Dir.: Madonna; Escrito por Madonna e Alek Keshishian; Com Abbie Cornish, Andrea Riseborough, James D'Arcy, Oscar Isaac. 2011 - Playarte (119 min. - 14 anos)
Já há alguns anos, Madonna vem fazendo sua mais nova incursão no cinema. Mas se antes ela queria porque queria ser atriz, o que fez com que ela ganhasse o Framboesa de Ouro de pior atriz cinco vezes (por "Surpresa de Shangai", "Quem é Essa Garota?", "Corpo em Evidência", "Sobrou Pra Você" e "Destino Insólito"), agora a Rainha do Pop resolveu se tornar uma diretora.
Seu primeiro filme como realizadora foi "Sujos e Sábios" de 2008, que passou no Brasil apenas em festivais. Nem preciso dizer o quão "bem" recebido ele foi pela crítica, não é? Porém, Madonna (que é americana, mas deve ter um pezinho no Brasil porque ela não desiste nunca) resolveu mostrar ao mundo que ser diretora para ela não é apenas um passatempo, e sim mais uma profissão no seu extenso currículo. E eis que surge "W.E. - O Romance do Século".
Sem dúvidas, "W.E." é bem mais ambicioso do que "Sujos e Sábios". Com um orçamento maior e uma equipe de mestres, Madonna quer contar a história do relacionamento entre o rei britânico Edward VIII e a plebeia divorciada norte-americana Wallis Simpson pelo ponto de vista da figura feminina do casal. Para isso, Madonna literalmente mergulhou no mundo dessas duas figuras, principalmente no de Wallis (lendo, assistindo a documentários etc.), para fazer o filme mais fiel possível. Entretanto, "W.E." falha bastante.
Longe de ser um desastre, o longa, técnica e visualmente falando, é bastante detalhista. O belo figurino de Arianne Philips (merecidamente indicado ao Oscar) procura captar com precisão as roupas da realeza, seja em ocasiões oficiais ou em momentos de lazer. Neste aspecto, o filme é tão cuidadoso que certas vestimentas são realmente peças de época, enquanto outras foram criadas tendo como base esboços do período, guardados em museus. Além disso, estilistas como John Galliano e Pierre Cartier se ofereceram para disponibilizar roupas e joias para o filme. Só para constar, a melhor cena de todo o longa tem a ver com o figurino, mais especificamente um chapéu com abas que mais parecem chifres. A direção de arte, assim como o figurino, também é incrível ao tentar ser o mais próximo possível da realidade, e a fotografia também é muito bonita. Já a trilha sonora do compositor Abel Korzeniowski é muito elegante e apenas acrescenta mais classe ao conjunto da obra.
Mas se por um lado, "W.E." é impecável, por outro é bem irregular. O roteiro, da autoria da própria Madonna e de Alek Keshishian (diretor do polêmico documentário "Na Cama com Madonna"), insiste em seguir a cartilha "Julie & Julia" de se fazer uma biografia: alternar a história de duas personagens - uma no passado e a outra no presente.
No caso de "W.E", no passado temos a srta. Wallis Simpson e no (quase) presente de 1998 conhecemos Wally Winthrop (uma mulher casada com um médico rico, porém agressivo e supostamente infiel, que fica obcecada pela vida de Simpson e passa a frequentar diariamente a casa de leilões Sotheby's em Nova York, onde está ocorrendo uma exposição sobre o Duque e a Duquesa de Windsor. Além disso, ela começa a se interessar por um segurança russo do local.). O problema é que se a história de Wallis Simpson é tão interessante, por que dividir o filme com uma história tão careta quanto a de Wally? Não só isso, pra que colocar as duas Wallies eventualmente trocando ideias, batendo um papo? No fim, chega-se à conclusão de que a história de Wally não traz nada ao filme, e o pior é que Madonna insiste em dar uma imensa atenção a essa história tão desnecessária (no final então, nem se fala!).
Além disso, outra escolha frustrada da diretora é a de misturar em uma enorme quantidade de cenas, principalmente no início do filme, ângulos normais com outros de aparência documental, com aquela maldita câmera grudada na cara dos atores e imagem granulada. Simplesmente não há menor necessidade para isso, pelo contrário, só atrapalha todo o clima da cena.
Felizmente, as atuações da maioria do elenco são competentes, com destaque para as atrizes Andrea Riseborough e Abbie Cornish. Riseborough domina o papel de Wallis Simpson e, sem dúvidas, merecia mais tempo em tela, ou melhor, um filme só seu, no qual pudesse expor todo o seu talento. Já Abbie é quem faz a história de Wally Winthrop ir adiante. Se não fosse por ela e sua interpretação como Wally, este trecho (longo) do filme seria totalmente descartável. Era outra que merecia coisa melhor.
Enfim, "W.E. - O Romance do Século" poderia ter sido um ótimo filme se focasse apenas na história de Wallis Simpson e Edward VIII e não perdesse tempo com Wally Winthrop, ou melhor, se tivesse um roteiro mais coerente (abandonando cenas ridículas como Wallis Simpson dançando com uma mulher africana ao som de Sex Pistols!). Além da extinção da câmera documental. Porque o que não faltava era uma equipe competente para fazer tudo funcionar.
NOTA: 2.5/5
Nenhum comentário:
Postar um comentário