min.)
Realmente, parece que o mundo do entretenimento está finalmente descobrindo, ou melhor, valorizando um de seus públicos mais cativos: a terceira idade. Há pouco tempo atrás era difícil ver filmes, séries e programas de tevê voltados a essa faixa etária que não fossem relacionados, principalmente, à saúde. Entretanto, a situação está mudando: se antigamente, na televisão norte-americana, a grande sacada era veicular propagandas voltadas aos jovens, atualmente, o que não falta são anúncios que procuram atrair os aposentados, para o bem ou para o mal, é verdade. E no cinema essa mudança também é visível, uma vez que cada vez mais filmes voltados para os sexagenários, septuagenários, octogenários etc. estão sendo lançados. Um exemplo recente foi o inglês "O Exótico Hotel Marigold", que reuniu grandes estrelas do cinema britânico como Judi Dench e Maggie Smith, e ainda foi um sucesso de bilheteria, arrecadando mais de 130 milhões de dólares em cima de um orçamento de apenas 10 milhões. Não é por nada, então, que "Um Divã para Dois" tenha sido lançado e venha tendo uma competente carreira nos cinemas.
Protagonizado por dois veteranos de Hollywood, Meryl Streep e Tommy Lee Jones, o filme de David Frankel acompanha um casal que viaja até o estado norte-americano do Maine para fazer parte de um tratamento intensivo com um conhecido terapeuta, vivido por Steve Carell, afim de salvar o seu casamento decadente. Não é surpresa que ninguém está feliz com esse cenário, mesmo que por motivos diferentes. Kay (Streep) não aguenta mais dormir num quarto separado de seu marido nem da falta de carinho que este tem com ela. Por outro lado, Arnold (Jones) está bastante estressado por ter sido indiretamente obrigado por sua esposa a participar do tratamento. Esse é o ponto de partida de "Um Divã para Dois", uma comédia irregular, mas muito divertida sobre os desejos de um casal da terceira idade.
O principal ponto a ser notado é a franqueza com a qual os personagens falam sobre sexo. Em nenhum momento o diálogo parte para a baixaria ou coisa parecida, mas pelo contrário, todas as conversas ou situações de conteúdo sexual são tratadas de forma realista, mas ao mesmo tempo sutil. Enfim, em "Um Divã para Dois" masturbação, sexo oral, ménage a trois: tudo isso é motivo de piada, mas de uma forma nem um pouco vulgar, algo importante num filme desse gênero. Afinal, não estamos falando de nenhuma comédia escrachada.
Parte do sucesso desse equilíbrio entre sexo e sutileza se deve aos dois atores principais. Streep e Jones não só têm uma ótima química juntos como também sabem administrar muito bem as piadas mais sugestivas. Num certo momento, por exemplo, Meryl tenta, de forma fracassada, fazer sexo oral em Jones dentro de um cinema. Essa cena tinha tudo para dar errado e fazer com que os atores parecessem dois ridículos, mas não, Meryl e Tommy se saem bem e fazem desta cena uma das melhores do longa.
No final das contas, percebe-se que "Um Divã para Dois" acerta exatamente onde, por exemplo, "Sex and the City 2" erra de maneira vergonhosa. No filme de Sarah Jessica Parker e cia. é ridículo ver quatro quarentonas achando que tem vinte e poucos anos, falando de sexo como se tivessem acabado de entrar na faculdade, já em "Um Divã para Dois" os protagonistas realmente parecem duas pessoas de sessenta e poucos anos falando sobre sexo. Nesse sentido, é louvável, portanto, o trabalho da roteirista Vanessa Taylor.
Entretanto, nem tudo são flores. O filme em certos momentos parece novelesco demais, o que é apenas realçado pela trilha sonora infeliz composta por Theodore Shapiro. Isso sem contar na seleção de músicas digna do setlist da JB-FM. Além disso, Steve Carell me pareceu subaproveitado no filme. Ele, que é um grande comediante, não tem momentos de destaque, uma vez que ele basicamente serve de escada para Meryl e Tommy desenvolverem os seus diálogos.
Engraçado, bem dirigido, com excelentes atuações de seus protagonistas e, por que não, um pouco cafona, "Um Divã para Dois" não é perfeito, mas nem por isso merece ser ignorado.
NOTA: 3.5/5
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