sexta-feira, 25 de maio de 2012

Xingu


Dir.: Cao Hamburger; Escrito por Helena Soarez, Cao Hamburger e Anna Muylaert; Com João Miguel, Felipe Camargo, Caio Blat, Maria Flor. 2012 - Downtown Filmes (102 min. - 12 anos)


Os irmãos Cláudio, Orlando e Leonardo Villas-Bôas são conhecidos por terem sido grandes defensores dos direitos dos índios da região do rio Xingu. O que poucos sabem, entretanto, é que os irmãos foram para lá com um objetivo bem menos nobre.

Enquanto muitos iam para a região com o objetivo de explorar as terras e construir pistas de pouso e postos de serviço para o governo, principalmente trabalhadores braçais analfabetos, os irmãos Villas-Bôas foram para o Xingu apenas para se aventurar. Afinal, para eles, explorar território desconhecido a fim de ganhar um salário indigno era o de menos. Eles vinham de uma família com uma boa situação financeira, tinham estudado em bons colégios e possuíam empregos estáveis na cidade de São Paulo. Na mente deles aquilo tudo era apenas mais uma grande viagem.

O porém é que eles não imaginavam que a situação da região era tão complicada. Os índios matavam os invasores, os brancos matavam os índios para poder ocupar suas terras, aldeias inteiras trabalhavam para mineradores e agricultores em condições indignas, entre outros casos. Era inevitável, então, que Orlando, Cláudio e Leonardo, que tinham um nível de escolaridade mais alto do que todos os outros expedicionários, percebessem que algo tinha que ser feito. E se ninguém o fizesse, eles mesmos o fariam. Daí parte a história de "Xingu".

O aspecto mais interessante, talvez, do filme de Cao Hamburger (o mesmo diretor do simpático "O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias") é o estudo que o seu roteiro faz das diferenças culturais entre os índios e os brancos, ditos "civilizados". Enquanto os expedicionários usam roupas, carregam facões e armas de fogo e falam português, os índios andam pelados, usam arco-e-flecha e se comunicam através de línguas desconhecidas do homem urbano. Mas a grande sacada do filme é mostrar o quanto estas diferenças, que a princípio causam estranhamento de ambos os lados, contribuem para a união entre os indígenas e os Villas-Bôas. A partir de um determinado momento, um grupo confia no outro cegamente, e passam a compartilhar um inimigo em comum: aqueles que querem expulsar os índios de suas terras para trazer o dito "progresso" à nação.

Sem dúvida, este tema já foi explorado diversas vezes no cinema, o mais recente sendo "Avatar" de James Cameron, que eu me lembre. Mas apesar de já ser uma fórmula batida, aqui isto funciona porque o roteiro não apela para o melodrama nem para situações irreais. Pelo contrário, o filme é bastante pé no chão e evita sempre que possível o dramalhão água com açúcar, contribuindo para a credibilidade da história.

Além disso, a direção competente de Cao  Hamburger e as performances dos três protagonistas, principalmente, de João Miguel, que interpreta Cláudio, possivelmente, o irmão mais engajado na causa indígena, contribuem para uma experiência cinematográfica ainda maior. A incrível fotografia de Adriano Goldman e a trilha sonora de Beto Villares também enriquecem o filme.

Apesar de ter um final brusco, mas que ainda assim nos faz pensar, e ter sido uma grande decepção nas bilheterias brasileiras, talvez por ter um ritmo mais lento do qual o grande público está familiarizado, "Xingu", juntamente de "Eu Receberia as Piores Notícias de Seus Lindos Lábios", ambos de 2012, é um filme que expõe a situação dos índios no Brasil e mostra o quão pouco sabemos sobre esta questão. Acredito fortemente que este vai se tornar um filme obrigatório em muitas aulas de História daqui pra frente como também, num futuro mais próximo, deve ser o provável candidato brasileiro ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Tem cara de Oscar e, o melhor (ou pior) de tudo, tem cara de Brasil.

NOTA: 3.5/5


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