Dir.: Wagner de Assis e Pablo Uranga; Escrito por Wagner de Assis; Com Luigi Baricelli, Deborah Secco, Ilya São Paulo, Silvia Pfeifer, Giovanna Antonelli. 2004 - Imovision/Califórnia Filmes (90 min. - 14 anos)
"A Cartomante", escrito por Machado de Assis, é um daqueles contos que daria um ótimo filme. Primeiro de tudo, o seu tema é atemporal: a traição. No conto, Machado narra o triângulo amoroso formado por Camilo, Vilela e Rita. Camilo e Vilela são grandes amigos desde sempre, porém, põe-se entre eles a figura de Rita, casada com Vilela, mas que mantém um relacionamento amoroso secreto com Camilo. Tudo isso regado a uma discussão sobre destino e superstição.
Além disso, o conto não se aprofunda tanto nos encontros entre os dois amantes, abrindo, portanto, uma janela para o desenvolvimento de uma história compatível com a duração de um longa-metragem.
Entretanto, mesmo com todas as chances de dar certo, o filme de Wagner de Assis e Pablo Uranga é uma verdadeira chuva de lama no legado de um dos maiores escritores brasileiros.
Para começar, o roteiro é bem fraco. Os diálogos são bobos, as adaptações feitas ao conto são pouco imaginativas e a tensão, tão presente, principalmente, no final do texto de Machado de Assis, é nula. Em nenhum momento, o espectador fica com os nervos à flor da pele, esperando o que vai acontecer em seguida. O filme como um todo é simplesmente monótono, parecendo longo demais mesmo com apenas 95 minutos de duração.
Como se isso já não fosse o bastante, o final, que é, sem dúvida a melhor parte do conto, foi totalmente modificado no filme. A grande reviravolta do longa é ridícula e provoca risos involuntários. Além disso, o espírito pessimista tipicamente machadiano é traído sem dó nem piedade nesta versão cinematográfica.
Isso tudo sem falar na trilha sonora, que é deprimente. As músicas escolhidas parecem que foram retiradas da playlist de uma versão piorada da JB FM. Há também uma música bem radiofônica que toca pelo menos duas vezes no filme que parece uma cópia mal-sucedida de "Tô Nem Aí" da Luka, aquela canção que tocava sem parar em tudo quanto era lugar na primeira metade dos anos 2000. Mas a pior de todas é a música apocalíptica que toca sempre que Rita vai se consultar com a cartomante.
O elenco tenta melhorar as coisas, mas também não consegue. Tirando Silvia Pfeifer, que está incrivelmente canastrona como a psicóloga Antônia (criada especialmente para o filme), o elenco consegue entregar performances decentes, mas nada mais que isso.
"A Cartomante" poderia ter sido um filme muito interessante se tivesse sido feito de forma competente. Infelizmente, não foi isso o que se sucedeu e o filme é apenas uma tentativa frustrada de trazer a literatura machadiana para os dias atuais. Pelo menos, os realizadores tiveram o bom-senso de nem botar o nome de Machado de Assis nos créditos, senão o coitadinho estaria revirando em seu túmulo.
P.S.: O filme só vale por uma cena em que Sabrina Sato faz uma participação em que ela entra muda e sai calada numa época pré-BBB e pré-Pânico. Foi uma surpresa tão grande que até me fez gostar do filme por um minuto.
NOTA: 2/5
Nenhum comentário:
Postar um comentário