sábado, 26 de maio de 2012

A Cartomante


Dir.: Wagner de Assis e Pablo Uranga; Escrito por Wagner de Assis; Com Luigi Baricelli, Deborah Secco, Ilya São Paulo, Silvia Pfeifer, Giovanna Antonelli. 2004 - Imovision/Califórnia Filmes (90 min. - 14 anos)


"A Cartomante", escrito por Machado de Assis, é um daqueles contos que daria um ótimo filme. Primeiro de tudo, o seu tema é atemporal: a traição. No conto, Machado narra o triângulo amoroso formado por Camilo, Vilela e Rita. Camilo e Vilela são grandes amigos desde sempre, porém, põe-se entre eles a figura de Rita, casada com Vilela, mas que mantém um relacionamento amoroso secreto com Camilo. Tudo isso regado a uma discussão sobre destino e superstição.

Além disso, o conto não se aprofunda tanto nos encontros entre os dois amantes, abrindo, portanto, uma janela para o desenvolvimento de uma história compatível com a duração de um longa-metragem.

Entretanto, mesmo com todas as chances de dar certo, o filme de Wagner de Assis e Pablo Uranga é uma verdadeira chuva de lama no legado de um dos maiores escritores brasileiros.

Para começar, o roteiro é bem fraco. Os diálogos são bobos, as adaptações feitas ao conto são pouco imaginativas e a tensão, tão presente, principalmente, no final do texto de Machado de Assis, é nula. Em nenhum momento, o espectador fica com os nervos à flor da pele, esperando o que vai acontecer em seguida. O filme como um todo é simplesmente monótono, parecendo longo demais mesmo com apenas 95 minutos de duração.

Como se isso já não fosse o bastante, o final, que é, sem dúvida a melhor parte do conto, foi totalmente modificado no filme. A grande reviravolta do longa é ridícula e provoca risos involuntários. Além disso, o espírito pessimista tipicamente machadiano é traído sem dó nem piedade nesta versão cinematográfica.

Isso tudo sem falar na trilha sonora, que é deprimente. As músicas escolhidas parecem que foram retiradas da playlist de uma versão piorada da JB FM. Há também uma música bem radiofônica que toca pelo menos duas vezes no filme que parece uma cópia mal-sucedida de "Tô Nem Aí" da Luka, aquela canção que tocava sem parar em tudo quanto era lugar na primeira metade dos anos 2000. Mas a pior de todas é a música apocalíptica que toca sempre que Rita vai se consultar com a cartomante.

O elenco tenta melhorar as coisas, mas também não consegue. Tirando Silvia Pfeifer, que está incrivelmente canastrona como a psicóloga Antônia (criada especialmente para o filme), o elenco consegue entregar performances decentes, mas nada mais que isso.

"A Cartomante" poderia ter sido um filme muito interessante se tivesse sido feito de forma competente. Infelizmente, não foi isso o que se sucedeu e o filme é apenas uma tentativa frustrada de trazer a literatura machadiana para os dias atuais. Pelo menos, os realizadores tiveram o bom-senso de nem botar o nome de Machado de Assis nos créditos, senão o coitadinho estaria revirando em seu túmulo.

P.S.: O filme só vale por uma cena em que Sabrina Sato faz uma participação em que ela entra muda e sai calada numa época pré-BBB e pré-Pânico. Foi uma surpresa tão grande que até me fez gostar do filme por um minuto.

NOTA: 2/5



sexta-feira, 25 de maio de 2012

Xingu


Dir.: Cao Hamburger; Escrito por Helena Soarez, Cao Hamburger e Anna Muylaert; Com João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maria Flor. 2012 - Downtown Filmes (102 min. - 12 anos)


Os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Bôas são conhecidos por terem sido grandes defensores dos direitos dos índios da região do rio Xingu. O que poucos sabem, entretanto, é que os irmãos foram para lá com um objetivo bem menos nobre.

Enquanto muitos iam para a região com o objetivo de explorar as terras e construir pistas de pouso e postos de serviço para o governo, principalmente trabalhadores braçais analfabetos, os irmãos Villas-Bôas foram para o Xingu apenas para se aventurar. Afinal, para eles, explorar território desconhecido a fim de ganhar um salário indigno era o de menos. Eles vinham de uma família com uma boa situação financeira, tinham estudado em bons colégios e possuíam empregos estáveis na cidade de São Paulo. Na mente deles aquilo tudo era apenas mais uma grande viagem.

O porém é que eles não imaginavam que a situação da região era tão complicada. Os índios matavam os invasores, os brancos matavam os índios para poder ocupar suas terras, aldeias inteiras trabalhavam para mineradores e agricultores em condições indignas, entre outros casos. Era inevitável, então, que Orlando, Cláudio e Leonardo, que tinham um nível de escolaridade mais alto do que todos os outros expedicionários, percebessem que algo tinha que ser feito. E se ninguém o fizesse, eles mesmos o fariam. Daí parte a história de "Xingu".

O aspecto mais interessante, talvez, do filme de Cao Hamburger (o mesmo diretor do simpático "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias") é o estudo que o seu roteiro faz das diferenças culturais entre os índios e os brancos, ditos "civilizados". Enquanto os expedicionários usam roupas, carregam facões e armas de fogo e falam português, os índios andam pelados, usam arco-e-flecha e se comunicam através de línguas desconhecidas do homem urbano. Mas a grande sacada do filme é mostrar o quanto estas diferenças, que a princípio causam estranhamento de ambos os lados, contribuem para a união entre os indígenas e os Villas-Bôas. A partir de um determinado momento, um grupo confia no outro cegamente, e passam a compartilhar um inimigo em comum: aqueles que querem expulsar os índios de suas terras para trazer o dito "progresso" à nação.

Sem dúvida, este tema já foi explorado diversas vezes no cinema, o mais recente sendo "Avatar" de James Cameron, que eu me lembre. Mas apesar de já ser uma fórmula batida, aqui isto funciona porque o roteiro não apela para o melodrama nem para situações irreais. Pelo contrário, o filme é bastante pé no chão e evita sempre que possível o dramalhão água com açúcar, contribuindo para a credibilidade da história.

Além disso, a direção competente de Cao  Hamburger e as performances dos três protagonistas, principalmente, de João Miguel, que interpreta Cláudio, possivelmente, o irmão mais engajado na causa indígena, contribuem para uma experiência cinematográfica ainda maior. A incrível fotografia de Adriano Goldman e a trilha sonora de Beto Villares também enriquecem o filme.

Apesar de ter um final brusco, mas que ainda assim nos faz pensar, e ter sido uma grande decepção nas bilheterias brasileiras, talvez por ter um ritmo mais lento do qual o grande público está familiarizado, "Xingu", juntamente de "Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios", ambos de 2012, é um filme que expõe a situação dos índios no Brasil e mostra o quão pouco sabemos sobre esta questão. Acredito fortemente que este vai se tornar um filme obrigatório em muitas aulas de História daqui pra frente como também, num futuro mais próximo, deve ser o provável candidato brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Tem cara de Oscar e, o melhor (ou pior) de tudo, tem cara de Brasil.

NOTA: 3.5/5


segunda-feira, 21 de maio de 2012

Tá Rindo do Quê? (Funny People)


Dir.: Judd Apatow; Escrito por Judd Apatow; Com Adam Sandler, Seth Rogen, Leslie Mann, Eric Bana. 2009 - Universal (146 min.)

O título original de "Tá Rindo do Quê?" sem dúvida é bem melhor. "Funny People" é mais poético, mais conciso e resume bem os personagens do filme, mesmo assim acho que dá para entender porque os tradutores escolheram o titulo atual. Realmente não tem muito do que rir em "Tá Rindo do Quê?". Não que o filme seja ruim, longe disso! Mas, na verdade, ele está longe de ser uma COMÉDIA que nem o seu trailer mostra.

Este terceiro filme dirigido por Judd Apatow é claramente o mais maduro e o mais sério do diretor. Tudo bem que as piadas sobre pênis, sexo e afins ainda estão presentes, mas as piadas sobre drogas, tão comuns em seu filme anterior, "Ligeiramente Grávidos", somem por completo (ou quase) em "Tá Rindo do Quê?". Cenas de sexo esdrúxulas como as vistas em "O Virgem de 40 Anos" não marcam presença aqui, muito menos o seu humor escrachado. Para falar a verdade, as piadas mais pesadas estão presentes quase que em apenas algumas cenas de "stand-up comedy" exibidas no filme.

Aqui os diálogos tomam conta. As discussões são mais serias com temas como família, morte, felicidade etc. Resumindo, é um filme-reflexão feito por um dos maiores nomes da comédia atual.

O protagonista do longa é George Simmons, um comediante de grande sucesso em Hollywood, dono de uma enorme mansão e de uma milionária conta bancária. Porém, apesar de todo luxo e riqueza, George está bastante deprimido. O por quê? Ele descobriu que sofre de um tipo de leucemia cuja "cura" apenas funciona para 8% dos casos, ou seja, as suas chances de viver são poucas.

Num desses dias de depressão, ele resolve ir a um clube de comédia fazer a sua primeira apresentação de "stand-up" em anos. A apresentação é um desastre e o comediante que o sucede, Ira Wright, caçoa horrores dele. Mesmo assim, George se surpreende com o talento do moço e lhe faz uma proposta irrecusável: ser o seu assistente pessoal. Ira aceita o convite e daí tem início uma grande amizade. Entretanto, antes de partir, George deseja resolver algumas questões pendentes, entre elas um antigo caso amoroso mal-resolvido. Assim, George e Ira se unem e começam a resolver essas questões antes que seja tarde demais.

Uma das maiores qualidades de "Tá Rindo do Quê?" são as sua críticas ao show business hollywoodiano. Entre elas estão os filmes protagonizados por George como "Merman", no qual um homem possui uma cauda igual a de um tritão, e "Redo", em que um homem adulto vira um bebê. Os filmes são péssimos e a maior sacada desta piada recorrente é que o intérprete de George, Adam Sandler, é mestre em aparecer neste tipo de filme (alguém disse "Cada um Tem a Gêmea que Merece"?). Outra piada frequente diz respeito a um programa fictício de TV chamado "Yo, Teach", protagonizado por um dos amigos de Ira, interpretado por Jason Schwartzman. A série é uma verdadeira vergonha e, claro, é caçoada por todo o elenco do filme.

Por falar em elenco, este também é muito bom. A dupla de protagonistas, Adam Sandler e Seth Rogen, é ótima e realmente merece um filme. Outra que chama a atenção é Leslie Mann como Laura, a grande paixão da vida de George. Aqui ela tem chance de mostrar o seu potencial dramático, algo que não teve muita oportunidade em "O Virgem de 40 Anos" nem em "Ligeiramente Grávidos". Os grupo de coadjuvantes também é muito bom com nomes como Eric Bana, Jonah Hill e Jason Schwartzman.

Porém, "Tá Rindo do Quê?" tem alguns problemas. O primeiro é a quantidade de merchandising que é feito nesse filme. São tantas marcas sendo citadas e ganhando espaço no tempo de projeção, a principal delas sendo o My Space, que às vezes o filme parece mais um comercial. Apatow tenta encaixar este merchandising todo na história de forma coerente, mas ainda assim fica meio forçado.

Outra falha é a longa duração do filme. Nada contra filmes longos, mas "Tá Rindo do Quê?" possui 146 minutos sem a menor necessidade. Algumas vezes sente-se até que Apatow tenta esticar o filme a qualquer custo, o que leva a alguns momentos de monotonia.

Fora isso, "Tá Rindo do Quê?" é um filme simpático, nada mais, nada menos.

NOTA: 3/5


domingo, 20 de maio de 2012

Ligeiramente Grávidos (Knocked Up)


Dir.: Judd Apatow; Escrito por Judd Apatow; Com Seth Rogen, Katherine Heigl, Paul Rudd, Leslie Mann. 2007 - Universal (129 min. - 16 anos)

Numa entrevista a Vanity Fair, Katherine Heigl, protagonista de "Ligeiramente Grávidos", declarou que acha o filme um pouco sexista. Bem, eu não diria isso. Realmente, o filme dirigido por Judd Apatow retrata os homens como pessoas divertidas e extremamente simpáticas. Mas também os retrata como individuos imaturos ao extremo. Enquanto isso, as mulheres são mostradas como pessoas centradas, com trabalho e família para se preocupar, entretanto possuem personalidades bem difíceis. Em resumo, o filme pode pender um pouco a favor dos homens (afinal o filme foi escrito por um homem), mas no geral retrata as qualidades e os defeitos de ambos os sexos.

Esta oposição entre homens e mulheres já começa na primeira cena do filme. Nela, enquanto Ben e seus amigos ficam brincando na beira da piscina e fumam um baseado, Allison acorda cedo e se arruma para ir trabalhar. E assim o filme vai até o final, passando, é claro, pela própria premissa do filme.

Ben é um maconheiro desempregado de vinte e poucos anos que mora com os amigos e monta ao lado deles um site chamado Carne das Estrelas, no qual qualquer um pode pesquisar as cenas de nudez de seus astros favoritos. Já Allison é uma mulher dedicada ao seu trabalho no canal E! Entertainment, mas que ainda mora na mesma casa que sua irmã, Debbie, que já possui marido e filhas.

Num belo dia, Allison é promovida e resolve sair para comemorar junto com Debbie. Já na boate ela conhece Ben e os dois se embebedam e se dão muito bem, o que claro vai acabar na cama. O problema é que, devido a uma falha na comunicação entre os dois (olha as oposições!), Ben transa com Allison sem camisinha, o que vai ter resultado oito semanas mais tarde quando ela descobre que está grávida.

Começa, então, uma verdadeira jornada para Ben se tornar um homem mais responsável, capaz de passar um dia sem fumar maconha e para Allison, que tenta fazer seu relacionamento com Ben dar certo (afinal ela quer que seu filho tenha um pai presente).

Para começo de conversa, "Ligeiramente Grávidos" é ao mesmo tempo muito parecido, mas também muito diferente do filme anterior de Apatow: "O Virgem de 40 Anos". Ambos têm em comum o humor típico de Apatow, com muitas referências ao sexo e às drogas, mas ao mesmo tempo, enquanto o filme com Steve Carell era uma comédia declarada, "Ligeiramente Grávidos" flerta bastante com o drama.

Os próprios temas abordados pelo filme são mais maduros do que aqueles abordados em "O Virgem de 40 Anos". Gravidez, família, responsabilidades... Tudo isto colabora para a formação de um filme mais sério, mas nem por isso menos engraçado. Apesar de não ser hilário como "O Virgem de 40 Anos", "Ligeiramente Grávidos" possui cenas bastante engraçadas também.

O elenco colabora bastante. Seth Rogen e Katherine Heigl estão ótimos em seus respectivos papéis e possuem muita química juntos, assim como Paul Rudd e Leslie Mann como Pete e Debbie, que mesmo em personagens secundários roubam certas cenas do filme para si, tanto que ambos vão estrelar este ano "This Is Forty", uma quase continuação de "Ligeiramente Grávidos".

Em resumo, "Ligeiramente Grávidos" não chega ao mesmo nível de "O Virgem de 40 Anos", mas ainda assim possui qualidades o suficiente para ser considerado um bom filme.

NOTA: 3.5/5


sábado, 19 de maio de 2012

O Virgem de 40 Anos (The 40 Year-Old Virgin)


Dir.: Judd Apatow; Escrito por Judd Apatow e Steve Carell; Com Steve Carell, Catherine Keener, Paul Rudd, Seth Rogen. 2005 - Universal (116 min. - 16 anos)


Judd Apatow já era um nome conhecido em Hollywood desde a década de 1990, afinal ele era um produtor de comédias de destaque e amigo de diversos comediantes famosos como Adam Sandler e Ben Stiller. Entretanto, foi com o seu primeiro filme como diretor, "O Virgem de 40 Anos", que Apatow tornou-se um grande nome na indústria cinematográfica norte-americana, sendo considerado atualmente uma verdadeira marca capaz de vender diversos filmes. Para se ter uma ideia, Apatow produziu algumas das comédias mais bem-sucedidas dos últimos anos como "Superbad - É Hoje", "Ligeiramente Grávidos" (o qual também dirigiu) e "Missão Madrinha de Casamento". E não é de se espantar porque "O Virgem de 40 Anos" transformou a sua carreira para sempre: é simplesmente um ótimo filme!

No longa, Andy é um homem de 40 anos que não fez nada de importante na vida, tanto que trabalha no estoque de uma loja de eletrônicos e coleciona figuras de ação e joga videogames nas horas vagas, ou seja, vive sozinho, sem amigos nem namorada. Na verdade, os seus "brinquedos" são os seus melhores amigos. Para piorar ainda mais a situação ele tem um segredo: é virgem. Porém, um dia durante um jogo de pôquer entre ele e seus colegas de trabalho, estes descobrem que Andy é virgem e decidem ajudá-lo a arranjar uma mulher para transar. Não preciso nem dizer que isto vai levar a situações constrangedoras.

Para início de conversa, o humor de Apatow não agrada a todos. Pelo contrário, é daqueles que divide bastante as opiniões, isto é, há pessoas que o amam e há pessoas que o odeiam. Portanto, se você não gosta de um humor rude, cheio de piadas sobre sexo e drogas, regadas a altas doses de palavrão, fique longe não só deste, mas de todos os outros filmes dirigidos e/ou produzidos por Apatow. Mas se você é que nem eu, que se diverte com este tipo de filme, prepare-se, pois as risadas vão ser frequentes.

Sejam as tentativas frustradas dos amigos de Andy de tentar fazê-lo transar com alguma garota, a cena da depilação ou qualquer um dos diversos diálogos nonsense que aparecem periodicamente no filme, tudo contribui para uma experiência cinematográfica extremamente satisfatória.

Outra qualidade do texto de Apatow e Steve Carell, que também protagoniza o filme, é a mistura eficaz entre um humor extremamente grosseiro, típico de Apatow, e outro mais doce, típico de comédias românticas. Isto fica bastante evidente a partir do meio do filme, quando Andy conhece Trish, a única mulher pela qual ele realmente se interessa durante todo o filme, mas continua tentando pegar qualquer piriguete bêbada em um bar.

Entretanto, como faço questão de dizer o tempo inteiro, não adianta apenas o roteiro de uma comédia ser bom para ela dar certo. O elenco também precisa ser afiado e tem que apresentar uma ótima química entre os seus integrantes, e aqui isto está presente durante todo o tempo de projeção. Steve Carell está muito bem e é realmente a alma do filme, mas consegue se sair ainda melhor na companhia de Seth Rogen, Paul Rudd e Romany Malco nas cenas de comédia pastelão e de Catherine Keener nas cenas mais românticas. Além disso, as participações de Jane Lynch (como a chefe de Andy, num papel pré-Sue Sylvester de "Glee") e Kat Dennings (como a filha de Keener, já demostrando o timing cômico que mostra atualmente na serie "2 Broke Girls") são ótimas e geram muitas risadas.

"O Virgem de 40 Anos" é, então, um filme grosseiro, mas ao mesmo tempo apaixonante, com personagens muito bons e uma história envolvente. Ouso dizer que é uma das melhores comédias dos anos 2000.

NOTA: 4.5/5







sexta-feira, 18 de maio de 2012

Paraísos Artificiais


Dir.: Marcos Prado; Escrito por Marcos Prado e Cristiano Gualda; Com Nathalia Dill, Luca Bianchi, Lívia de Bueno. 2012 - Nossa Distribuidora (96 min.)


"Paraísos Artificiais" começa com a imagem de um emaranhado de arame farpado sobre os muros de uma penitenciária. Do lado de fora, uma mulher espera alguém enquanto fuma um cigarro. Sai, então, pelos portões da prisão um jovem mal-tratado. Ele e a mulher se abraçam. São mãe e filho. Já em casa, ficamos sabendo que o jovem tem um irmão mais novo e que este está envolvido com as drogas, as mesmas que levaram o jovem para o cárcere.

Só com esta pequena descrição já dá para perceber que "Paraísos Artificiais" começa com potencial. Sim, a história já é meio batida, mas ainda assim interessa, provoca curiosidade. Entretanto, os problemas do filme, dirigido por Marcos Prado, começam quando esta história, que poderia ser tão interessante, é substituída por outra que não tem o mesmo apelo.

Esta outra história é a remontagem dos acontecimentos que levaram Nando, o jovem recém saído da prisão, a se envolver com o mundo das drogas. A historia, então, é contada fora de ordem cronológica em três lugares diferentes: Rio de Janeiro, Amsterdã e numa praia do nordeste do Brasil. Além disso, novos personagens ganham espaço, Patrick, o melhor amigo de Nando, Érika, uma DJ de carreira promissora e Lara, a grande amiga/companheira de Érika.

Até aí tudo bem, dá para aceitar, entretanto o x da questão não é bem esse. A grande falha de "Paraísos Artificiais" é que esta história, que, como já disse, não tem o mesmo apelo que a outra, é esticada até não poder mais. Consequentemente, criam-se "barrigas" no filme, isto é, momentos em que a narrativa empaca e não consegue ir a lugar algum. Exemplo claro disso são as diversas cenas (longas) de sexo no meio do longa. Todas são parecidas e lentas, apenas emburrecendo o espectador. Mas como se já não fosse o bastante, entre essas cenas de sexo há outras cenas intermináveis de "viagens" a base de drogas. Seja ecstasy, cocaína, ou até um tal de peiote, os personagens vivem doidões, e mesmo que certas cenas sejam importantes para a construção destes, há tantas que dada uma certa hora eu já não aguentava mais ver todo mundo em câmera lenta, com cara se sono ou eletrificado, dançando que nem loucos numa rave.

A minha sugestão é que as duas historias - o passado de Nando e o envolvimento de seu irmão com as drogas - poderiam ter sido contadas simultaneamente. Assim, nenhuma delas correria o risco de se alongar demais e o filme ficaria mais dinâmico.

Felizmente, o longa tem as suas qualidades. O grupo de protagonistas, principalmente Luca Bianchi e Nathalia Dill (Nando e Érika, respectivamente), se sai muito bem em suas performances, captando o espírito do jovem de querer fazer algo de especial, mas que acaba se decepcionando com a vida e que, em alguns casos, faz das drogas uma espécie de remédio para as suas frustrações.

Outro elogio a ser feito ao filme é o quão bonitas são a sua fotografia e sua direção de arte. Sejam as praias do nordeste brasileiro ou as ruas de Amsterdã, Lula Carvalho, o diretor de fotografia, consegue dar ao filme um ar mais sofisticado, fugindo da praga que vem assolando os filmes nacionais: a cara de produção barata. Enquanto isso, as tendas da rave frequentada pelos protagonistas também são muito bonitas e combinam perfeitamente com a natureza da Zona da Mata.

Enfim, quanto ao elenco e às questões técnicas, "Paraísos Artificiais" está de parabéns, mas quanto à narrativa, poderia ter sido muito melhor.

NOTA: 2.5/5






sexta-feira, 11 de maio de 2012

Anjos da Lei (21 Jump Street)


Dir.: Phil Lord e Chris Miller; Escrito por Michael Bacall; Com Jonah Hill, Channing Tatum, Ice Cube. 2012 - Sony (109 min.)

Desde o primeiro segundo de projeção, já podemos notar que "Anjos da Lei" não é uma comédia com pudores, mas exatamente o oposto. O filme é louco, ofensivo, grotesco, nonsense, boca-suja e mais um monte de adjetivos não muito agradáveis, mas acredite se quiser, é extremamente engraçado.

"Anjos da Lei" é baseado na série homônima que durou de 1987 até 1991, sendo exibida pela Fox norte-americana. O seriado, ao contrário do filme, era um drama investigativo. Portanto, se você pensou em CSI, Criminal Minds e afins você está bem perto do conceito do "Anjos da Lei" original. A diferença é que a série era protagonizada por personagens jovens, no início da idade adulta, ou seja, era voltada especialmente para o público adolescente.

Então, como já se pode perceber, o filme "Anjos da Lei" e a série "Anjos da Lei" não são muito parecidos um com o outro. Na verdade, o que os dois têm em comum é a premissa. Em ambos, um grupo de policiais de aparência jovem se infiltra em colegiais e faculdades em busca de criminosos, o chamado projeto "Jump Street". E só.

No filme, dois jovens policiais, Schmidt e Jenko, vividos por Jonah Hill e Channing Tatum, respectivamente, são recrutados para a nova geração de agentes do projeto "Jump Street". Quando chegam no Q.G. do grupo, o número 21 da rua Jump (uma igreja cristã coreana abandonada), recebem a sua missão: eles devem se infiltrar numa escola na qual faz sucesso uma nova droga sintética, recolher provas e encontrar o fornecedor. O problema é que nenhum dos dois agentes é muito bom. Jenko é extremamente atlético e se dá muito bem nas provas de aptidão física, mas por outro lado é burro que nem uma porta. Já Schmidt é o oposto, é bastante inteligente, mas possui um péssimo condicionamento físico. Além disso, eles são extremamente atrapalhados, o que, sem dúvida alguma, vai complicar demais a missão.

Mas, afinal, se a premissa do filme é bem simples, o que o faz ser tão divertido? Três palavras: um bom roteiro. Escrito por Michael Bacall, o texto de "Anjos da Lei" é incrivelmente dinâmico, tanto que quase não há tempo para respirar. Além disso, as piadas são certeiras e inteligentes, fazendo crítica, principalmente, ao politicamente correto, que como muitos sabem, mas não gostam de admitir, é algo bem hipócrita.

No filme, isto fica claro logo quando os protagonistas chegam à escola nova e descobrem que o vendedor das drogas dentro da instituição é o aluno mais popular da escola, que é uma pessoa ecologicamente correta e que é contra qualquer tipo de preconceito. Ainda assim, apesar de mostrar uma imagem perfeita, aceita vender drogas só para ganhar uma graninha a mais.

Outra brincadeira frequente do filme é a sátira às séries policiais (como o próprio "Anjos da Lei" original) e aos filmes de ação. Então, não faltam perseguições, tiros e sangue, mas tudo sendo usado como instrumento de humor. Inclusive, uma das cenas mais engraçadas do longa é uma sequência de perseguição nos viadutos de uma cidade grande.

Mas o que não podia faltar mesmo eram as "cameos" (aparições) dos protagonistas da série original: Peter DeLuise e Johnny Depp (sim, AQUELE Johnny Depp). A cena em que os dois aparecem é hilária e, digamos assim, bastante violenta também.

Mas, como em muitas comédias, o elenco é a maior qualidade de "Anjos da Lei". A química entre Channing Tatum e Jonah Hill é ótima e suas trapalhadas me fizeram rir diversas vezes no cinema. Isso sem falar na maior surpresa do filme: a interpretação de Ice Cube como o chefe de Schmidt e Jenko no projeto "Jump Street". Ele simplesmente arrasa! Ele caçoa de si mesmo e de todo mundo do elenco. O momento em que ele fala sobre estereótipos é muito engraçado e interessante também, sendo que ele faz toda a cena falando exatamente como aqueles personagens negros de filme, com aquela voz cantada e fazendo caras e bocas, ou seja, um próprio estereótipo do negro norte-americano.

Enfim, "Anjos da Lei", dirigido pela dupla Phil Lord e Chris Miller (os mesmos de "Tá Chovendo Hambúrguer" e da série animada politicamente incorreta "Projeto Clonagem"), é uma comédia que realmente diverte, e não se surpreenda se daqui a dois ou três anos "Anjos da Lei 2" estiver estreando no cinema mais próximo de você.

NOTA: 4/5


Os Vingadores - The Avengers (Marvel's The Avengers)


Dir.: Joss Whedon; Escrito por Joss Whedon; Com Robert Downey Jr., Chris Hemsworth, Chris Evans, Scarlett Johansson, Jeremy Renner, Mark Ruffalo, Samuel L. Jackson. 2012 - Disney (143 min. - 12 anos)

"Os Vingadores - The Avengers" poderia ter sido um desastre de proporções épicas. Nunca na história do cinema juntaram tantos personagens importantes e tantas histórias diferentes num mesmo filme deste calibre. Ainda assim, sempre que tentavam, dava errado. Não é preciso ir longe, ainda no mundo nos filmes baseados em HQs, "Homem-Aranha 3" de 2007 abriu e fechou diversas tramas, trouxe novos personagens e fez o aracnídeo enfrentar três vilões diferentes. O resultado não foi nada encorajador: apesar de ter sido um sucesso de bilheteria, ainda é o longa menos querido da trilogia como também foi o grande responsável pela saída de muitos envolvidos (incluindo o elenco e o diretor Sam Raimi) de um projeto para um quarto filme do herói. Não é à toa que será lançado este ano um "reboot" (recomeço) da série, "O Espetacular Homem-Aranha", com equipe totalmente nova.

Enfim, voltando a "Os Vingadores", a união de seis heróis num único filme poderia ter sido a verdadeira sentença de morte do projeto. Felizmente, o longa está longe de ser a bagunça que poderia ter sido ou até mesmo de ser um "Homem de Ferro e Amigos", como passou a impressão aquele primeiro teaser no fim de "Capitão América - O Primeiro Vingador".

Eu diria que o principal motivo disso nem está no filme em si, mas em todo o esquema montado pela Marvel para promover "Os Vingadores". Desde que a Marvel passou a produzir as adaptações de seus personagens para as telas (apenas com exceção de alguns personagens como "Quarteto Fantástico", "X-Men" e o já citado "Homem-Aranha"), ela iniciou a criação de elos que ligavam diversos heróis a uma mesma história.

O primeiro filme a fazer isso foi "Homem de Ferro" com aquela icônica cena pós-créditos na qual Nick Fury aparece na casa de Tony Stark e lhe fala sobre o Projeto Vingadores. A partir daí, outros personagens da Fábrica de Sonhos foram apresentados: Hulk (que já havia tido uma incursão cinematográfica frustrada em 2003, nas mãos do diretor Ang Lee), Viúva Negra (em "Homem de Ferro 2"), Thor e Capitão América: todos os filmes com alguma ligação entre si.

Mas, afinal, como isso beneficiou "Os Vingadores"? Simples, as apresentações já haviam sido feitas. Dessa forma, o roteirista e diretor Joss Whedon não precisava perder tempo apresentando todos os personagens e todos os artefatos citados no filme. O espectador só precisa juntar todas as informações coletadas nos filmes individuais dos personagens. Isto contribuiu, então, para que o filme fosse diretamente ao que interessa: a história e as cenas de ação.

Outro acerto também não é do filme exatamente, mas da Marvel Studios. A escolha de Joss Whedon para dirigir "Os Vingadores". Whedon é simplesmente um enorme conhecedor do mundo dos quadrinhos. Um exemplo disso é que ele escreveu uma série de histórias para a Marvel, incluindo uma linha de revistas chamada "Astonishing X-Men", de extremo sucesso. Mas não só Whedon tem conhecimento "quadrinístico" como também tem experiência com cinema e televisão. Para a televisão, ele criou grandes êxitos como "Buffy, a Caça-Vampiros" (um dos maiores prazeres culposos da televisão dos anos 1990) e seu spin-off "Angel", como também séries fracassadas, mas de extremo apelo cult como "Firefly" e "Dollhouse". Já para o cinema, havia dirigido o filme "Serenity - A Luta Pelo Amanhã", baseado em uma de suas séries, a já citada "Firefly". Resumindo, ele era a pessoa perfeita para agradar tanto aos fãs dos quadrinhos quanto aos executivos do estúdio e plateias cujo conhecimento de HQs é proveniente dos filmes da Marvel.

Mas talvez o maior acerto seja, sim, do filme. “Os Vingadores” é simplesmente divertidíssimo! As cenas de ação são incríveis e extremamente bem elaboradas. O filme também flerta bastante com o humor, assim como muitos filmes de super-herói. A diferença é que aqui as piadas realmente funcionam, desde aquelas meramente físicas até algumas mais inteligentes.

O elenco também está de parabéns. Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth, Scarlett Johansson, Mark Ruffalo, Jeremy Renner e Samuel L. Jackson se encaixam muito bem em seus respectivos papéis (mesmo que eu esperasse a qualquer momento que Jackson fosse gritar uma frase do nível de “i’ve had it with these motherfucking snakes in this motherfucking plane”, mas, infelizmente, não tive este prazer).

Entretanto, quem me surpreendeu foi Tom Hiddleston. Não que eu não soubesse que ele era um bom ator, mas é que em “Os Vingadores” foi onde pudemos ver até onde ele poderia chegar com Loki, o irmão escroque do Thor. Aqui, Hiddleston imprime ao personagem uma ótima mistura de perversidade e ironia, que, ouso dizer, não vejo desde o Coringa de Heath Ledger em “Batman – O Cavaleiro das Trevas”. Num momento, Loki é extremamente sádico, enquanto no outro ele quer apenas tirar sarro de todo mundo. Mas enquanto o Coringa de Heath Ledger era essa mistura numa versão mais pesada, obscura, em “Os Vingadores” essa mistura é mais leve, mas ainda assim poderosa.

Mesmo assim, nem tudo é perfeito. “Os Vingadores” possui algumas falhas, mas nenhuma especialmente grave. Eu diria que a única que tem poder prejudicial é exatamente o fato de depender muito dos outros filmes da Marvel, então uma dica é tentar assistir a esses filmes antes de assistir a “Os Vingadores”.

De resto, nada a reclamar. “Os Vingadores” é sim o filme pelo qual todos estavam esperando e é até o momento um dos melhores filmes do ano.

NOTA: 4.5/5


O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida (Dr. Seuss' The Lorax)


Dir.: Chris Renaud e Kyle Balda; Escrito por Ken Daurio e Cinco Paul; Com Danny DeVito, Ed Helms, Zac Efron, Taylor Swift, Betty White. 2012 - Universal (86 min.)

Já não é a primeira vez que Hollywood tenta ensinar às crianças como cuidar do meio-ambiente e o quão importante essa atitude é para a vida de toda a população do planeta através de filmes de animação. Exemplos claros disso são "Wall-E" dos estúdios Pixar e o satírico "Os Sem-Floresta" da Dreamworks Animation.

Nem é a primeira incursão de Hollywood no mundo do escritor Theodore Seuss Geisel, mais conhecido como Dr. Seuss. Muitos de seus livros foram adaptados para especiais de TV e três de seus livros foram levados às telas de cinema ("O Grinch", "O Gato" e "Horton e o Mundo dos Quem").

Digo tudo isso para constatar que "O Lorax - Em Busca da Trúfula Perdida" não traz nenhuma novidade, pois fala sobre a preservação do meio-ambiente e é a adaptação de um livro de Dr. Seuss. Mas mesmo assim, é bem divertido.

No filme, acompanhamos Ted, um menino que vive numa cidade feita inteiramente de plástico, ou seja, sem natureza alguma, chamada Sneedville (em inglês, Theedville), que é apaixonado por uma vizinha sua, Audrey. Um dia, então, Ted fica sabendo que o maior desejo de Audrey é ver uma árvore viva, as chamadas Trúfulas, e decide saber o que fez com que as árvores fossem extintas. Assim, ele vai falar com um homem chamado Umavezildo, que sabe exatamente o que aconteceu com a natureza. Então, Umavezildo conta a sua história e a de uma criatura chamada Lorax, o guardião das árvores. E assim vai a história de "O Lorax", cheia de música e alegria, típicos elementos da obra de Dr. Seuss.

Apesar do filme não ser especialmente engraçado, o que faz dele ser divertido são as sacadas do seu roteiro. O vilão, o magnata sr. O'Hare, ganha dinheiro vendendo ar puro em garrafas, e portanto não quer que as árvores sejam replantadas, pois senão seu império estaria arrasado (afinal, as árvores dão ar puro de graça). Os cidadãos de Sneedville nem percebem o quão ruim é a realidade na qual vivem, pois a cidade é cercada por uma enorme muralha que impede a vista da destruição provocada pela exploração da floresta, ou seja, o filme não deixa de fazer uma crítica aos governantes, que escondem o jogo da população. A família de Umavezildo somente o apoia quando começa a ganhar bastante dinheiro com sua invenção, o Sneed, um tecido multiuso feito a partir dos tuos da copa das Trúfulas. E por aí vai.

Outro ponto positivo do filme é a relação entre Umavezildo e o Lorax, que começa com o pé esquerdo, mas que com o passar do tempo torna-se uma grande amizade. A química entre as duas personagens é enorme e proporciona alguns dos melhores momentos do filme, junto dos peixes cantores (que não deixa de ser uma variante das lesmas cantoras de "Por Água Abaixo").

As canções, escritas pelo compositor John Powell e pelo co-roteirista Cinco Paul, também são divertidas e bem alegres e devem agradar as crianças, principalmente a última canção, que fala sobre as árvores que têm que voltar a crescer ("Let It Grow"). Mas na minha opinião, a mais interessante é "How Bad Can I Be?" que basicamente fala do quanto a ganância pode mudar o caráter de uma pessoa.

Enfim, não é o melhor filme de animação que existe, mas diverte por umas duas horas e faz a gente pensar no quão longe o ser humano pode ir na destruição do planeta.

NOTA: 3.5/5


Espelho, Espelho Meu (Mirror Mirror)


Dir.: Tarsem Singh; Escrito por Jason Keller e Marc Klein; Com Julia Roberts, Armie Hammer, Lily Collins, Nathan Lane. 2012 - Imagem (106 min. - Livre)

Todo conto de fadas que se preze começa com a expressão "era uma vez" e com um prólogo da história que se verá a seguir, e por ser uma adaptação de um dos contos de fadas mais famosos, o da Branca de Neve, "Espelho, Espelho Meu" começa exatamente deste jeito.

A diferença é que quem narra a história é a madrasta malvada, portanto, não é de se espantar quando há um comentário negativo contra a mocinha da história, sobre como ela é feia e chata, principalmente. Dessa forma, temos, então, uma amostra do filme que apenas se inicia: fofinho (o prólogo é todo contado através de uma animação), irônico, visualmente espetacular e por que não divertido?

No longa, Branca de Neve é uma menina que vive trancada numa torre depois que a sua madrasta torna-se a rainha do reino onde vive (claro, sem não se casar e eventualmente matar o rei bonzinho, pai de Branca). O problema é que a madrasta não só é inescrupulosa como também é péssima em cuidar de suas finanças, portanto o reino que governa está falido. Para reerguer, então, o reino ela precisa se casar com alguém bem rico, e esse alguém encontra-se na figura do príncipe Alcott, um jovem bonitão e valente. Só que tudo se enrola quando o príncipe conhece a Branca de Neve e, obviamente, se apaixona perdidamente por ela.

Sabendo disso, e que Branca havia escapado do palácio, vendo toda a miséria em que o reino se encontrava, a rainha resolve mandar matar a menina, e para isso encarrega o seu empregado Brighton. Só que Brighton não mata Branca, mas pelo contrário manda ela fugir e nisso ela encontra os sete anões, os ladrões da floresta. E daí eu não posso contar mais nada além de que Branca e os anões vão lutar para derrubar a rainha do trono e acabar com a miséria do povo.

Enfim, já deu para entender que "Espelho, Espelho Meu" é aquele tipo de filme feito especialmente para as crianças. Não faltam cenas de pura comédia pastelão, personagens caricaturais e figurinos e cenários bastante coloridos e exagerados. A diferença é que ele consegue entreter também os maiores.

O primeiro motivo é a ironia presente em toda a história, principalmente nas falas da madrasta. Quando logo no início, ela diz que quando todos do reino eram felizes eles passavam o dia inteiro dançando e cantando, ela logo critica isso dizendo que parecia que ninguém trabalhava. Outro momento ótimo é quando a madrasta está se preparando para um baile e resolve se submeter a diversos tratamentos estéticos como máscara de cocô de pássaro, "preenchimento" por picada de abelha, depilação por escorpião etc. A cena é tão absurda, mas ao mesmo tempo tão próxima da realidade que causa graça.

Outro ponto positivo são as batalhas de espadas ao longo do filme. Elas são bastante dinâmicas e criativas. As sequências em que os anões usam pernas de pau para lutar contra os guardas da rainha ou para realizar os seus roubos são extremamente divertidas, assim como o momento em que mariontes gigantes atacam a casa dos anões, que também é muito interessante.

Dirigido por Tarsem Singh, que havia dirigido o violentíssimo "Imortais" em 2011 (quanta diferença, não?), "Espelho, Espelho Meu" traz a sua marca registrada: o deslumbre visual. Os cenários são todos grandiosos e luxuosos e o figurino, desenhado pela falecida Eiko Ishioka (que, por sinal, era uma colaboradora frequente de Singh, desenhando as vestimentas de seus três filmes anteriores - "A Cela", "Dublê de Anjo" e "Imortais") é belíssimo e absurdo na medida certa.

A trilha sonora também é de um mestre dos filmes infantis: Alan Menkel. Compositor das trilhas de clássicos da Disney como "Aladin", "Hércules", "A Bela e a Fera", "O Corcunda de Notre Dame" e "Pocahontas", assim como dos recentes "Encantada" e "Enrolados", Menkel não faz uma trilha memorável aqui (até porque o seu forte, que são as canções, não estão presentes aqui), mas consegue imprimir o clima certo à fita.

Enfim, uns vão achar "Espelho, Espelho Meu" insuportável, mas outros vão entrar na brincadeira e se divertir bastante como eu. Para lhe dar uma noção, eu achei este trabalho de Tarsem Singh muito mais divertido e interessante que "Alice no País das Maravilhas" de Tim Burton, que tornou-se, mesmo que involuntariamente, o modelo para as adaptações cinematográficas dos contos infantis.

P.S.: Eu não vou comentar sobre as atuações porque eu vi o filme na versão dublada, então não dá pra ter uma ideia total do desempenho dos atores em seus papeis, mas devo dizer que todos foram muito bem escolhidos. Julia Roberts como a Rainha Má, Lily Collins como Branca de Neve, Armie Hammer como Príncipe Alcott e Nathan Lane como Brighton se encaixam muito bem em seus personagens.

NOTA: 3.5/5


Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios


Dir.: Beto Brant e Renato Ciasca; Escrito por Beto Brant, Marçal Aquino e Renato Ciasca; Com Camila Pitanga, Gustavo Machado, Gero Camilo, Zecarlos Machado. 2012 - Sony

Sexta-feira de manhã eu abri a Rio Show e vi que estava estreando um filme chamado "Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios": já havia decidido a que filme eu iria assistir à tarde. Isso mesmo, eu fui ver um filme baseado totalmente no título. Não que eu já não tivesse ouvido falar nele. Sabia que tinha estreado no Festival do Rio e que era protagonizado por Camila Pitanga, mas nada mais. Então, quando eu entrei na sala de cinema eu estava bem apreensivo, mas felizmente tive uma grata surpresa.

O filme abre com a imagem de uma mulher nua em pelo nas areias de uma praia deserta. Já sabia que a viagem não iria ser fácil, e realmente não foi. No filme, Camila Pitanga vive Lavínia, uma ex-prostituta que está dividida entre dois amores: Cauby, um fotógrafo de passagem por uma cidadezinha no interior da Amazônia, onde a história se desenvolve, e Ernani, o seu marido religioso, pastor da igreja local e ativista contra o desmatamento da floresta amazônica. Os dois não poderiam ser mais diferentes um do outro.

Lavínia se vê, então, cada vez mais numa situação insustentável. Cauby quer que ela fuja com ele de volta para as grandes metrópoles do sul e do sudeste do país, mas enquanto isso, ela se vê na obrigação de ficar ali, naquela cidadezinha no meio da mata, pois seu marido está lá. Marido este que a tirou do mundo das drogas e do ramo da prostituição enquanto vivia no Rio de Janeiro. Ernani, basicamente, salvou a sua vida.

Camila Pitanga, então, merece muitos elogios. No filme ela se expõe psicologicamente e fisicamente como nunca antes. Sua personagem está sempre confusa, machucada pelos casos amorosos do presente e a sua difícil vida do passado. Não adianta ela transar e ter momentos intensos de prazer com Cauby, pois logo depois ela volta à realidade que tanto lhe assombra, e Camila se joga neste mundo de prazer e sofrimento que a personagem exige, como toda atriz deveria fazer.

Gustavo Machado e ZéCarlos Machado, os intérpretes de Cauby e Ernani, respectivamente, também merecem reconhecimento por seu trabalhos. Gustavo consegue misturar muito bem o estilgo galanteador de Cauby com as angústias que sofre por causa de Lavínia, e ZéCarlos faz de Ernani mais do que um mero pastor, mas transforma-o num homem que tambem passou por muitos problemas (era um viciado em drogas), mas que encontrou uma salvação (a religião, no caso) e um objetivo de vida (impedir que as madeireiras e as mineradoras destruam o patrimônio ambiental que é a Amazônia).

Outro que também está muito bem é Gero Camilo como Viktor Lawrence, colunista social de um jornal da região que é o único que sabe do caso entre Cauby e Lavínia. Camilo consegue balancear bem as cenas em que o personagem é cômico e os momentos em que, drogado, é sombrio e até meio assustador.

Dirigido por Beto Brant e Renato Ciasca, "Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios" é um filme denso, porém bonito de se ver, seja pela ótima trilha sonora, pela denúncia contra o desmatamento na Amazônia (que mostra a que veio no fim do filme), pelas ótimas atuações ou pela história muito bem contada.

Baseado no livro homônimo, o filme ganhou prêmios como o de melhor atriz para Camila Pitanga no Festival do Rio e melhor filme nacional na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Enfim, apesar ter certas cenas incompreensíveis, é um longa que merece ser assistido.

NOTA: 4/5


Os Muppets (The Muppets)


Dir.: James Bobin; Escrito por Jason Segel e Nicholas Stoller; Com Jason Segel, Amy Adams, Chris Cooper, Rashida Jones. 2011 - Disney (109 min. - Livre)

"Os Muppets" é aquele filme que poderia ter dado muito errado. Afinal, para ressuscitar uma franquia que já estava há mais de uma década esquecida poderia ter sido usado um desses três caminhos: o primeiro seria fazer um filme apenas para os fãs, sustentando-se em piadas internas e referências ao passado das marionetes criadas por Jim Henson que apenas os admiradores de longa data entenderiam; o segundo caminho seria "idiotizar" o filme para que ele agradasse apenas às crianças, que logo após verem o filme iriam infernizar a vida de seus pais para que estes lhes compra$$em o$ produto$ dos Muppets; e finalmente, o terceiro consiste em fazer um filme para todos os nichos (crianças e adultos, fãs e novatos), que não fosse incompreensível para os novos adeptos, infantil demais para os adultos ou decepcionante para os fãs antigos. Não resta dúvidas de que a terceira opção é a melhor, mas também é a mais difícil de ser realizada.

Felizmente, "Os Muppets" segue o terceiro caminho com sucesso. Eu, por exemplo, nunca havia visto nada que fosse relacionado à franquia (filmes ou séries) e consegui aproveitar o filme numa boa.

A história é bem contada, os muppets principais são devidamente apresentados e as piadas são bem equilibradas entre adultas (geralmente relacionadas à cultura pop ou ao quão obsoletos os muppets estavam em pleno 2011) e infantis (em sua maioria, pastelão).
Eu diria que o filme em si tem poucos problemas. O primeiro deles é que falta um vilão forte, pois apesar da presença de um magnata que pretende demolir os estúdios dos Muppets para poder extrair petróleo no local, ele aparece pouco e nunca chega a amedrontar ou criar muita tensão nos momentos que aparece. Pode-se dizer que ele está ali só para dar o pontapé inicial na história e, às vezes, fazer algo de mal só pra mostrar serviço. E isso serve até para o clímax!

O segundo problema é a última cena, que mostra uma avenida de Los Angeles entupida de fãs dos Muppets. Eu a achei exagerada e bem forçada, ou seja, não me conveceu.
Porém, o grande problema do filme está ligado à dublagem. Não que ela seja malfeita, pelo contrário, mas é que essa história de dublar canção em filme live-action nem sempre dá certo. Neste caso, quando elas são cantadas pelos Muppets não há problema algum, mas quando são os humanos que cantam o bicho pega. A sincronia entre a canção adaptada para o português e os movimentos labiais dos atores, simplesmente, não fica boa e acaba soando falso.

Enfim, "Os Muppets" tem alguns probleminhas, mas mesmo assim, continua sendo uma boa recomendação.

NOTA: 3.5/5


As Aventuras de Agamenon, o Repórter


Dir.: Victor Lopes; Escrito por Hubert e Marcelo Madureira; Com Hubert, Marcelo Madureira, Marcelo Adnet, Luana Piovani. 2012 - Paris Filmes

"As Aventuras de Agamenon, o Repórter" é aquele tipo de filme que poderia ter sido bem pior do que é, mas também poderia ter sido bem melhor.

Baseado na coluna do repórter fictício Agamenon Mendes Pedreira, publicada semanalmente no jornal O Globo, o longa escrito por Hubert e Marcelo Madureira (cassetas, que também são os responsáveis pela coluna) segue fielmente o humor característico tanto da coluna do jornal quanto do extinto Casseta e Planeta, isto é, se você não gosta de um humor escrachado recheado de trocadilhos, fique longe.

Com esta questão resolvida, podemos falar do filme em si. Sem dúvida, o maior acerto do filme foi a ideia de fazer um Forrest Gump brasileiro, afinal caso o filme fosse igual à coluna, que satiriza acontecimentos recentes e que estão sendo abordados à exaustão na mídia, o longa ficaria datado e seria aquela típica diversão que só pode ser aproveitada no momento em que foi produzida, senão seu humor já não tem a mesma graça que outrora teria.

Outro acerto foi a decisão de fazer o filme como um falso documentário (o que os americanos chamam de "mockumentaries") contando a história de Agamenon e também de suas aventuras através das décadas. Com isso, ficou possível chamar uma quantidade enorme de celebridades para dar o seu depoimento sobre o famoso repórter. Deste time, quem se dá melhor é Ruy Guerra, que se torna praticamente um personagem coadjuvante do filme, e que entre os entrevistados tem, sem dúvida, as melhores falas.

Entretanto, "As Aventuras de Agamenon, o Repórter" mostra-se extremamente irregular, pois apesar de ter boas ideias em mão, elas não são tão bem aproveitadas quanto poderiam.

Para se ter uma noção, "Agamenon" poderia ter sido um "Borat" nacional, porém contenta-se em ser uma diversão passageira. Grande parte disso deve-se ao fato de que o longa vive numa balança entre piadas que dão certo e outras que não causam riso algum do espectador, sendo então, um chamado "hit-or-miss", e isso, leva a uma certa falta de ritmo.

Além disso, o filme sofre de um mal comum nos filmes nacionais: a quantidade de elementos mal-acabados. O que não falta são cenários e figurinos de aparência barata.

Outro quesito mal aproveitado foi o elenco. Todos os atores pareciam ser a escolha certa para cada personagem, porém o único que consegue tirar bom proveito do material é Marcelo Adnet, pois o resto resolve atuar no piloto automático, principalmente Luana Piovani, que parecia perfeita para o papel de Isaura, a patroa fogosa. A atriz, ao invés de aproveitar a oportunidade e fazer o seu melhor com o material, resolve atuar sempre acima do tom, até mesmo para uma produção com a marca registrada Casseta e Planeta.

Enfim, apesar de ter bons momentos (acredite se quiser, o Funk dos Aliados é um deles) e sacadas ótimas (Fernanda Montenegro como narradora foi um achado!), "As Aventuras de Agamenon, o Repórter" também sofre de muitos momentos sem graça ou que fogem da premissa do filme (o final é um exemplo claro disso), o que acaba prejudicando o produto final.

NOTA: 2.5/5


Cavalo de Guerra (War Horse)


Dir.: Steven Spielberg; Escrito por Lee Hall e Richard Curtis; Com Jeremy Irvine, Emily Watson, Tom Hiddleston. 2011 - Disney (146 min. - 12 anos)

"Cavalo de Guerra" realmente não tem um bom trailer. Sua prévia parece mais uma mera sequência de imagens sem qualquer nexo uma com a outra conduzida por uma bela música, dando a impressão, então, de que o filme é bem chato e monótono. Vá por mim, não é.

"Cavalo de Guerra" é um filme longo (possui 146 minutos de duração) e possui uma premissa bem ordinária: o pai de um jovem fazendeiro vende o cavalo do filho para o Exército britânico às vésperas da I Guerra Mundial, pois precisa de dinheiro para salvar a sua fazenda. Entretanto, o filho, inconformado, decide que vai fazer de tudo para reencontrar o seu bicho de estimação. Porém, nem a premissa nem o trailer dão a ideia de que o filme é bem mais do que isso.

Enquanto Albie (dono) e Joey (cavalo) não se reencontram, o animal passa pela vida de diversos personagens - entre eles, um oficial britânico, dois desertores alemães e uma família camponesa francesa -, fazendo com que o filme, neste trecho, lembre um livro de contos, que não apenas conta a saga de Joey, mas que também fala sobre as mudanças pelas quais as pessoas passam em épocas de guerra, não importa de qual nacionalidade elas pertençam.

O clímax do filme, porém, é o ponto alto do longa. Seguindo à risca a cartilha Spielberg de como emocionar uma plateia, este trecho é bem satisfatório e atinge o seu objetivo de tocar o coração dos espectadores. Em outras palavras, quem costuma chorar em filmes deve levar uma caixinha de lenços de papel para o cinema.

Sobra, portanto, o início do longa, que apesar de ser bonito é o trecho mais fraco do filme. Este fato deve-se, em grande parte, pela vontade de John Williams em querer colocar uma música em toda e qualquer cena. Não que a trilha sonora do filme seja ruim, pelo contrário, mas quando posta em todas as cenas é inevitável que acabe cansando. Felizmente, o compositor se acalma pelo resto do filme e põe sua música apenas quando necessário.

Enfim, "Cavalo de Guerra" é aquele tipo de filme que só dá para ser aproveitado quando se entra na brincadeira, ou seja, quando se aceita o fato de que seja um filme feito para se emocionar (daqueles que sempre tem uma música no momento de chorar) e que funcione como um filme clássico, com início, meio e fim, sem nenhuma firula narrativa. Portanto, se você é daqueles que odeia melodrama e finais felizes e só curte filme "alternativo" (o famoso cinema de arte), fique longe. Mas se você gosta mesmo de um cinemão, com uma história bem contada e fácil de ser acompanhada e um final que deixa qualquer um feliz, compre seu ingresso e divirta-se: "Cavalo de Guerra" foi feito pra você.

NOTA: 4/5